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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.2 GESTÃO UNIVERSITÁRIA

A gestão universitária caracteriza-se por ser temática que compreende variada bibliografia, apesar de merecer ainda estudos profundos, dada a relevância da área. Nesta primeira seção, são abordados, inicialmente, aspectos relativos à origem das universidades, concepções de universidade e elementos da educação superior brasileira. Na sequência, são discutidas questões referentes ao contexto das

universidades, especialmente no que tange à complexidade e especificidades que caracterizam a gestão dessas instituições.

2.2.1 A Universidade

As universidades, Instituições de Ensino Superior (IES) públicas ou privadas, são concebidas de diferentes formas pelos autores que estudam a temática. Apesar de ser um tema bastante pesquisado e debatido, as informações sobre as condições e o local de surgimento dessas instituições diferem, tornando-se complexo determinar com exatidão qual foi, de fato, a primeira instituição criada. Segundo Charle e Verger (1996), as primeiras Universidades que se têm registros surgiram no Século XIII, no continente europeu. Pode-se afirmar que são contemporâneas as universidades de Paris, Bolonha, Salamanca e Oxford (CHARLE; VERGER, 1996).

Dentre as concepções de universidade, Wanderley (2003, p. 11) defende que a universidade “é um dos lugares privilegiados para conhecer a cultura universal e as várias ciências, para criar e divulgar o saber, mas deve buscar uma identidade própria e uma adequação à realidade nacional”. Nesse sentido, Chauí (2003) reconhece a universidade como uma instituição social, que representa de modo imparcial a estrutura e o modo de funcionamento da sociedade como um todo.

No que concerne aos objetivos e funções da universidade, bem como sua estrutura e organização, suas finalidades básicas são o ensino, a pesquisa e a extensão (WANDERLEY, 2003). Vahl (1991) relata que

a organização universitária tem se caracterizado como um agrupamento de indivíduos, submetidos a regras e a uma estrutura de posição que define as relações entre eles. Estas regras e estruturas, definidas de forma deliberada e intencional, visam a atingir certas finalidades (objetivos), que correspondem à sua razão de ser (VAHL, 1991, p. 111).

Já, para o Estado brasileiro, as universidades são “instituições pluridisciplinares de formação dos quadros profissionais de nível superior, de pesquisa, de extensão e de domínio e cultivo do saber humano” (BRASIL, 1996a), que se caracterizam pelo seguinte:

I- produção intelectual institucionalizada mediante o estudo sistemático dos temas e problemas mais relevantes, tanto do ponto de vista científico e cultural, quanto regional e nacional; II - um terço do corpo docente, pelo menos, com titulação acadêmica de mestrado ou doutorado; III - um terço do corpo docente em regime de tempo integral (BRASIL, 1996a).

As universidades brasileiras sofreram modificações, tanto na esfera acadêmica como na administrativa, com a Reforma Universitária de 1968. Tendo seus princípios fundamentais inspirados no sistema norte americano, a reforma implantada por meio da Lei n.º 5.540/68, que fixou “normas de organização e funcionamento do ensino superior e sua articulação com a escola média”, extinguiu a cátedra e instituiu a departamentalização, assumindo novas estruturas, por meio de órgãos superiores (Conselhos Superiores, Reitoria e Pró-reitorias) e setoriais (Centros e Departamentos) (BRASIL, 1968).

Quanto às universidades públicas, elas gozam, na forma da lei, de “estatuto jurídico especial para atender às peculiaridades de sua estrutura, organização e financiamento pelo poder público, assim como dos seus planos de carreira e do regime jurídico do seu pessoal” (BRASIL, 1996a). A forma jurídica tradicional de organização de universidades federais, desde as primeiras implantadas no país, foi a Autarquia (VAHL, 1991). No exercício da sua autonomia, estão entre as atribuições asseguradas às universidades públicas:

I – propor o seu quadro de pessoal docente, técnico e administrativo, assim como um plano de cargos e salários, atendidas as normas gerais pertinentes e os recursos disponíveis; II – elaborar o regulamento de seu pessoal em conformidade com as normas gerais concernentes; [...] (BRASIL, 1996a).

