• Nenhum resultado encontrado

3 ESTADO DA ARTE

3.1 BUSCA SISTEMÁTICA

3.1.2 A Gestão Escolar e os desafios

Quadro 6 - Estudos que associam as dificuldades dos gestores em relação ao uso eficiente dos resultados da prova Brasil.

AUTOR (ES) ANO FONTE TÍTULO

CASTRO 2009 Artigo

Sistemas de avaliação da Educação Básica no Brasil: avanços e novos

desafios.

HORTA NETO 2010 Artigo

Os Desafios da utilização dos resultados de avaliações nacionais para o

desenvolvimento de políticas educacionais por um governo

subnacional no Brasil. CASTRO 2009 Artigo A consolidação da política de avaliação

da educação básica no Brasil.

PIPOLO 2010 Artigo

Círculos de avaliação. Uma forma de dialogar com os resultados educacionais.

MURILLO E

ROMÁN 2010 Dissertação

Retos en La Evaluación de La Calidad de La Educación en América Latina. MACHADO 2012 Artigo Avaliação externa e gestão escolar:

reflexões sobre usos do resultados. SOUZA 2014 Dissertação A qualidade das informações da Prova

Brasil na perspectiva dos usuários. Fonte: Elaborado pela autora (2017).

A discussão se refere às dificuldades dos gestores escolares acerca dos objetivos gerais comuns dos testes em larga escala com foco nas possibilidades de contribuição da Prova Brasil, para melhorar o desempenho das escolas por meio da gestão de ações voltadas à qualificação do ensino e da aprendizagem. A questão nos coloca diante de uma série de questionamentos ao destacar as possibilidades e estratégias do uso de informações da Prova Brasil pelas escolas, uma vez que até mesmo a efetiva política de avaliação educacional do Brasil, considerada hoje uma das mais abrangentes e eficientes do mundo, no seu macrossistema de avaliação da qualidade da educação brasileira, enfrenta dificuldades em estabelecer normas para o gerenciamento do processo avaliativo nas escolas as quais são as “principais usuárias das informações” obtidas com os testes. Castro (2009) colabora com a discussão salientando que “o principal desafio dos sistemas de avaliações educacionais no Brasil é definir estratégias de uso dos resultados para melhorar a sala de aula e a formação de professores, de

64

modo a atingir padrões de qualidade compatíveis com as novas exigências da sociedade do conhecimento”.

A mesma autora, na abordagem do artigo Sistemas de Avaliação da Educação Básica no Brasil: avanços e novos desafios, apresenta uma análise sobre os sistemas de avaliação da educação básica brasileira e trata, dentre outros assuntos, do objetivo e das dificuldades de utilização dos resultados da Prova Brasil para melhorar a qualidade das escolas. E constata que as contribuições da prova Brasil para apoiar, pedagogicamente, as escolas ainda são tímidas, tendo em vista as fragilidades no uso dos resultados. Castro (2009, p. 281) avalia que “a maioria das escolas não sabe como melhorar seus resultados, e os sistemas de ensino enfrentam dificuldades técnicas para apoiar pedagogicamente suas escolas e os pais ainda não entenderam o significado da prova”.

Castro (2009) trata as resistências encontradas como algo normal, suscetível à mudança. E, para melhorar os resultados, sugere que a secretaria de educação garanta o monitoramento prioritário da gestão das ações pedagógicas, apoiando dirigentes, diretores, supervisores e coordenadores pedagógicos; além da participação e da colaboração indispensável dos pais e alunos para cobrar das escolas qualidade e compromisso com a aprendizagem.

Horta Neto (2010) investigou a Secretaria de Educação do Distrito Federal, sobre o SAEB, para mostrar que o não uso dos resultados de avaliações externas não é privilégio só da escola, mas também dos subgovernos e Secretarias. E enfatiza que o problema faz parte do histórico da cultura avaliativa no Brasil. Isso mostra que até mesmo os Sistemas enfrentam dificuldades técnicas para apoiar o trabalho de suas escolas, colocando-as diante de um grande desafio, que pode resultar no comprometimento da qualidade do trabalho desempenhado pela gestão escolar.

Utilizar os resultados de uma avaliação educacional requer um maior preparo das estruturas das secretarias de Educação. Não basta apenas divulgar os resultados e esperar que apenas essa divulgação seja suficiente para que no próximo ciclo os resultados sejam melhores. Da mesma forma, de nada adianta ter acesso a um conjunto de grandes informações e nada fazer para entendê-las melhor, para descobrir que situações refletem. E essas situações não estão necessariamente ligadas às atividades da escola.

Podem estar ligadas a problemas estruturais da Secretaria que impedem apoiar as escolas nas suas dificuldades (HORTA NETO, 2010, p. 80). Castro (2009), conforme seu artigo “A Consolidação da Política de Avaliação da Educação Básica no Brasil”, destaca os principais desafios da escola e sistemas de ensino hoje, apontando para: o uso eficiente dos resultados das avaliações e sua aplicabilidade visando à melhoria da escola, da sala de aula e da formação de professores; definir estratégias de uso dos resultados; falta de capacidade institucional e competência técnica dos sistemas de ensino para apoiar pedagogicamente suas escolas e, também, dos municípios de pequeno porte.

