• Nenhum resultado encontrado

2 CAMINHOS METODOLÓGICOS

4.3 ESPECIFICIDADES QUE NÃO CABEM EM GRANDES ‘CATEGORIAS’

4.3.3 GLÓRIA: ENTRE GELO, FISIOTERAPIA E SAUNA

Logo que iniciou no judô, Glória se destacou nos treinos e nas competições, conquistando frequentemente o primeiro lugar nos pódios. No entanto, no seu terceiro ano como atleta dessa modalidade enfrentou a sua primeira derrota. Conforme já foi mencionado, ao ser derrotada pela amiga e adversária Tatiana, Glória perdeu a vaga em uma seletiva importante para o judô brasileiro, e afirmou que a derrota não “veio fácil”, pois estava acostumada em ser a “primeira”. Depois desse episódio, em março de 2018, foram perceptíveis as suas ausências nos treinos.

Na entrevista realizada com Glória - no início da pesquisa de campo -, embora ela tenha afirmado que não pensava em sair do judô, já havia sinalizado algumas dificuldades

que estava enfrentando naquele momento do seu percurso como atleta. No excerto da entrevista, a seguir, aparecem essas dificuldades:

Pesquisadora: e essa questão do corpo, como é que tu estas? Tem lesões?

Glória: muita lesão, muita, muita. Esse ano eu tive duas lesões graves: uma foi no início do ano que foi na seletiva para o brasileiro, porque eu perdi a seletiva do brasileiro no final porque eu me machuquei. Eu rompi o ligamento do punho direito.

Pesquisadora: foi durante a competição?

Glória: isso, eu estava lutando com a menina e eu perdi por causa disso. Eu estava lutando, ela fez um golpe e o meu punho ficou e foi para trás, rompeu o ligamento.

Pesquisadora: doeu muito?

Glória: muito, muito. Daí eu fiquei dois meses afastada, depois eu voltei. Pesquisadora: tu teve que ficar fazendo fisioterapia dois meses?

Glória: eu não aguentava mais ficar dentro de casa, não aguentava só vir para o clube e não poder treinar. E depois o outro foi quando eu quebrei a escápula, eu tive que colocar uma placa, uma placa bem pequenininha, porque eu fiquei dois meses afastada porque a minha escápula quebrou. Ela se afastou tanto que ela não ia voltar sozinha e daí eu tive que colocar uma placa. Foi num treino, eu estava lutando com um menino, ele me deu um golpe e eu caí em cima do ombro, da escápula e daí ele caiu em cima de mim. Doeu muito, muito, muito. No primeiro mês eu já estava assim: “mãe, como assim? Eu recém voltei, por que eu me machuquei? Eu chorava demais porque eu não queria ficar afastada (Entrevista Glória, 17/11/2017).

Nos primeiros meses de pesquisa de campo, consegui estabelecer alguns diálogos com Glória e compreender algumas situações que ela estava enfrentando nos treinos. Em uma dessas conversas informais, ela relatou que estava “insegura” para participar da seletiva do Campeonato Sulbrasileiro de judô por diversos motivos, dentre os quais a lesão no punho. Glória afirmou que estava sentindo dor no local da lesão, o que dificultava o seu desempenho nos treinos (Diário de campo, 27/02/2018).

Naquele dia eu havia marcado uma conversa com o sensei Rodrigo para explicar os objetivos da pesquisa, portanto, não esperava encontrar Glória ainda no clube - já era 21h e seu treino havia terminado. Quando perguntei à menina o que fazia àquela hora no clube, ela respondeu que os treinadores queriam conversar. Suspeitando que era uma conversa sobre o seu desempenho nos treinos e nas competições, perguntei se seria uma “conversa delicada” e ela confirmou: “muito delicada” (Diário de campo, 27/02/2018).

No encontro que ocorreu depois desse diálogo perguntei-lhe como havia sido a “conversa delicada” e ela disse que os treinadores estavam preocupados com suas faltas e

também pediram que ela fosse mais resistente nos treinos e “não desistisse por qualquer dor”. Ela discordou dos treinadores, afirmando que se considerava bastante resistente à dor (Diário de campo, 06/03/2018).

