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E FORMAÇÃO EM SEGURANÇA URBAN dministrativa e Organizacional

6.2. Gestão do Estágio de Qualificação Profissional

Para o efetivo considerado “pronto”, ou seja, dos agentes com porte de arma, a participação anual no EQP é obrigatória para a manutenção do porte – são 4.157 (quatro mil, cento e cinquenta e sete) servidores nesta situação. Considerando este contingente e esta obrigatoriedade, bem como o número de salas de aula disponíveis no CFSU, há a

51 necessidade de elaboração de um calendário prévio das atividades de ensino praticadas no Centro, com o escalonamento dos agentes.

Atualmente, a lista de escalonamento não é definida pelo Centro de Formação, mas por cada uma das Inspetorias que, cientes das datas de início das edições, convoca os seus subordinados e, portanto, o CFSU não tem um controle sobre todo o efetivo municipal e quem teria ou não cursado o EQP ano a ano, ficando a convocação a cargo das Inspetorias. O controle de presença dos Guardas é feito a partir de uma planilha do aplicativo “Excel”, confeccionada com nomes fornecidos pelas Inspetorias, sem que esta relação de nomes seja inserida em um sistema de dados que propiciaria checar eventuais falhas. Não há uma ferramenta ou um aplicativo customizado que permita acompanhar dentre todo o efetivo da corporação quem realizou o curso a cada ano, em que período e com qual rendimento. O que existe é um arquivo onde os servidores do Centro cadastram todos os guardas que participam dos cursos. Como resultado da inexistência de um programa de convocação seguro, pode-se afirmar que há guardas prontos e sem cursar o EQP há 3 (três) anos.

A respeito da convocação, foram ouvidas várias queixas, como por exemplo, de agentes que foram informados de sua participação no curso com 3 (três) dias corridos de antecedência – lembrando que o início se dá às segundas-feiras, portanto a divulgação teria ocorrido em uma sexta-feira, tendo sido corroborado por outros que esta é uma prática comum, salvo quando a Inspetoria é organizada e cientifica seu efetivo com certa antecedência.

Outra reclamação ouvida é que o escalonamento sem prévia ciência ao Guarda chega a ter caráter de punitivo, considerando que os servidores realizam os chamados “bicos” para complementar a remuneração. A escala de trabalho segue para a maioria da corporação a jornada “12x36”, em outras palavras o guarda trabalha por 12 (doze) horas e depois goza 36 (trinta e seis) horas de descanso. Na prática, o agente trabalha em dias alternados, o que permite realizar trabalhos como segurança privado nos dias de folga e aumentar os rendimentos.

Deste modo, a participação no EQP, que acontece ao longo de todos os dias úteis de duas semanas, prejudica a prática de outra atividade remunerada e causa insatisfação aos presentes, quando não é comunicada com certa antecedência que permita conciliar ou cancelar estas atividades extras.

52 Há uma controvérsia acerca da legalidade ou não do exercício de atividade particular pelos guardas, em outras palavras, se o bico como segurança privado é permitido. Mais do que a legalidade, é discutível a conveniência para a sociedade como um todo que membros da Guarda realizem atividades como segurança particular, ainda que em seu horário de descanso – há um claro conflito de interesse entre a atuação como força policial estatal e como segurança particular.

Embora não haja consenso sobre a questão da legalidade, e mesmo da moralidade, é fato inquestionável que muitos guardas realizam serviços extras em horário de folga. Assim, quando a sua inscrição no EQP é comunicada com antecedência de poucos dias, esta atividade fica prejudicada e o guarda passa muitas vezes a enxergar o curso como um fardo, ao invés de uma oportunidade de aperfeiçoar seus conhecimentos. Mais do que prejudicar a atividade particular paralela, esta falta de previsibilidade impede sobretudo que os alunos possam estudar o conteúdo e se preparar para as aulas – este um fator ainda mais relevante.

6.2.1. Apresentação dos conteúdos

Das quinze disciplinas elencadas no programa do Estágio, apenas em duas delas (Motivando para Excelência e Cautela e Empréstimo Diário de Armamento e Equipamentos Correlatos) o conteúdo encontra-se dividido em aulas, permitindo aos instrutores e também aos alunos acompanhar a evolução do aprendizado. Mais do que isso: fica sob o julgamento do instrutor qual parte do conteúdo será ministrada a cada aula e mesmo a ênfase que se aplica a determinado tópico. É salutar que os professores enriqueçam o conteúdo teórico com experiências práticas, da sua atuação profissional.

Porém, a adoção de um currículo padronizado, detalhando a cada aula os temas a serem tratados e quais os avanços esperados, é uma tendência verificada nos sistemas de ensino que mais têm avançado em qualidade. A província de Xangai, na China, alcançou a maior nota no exame padronizado que avalia o conhecimento dos alunos em matemática, linguagem e ciências de diferentes países. Entre as receitas do sucesso, destaca-se a adoção de um “currículo padronizado, que especifica o que deve ser ensinado a cada aula, com objetivos claros de habilidades e conhecimentos que o aluno deve dominar a cada semestre” (IOSCHPE, 2012, p. 79). O que se busca garantir com a padronização é que todos os alunos recebam o mesmo conteúdo, que este conteúdo

53 esteja em consonância com as diretrizes e os objetivos esperados e que as melhores práticas sejam perpetuadas no sistema, independente de qual professor ministrará a aula.

Os alunos não recebem previamente o conteúdo das aulas, por meio da disponibilização de apostilas, textos ou outros que permitam, a partir do conhecimento, incrementar debates e discussões. A falta de material didático para leitura prévia, consequência da ausência de padronização do conteúdo das aulas, faz com que as aulas sejam muito expositivas. Ao invés de aproveitar o conhecimento dos instrutores para debater casos concretos, transmitir situações práticas e dirimir as dúvidas dos alunos, parte do tempo é gasta escrevendo no quadro e expondo oralmente os temas, quando o conteúdo poderia ter sido lido anteriormente, fazendo com que o tempo em sala de aula fosse mais bem aproveitado. Observou-se também que os “Pelotões”, entendam-se “Turmas”, não dispunham do calendário das aulas, tomando ciência do tema que seria tratado no momento em que o Instrutor assumia a Classe.

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