Atenta-se que o estudo de Horta Neto (2010) já buscava indicar que os desafios, aqui mencionados por Castro (2009), estão intimamente relacionados a compreender os resultados produzidos pela avaliação e, com as práticas de gestão exercidas pelos gestores, sem perder de vista as implicações da cultura avaliativa no Brasil.

Barreto et al. (2001 apud MACHADO, 2012) tratam dos desafios da escola e da gestão escolar, em relação ao cumprimento do seu papel social de garantir o ensino-aprendizagem, afirmando que o impacto dos usos dos resultados das avaliações externas, no trabalho pedagógico das escolas e, principalmente, na área da gestão, é recente. Isso pode significar a ausência ou até mesmo a presença de uma cultura avaliativa fragilizada e carência de formação e competência técnica em detrimento da prática e do tempo. Em alusão ao que foi abordado, Machado, também, menciona Koetz e faz destaque ao papel do Diretor, numa visão de conjunto e capacidade de articulação com os diferentes setores, e sugere:

Procurar mecanismos que possibilitem a superação dos obstáculos, muitos decorrentes da própria estrutura e organização dos sistemas de ensino e das unidades escolares, bem como dos conflitos gerados pela diversidade cultural existente no cotidiano escolar (KOETZ, 2010, p. 166).

Assim, a busca pelo desenvolvimento de uma cultura avaliativa, envolvendo os membros da escola, tende a fortalecer a articulação dos processos de avaliação. Com a utilização de seus resultados, favorece a sua compreensão e aplicação nas intervenções pedagógicas necessárias.

66

Pipolo (2010), ao se referir à apropriação de resultados educacionais, faz uma breve descrição do contexto contemporâneo da avaliação; cita ações do Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE, do Ministério da Educação, como o IDEB implantado, em 2006, como parte do Plano de metas, Compromisso Todos pela Educação, ação conjunta com a participação da sociedade, visando à melhoria da qualidade da educação básica e afirma:

No que tange às estratégias e as formas de divulgação dos resultados, ainda não é possível perceber uma tendência de democratização do acesso às informações produzidas pelas avaliações externas, uma vez que as metodologias de análises estatísticas e psicométricas são desconhecidas da comunidade escolar, público alvo mais diretamente envolvido na avaliação. Também há um desconhecimento da sociedade sobre as formas mais apropriadas de leitura, compreensão e utilização das informações produzidas (PIPOLO, 2010, p. 5).

Isso mostra que os gestores de escola como membros da comunidade escolar, também, são privados das mesmas competências. Significa que não estão preparados o suficiente para lidar com essas informações. O grande desafio seria extrair delas o necessário para programar ações de ensino, dando-lhes o tratamento adequado independente da complexidade da metodologia de análise.

Murillo e Román (2010), ainda sobre os desafios da gestão no contexto contemporâneo da avaliação, desenvolveram um estudo sobre os desafios na avaliação da qualidade da educação na América Latina. A abordagem apresenta um enfoque global e integrador da avaliação, baseando-se em princípios e critérios que o sustentam, e são coerentes com os princípios de aprendizagem que presa por uma educação para o desenvolvimento integral dos estudantes. Os resultados apontaram prioridades como forma de avançar na melhoria da avaliação da qualidade da educação. Dentre elas, avaliar os docentes, os estudantes, o funcionamento das administrações educativas, valorizar a participação da sociedade na avaliação, abordar o estudo de fatores associados e suscitar a necessidade de participação da sociedade, no projeto das políticas de avaliação (MURILLO; ROMÁN, 2010).

A discussão mostra que os sistemas de avaliação ainda são vistos em uma concepção de qualidade que reduz e limita a explicação do

desempenho dos alunos. Principalmente nas áreas curriculares de linguagem, matemática, ciências e ciências sociais. Mostra, também, que os sistemas educativos dos diferentes países da América Latina dispõem de uma grave incompatibilidade, entre as ações realizadas na área da avaliação da educação, e o seu próprio conceito, visto de forma fragmentada, reduzindo as áreas de qualidade avaliada e expõe:

Las críticas a esta fragmentación y reducción de La calidad educativa por parte de las evaluaciones nacionales estandarizadas se vem incrementadas por lá desconfianza y dudas respecto de lá utilidad, e de lá información que ellas generan, lá confiabilidad y validez de las pruebas utilizadas los critérios de medición y La falta de consideración de La diversidad social y cultural Del país em El que se aplican entre otros elementos [...] (MURILLO; ROMÁN, 2010, p. 99).

A análise demonstra que os próprios sistemas de avaliação nacional precisam melhorar o conceito de seus testes padronizados para oferecer confiança aos diversos setores educacionais e da sociedade e, assim, evitar questionamentos duvidosos sobre a confiabilidade na utilização das informações geradas por esses testes. Isso porque os resultados gerados no sistema educacional demandam pela realização de um juízo de valor que tem como referência a tomada de decisão. (ROMAMO; MURILLO, 2009 apud MURILLO; ROMÁN, 2010).