No entanto, não foram poucas as vezes em que presenciei a menina chorando e/ou se machucando durante os treinamentos, e também faltando aos treinos, alegando que estava com dor. Nas descrições a seguir constam alguns desses momentos:

Hoje fui até o clube observar o treino. Cheguei cedo, pois tinha compromisso perto do clube, sabia que teria que esperar cerca de 1 hora até o início do treino. Quando subi o primeiro lance de escadas me surpreendi com Glória sentada no banco sozinha. Aproximei-me dela e iniciei uma conversa. Perguntei como ela estava e como estava o punho. A menina respondeu que estava doendo bastante e que talvez nem conseguisse treinar hoje. Perguntei se ainda estava muito nervosa para a seletiva que participaria, ela confirmou, pois continuava com dor. Neste dia ela aguardava o namorado sair do treino de basquete (Diário de campo, 06/03/2018).

Observei que Glória sentou, em meio ao treino, e ficou conversando com duas meninas que pareciam estar aguardando para treinar no próximo horário. Glória, ao mesmo tempo em que conversava com as meninas, colocava gelo no seu punho. O treinador se aproximou e perguntou, de forma descontraída, por que estava sentada. Glória apenas mostrou o punho, o que foi suficiente para o treinador se afastar sem falar nada. Passados 20 minutos de gelo e conversa, a menina retornou ao treino.

Glória formou dupla com uma menina para a simulação de uma luta. A disputa entre as meninas parecia equilibrada até que a oponente conseguiu derrubá-la com força. Glória caiu em cima do ombro gritando, parecia sentir muita dor. A menina que estava treinando com ela chamou o treinador e outra colega a puxou pelos pés e colocou mais ao lado do tatame, neste momento ela gritou alto. Fiquei preocupada, achei que havia se machucado feio. Aproximei-me e perguntei se precisava de algo, ela apenas respondeu “não”. Sua colega foi chamar o médico do clube, mas em seguida retornou informando que Glória deveria descer até o departamento médico.

Acompanhei a menina com mais duas amigas e no caminho uma das meninas direcionou a palavra a mim, como se estivesse explicando a situação para alguém de fora: “ela (menina que aplicou o golpe) fez na maldade!”. Glória chegou ao departamento médico e pediu que uma das amigas fosse junto, porém já estava rindo e descontraída, parecia não estar mais sentindo tanta dor. Quem a atendeu pediu que as amigas aguardassem do lado de fora, o atendimento foi rápido.

A menina saiu da consulta dizendo que estava com muitas contraturas e que podia ter apenas dado um mau jeito muscular. Comentei que me senti aliviada, pois a queda parecia mais grave, Glória concordou. O treino estava quase no fim quando retornamos para o tatame, todos já estavam se organizando para tirar a foto que iria para o mural do clube (Diário de campo, 18/09/2018).

Subindo a escada em direção ao tatame do judô vejo que Glória está logo atrás de mim, olhando para baixo mexendo no celular. Chamei sua atenção, nos cumprimentamos e perguntei como estava seu ombro, a menina respondeu que estava melhor, pois havia feito massagem e colocado gelo. No entanto, afirmou que o que estava “incomodando mesmo” era o seu punho e que, em função da dor, ela não havia treinado no dia anterior para fazer fisioterapia. Quando entramos no dojô sentei logo na arquibancada, onde geralmente os pais e acompanhantes dos atletas aguardam. Glória cumprimentou algumas amigas da sua idade e me avisou que iria encontrar uma amiga no departamento médico, concordei e disse que ficaria por ali mesmo. Glória não voltou mais para o dojô neste dia.

No final do treino resolvi perguntar para o treinador Leonardo se ele sabia onde a menina estava, o treinador informou que ela havia dito que não treinaria hoje porque estava com dor no punho e precisava se preservar para a competição que haveria no sábado. Lembrou também que Glória avisou que faria sauna para perder um pouco de peso (Diário de campo, 27/09/2018).

