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CAS define-se como uma rede de organizações que vão desde a produção rural até o consumidor final, onde produtos da agropecuária e seus derivados são transportados em diferentes estágios de industrialização, resultado de uma série de processos (ARAMYAN; KUIPER, 2009; LIU; YU; LIN, 2012). CAS podem incluir desde pequenos produtores rurais até grandes indústrias. Assim, a diversidade de tamanho, nível tecnológico e sistemas de gestão dos agentes de uma CAS condicionam o fluxo de informação e a coordenação da cadeia (BAVOROVA; DAUTZENBERG; HANF, 2006).

As CAS têm características específicas que as distinguem de outras CS. As principais características e suas consequências são apresentadas no Quadro 1. As principais

especificidades surgem do fato de a produção depender da agropecuária como fornecedora de matéria-prima. Esse fato interfere diretamente sobre a dinâmica dessas cadeias por causa da dependência das condições naturais no campo, das características biológicas de produtos, da influência do comportamento do consumidor e das particularidades do mercado. Isso resulta em uma maior complexidade na gestão da cadeia de abastecimento. Os motivos de tal complexidade se explicam pela sazonalidade, percepções e variações na qualidade das matérias-primas e produtos finais. Isso se associa à maturação dos investimentos ser de longo prazo e haver uma flutuação dos preços de acordo com: a cultura, os riscos sanitários, a segurança alimentar, o transporte e o tipo de armazenamento. Além disso, há um maior oportunismo no varejo por conta da proximidade dos consumidores e uma preocupação dos consumidores sobre os métodos de produção (ROSALES; PIZOL; BATALHA, 2016).

Devido às características relativas ao produto de origem agrícola, mostradas no Quadro 1, existem fontes de risco específicas para a CAS. Entre os vários riscos, destacam-se os aspectos sociais e ambientais ligados à origem da matéria-prima. Com a sociedade mais informada e mais preocupada com questões sociais e ambientais, as CAS estão se tornando mais vulneráveis a riscos relativos a essas questões e que ameacem a reputação dos agentes da CAS. Nesse cenário, as CAS se destacam por chamar mais atenção do consumidor e stakeholders para as questões socioambientais (MALONI; BROW, 2006). O presente estudo se realiza nesse contexto de riscos reputacionais ligados a questões sociais e ambientais que ocorre no meio rural de agentes de CAS.

Quadro 1 – Principais características das cadeias agroindustriais de suprimento e suas consequências para a cadeia

Características Consequências

Dependência das condições naturais na produção rural

Sazonalidade na disponibilidade de matéria-prima Longo período de maturação dos investimentos

Efeito das condições naturais na quantidade e qualidade da matéria-prima

Flutuação dos preços conforme regime de safra e entressafra

Natureza biológica dos produtos

Perecibilidade da matéria-prima e do produto final Riscos de contaminação

Variação na qualidade da matéria-prima e do produto final Necessidades especiais de transporte e armazenamento Impossibilidade de estocar os produtos mais perecíveis Assimetria de informação em relação aos atributos de qualidade dos produtos

Preocupação com a segurança do alimento

Importância das características sensoriais do produto Influências do comportamento e preferências do

consumidor

Preocupação do consumidor com os métodos de produção Sazonalidade de consumo

Sazonalidade de produção e oferta Flutuação de preços conforme a demanda Fonte: Adaptado de Rosales et al. (2015).

Assim, as especificidades de CAS as tornam vulneráveis a riscos específicos do setor rural (SPORLEDER; BOLAND, 2011). Portanto, apesar de terem objetivos idênticos às demais CS, algumas práticas desenvolvidas para a gestão de outros setores se tornam menos eficientes quando aplicadas às CAS (KAO; REDEKOP; MARK-HERBERT, 2012).

Os riscos são aspectos que não podem ser previstos com total precisão no momento da tomada de decisão, mas que podem afetar diretamente as operações das firmas. Todo processo e decisão nos negócios envolve inúmeras incertezas que precisam ser trabalhadas para se evitar consequências negativas. Tomar decisões pode requerer análise, controle e mitigação de riscos. Isso tem resultado em diversos estudos sobre como monitorar e gerenciar risco nas áreas de teoria da decisão, finanças, ciência atuarial, assistência médica, marketing, gestão, plano de emergência e psicologia, havendo uma grande heterogeneidade de conceitos e abordagens do termo gestão de risco, inclusive quando aplicado à CS (HECKMANN; COMES; NICKEL, 2015).

