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Glifosato: ingrediente ativo do herbicida

2.1 Revisão de Literatura

2.1.5 Soja Roundup Ready ®

2.1.5.2 Glifosato: ingrediente ativo do herbicida

O comércio mundial de defensivos agrícolas cresce a cada ano. Atualmente, o herbicida glifosato representa 60% do mercado mundial de herbicidas não- seletivos, contabilizando um total de US$ 1,2 bilhão/ano com vendas do produto (Estados Unidos, 2010).

O glifosato (N-(fosfonometil) glicina, C3H8NO5P) é um herbicida sistêmico não-seletivo desenvolvido para eliminar todos os tipos de plantas invasoras. É o ingrediente principal do Roundup®, herbicida da Monsanto. Esse herbicida é um aminofosfonato análogo ao aminoácido natural glicina, que, portanto, ocupa o lugar desta na síntese protéica. Seu nome é uma contração de glicina + fosfato.

Três tipos de glifosato vêm sendo comercializados: glifosato-isopropilamônio, glifosato-sesquisódio (patenteado pela Monsanto e vendido como Roundup®), e glifosato-trimesium (patenteado por ICI, atual Syngenta). Seja como sal de amônio ou sódio, o glifosato é um organofosfato que não afeta o sistema nervoso da mesma maneira que outros organofosforados (inseticidas, inibidores da enzima colinesterase etc).

É importante destacar que conforme a espécie, a densidade e a distribuição de plantas invasoras na lavoura, as perdas podem ser significativas. As invasoras prejudicam a cultura, pois competem por luz, água e nutrientes, dificultando a

operação de colheita e comprometendo a qualidade dos grãos (MIRANDA, 2005; CORREIA ; REZENDE, 2008).

Portanto, a necessidade do controle das plantas daninhas, na fase inicial de cultivo, tem feito da cultura da soja um dos maiores segmentos da indústria de herbicidas, pois o método de controle químico é o preferido pelos agricultores, devido à economia de mão-de-obra e a rapidez na aplicação dos produtos.

No final dos anos 70, a disponibilidade do herbicida glifosato no mercado alavancou o controle químico de plantas daninhas no sistema de plantio direto, em virtude do amplo espectro de ação deste herbicida (KRUSE et al., 2000), que atua inibindo a ação da enzima 5-enolpiruvil-shiquimato-3-fosfato-sintetase (EPSPS), a qual é fundamental para várias vias metabólicas vitais para as plantas, como a síntese dos aminoácidos aromáticos essenciais fenilanina, triptofano e tirosina. Compostos secundários como alcalóides, cumarinas, flavonóides, lignina, ácidos benzóicos e vitaminas (K e E) e alguns hormônios (auxinas e etileno) também dependem da EPSPS (TREZZI et al., 2001). Quando as plantas convencionais são tratadas com glifosato, não conseguem produzir os aminoácidos aromáticos necessários para sua sobrevivência e morrem.

Os inibidores da EPSPS são classificados como sistêmicos, pós-emergentes, não-seletivos, controlando plantas mono e dicotiledôneas, anuais e perenes (SHAH et al., 1986; KRUSE et al., 2000).

O glifosato penetra na planta pelas folhas, ou ainda, pelos caulículos jovens e, via floema, percorre todo o sistema vegetal, causando a morte das raízes e de estruturas reprodutivas de plantas perenes, como rizomas, bulbos e tubérculos (KRUSE et al., 2000), enfim, nenhuma parte da planta sobrevive (AMARANTE Jr. et al., 2002). Esse herbicida apresenta como principal vantagem a rápida translocação, apresentando alta concentração nas raízes em pouco tempo. Entretanto, o estádio de desenvolvimento e as condições ambientais influenciam a translocação do glifosato pela planta (MONQUERO, 2003), ele não tem tendência à lixiviação, degrada-se rapidamente no solo e é essencialmente atóxico para mamíferos, pássaros e peixes (GIESY et al., 2000).