Não foram poucos os dias em que Glória se ausentou alegando estar com dores, ou ainda, terminou o treino mais cedo para colocar gelo no seu punho. Portanto, além das lesões interferirem nas competições, como foi narrado por Glória, também a impediam de manter a frequência exigida para um atleta de alto rendimento. Esses aspectos foram relatos por ela como contribuintes para a sua ‘insegurança’ em enfrentar adversárias com maior preparo, como Tatiana. No entanto, diferente das ex-ginastas, a ‘judoca’ não era pressionada pelos treinadores para melhorar o seu rendimento nos treinos e nas competições. Muito pelo contrário, segundo Ângela, os treinadores haviam ‘flexibilizado’ suas exigências para que a menina não saísse do judô. Um exemplo disso foi quando o treinador Leonardo viu a menina sentando em meio ao treino para colocar gelo e não exigiu que ela retornasse. Esse aspecto do percurso de Glória vai ao encontro dos estudos que destacam as lesões como um dos fatores que contribuem para o fim da participação dos atletas no esporte. Porém, observando o modo com que ela ‘lidava’ com essa situação, compreendi que essa condição possibilitou/facilitou que ela vivenciasse outros momentos no clube.

Além das faltas em função das lesões e das dores, também observei que Glória se ausentou de alguns treinos para fazer sauna com as amigas. Sobre as amizades da menina naquele contexto, o treinador Rodrigo afirmou que, quando entrou no judô, Glória fez amizade com Tatiana e ambas se desenvolveram juntas no esporte, tornando-se as melhores atletas da equipe. Porém, com o passar do tempo, Glória e Tatiana disputaram

os mesmo títulos. Nessas disputas, a mãe de Tatiana estava sempre presente e torcia calorosamente pela filha, o que gerou tensão e desconforto na relação de amizade das meninas e entre as relações de suas mães, Ângela e Tânia.

E diante dessa tensão entre as meninas e suas famílias, segundo o treinador Rodrigo, Glória e Tatiana se afastaram. Nesse processo de distanciamento, Glória se aproximou de outras colegas da equipe. Como já mencionei anteriormente, na opinião do treinador as novas amizades não ‘ajudavam’ Glória em seu processo de engajamento com o esporte.

Inúmeras vezes observei Glória com uma amiga que, conforme afirmação do treinador Rodrigo, treinava “mais por obrigação da mãe” do que por vontade própria. Uma prática comum das amigas no clube, com a qual o treinador não concordava, era a sauna. Glória costumava trocar o treino pela sauna, afirmando que estava com dor no punho e que precisava perder peso para as competições. No trecho do diário de campo transcrito a seguir, aparece o momento em que presencio essa situação.

Cheguei ao treino e ainda faltavam alguns minutos para iniciar. Não avistei Glória e pensei que mais uma vez não a encontraria. Como de costume, algumas crianças estavam brincando no tatame, jogando bola, pendurando-se em cordas, brincando de luta, etc. Em seguida a treinadora chegou e ordenou que todos se alinhassem. Após alguns minutos do início do treino, Glória entrou no local com mais duas meninas. Observei que ela estava ofegante e suada, diante disso exclamei: “já está suada!”. A menina explicou rapidamente que estava na sauna e que achava que ia “voltar pra lá”. A amiga de Glória foi perguntar para a sua mãe se ambas poderiam fazer a sauna no horário do treino. A mãe negou o pedido de forma firme e disse que a filha precisava treinar. Glória insistiu tentando argumentar, porém a mãe disse enfática: “já disse que não, saiam da minha frente”. A mãe afirmou mais uma vez que a filha precisava treinar e que não queria saber de argumentos de convencimento. As meninas se calaram e foram colocar o uniforme para o treino. Observei que a mãe comentou com um pai: “agora elas só querem fazer sauna”, completando que precisavam se dedicar mais aos treinos (Diário de campo, 11/10/2018).

