• Nenhum resultado encontrado

“Nunca consideremos a gestão como uma atividade puramente técnica, divorciada dos valores e objetivos educacionais, um receio sentido por muitos dos atores escolares. A gestão deve ser antes tomada como uma atividade que pode facilitar e estruturar a definição de objetivos e que pode igualmente dar-lhes expressão prática.” (Ron Glatter)

CAPÍTULO III GESTÃO PARTICIPATIVA

A construção de um processo de gestão centrado nos valores e princípios democráticos é tarefa política e educativa da escola, que representa uma das mais importantes e essenciais atividades públicas e constitui lugar de formação do cidadão como um ser social histórico e o sujeito de relações. O trabalho como princípio educativo é inerente ao processo pedagógico da escola. Nesse sentido, não existem fórmulas de gestão compartilhada; ela se constrói no processo político e cultural da escola. Esta gestão não se limita ao administrativo. Pressupõe autonomia administrativa e financeira, assim como a autonomia para que cada escola possa construir seu projeto político pedagógico e estabelecer seu próprio sistema de avaliação. Nesse sentido, a escola torna-se democrática para sua essência pedagógica, traduzida por seu caráter público, pelas novas relações sociais que estabelece pelo partilhamento das decisões e, essencialmente, pela formação para a cidadania.

Para tanto, formação para a cidadania implica colaboração, co- responsabilidade e solidariedade, o que torna a participação fator essencial nessa construção coletiva. A organização e o funcionamento da escola, não podem prescindir da competente participação de todos os envolvidos no ato pedagógico. Por mais importante que seja o apoio logístico, a rotina e o cotidiano, a essencialidade da gestão escolar está na relevância e na pertinência da prática social da educação, portanto no aspecto pedagógico e na organização da prestação do serviço educacional de qualidade.

De acordo com esses princípios, cabe ao Conselho Gestor garantir a participação da comunidade interna e externa, a fim de que assumam o papel de co-responsáveis na construção de um projeto pedagógico que vise um ensino de qualidade. Para que isso aconteça é

preciso preparar um novo diretor, libertando-o de suas marcas autoritárias e anti-educativas. Para tanto, teria que se redefinir seu perfil na atual conjuntura sócio-político-educacional. Urge que se desenvolvam características de coordenador, colaborador e de educador, para que se consiga implementar um processo de planejamento participativo.

Dentro desse espírito deve existir um Conselho Gestor de caráter deliberativo, composto de representantes dos segmentos da comunidade interna (diretor, vice-diretor, coordenadores pedagógicos e educacionais, professores, alunos e funcionários) e externa (pais, instituições, sociedade civil organizada, etc.), ficando com esse conselho a responsabilidade última pela gestão administrativa e pedagógica da escola. Para efeito de funcionamento este Conselho teria uma Diretoria Executiva, encarregada de implementar as diretrizes e ações do Conselho, o qual seria composto de três coordenações (pedagógica, comunitária e financeira), cujos coordenadores seriam membros natos e mais os representantes da comunidade interna e externa.

Tal prática, se adotada no cotidiano escolar, encontrará respaldo no pressuposto de que ao aprender fazer fazendo é que se gesta a consciência cidadã. Assim, por meio da prática, os envolvidos no processo vivenciam situações de cidadania próprias da dinâmica social e do papel do cidadão nessa dinâmica. Num processo colegiado, assinala-se ainda a ênfase dada ao trabalho cooperativo e solidário, indispensável à vida em sociedade. Isto só será viável no momento em que, se optando por uma gestão compartilhada, a mesma seja viabilizadora da construção de um projeto pedagógico de qualidade que espelhe a vontade política dos envolvidos no processo. Nesta perspectiva, esse processo de administração vincula-se intrinsecamente ao cumprimento da função social e política da educação escolar, que é a formação do cidadão participativo, por meio da produção e socialização do saber historicamente acumulado pela humanidade.

De forma que, ao se firmar como prática política essencialmente democrática, a gestão compartilhada preocupa-se em instituir uma forma de organização escolar que enfrente e supere os conflitos pela síntese superadora resultante das convergências e sintonias dos diferentes grupos que integram a escola, através da participação coletiva. Elimina-se, assim, o espírito corporativo e competitivo exacerbado, existente no interior do espaço escolar e inicia-se um processo permanente da participação na construção de uma educação comprometida com a transformação social.

