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GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS: DA IMPORTÂNCIA ÀS NECESSIDADES.

Mapa 1. Espaço de análise Paragominas/PA – Bacia Hidrográfica do Rio Uraim Elaboração IMAZONGEO, 2017.

1 GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS: DA IMPORTÂNCIA ÀS NECESSIDADES.

1.1 IMPORTÂNCIA DA ABORDAGEM HÍDRICA

É inegável a representatividade da água para a manutenção das funções vitais dos seres vivos. Tundisi (2013) destaca o recurso hídrico como essencial à vida humana e à manutenção da biodiversidade terrestre e aquática, impulsionando os ciclos biogeoquímicos e o funcionamento dos ecossistemas. Sendo recurso de extrema importância, as alterações na qualidade e quantidade justificam a urgência para a mudança de comportamento - adoção do uso sustentável em todo o mundo. Zaffani (2015) destaca que no Brasil, percebem-se cada vez mais problemas na qualidade da água devido à má gestão e a disposição de esgoto doméstico, industrial e resíduos sólidos diversos que contaminam rios e poços. Igualmente, a quantidade é alterada por fatores antrópicos como o aumento do uso (TUNDISI, 2014; RODRIGUES e RIPPEL, 2013), a falta de cuidado com os mananciais (TUNDISI, 2014) e as mudanças dos padrões de chuvas (INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE, 2014).

Concernente aos padrões de precipitação, Marengo et al. (2010) afirmam que a disponibilidade de água no Brasil, em todas as suas bacias hidrográficas, depende da climatologia dinâmica nas diversas escalas temporais. Essa afirmação pode ser comprovada com a observação das ocorrências climatológicas nas últimas duas décadas. Desde que o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC sigla em inglês para Intergovernmental Panel on Climate Change) começou a divulgar seus relatórios, em 1990, os recursos hídricos têm ganhado cada vez mais destaque como prioridade nas discussões dos fatores, consequências e gestão adequada. Em muitas regiões, a variabilidade da precipitação ou derretimento de neve e gelo vem alterando os sistemas hidrológicos e afetando os recursos hídricos em termos de quantidade e qualidade (IPCC, 2014). Esses cenários divulgados pelo IPCC (2014), apenas demonstram a intensificação dos fatores existentes e relacionados à futura indisponibilidade de água apropriada para o consumo humano. Isto porque, resultam em impactos provenientes de um impacto direto sobre o ciclo hidrológico (Figura 1).

Se atualmente já é possível perceber a escassez da água onde não era comum, futuramente a dinâmica desses eventos será cada vez mais frequente (INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE, 2014). Isso, se políticas públicas adequadas não forem desenvolvidas. Vale salientar, portanto, que essas devem estar voltadas não apenas para a gestão, mas também para a adaptação.

O Ciclo Hidrológico constitui-se de uma sucessão de vários processos na natureza pelos quais a água inicia o seu caminho indo de um estágio inicial até retornar à posição primitiva. Esse fenômeno global de circulação fechada da água entre a superfície terrestre e a atmosfera, é impulsionado fundamentalmente pela energia radiante e associado à gravidade e à rotação terrestre

(MIRANDA, OLIVEIRA e SILVA, 2010).

Zaffani (2015) explica o ciclo da água da seguinte forma: o calor do sol aquece a água, que evapora e forma as nuvens. A água das nuvens pode cair na forma de chuva, neve ou granizo. Quando chega em forma de chuva, ela pode infiltrar no solo, abastecendo nascentes de rios e aquíferos ou pode escoar pela superfície até chegar aos rios. O caminho a ser seguido depende da cobertura e da conservação do solo. As plantas têm papel importante neste ciclo. Elas contribuem com a transpiração da água, fazendo com que ela volte para a atmosfera. O desmatamento das florestas, dentre outras ações, contribui para alterações no ciclo hidrológico e na disponibilidade de água.

Figura 1. O Ciclo hidrológico Fonte. Elaboração própria, 2017

Deve-se considerar que as mudanças climáticas e seus efeitos na biodiversidade, na saúde humana e nos recursos hídricos não são a única causa de desequilíbrios e extremos de seca, precipitação e enchentes. As atividades humanas ao longo das bacias hidrográficas - como o desmatamento, o uso e ocupação do solo

Evapo transpiração Escoamento Precipitação Formação de Nuvens Evaporação Aquífero Infiltração

sem planejamento, a intensa urbanização – completam o ciclo e contribuem para exacerbar os efeitos destes extremos, aumentando a vulnerabilidade da biota terrestre e aquática e das populações humanas (TUNDISI, 2014).

Zaffani (2015) avalia este cenário no Brasil destacando que embora o país seja privilegiado (Figura 2), em termos de disponibilidade hídrica, a desigualdade na distribuição dos recursos ainda leva milhões de pessoas a sofrerem com a sua escassez, desafio para a gestão dos recursos hídricos. Essa escassez retratada pelo autor está diretamente relacionada à água doce disponível para uso. Referente ao gerenciamento da água disponível, no ano de 2000, foi instituída a Agência Nacional de Águas (ANA)2, que dentro das suas competências, anualmente, publica relatórios que trazem uma análise crítica sobre a situação e a gestão dos recursos hídricos no país. Pelos levantamentos de competência da ANA confirma-se a heterogeneidade de distribuição dos recursos hídricos em todo o território nacional, com destaque, ainda para a sazonalidade na precipitação, bem marcada com estações secas e chuvosas (AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS, 2016b).

Figura 2. Água doce disponível. Fonte. Elaboração própria, 2017

Embora o Brasil tenha destaque em detenção de água doce, principalmente, devido à considerável participação da bacia do rio Amazonas, é importante considerar que a região da bacia amazônica é a menos habitada do país (MARENGO, 2008; MARTINS e OLIVEIRA, 2011; THÉRY, 2005). Ao tempo em que grandes capitais, com as maiores concentrações populacionais, encontram-se afastadas dos grandes rios brasileiros. Somado a essas considerações deve-se ter em conta a frequente ocorrência de eventos críticos relacionados à gestão e disponibilidade de água. Estes

2Lei nº 9.984, de 17 de julho de 2000. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos.

97,3%

Salgada

2,7%

Doce

1%

Lagos Rios Aquíferos

1

%

12%

260.000 m³/s Dados: ANA, 2016

Dados: Zaffani, 2015 Dados: Zaffani, 2015 Dados: ANA, 2016

55.000 m³/s 205.000 m³/s

Acre. Maior inundação na região desde 1967

Rio Grande do Sul. Milhares de pessoas afetadas.

Bacia Uruguai. Milhares de pessoas afetadas.

Santa Catarina. Centenas de pessoas afetadas.

INUNDAÇÕES

São Paulo. 9 milhões de pessoas sem água.

Rio de Janeiro. 9 milhões de pessoas afetadas.

São Francisco. 14,2 milhões de pessoas afetadas.

ESTIAGENS

Mariana. Rompimento da barragem de rejeito.

34 milhões de m3 de rejeitos de mineração afetaram a qualidade da água com a interrupção do abastecimento público de algumas cidades. Outros usos dos recursos hídricos na bacia foram afetados como geração de energia elétrica, indústria, pesca e lazer.

RUPTURA DE