Segundo o treinador, a sauna era só uma “desculpa para não treinar”. Eu não poderia afirmar que as meninas faziam a sauna apenas para não participar dos treinos, pois nunca ouvi essa afirmação delas. No entanto, ficava evidente que, muitas vezes, elas desejavam fazer a sauna ‘juntas’, e, nesses diversos momentos, não priorizavam os treinos. Em um dia de observação de campo, eu estava sentada na arquibancada e Glória chegou para treinar. Fiquei feliz em vê-la, pois fazia tempo que ela não aparecia. A menina me

cumprimentou e avisou que iria ver uma amiga no departamento médico e que logo voltaria para o treino, porém não retornou. No final do treino fui perguntar ao treinador se ele sabia onde Glória estava, ele me informou que ela estava fazendo sauna (Diário de campo, 27/09/2018). Quando a menina informava que ia fazer a sauna, eu ficava ‘de fora’, pois aquele momento parecia ser reservado às amigas.

Além da colega de treino e parceira de sauna, Glória também havia iniciado um namoro recentemente com um atleta de basquete do clube. Ela o havia conhecido através dessa amiga do judô. Abaixo segue o excerto de diário de campo do dia em que conheci o menino:

Eu e Glória estávamos conversando sentadas em um banco, quando percebi que a menina estava olhando para os lados, parecia procurar alguém. Diante disso, perguntei se ela ficava com alguns amigos enquanto esperava o início do treino, pois tive a impressão que estava esperando alguém. Ela disse que às vezes sim, mas que naquele dia estava esperando o namorado. Fiquei surpresa com a notícia e esclamei: “que legal! Não sabia que estava namorando!”. A menina sorriu, parecia encabulada, e disse que fazia pouco tempo que havia iniciado o namoro, há aproximadamente três meses. Contou também que eles eram amigos e se conheceram ali no clube mesmo, pois ele é jogador de basquete, também do alto rendimento, e conhecia uma “amigona” dela do judô. Um dia foram na casa dessa amiga e Glória conheceu o menino, passaram a ser amigos e depois de um tempo descobriram que gostavam um do outro. Antes mesmo de falar com Glória, o menino pediu para os pais da menina para namorar com ela, foi então que iniciaram o namoro. Perguntei se ele costumava ir na sua casa, ela disse que sim, mas pouco, pois ela tem dois irmãos pequenos que “perturbam muito”. Glória frequenta mais a casa dele, pois ele tem apenas um irmão pequeno. A menina também contou que eles se encontram no clube nos horários livres. No meio da nossa conversa o menino de aproximou, ela ficou com vergonha e baixou o olhar me apresentando a ele. Ele se aproximou sério, me apresentei e expliquei quem eu era e o que estava fazendo ali. Ele continuou com a mesma expressão, não me olhava e parecia também envergonhado. Percebendo o constrangimento dos jovens, fui me despedindo e disse que encontrava Glória mais tarde no treino. A menina informou que hoje estava com muita dor no punho e que talvez não fosse treinar, o que de fato aconteceu, neste dia a atleta não treinou (Diário de campo, 06/03/2018).

Naquele dia Glória relatou estar sentindo o punho e achava que não conseguiria treinar. Porém, fiquei pensando que talvez o fato de ter encontrado o namorado no clube havia contribuído para que ela não fosse treinar naquele dia. O namoro havia iniciado fazia pouco tempo, ambos moravam longe um do outro e o clube era um lugar em que se encontravam, e o intervalo entre os treinos um tempo em que aproveitavam para namorar.

Quando realizei a entrevista com a mãe de Glória fiquei sabendo que o namorado da menina havia decidido sair do basquete do clube e agora estava praticando jiu jitsu perto da sua casa, em um bairro afastado do centro da cidade. Segundo a mãe de Glória, o menino não desejava mais praticar o basquete e também sua mãe considerava arriscado o deslocamento do jovem até o clube, devido à distância de sua casa. Assim, Glória não encontrava mais o namorado no clube nos intervalos dos treinos.