Portanto, uma administração compartilhada, firmada numa concepção de Conselho Gestor explicitada anteriormente, constituir-se-á em efetivo espaço de comprometimento dos representantes da comunidade interna e externa com o projeto pedagógico elaborado de forma partilhada.

Adotar tal princípio participativo, acredita-se na possibilidade da consolidação de uma proposta pedagógica que melhor atenda às necessidades dos atuais alunos, visando à construção de uma nova ordem social. Nessa perspectiva, a tarefa dos agentes educativos implica, em primeiro lugar, que eles compreendam que seu trabalho se estende ao compromisso com a totalidade do processo escolar, não se restringindo por conseguinte, somente à sala de aula. Isso, por sua vez, exige que eles percebam a dimensão polítco-pedagógica de seu trabalho e o significado social de co-responsabilizar-se pela definição do projeto pedagógico a ser assumido pela escola. Em segundo lugar, que eles, em conjunto com a comunidade externa, garantam a efetivação de uma proposta pedagógica que leve ao pleno exercício da cidadania. Isto significa que eles devem procurar garantir aos alunos a produção e posse sistemática do saber científico historicamente acumulado, sem esquecer as experiências de vida e a realidade social daqueles a quem devem educar. Este aspecto tem o mérito de elevar o nível de consciência crítica dos alunos e de introduzi-los na atualidade histórica e social de sua época, possibilitando-lhes uma atuação consciente e competente na transformação histórica. Isto propicia

aos alunos, além de condições de domínio do saber sistematizado, o efetivo exercício democrático de participação nas decisões da vida escolar. Com o desenvolvimento desse espírito cooperativo, os agentes educativos estarão contribuindo para que os educandos se transformem em elementos ativos da transformação da sociedade. Neste particular, cabe à escola desenvolver o conhecimento enquanto formação do homem culto. Para tanto, faz-se necessária uma gestão democrática como facilitadora do aprendizado do aluno, permitindo-lhe que, pelas aptidões cognitivas, construa sua caminhada ao longo da vida.

Nesse sentido parece estar implícita a importância da gestão compartilhada, não apenas como instância de natureza administrativa, mas como mediação de uma prática pedagógica e política que leve à construção da escola de qualidade, pretendida pela classe trabalhadora. Colocada nestes termos, essa forma de gestão é percebida como condição de recuperação da função social da escola. Portanto, qualquer unidade escolar que se utilize desse tipo de gestão, como facilitadora da emancipação do cidadão e da universalização do trabalho intelectual terá que rever seu projeto pedagógico para que o mesmo contribua para tal desiderato político- social.

Gerir os espaços coletivamente é o princípio de quem acredita que, com a participação e experiência de todos os atores da comunidade, pode-se revolucionar o trabalho.

A gestão democrática possibilita construir participativamente um Projeto de Educação de qualidade social, transformador e libertador, no qual a escola, em seus diversos aspectos e tempos, contribua efetivamente para o exercício dos direitos, a formação de sujeitos como cidadãos plenos reafirmando os princípios da democracia, da solidariedade, da justiça, da liberdade, da tolerância e equidade, na direção de uma nova sociedade mais justa, igualitária, fraterna e democrática.

A fundamentação da gestão está na contribuição de um espaço de direito que deve:

a) promover condições de igualdade;

b) garantir estrutura material para serviços de qualidade;

c) criar um ambiente de trabalho coletivo que vise à superação de um sistema educacional seletivo e excludente;

d) inter-relacionar o sistema educacional com o modo de produção/distribuição de riquezas com a organização político; com a definição de papéis de poder; com as técnicas do conhecimento, das ciências, das artes e das culturas.

Faz-se necessário colocar em prática uma gestão que estimule a participação dos diferentes segmentos do sistema de ensino/escola nas instâncias de decisão, permitindo o trabalho de valorização da dimensão humana e proporcionando uma ação prático-criadora que explicite as contradições existentes no cotidiano do trabalho. Para garantir a democratização da gestão deve-se ter uma organização em que predominem as decisões coletivas pensadas à luz de um contexto mais amplo, que extrapolem os muros da escola.