Para Santos e Almeida Filho (2008, p. 101), a universidade pública tem como especificidade, enquanto bem público, “em ser ela a instituição que liga o presente ao médio e longo prazo pelos conhecimentos e pela formação que produz e pelo espaço público privilegiado de discussão aberta e crítica que constitui”. Chauí (2003) argumenta que, desde seu nascimento, ela sempre foi uma instituição social, cuja legitimidade fundamentou-se na conquista da ideia de

autonomia do saber em face da religião e do Estado. As ideias de democracia e redemocratização do saber tornaram-se inerentes à universidade como instituição social. Suas mudanças condizem com as transformações sociais, econômicas e políticas e, quando em um Estado republicano e democrático, é presumível que exista como instituição social diferenciada e autônoma (CHAUI, 2003).

As universidades públicas brasileiras são instituições que compõem o sistema de educação superior braileiro. Vahl (1991) versa sobre o início do ensino superior no Brasil, que, para vários autores, ocorreu oficialmente com a chegada da Família Real Portuguesa ao Brasil, no ano de 1808. De lá para cá, diversas Escolas, Universidades e Instituições de Ensino Superior em geral foram criadas e numerosas vêm sendo as modificações ocorridas no contexto do ensino superior no Brasil.

Destacam-se, como marcos da educação no Brasil: a)1930: criação do Ministério da Educação e Saúde Pública (nome à época); b) 1961: aprovação e promulgação da primeira Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da Educação Nacional que, por sua vez, criou o Conselho Federal de Educação – CFE; c) Janeiro de 1966: criação e instalação do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras; d) Novembro de 1966: Decreto-Lei n.º 53: fixou princípios e normas de organização para as universidades federais (complementado pelo Decreto-Lei n.º 252/66) (VAHL, 1991).

Ainda, no que diz respeito ao contexto brasileiro, a Lei n.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996, estabelece as atuais diretrizes e bases da educação nacional, abrangendo o ensino superior e, consequentemente, as universidades (BRASIL, 1996a). O Quadro 1 apresenta as finalidades da educação superior, segundo a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) (BRASIL, 1996a).

Quadro 1 - Finalidades da educação superior

(continua) FINALIDADES DA EDUCAÇÃO SUPERIOR

I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo;

II - formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua;

(conclusão) FINALIDADES DA EDUCAÇÃO SUPERIOR

III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive;

IV - promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicações ou de outras formas de comunicação; V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional e possibilitar a correspondente concretização, integrando os conhecimentos que vão sendo adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do conhecimento de cada geração;

VI - estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os nacionais e regionais, prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta uma relação de reciprocidade; VII - promover a extensão, aberta à participação da população, visando à difusão das conquistas e benefícios resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e tecnológica geradas na instituição;

VIII - atuar em favor da universalização e do aprimoramento da educação básica, mediante a formação e a capacitação de profissionais, a realização de pesquisas pedagógicas e o desenvolvimento de atividades de extensão que aproximem os dois níveis escolares.

Fonte: Brasil (1996).

O ensino superior brasileiro passou por diversas transformações, especialmente nas últimas décadas, com consideráveis mudanças que possibilitaram maiores oportunidades de acesso e permanência. Nesse sentido, destacam-se políticas públicas destinadas ao ensino superior, tais como: o Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais Brasileiras – REUNI; o Programa Universidade para Todos - PROUNI; a Universidade Aberta do Brasil - UAB; o Fundo de Financiamento Estudantil - FIES e a criação de Institutos Federais (SOUZA, 2009).

No contexto das universidades públicas, ressalta-se o Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais Brasileiras (REUNI), instituído pelo Decreto nº. 6.096, de 24 de abril de 2007. O Programa teve como objetivo

criar condições para a ampliação do acesso e permanência na educação superior, no nível de graduação, pelo melhor aproveitamento da

estrutura física e de recursos humanos existentes nas universidades federais (BRASIL, 2007). O Quadro 2 apresenta as diretrizes do Programa lançado pelo MEC, o qual fez parte do Plano de Desenvolvimento da Educação (MEC, 2007).

Quadro 2 – Diretrizes do REUNI