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A GESTÃO GERENCIAL IMERSA NAS NOÇÕES DE EFICIÊNCIA/EFICÁCIA Para tratar das noções de eficiência e eficácia, procuramos autores que nos

5 EFICIÊNCIA/EFICÁCIA COMO MOVIMENTOS DISCURSIVOS NA AVALIAÇÃO: GESTÃO GERENCIAL E/OU GESTÃO DEMOCRÁTICA

5.1 A GESTÃO GERENCIAL IMERSA NAS NOÇÕES DE EFICIÊNCIA/EFICÁCIA Para tratar das noções de eficiência e eficácia, procuramos autores que nos

auxiliassem a interpretá-las e, sobretudo, diferenciá-las uma da outra, observando como estas noções estão presentes nos discursos. Eficiência e eficácia são, para nós, noções discursivas oriundas da administração, que invadem o contexto da educação, especialmente na década de 1990. Esse movimento ocorre também por influência dos organismos multilaterais, e o discurso da qualidade ecoa e se dissemina, vinculando a qualidade como padrão e garantia, a qualidade do [e para] o mercado.

Algumas expressões marcam o discurso da eficiência e eficácia como resultados, prestação de contas, controle, gerenciamento. Como estes discursos se relacionam com o Sinaes e com a gestão nos cursos de licenciatura?

Conceitualmente para a Administração, eficiência e eficácia se referem a processo e produto, respectivamente.

A eficiência não se preocupa com os fins, mas apenas com os meios, ela se insere nas operações, com vista voltada para os aspectos internos da organização. Logo, quem se preocupa com os fins, em atingir os objetivos é a eficácia, que se insere no êxito do alcance dos objetivos, com foco nos aspectos externos da organização (CASTRO, 2016, p. 3).

O movimento da Nova Gestão Pública, ocorrido na década de 1990 é orquestrado, no Brasil, a partir do Plano Diretor de Reforma do Aparelho do Estado, liderado por Bresser Pereira (BRASIL, 1995b). Tal plano foi efetivado no governo de Fernando Henrique Cardoso e propunha a administração pública gerencial:

[...] baseada em conceitos atuais i i fi iê i iz h g i i á i é á gi i i i i i õ ― i i i gi ‖ i prestados pelo Estado (BRASIL, 1995b, p. 7).

Com vistas ao plano, foi aprovada a Emenda Constitucional nº 19, de 4 de junho de 1998 (BRASIL, 1998) que dispõe de princípios e normas da Administração Pública e estabelece o texto para o Art. 37 da Constituição Federal (CF) da seguinte f : ―[...] i i ú i i i i P União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência‖ BRASIL, 1998, Art. 3º, grifo nosso).

Com essa reforma algumas rupturas ocorreram e passou-se a tratar o cidadão como cliente, enfatizar a qualidade e a produtividade do serviço público, para tornar-se um serviço eficiente, criticar e superar a gestão burocrática, bem como, o excesso de normas sobre o mercado (BRASIL, 1995b). A Reforma apresenta uma solução, baseada em cinco pontos, que modificou o papel do Estado para regulador, de modo que a palavra-chave qualidade compõe a proposta de gestão gerencialista para o aparelho Estatal.

Quadro 32 – Reforma do Estado e gerencialismo na década de 1990

Cinco passos da proposta de reforma do Estado Características do gerencialismo

- Ajustamento fiscal duradouro;

- Reformas econômicas orientadas para o

mercado, que, acompanhadas de uma política

industrial e tecnológica, garantam a concorrência interna e criem as condições para o enfrentamento da competição internacional;

- Reforma da previdência social;

- Inovação dos instrumentos de política social, proporcionando maior abrangência e promovendo

melhor qualidade para os serviços sociais;

- Reforma do aparelho do Estado, com vistas a aumentar sua ―governança‖: capacidade de implementar de forma eficiente políticas públicas.

- Cidadão como cliente;

- Deslocamento da ênfase dos

procedimentos (meios) para os

resultados (fins);

- Administração pública permeável aos agentes privados e organizações da sociedade civil;

- Ênfase na regulação, nos resultados dos serviços prestados,

- Define objetivos precisamente, permite a

autonomia administrativa na gestão de

recursos humanos, materiais e financeiros e controla o resultado final.

A justificativa da implantação do sistema de avaliação tem relação com os princípios difundidos com a Nova Gestão Pública, na década de 1990, tendo como premissa a eficiência, a eficácia24 e a efetividade. Para a Educação Superior, isso implicou no desenvolvimento de avaliações como o Provão, que no primeiro momento buscava exatamente medir a eficácia, vista como resultado da aprendizagem ao final do curso de graduação.

