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SUMÁRIO

2 GESTÃO, GERENCIAMENTO E ASPECTOS LEGAIS DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS

2.3 Gestão e gerenciamento dos resíduos sólidos

Os conceitos de gestão e gerenciamento são oriundos da ciência da administração e associados às noções de planejamento, organização, direção e controle. No vocabulário corrente das ciências sociais essas palavras são tomadas como quase sinônimas, porém embora pareçam ser similares, possuem abordagens diferentes em que uma complementa a

outra. Contudo, para melhor compreensão do processo de gerir e gerenciar, sobretudo, para contribuir para o enfrentamento das grandes questões, convém estabelecer certa distinção conceitual de palavras e realidades que, até aqui, têm sido tomadas como intercambiáveis.

O termo gestão dá ao mecanismo de avaliação a conotação de um processo que envolve atividades de planejamento, de acompanhamento e de avaliação propriamente dita, conforme Guimarães (1998). Neste sentido, na esfera pública também devem ser bem empregados. A gestão se baseia em políticas públicas e inicia-se na alocação estratégica de recursos e estende-se até o gerenciamento intensivo de programas considerados estratégicos. A gestão atua na seara do planejamento, ou seja, no processo antecipado de alocação de recursos, de pessoas, de tecnologias, de processos. No campo dos resíduos sólidos, a gestão envolve desde a geração, o armazenamento, a coleta, transferência e transporte, processamento, tratamento e destino final dos resíduos sólidos, seguindo os princípios de políticas públicas específicas, preservação da saúde pública, economia, tecnologias e outros princípios ambientais.

Para tanto, envolve uma inter-relação de aspectos administrativos, financeiros, legais, de planejamento e de engenharia, cujas soluções são interdisciplinares, envolvendo ciências e tecnologias provenientes da engenharia, economia, sociologia, geografia, saúde pública, demografia, comunicações e conservação. (RUSSO, 2003, p. 8).

Russo (2003) ainda entende que a gestão dos resíduos sólidos apoia-se em pilares estruturantes que constituem uma política integrada em que se destacam: adoção de sistemas integrados, baseados na redução na fonte, na reutilização de resíduos, na reciclagem, na transformação dos resíduos (incluindo a incineração energética e a compostagem) e a disposição em aterros sanitários (energéticos e de rejeitos). Essa definição de 2003, ainda é recente, sendo inclusive, alguns conceitos observados na Política Nacional dos Resíduos Sólidos.

Para Seiffert (2005), gestão e gerenciamento têm um caráter bem diferenciado, à medida que o processo de gerenciamento está associado a medidas de caráter mais tático na organização, enquanto a gestão implica em processo de ordem mais estratégica. O processo de gestão sempre implicará na implantação de políticas, enquanto o gerenciamento se relaciona aos aspectos operacionais da limpeza urbana. A gestão traduz as tomadas de decisões em relação aos objetivos que se queira alcançar, usando os recursos disponíveis. Já o gerenciamento é o ato de gerenciar, administrar, gerir negócios, bens ou serviços.

Diante de todas dificuldades enfrentadas para se obter uma gestão eficiente de resíduos, diversidade de geradores, consumismo desenfreado, aumento da população, ausência de equipe técnica capaz de gerenciá-los, surge a necessidade da adoção de medidas de planejamento e controle desde a geração até a destinação final. A Companhia de Tecnologia em Saneamento Ambiental (CETESB) (2006) afirma que a gestão dos resíduos deve incluir práticas ambientalmente seguras, de redução na fonte, reuso, reciclagem e recuperação de materiais e do conteúdo energético dos resíduos. Gerenciar resíduos não se resume a aplicar tecnologias de tratamento, todo o processo deve ser bem estudado e escolhido. Em geral, a principal conclusão dos estudos que analisam os sistema de gestão dos RSU é o de reduzir a emissão de poluentes no ambiente, uma abordagem integrada de gestão de resíduos sólidos urbanos, uma vez que o planejamento da coleta separada pode ter efeitos sobre os diferentes tipo de tecnologias subsequentes (GIUGLIANO et al., 2011).

Leite et al. (1999) já se preocupavam em distinguir a gestão dos resíduos sólidos do gerenciamento. Para os autores supracitados o conceito de gestão de resíduos sólidos abrange atividades referentes à tomada de decisões estratégicas e à organização do setor para esse fim, envolvendo instituições, políticas, instrumentos e meios; já o termo gerenciamento de resíduos sólidos “refere-se aos aspectos tecnológicos e operacionais da questão, envolvendo fatores administrativos, gerenciais, econômicos, ambientais e de desempenho: produtividade e qualidade, por exemplo, e relaciona-se à prevenção, redução, segregação, reutilização, acondicionamento, coleta, transporte, tratamento, recuperação de energia e destinação final de resíduos sólidos”.