Zsidisin (2003) propõe uma definição de risco de fornecimento que se relaciona com a ocorrência de um incidente e com a incapacidade das empresas afetadas lidarem com as consequências desse incidente, resultando em não satisfazer a demanda do consumidor. Em outras palavras, risco em CS pode ser entendido como um desvio negativo num desempenho esperado que, consequentemente, impacta negativamente a empresa focal.

No entanto, Pfohl e Gomm (2009) fornecem um entendimento mais completo, afirmando que esses riscos podem ser atribuídos a distúrbios no fluxo de material, informações ou rede financeira, assim como redes institucionais e sociais. Como consequência, pode haver efeito negativo nos objetivos de uma organização e em toda cadeia, afetando o valor, custo, qualidade ou tempo de entrega ao consumidor final. Para o presente estudo, adota-se uma definição de risco em CS próxima da proposta por Heckmann, Comes e Nickel (2015, p. 130). O risco em uma CS pode ser visto como sendo “o potencial de uma CS não atingir seus objetivos de eficiência e eficácia em virtude de mudanças na sua dinâmica de funcionamento ocasionadas por eventos incertos”.

Identificar o ponto de ocorrência de um risco é importante para se tomar decisão na CS. O risco pode ser encontrado em três níveis:

a) dentro de uma organização focal; b) dentro da cadeia de suprimento; ou

c) fora da cadeia de suprimento, porém no seu ambiente e, consequentemente, afetando a empresa focal (CHRISTOPHER; PECK, 2004).

Essa caracterização deixa clara que para se evitar riscos há a necessidade de se adotar medidas que atinjam não apenas a organização focal, mas a CS ou até toda a rede de cadeias cuja organização está inserida (JÜTTNER; PECK; CHRISTOPHER, 2003).

O risco em CS pode ser materializado em um evento denominado na literatura como ruptura em CS. Bode et al. (2011) descrevem esse risco como a combinação de eventos acionadores, caracterizado pela frequência de ocorrência e severidade, com uma consequente situação de impedimento ou parada do fluxo de material, informação ou recurso financeiro entre organizações.

Esse tipo de risco também pode ser entendido como qualquer falha ou incidente que cause perturbações nos fluxos das CS, incapacitando a cadeia a atender à demanda de seus clientes e afetando negativamente o desempenho das empresas (ZSIDISIN; RITCHIE, 2009). Tomas e Alcântara (2013) destacam que os riscos aos quais as empresas estão expostas podem causar danos de vários tipos, como financeiros, humanos, materiais ou até mesmo de imagem. Dessa forma, deve-se salientar que os riscos em CS podem ou não resultar em rupturas nos fluxos internos das CS e suas consequências podem ir além de perdas financeiras mais imediatas.

Os riscos em CS são resultado de um ou mais eventos ou situações específicas que não podem ser totalmente previstos e que afetam negativamente o desempenho da CS toda e/ou das firmas individualmente, chamados de fonte de risco em CS (DIABAT; GOVINDAN; PANICKER, 2012). Nishat, Faisal, Banwet e Shankar (2006) destacam que são inúmeras as fontes de riscos em uma CS, relacionando isso aos diversos relacionamentos internos que existem dentro de CS.

A grande maioria dos riscos em CS está relacionada às questões econômicas ou de gestão, por exemplo, lucratividade, qualidade, oscilação da demanda e falta de matéria-prima. No entanto, a preocupação crescente do consumidor final e de stakeholders com questões relacionadas à ética e ao meio ambiente fez emergir uma nova classe de risco ligado a aspectos socioambientais. Assim, a função de suprimento tem sido frequentemente confrontada com uma categoria emergente de risco, o risco à sustentabilidade (BUSSE et al., 2017a; HOFMANN et al., 2014a; SHAFIQ et al., 2017). Os autores relacionam esse risco à possibilidade de ocorrência de reações negativas de stakeholders, impactando, consequentemente, a imagem e reputação dos agentes da CS. O presente estudo entende a consequência de um risco como uma perturbação que impacta a reputação de um agente da CS e, consequentemente, pode resultar em perdas financeiras, de imagem ou rupturas anteriormente citadas.

3.2 RISCOS À REPUTAÇÃO EM CS OCASIONADO POR FATORES QUE AFETAM