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5.2 POSSIBILIDADES OFERTADAS PELO ECOSSISTEMA ESCOLAR

5.2.1 Gestão estratégica da rede de ensino

Um diferencial da rede de ensino investigada, que está alinhada com a gestão estratégica, é que vem sendo dado um papel de destaque não só para a inserção de TD em suas escolas, mas há também uma preocupação em formar profissionais de apoio aos docentes, formar inclusive os próprios professores, buscando estancar as deficiências da formação inicial. Essa rede desenvolve a integração de práticas associadas à cultura digital para casos de inclusão e formalização institucional de documentos para estruturar a atuação dos profissionais de TE. Esse é um olhar sobre o ecossistema escolar (MARTINS, 2015), uma visão ampla e holística que possibilita enfrentar as problemáticas contemporâneas complexas que o cenário sociocultural apresenta.

[...] No projeto [...] que é o projeto estratégico né direcionado pra questão das tecnologias que é o [...] virtual... São três eixos, o [...] virtual, formação e agora as diretrizes pra TE, então daí que a gente tá estruturando. Agora ela aparece de outras formas né nos outros documentos, como por exemplo no documento pra questão da inclusão tem lá o TE né o que ele deve ficar atento e de que forma ele pode colaborar com os alunos de inclusão que isso é muito forte também nos colégios, todo mundo entra, não se nega ninguém. [...] Então daí... Da mesma forma alguns colegas trabalham muito bem, o TE se articula muito bem com serviço [...]. (EGE1)

Alinhando-se ao nosso pensar sobre a gestão estratégica da rede de ensino investigada, Goméz (2015, p. 30) diz que

[...] o desafio da escola contemporânea reside na dificuldade e na necessidade de transformar a enxurrada desorganizada e fragmentada de informações em conhecimento, ou seja, em corpos organizados de proposições, modelos em conhecimento e mapas mentais que ajudem a entender melhor a realidade, bem como na dificuldade para transformar esse conhecimento em pensamento e sabedoria.

O extrato de fala do sujeito EGE1 disponível a seguir corrobora com a análise em que destacamos o diferencial desta rede de ensino. Fato este que leva ao sucesso da instituição em termos de alinhamento de práticas pedagógicas com as emergências da cultura digital.

[...] Tem que ser assim um processo mais alongado, mesmo assim ó a... Apropriação do [...] virtual que é um moodle e eu penso assim ó, no mínimo uns 3 anos pra ele ser um espaço [...] habitado e assim com muita formação, então a gente vai começando... Então sou muito da formação, a integração pedagógica e tecnológica é fundamental e alguns conselhos mesmo hoje de manhã trabalha ali com duas gestoras de um outro colégio e a gente conversava. Tem conceitos que eles perpassam qualquer equipamento. Então por exemplo, se a gente vai ... Vai ser gamificação, vai ser pensamento computacional, vai ser impressora, vai ser minecraft, o que vai ser, tem conceitos que acho que a gente precisa tê-los e que eles vão perpassar tudo isso. O

André [autor André Lemos] nos fala ‘a gente não deve ficar refém de equipamento’ porque se eu pressuponho, se pra mim é um pré-requisito que tenha interação, que o aluno seja um autor e tudo mais [...]. (EGE1)

Como podemos perceber, sua gestão estratégica está voltada ao aperfeiçoamento contínuo de seus profissionais, não considerando apenas a inserção da tecnologia na escola, mas tratando-a como parte de um processo amplo e complexo que é o desenvolvimento de práticas associadas ao cenário contemporâneo a parir de metodologias que contribuam para a aprendizagem do estudante, preparando-o para conviver na sociedade contemporânea. O sujeito ED2ESC2 reforça essa constatação no seu extrato de fala também, tal como se pode comprovar na sequência.

[...] primeiro porque é um propósito da rede, um viés da rede é o pilar da tecnologia educacional, então acho que é uma bandeira que a gente levanta bastante por ser uma rede de ponta, de excelência, então a tecnologia ela tem que tá incorporada nas práticas pedagógicas e segunda eu acho que o festival de robótica que é o nosso grande evento que eu acho bem legal participares também, ele desenvolve esses três conceitos na robótica educacional, nos drones e nos desafios e eu acho que são conceitos que a gente tem estudado ultimamente assim. Não sei se é de consenso de todo corpo docente, mas são conceitos que aos poucos a gente tem implementado nos usos das tecnologia [...]. (ED2ESC2)

Goméz (2015, p. 40) nos apoia nesta reflexão, dizendo que

[...] as tarefas mecanizadas, das mais simples às mais sofisticadas, atualmente podem ser realizadas por computadores e pela infraestrutura tecnodigital hoje acessível. É do pensamento emergente, criativo, flexível e estratégico que o cidadão contemporâneo necessita e aquele que deveria ser formado também e principalmente na escola.