Além disso, o glifosato possui alta eficiência na eliminação de plantas daninhas (AMARANTE Jr. et al., 2002), no entanto, a sensibilidade das plantas cultivadas limita a sua utilização na pós-emergência das culturas. Dessa condição, surgiu o desafio de se desenvolver cultivares tolerantes, a fim de facilitar o controle de plantas daninhas (KRUSE et al., 2000).

A toxicidade relativamente baixa, apresentada pelo glifosato, pode ser atribuída à modalidade bioquímica de ação do glifosato em uma rota metabólica específica das plantas (mecanismo do ácido shiquímico).

A degradação do glifosato no solo é muito rápida, sendo realizada por grande variedade de microrganismos que usam o produto como fonte de energia e fósforo, por meio de duas rotas catabólicas distintas, sendo elas: i) clivagem da molécula de glifosato, produzindo o ácido aminometilfosfônico (AMPA) como o principal metabólito; ii) clivagem da ligação C-P do composto, por ação da enzima C-P liase, produzindo sarcosina como metabólito intermediário (rota alternativa) (DICK ; QUINN, 1995). Esses microorganismos responsáveis pela degradação do glifosato possuem a capacidade de metabolizar esses compostos, através de suas enzimas, e transformá-los em energia e nutrientes para sua sobrevivência.

Sobre a resistência de espécies de plantas daninhas ao glifosato, a empresa Monsanto reconhece a existência de três casos: o Lolium multiflorum (azevém),

Conyza bonariensis e C.canadensis (bulva). Entretanto, desde que a soja Roundup

Ready® começou a ser cultivada no Brasil, não foi registrado caso de resistência de planta daninha ao glifosato devido ao cultivo da cultivar geneticamente modificada. A resistência de plantas daninhas não pode ser atribuída a uma só razão, pois é um fenômeno natural e ocorre devido à variabilidade genética das populações (GRAZZIERO, 2001). O azevém, por exemplo, ocorre basicamente no inverno e não é considerada uma planta daninha que infesta a cultura da soja, plantada no verão. No caso da buva, o problema acontece com o uso do glifosato na entressafra, especialmente nas áreas em que não ocorre uma adequada ocupação ou cobertura do solo. A buva é uma espécie que se desenvolve em beiras de estradas e áreas não agriculturáveis e se espalha com facilidade para as lavouras, através de sementes que são facilmente carregadas pelo vento (GRAZZIERO,

2001). Apesar de ser mais comum no sul do Brasil, a buva aparece em alguns estados produtores de soja na região Central, por isso, é importante que seu controle seja feito para evitar a multiplicação.

Cabe ressaltar que o glifosato tem ação comprovada sobre mais de 100 espécies de plantas daninhas, quantidade muito maior que qualquer outro grupo de herbicida, motivo que o faz ser utilizado amplamente nas últimas três décadas no mundo. Segundo o International Survey of Herbicide Resistant Weeds, até hoje foram reportadas apenas 12 espécies como tolerantes ao glifosato, que equivale a cerca de 12% da reportada para outros grupos de herbicidas, como, por exemplo os inibidores de ALS que possuem 95 espécies relatadas como tolerantes, e 18% dos inibidores do fotossistema II, que são as triazinas, com 65 espécies reportadas como tolerantes.

Portanto, a possibilidade de uso do glifosato, aplicado após a emergência da cultura, representa uma nova alternativa de controle de plantas daninhas em função da eficiência e da viabilidade econômica, características essenciais no conceito de praticabilidade. Sua alta eficiência no controle, suas características toxicológicas e ecotoxicológicas, facilidade de manuseio, custo, viabilidade da adoção de sistemas que permitem uma agricultura conservacionista como o plantio direto, os benefícios das culturas RR®, dentre outros aspectos positivos que devem ser atribuídos ao uso do glifosato, tornaram o produto o principal herbicida para controle das plantas daninhas ao longo dos últimos 33 anos, estando hoje registrado para uso em diferentes ambientes agrícolas e não-agrícolas do mundo (mais de 130 países) (GALLI ; MONTEZUMA, 2005).

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