Os autores esforçam-se para mostrar que a cultura escolar é importante e influencia na qualidade do ensino, na criação de expectativas e eficácia das instituições, no desempenho escolar, na análise e avaliação de desempenho. É importante perceber que, apesar de duas décadas de reforma educacional na América Latina, os diretores de escolas ainda são negligenciados na maioria dos países. Nas escolas, a avaliação ainda é uma iniciativa isolada e complexa nas suas várias dimensões, incluindo a gestão escolar, o ensino aprendizagem, a comunidade escolar e família, os resultados e realizações de seus alunos, entre outras.

Após diversas considerações, Romano e Murillo (apud MURILLO; ROMÁN, 2010) chamam a atenção para os resultados dos testes. Mediante o que foi exposto, é relevante que se observe que essa informação gerada é útil e oportuna para tomada de decisão e para

68

otimizar a qualidade dos sistemas de educação, devendo ser analisada e considerada como parte de um todo, e não isoladamente.

Souza (2014) associa os objetivos da Prova Brasil à qualidade de suas informações, tendo em vista a garantia do atendimento das necessidades de seus usuários. Nessa perspectiva, pautou-se em estudos que mostram a ausência de uma cultura avaliativa nas escolas. Esclareceu sobre o pouco ou o não uso dos resultados da Prova Brasil, como forma de subsidiar tomadas de decisões nas dimensões da gestão educacional, inclusive, na escola. A discussão defende a necessidade da qualidade da informação, para ser concebida na perspectiva do usuário. Assim, buscou identificar anseios e dificuldades das escolas para apropriar-se dos resultados divulgados da prova Brasil.

A investigação se processou, em quatro escolas e duas unidades intermediárias, em dois estados da federação. Constatou a necessidade de aprimoramento nos processos de divulgação e de apropriação dos resultados por ela elaborados. Além do mais, foram observados alguns desafios relacionados à divulgação e à apropriação das informações. Souza (2014, p. 75) ressalta que “a interpretação dos resultados depende, também, da preparação dos profissionais da educação no que diz respeito às diferentes concepções de avaliação existentes na área educacional”. A pesquisadora ainda expõe críticas manifestadas pelos usuários das informações sobre os desafios da escola, pelo fato do não uso dessas informações, quais sejam: (I) - a complexidade da linguagem e seu distanciamento do fazer pedagógico; (II) - a demora na disponibilização dos resultados para as escolas; (III) - a ausência de contextualização dos dados; (IV) - a ausência de um canal de interlocução com o ator que realiza as avaliações; (V) - a ausência de informações em relação ao processo de elaboração das provas; (VI) - a ausência de clareza e objetividade para acessar e visualizar os resultados no sítio eletrônico do INEP; (VII) - insuficiência de informações pedagógicas que expliquem o significado dos resultados; (VIII) - falta de um diagnóstico mais claro para as escolas; (IX) - a omissão em relação às possibilidades de intervenções pedagógicas; e por fim (X) - a ausência de divulgação e discussão sobre a concepção teórica da avaliação (SOUZA, 2014).

Mediante os desafios, a abordagem sugere algumas alternativas como possibilidades para superar as dificuldades:

A oferta de cursos, presenciais ou não, sobre as concepções, interpretação e possibilidades de usos dos resultados da Prova Brasil. Atendendo em

primeiro momento os gestores de redes educacionais de estados e municípios, eles poderiam ser multiplicadores desse conhecimento em suas redes de ensino. Em um segundo momento, poder-se-ia pensar em estruturar formações a distância para um maior número de gestores educacionais (SOUZA, 2014, p. 78).

Ao analisar as críticas apresentadas, não é difícil de entender quando o estudo se refere ao pouco ou nenhum uso dos resultados fornecidos pela avaliação, deixando transparecer a realidade existente no contexto da gestão pedagógica das escolas. Estudos de Castro (2009), do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (2007), Machado (2012) e Ronca (2013) já haviam mencionado que as iniciativas de uso de resultados das avaliações, realizadas pela escola, são poucas e equivocadas. Dentre as críticas, também, são apontadas algumas “falhas” do sistema de avaliação, sobretudo, no sentido da complexidade da linguagem usada para divulgar as informações. E sugerem formação para mudar a concepção de gestores e equipes escolares quanto à exploração e aplicabilidade das informações prestadas à escola, pelos testes.

Após examinar experiências anteriores referentes à temática da Gestão escolar pedagógica e os desafios, com foco nos resultados das avaliações, o estudo mostra que os desafios estão intimamente associados à falta de formação de gestores e coordenadores pela complexidade de leitura das informações e pela ausência de uma cultura avaliativa que demanda resistência de alguns profissionais e até mesmo de pais e alunos. A interdependência desses fatores favorece a coletividade na superação desses desafios. Porém há um déficit dos sistemas educacionais e das Secretarias com as escolas, para apoiar os gestores e coordenadores pedagógicos a exercer o domínio do papel avaliativo, preparando suas equipes. Não existem segredos, até que os sistemas próprios de avaliação e de ensino se deixem superar pelas resistências, o que Castro (2009) chama de algo normal e contornável no regime político democrático.