E neste ecossistema escolar vemos um trabalho de sucesso no desenvolvimento de um movimento de (re)contextualização da instituição escolar para atender às emergências da contemporaneidade. Porém, não podemos deixar de refletir sobre o sistema escolar público, o sujeito professor EP1ESC1 também já atuou em escola pública e relata a diferença de cobrança sobre sua atuação nos dois cenários (público e privado), conforme extrato que segue:

[...] quando eu entrei aqui e vi que já tinha esse foco de um trabalho diferenciado e... Eu sempre fui, durante muito tempo, só professora pública, daí depois que entrei numa escola privada que não tinha esse foco, daí quando eu vim pra cá a exigência pediu assim que eu fosse buscando outras coisas” [...]. (EP1ESC1)

Portanto, este é um contraponto premente de nosso estudo, pois estamos olhando para a realidade de escolas privadas, associadas a uma rede de ensino de grande porte, com uma visão pedagógica que compreende o contexto sociocultural atual e dá destaque à cultura digital.

Entretanto, não podemos deixar de considerar que há um afastamento entre os contextos privados e públicos, que só é reforçado pela fala do sujeito professor que teve contato com as duas realidades. Isso é sabido e reforçado pelas palavras de Goméz (2015, p. 35) “[...] é óbvio que os ambientes menos favorecidos do ponto de vista econômico, social e cultural oferecem aos alunos recursos educacionais muito inferiores e expectativas muito mais pobres com relação à escola e ao estudo”. Então, uma preocupação nossa e uma proposta de estudo futuro diz respeito à seguinte questão: “como generalizar esse cenário para as escolas públicas?”.

No extrato de fala do sujeito EP3ESC2, atuante no componente curricular da matemática, é demonstrada ainda a importância da proposição de ações da rede de ensino em conjunto com a gestão da escolar. Ele destaca a relevância de ações que deem abertura para que os professores possam fazer experimentações para criar/compor/testar práticas pedagógicas diferenciadas, bem como que os desafiem a ir nessa direção.

[...] Há uns 4 anos atrás a rede [...] ela começa a trabalhar com aulas conjugadas, aonde nós tínhamos cm cada dois componentes diferentes o pensar e criar metodologias diferentes em sala de aula e procurar juntar que cada componente tinha de[...] pra trabalhar e conduzir. Eu fiquei com a área de artes, com o oitavo ano, então aqui na escola nós tivemos assim, sexto ano português e história, sétimo ano ciências e geografia e oitavo ano matemática e artes, aonde vinha muito a completar essa parte, principalmente de geometria. Então nós começamos a partir dali começar as criações. A partir de então a gente começou a usar também o uso da robótica. Então nós fomos evoluindo junto com a robótica. Terminava as aulas conjugadas, mas percebendo que os estudantes eles cada vez mais exigiam esses meios tecnológicos, continuamos a usar a robótica. Até o ponto de o ano passado fazermos todo um trabalho junto [professor e profissional de TE], que estamos dando continuidade, uma vez semanal e hoje eu vejo já que de repente aumentando [os períodos] mais seria mais rico ainda, mas que a gente já tá numa conquista muito grande. Porque o nosso turno da tarde, o sexto, sétimo, oitavo e os nossos já contam com este período e isso só vem a avançar porque eu consigo conduzir uma teoria e o [profissional de TE] com a robótica [...] O que tu podes observar é o enriquecimento de conhecimento eles começam a ter uma visão diferente. Hoje se eu falar em ângulos, pra eles vai dar uma liberdade maior de visualizar [...] a robótica, até a questão de organização mental, de conhecimento, tudo muito interligado... E a tecnologia faz parte do nosso cotidiano né, eu não posso esquecer [...]. (EP3ESC2)

Nesta proposição norteadora de desenvolver uma prática interdisciplinar, emergiu a necessidade de integração de recursos digitais, de forma a potencializar o processo de ensino e de aprendizagem dos estudantes. Tal abertura metodológica gerou um ambiente propício ao desenvolvimento de práticas pedagógicas remixadas e desse movimento resultou o projeto de incluir nas aulas da matemática espaços para trabalhar estratégias vinculadas ao PC, à CM e a Gamificação por meio da metodologia ativa e do recurso da robótica.

Como vimos, o profissional de TE teve o papel de conectar as possibilidades técnicas dos recursos e de auxiliar metodologicamente o professor. As ideias pedagógicas que

defendemos em nosso remix, que propõem métodos ativos, pouco se desenvolvem em um ecossistema escolar que não rompe com a visão tradicional do ensino, já que existem fatores suficientes que pesam para que o professor tenha uma postura tradicional, como a sua vivência como aluno, sua formação inicial deficitária, a desvalorização da profissão, entre outros.

Dessa maneira, a partir do trabalho de pesquisa desenvolvido, compreendemos ainda melhor o fato de que espaços de experimentação para os professores na escola encorajam novas posturas, o que decorre em novas práticas, algo que pode se tornar uma atitude constante para a mudança na cultura escolar. Contudo, não podemos nos esquecer de que, para que isso ocorra, é necessário apoio e respaldo da gestão a fim de impactar de forma mais profunda o ecossistema escolar.