O Sinaes foi aprovado em 2004 após o movimento da Nova Gestão Pública ter transformado o Estado, com ele houve a tentativa de rompimento com os propósitos exclusivamente gerencialistas, trazendo a experiência do Paiub, formativa e participativa impulsionando a autonomia institucional. Entretanto, o gerencialismo estava instaurado, desde a década anterior. Observamos, assim, que os princípios de eficiência, eficácia foram se aperfeiçoando no Sinaes com a criação dos índices e conceitos e com a ênfase dada ao Enade e aos seus resultados. Além disso, há a apropriação dos resultados do Sinaes por rankings externos como o Ranking Universitário Folha25 comparando cursos de distintas universidades e utilizando um conjunto de dados, entre os quais resultado do Enade e do Censo da Educação Superior. São outros usos da avaliação por agentes da mídia com ênfase em publicações, internacionalização, mercado, valorando determinados aspectos em detrimento a outros.

Essa é uma consequência do modo como a avaliação se tornou parte de uma cultura gerencialista, da eficiência e da eficácia, como uma consequência das definições estabelecidas na década de 1990, visando tornar o cidadão aluno como cliente. Os rankings, mesmo que não endossados pelo Inep, ou pelo MEC, se propagam e mobilizam os estudantes e as instituições, em busca de estrelas, como são chamados os melhores cursos: cursos cinco estrelas. Estas práticas reforçam a competição e se fundamentam nas noções de eficiência e de eficácia. Tais noções estão muito próximas ao discurso de qualidade isomórfica, que apresentamos no capítulo anterior. Estes sentidos se mesclam, e enfatizam a regulação e os processos gerenciais.

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Retomamos as cores para compreender melhor a análise: eficiência/eficácia serão enfatizadas neste capítulo, e em alguns momentos a performatividade.

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Informações de metodologia. Disponível em: <http://ruf.folha.uol.com.br/2018/o-ruf/>. Acesso em: 8 out. 2018.

A fi iê i fi á i i é i ―[...] á i é i i i i fi i fi z‖ (BURLAMAQUI, 2008, p. 139). Fazer mais, ou seja, apresentar mais resultados, com menos recursos. ―No âmbito educacional, nota-se que o ensino corresponde a um processo que sofre a interferência de vários aspectos ou variáveis [...]‖ (BURLAMAQUI, 2008, p. 137). Portanto, seria muito difícil medir esse resultado educacional, embora o Sinaes possa aparentemente indicar que seus conceitos e índices: Enade, CPC, IDD, CC, sejam os resultados dos processos complexos de formação profissional desenvolvidos nos cursos de graduação, estabelecendo-se a relação e o deslizamento entre eficiência/eficácia.

Figura 6 – Relação entre eficiência e eficácia

Fonte: Elaborada pela Autora (2018).

A eficiência e a eficácia têm correlação com a gestão, e são valorizadas na avaliação, os critérios de avaliação previstos nos Instrumentos do Sinaes vão apontar direções ao avaliar processos, que geram resultados, conceitos e índices, considerando um grupo de dimensões. Porém, qualidade não se restringe somente, a estas dimensões. Estes resultados são a formação profissional, a formação humana, a consequência do curso para a qualidade de vida dos egressos, a efetividade social, isto é, resultados incontáveis e não quantificáveis. Por isso há

subjetividade na avaliação e na gestão, mobilizando sentidos de qualidade específicos em cada contexto.

Dias Sobrinho (2003) aponta as perspectivas participativas que valorizam a autoavaliação combinada a avaliação externa, que influenciou a concepção do Sinaes, por isso, os termos da Nova Gestão Pública como eficiência, eficácia e gerencialismo, não reduzem a importância dos processos que respeitem e valorizem o que é próprio de cada comunidade acadêmica, de cada curso, dos professores e alunos, pois a ―[...] i é ‗ ‘ i ‗ ‘; f gi i i ‖ (BRANDALISE, 2010, p. 316). Ademais, emergindo uma concepção de avaliação que valoriza a gestão democrática.

Os sentidos de eficiência e eficácia estão muito mesclados entre eles e com outros sentidos de qualidade, como isomorfismo, especificidade, equidade, presentes nos discursos, gerando práticas que caracterizam a gestão entre gerencial e democrática, sem uma excluir a outra. Vamos buscar conceituar os aspectos da gestão democrática para, num terceiro momento trazer a análise da gestão dos cursos de licenciatura caso a caso.