Diante do que observei nas suas atividades no clube, percebi que Glória possuía relações afetivas importantes no ambiente esportivo e parecia que, apesar de ter feito laços de amizade no judô, não fora apenas no dojô que construíra essas relações. Além de frequentarem a casa umas das outras, com o passar do tempo entendi que a sauna também era um lugar que Glória frequentava com as amigas e que se configurava um momento de sociabilidade. Portanto, era evidente que Glória tinha uma vida social intensa dentro do clube e que, em diversos dias em que fui desenvolver a pesquisa de campo, priorizava estar com as amigas.

***

Amigas e namorados/ficantes foram pessoas fortemente presentes na vida de Elisa e de Glória no momento em que a pesquisa foi desenvolvida. Enquanto Elisa falava constantemente sobre os meninos dos quais ‘gostava’ e que estava ‘ficando’, Glória havia iniciado a sua primeira relação afetiva com um menino. E enquanto Elisa jogava bola, andava de skate e dançava funk com os amigos, Glória faltava aos treinos para fazer sauna com as amigas, ou escolhia não participar de uma competição para ir ao aniversário de 15 anos da sua melhor amiga com o namorado.

As meninas pareciam compartilhar os sentidos que davam para algumas de suas práticas, como a sociabilidade e as trocas afetivas. Se olharmos esse aspecto a partir de alguns estudos destacados no primeiro capítulo desta Tese, os quais apontam esses desejos como típicos da ‘adolescência’, poderíamos encerrar aqui o debate afirmando que Elisa e Glória haviam decidido sair do esporte de alto rendimento porque também se encontravam em uma fase da vida em que outros interesses surgiam — passeios e festas (STRINGHINI, 2010).

De fato, foi possível perceber que as meninas estavam vivenciando experiências semelhantes, como os primeiros relacionamentos e o envolvimento em práticas com os amigos. E ficou evidente que possuíam outros interesses que, associados a todos os outros aspectos destacados neste capítulo, contribuíram para suas saídas do esporte de alto rendimento. No entanto, podemos também olhar para Glória e Elisa como ‘jovens’ que circularam em contextos sociais diferenciados, os quais pautaram a construção dos seus interesses e as formas como foram vivenciados - como percebi no caso de Elisa, que decidiu experimentar aulas de skate após frequentar a pista com os amigos do futebol.

Ao acompanhar práticas de sociabilidade juvenis em três contextos sociais distintos, Pais (1990) identificou que os jovens constroem formas de sociabilidade que se distinguem entre si, evidenciando uma heterogeneidade cultural. Essas diferenças estão relacionadas às condições das classes sociais dos jovens, com os diálogos, apropriações e resistências frente às normas e aos valores dos adultos e com a diversidade de interesses e identidades construídas entre os próprios jovens. E o autor afirma:

para tanto, estudei algumas práticas culturais desenvolvidas no domínio do lazer. E o que descobri? Que os jovens não participam no mesmo tipo de práticas sociais e culturais; que as vivem de forma diferente; que diferentes práticas de lazer estão na base de diferentes culturas juvenis e vice-versa; que os fundamentos de constituição, instituição e legitimação sociais dessas práticas variam de contexto para contexto social; que essas práticas sociais e culturais — embora consagrando e legitimando diferenciações intergeracionais — também consagram e legitimam diferenciações intrageracionais; enfim, que a socialização dos jovens, no domínio do lazer, origina diferentes culturas juvenis (PAIS, 1990, p. 640).

A partir dessa compreensão das práticas de sociabilidades juvenis, podemos afirmar que, além de identificar que ambas manifestaram outros interesses, ‘típicos’ de uma fase da vida, essas manifestações se expressaram de maneiras distintas - uma aparentemente mais restrita ao espaço do clube; outra mais ampla, incluindo a rua e diferentes espaços esportivos. Sobre a manifestação de Glória, destacamos que, mesmo em um ambiente mais restrito, o clube onde treinava judô, ela conseguiu ‘criar’ espaços e momentos de encontros, expressando seu interesse em estar com as amigas e o namorado.

Destacamos ainda que foi a partir desses momentos com as amigas na sauna, no caso de Glória, ou ainda, com os amigos no futebol, no caso de Elisa, que as meninas estabeleceram trocas e construções simbólicas que podem ter contribuído para o