A participação dos diferentes segmentos na construção e decisão do projeto político pedagógico da Educação não acontece de forma espontânea, mas sim, realiza-se a partir da conscientização e perseverança de todos, bem como na criação de mecanismos de participação que viabilizem as intenções coletivas.

Nesta concepção, o Conselho de Escola constitui-se em um instrumento fundamental para a efetivação da democratização da gestão, por

meio do qual todos os seus membros precisam participar e defender pontos de vista com segurança, certos de que conquistaram um espaço com igualdade, numa prática participativa. Mas para que os mecanismos de participação se efetivem é necessário um processo de formação permanente com os diferentes segmentos da comunidade escolar, o qual consiga elevar o patamar de intervenção, até porque, historicamente, neste país, temos tido poucas e fragmentadas possibilidades de participação efetiva.

É assim, então que os Conselhos de Escola são compreendidos como espaços:

a) informativos porque ampliam as informações sobre os processos educacionais;

b) educativos como prática de reflexão e ação sobre assuntos de interesse de todos;

c) organizativos tanto porque têm relações institucionais de representação diante do poder e da sociedade quanto porque podem se expandir para outras ações coletivas.

Pode-se construir mecanismos de democratização da gestão como: eleição de Professores coordenadores e Professores Assistentes de unidade escolar, eleição de Conselho de Escola, criação e eleição de Grêmios Estudantis e o Conselho de Compromisso, vinculado a Projeto de Ação Compartilhada. Sabe-se que ainda há um longo caminho para que sejam viabilizadas outras ações de participação e para que se consolidem os já existentes.

Enfim, a democracia da gestão está diretamente ligada à qualidade da educação, na medida em que possibilita a participação de mais pessoas na construção do Projeto Político Pedagógico da escola e políticas públicas para a educação da cidade, favorecendo a democratização dos

saberes, o respeito às identidades, o desenvolvimento das pessoas, a formação das lideranças e a consolidação de uma cultura mais democrática.

Este caminho de participação democrática é longo e vem sendo aperfeiçoado nas últimas décadas com investimentos daqueles que acreditavam no envolvimento de mais pessoas nos processos de decisão,acompanhamento,fiscalização e avaliação, contribuindo assim com o aperfeiçoamento da democracia de um modo geral.

A partir desse conceito é que define-se a gestão democrática como um dos eixos norteadores da Proposta Curricular para a Escola, que já tem grande acúmulo de prática e experiências pedagógicas elaboradas por meio de processos de discussões coletivas e democráticas.

CONCLUSÃO

Este trabalho quis ser uma reflexão sobre a mudança de paradigma de administração para gestão, que vem ocorrendo no contexto das organizações e dos sistemas de ensino, como parte de um esforço fundamental para a mobilização e articulação do talento humano e sinergia coletiva, voltados para o esforço competente de promoção da melhoria do ensino brasileiro e sua evolução. Foram analisadas questões relacionadas à condução e orientação das questões educacionais e delineia perspectivas para a orientação do trabalho de gestão competente, à luz de um paradigma dinâmico, mobilizador do talento humano e responsável pela transformação das instituições educacionais.

Percebe-se, no entanto, mais importante que mudar o termo é mudar a concepção subjacente ao rótulo utilizado. Cabe ressaltar que, com a denominação de gestão, o que se preconiza é uma nova ética de direção, voltada para a transformação das instituições e de seus processos, como meio para a melhoria das condições de funcionamento do sistema de ensino e de suas instituições.

Cabe também lembrar que apenas mudar denominações, em si, nada significa. É necessário que a nova forma de representação denote originalidade e efetiva atuação. Mas, negar ou menosprezar tudo o que a ótica anterior demonstra, corresponderia a negar uma dimensão básica da realidade, uma vez que uma nova ótica é sempre desenvolvida para superar a anterior, mantendo por base os seus princípios, para determinar o progresso e evolução.

ANEXOS

Documentos relacionados