Os resíduos sólidos urbanos quando analisados do ponto de vista da gestão podem ser divididos em categorias conforme suas utilidades e necessidades. Os recicláveis/reutilizáveis, que podem ser aproveitados com fins diversos; os de decomposição orgânica, putrescíveis, que podem ser reutilizados como fertilizantes ou objetos de fermentação para produção energética; e os rejeitos, inservíveis, que não possuem mais nenhum aproveitamento econômico, restando- lhes a eliminação ou aterramento.

A gestão e o gerenciamento dos resíduos do gênero domiciliar, comercial1 e público são de responsabilidade do poder público. Esse trabalho tratará apenas dos chamados resíduos

11 Segundo a Lei número 16 de 28 de dezembro de 1998, são estabelecimentos comerciais aqueles que necessitarem de uma coleta diária superior a 200 litros, e os estabelecimentos industriais de 500 litros/dia.

sólidos urbanos (doméstico, comercial e de limpeza pública), cuja responsabilidade de gestão é exclusiva da Prefeitura Municipal de João Pessoa.

Lopes (2007) define a gestão de resíduos sólidos, como todas as normas e leis relacionadas a estes e denomina gerenciamento de resíduos sólidos como todas as operações que envolvam os resíduos, como coleta, transporte, tratamento, disposição final e entre outras. Após exaustiva discussão acerca de gestão e gerenciamento, deve-se deixar claro que os objetivos dessas duas atividades sobre os resíduos sólidos recai sobre quatro pilares:

a) evitar ou diminuir a produção de resíduos; b) reutilizar ou reciclar os resíduos;

c) utilizar a energia presente nos resíduos; d) “inertizar” e dispor os resíduos.

A PNRS também define a hierarquia das opções relativas à gestão de resíduos cuja gradação vai da prevenção na origem até à deposição final. No Quadro 1 pode-se observar a hierarquia das opções de gestão de resíduos sólidos.

Quadro 1 - Hierarquia das opções de gestão de resíduos sólidos Prevenção na

origem

Prevenção integral a que corresponde a completa supressão dos resíduos gerados nos processos industriais.

Alta prioridade Baixa prioridade Redução na origem

Prevenção, redução ou eliminação de fluxos de resíduos, geralmente dentro das fronteiras da unidade produtiva através de alterações nos processos ou procedimentos industriais.

Redução na origem

Reprocessamento dos resíduos num processo de produção para um fim inicial ou para outros fins.

Valorização energética

Utilização de resíduos para a produção de energia através da incineração direta com recuperação de calor.

Tratamento Destruição, neutralização ou redução da periculosidade dos resíduos.

Disposição final

Introdução dos resíduos no meio ambiente, em condições controladas de forma a evitar da sua periculosidade. A adequada disposição no solo pode envolver redução de volume, confinamento de lixiviado e adequadas técnicas de monitorização.

Fonte: Braga e Morgado (2007)

Segundo Lima (2001) há de se estabelecer um modelo de gestão de resíduos sólidos e este é entendido como um conjunto de referências político-estratégicas, institucionais, legais, financeiras e ambientais capazes de propor a organização do setor. Para apresentar esse modelo há elementos indispensáveis na sua composição, tais como:

 Reconhecimento dos diversos agentes sociais envolvidos, mencionando os papéis por eles desempenhados promovendo a sua articulação;

 consolidação da base legal necessária e dos mecanismos que viabilizem a implementação das leis;

 mecanismos de financiamento para a auto-sustentabilidade das estruturas de gestão e gerenciamento;

 informação à sociedade, implementada tanto pelo poder público quanto pelos setores produtivos envolvidos, para que se tenha um controle social, que este segundo a PNRS é o conjunto de mecanismos e procedimentos que garantem à sociedade informações e participação nos processos de formulação, implementação e avaliação das políticas públicas relacionadas aos resíduos sólidos;

 sistema de planejamento integrado, orientando a implementação das políticas públicas para o setor.

Lima (2001) veio a ratificar o que Leite et al. (1999) já afirmara, tendo em vista que os componentes dos modelos de gestão envolvem fundamentalmente três aspectos: os arranjos institucionais, que contemplam os diversos órgãos (ministérios, agências, conselhos, dentre outros) nos diversos níveis (federal, estadual e municipal) que participam das tomadas de decisões na área de resíduos sólidos, os instrumentos legais, que contemplam os diversos textos legais (leis, decretos, resoluções, estatutos, dentre outros) abordando a questão dos resíduos sólidos, e por fim, os mecanismos de financiamento, que contemplam os fundos de financiamento, os quais dão o suporte financeiro para se executar as atividades relacionadas ao gerenciamento dos resíduos sólidos.

A PNRS também distinguiu os dois termos no seu artigo terceiro, quando define o gerenciamento como sendo o conjunto de ações exercidas, direta ou indiretamente, nas etapas de coleta, transporte, transbordo, tratamento e destinação final ambientalmente adequada dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos, de acordo com plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos ou com plano de gerenciamento de resíduos sólidos; e a gestão como o conjunto de ações voltadas para a busca de soluções para os resíduos sólidos, de forma a considerar as dimensões política, econômica, ambiental, cultural e social, com controle social e sob a premissa do desenvolvimento sustentável.