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Globalização, reestruturação e metropolização do espaço

3 O ESPAÇO: particularidade de São Bernardo do Campo no contexto de

3.2 Globalização, reestruturação e metropolização do espaço

De acordo com Belluzzo e Galípolo (2017, p.66), “o verdadeiro sentido da globalização é o acirramento da concorrência entre empresas, trabalhadores e nações, inserida em uma estrutura financeira global monetariamente hierarquizada”.

A alma da globalização se dá a partir do acirramento da concorrência. Este acirramento impôs às empresas de diversas origens a formação de joint-ventures, a busca de cooperação e de alianças estratégicas. O que determinou esse movimento foi fundamentalmente os custos de inovação e exigências de escala relacionadas com a nova onda de progresso técnico - telecomunicações, informática, microeletrônica, automação industrial, e química fina - de rápida difusão desde os anos 1980 (BELLUZZO; GALÍPOLO, 2017, p. 39). Apesar de que, desde a década de 1970, se assistira à crise do “Estado de Bem Estar Social” (ou capitalismo “social”), frente ao mal-estar do primeiro choque do petróleo, da estagflação e do endividamento da periferia alimentado pela reciclagem dos petrodólares (Ibdem, p.44).

Segundo os autores, a globalização provocou uma verdadeira revolução na estrutura econômica mundial, com três grandes transformações concomitantes: a) a reorganização da estrutura produtiva; b) a onda de fusões e aquisições que transformou o sistema financeiro; e c) a centralização da propriedade.

De uma perspectiva geopolítica e geoeconômica, a inclusão da China no âmbito dos interesses estadounidense, como resultado de conveniências comuns em frear a “ameaça do projeto de hegemonia soviética”, na década de 1970, é o ponto de partida para a ampliação das fronteiras do capitalismo. Esse movimento, segundo os autores, culminou no colapso da União Soviética e no fortalecimento dos valores e propostas do ideário neoliberal (Idem, p. 44).

As empresas dos países centrais, deslocaram sua produção manufatureira para as regiões em que prevalecem baixos salários, câmbio desvalorizado e alta produtividade do trabalho, desatando a “arbitragem” com os custos salariais, estimulando a flexibilização das relações de trabalho. Nesse jogo da grande finança com a grande empresa, conforma-se uma mancha manufatureira que pulsa em torno da China (Ibdem, p.45)

Acerca desse assunto, Chesnais (2005, p.55) aponta que a exploração das diferenças de valor e de preços entre países não ocorre nas matérias-primas, mas no preço de compra de força de trabalho e nas taxas de rendimentos permitidas pela ausência de regulamentação do trabalho, do direito de se sindicalizar e de proteção social. As filiais no exterior e as redes de subcontratação sustentam os lucros e os valores acionários (grifos nosso).

Nas últimas três décadas a China executou políticas nacionais de industrialização ajustadas ao movimento de expansão da economia “global”. As lideranças chinesas perceberam que a constituição da “nova” economia mundial, passava pelo movimento da grande empresa transnacional em busca de vantagens competitivas, com implicações para a mudança de rota dos fluxos do comércio. Os chineses ajustaram sua estratégia nacional de industrialização acelerada às novas realidades da concorrência global e às vantagens domésticas da oferta ilimitada de mão de obra (BELLUZZO; GALÍPOLO, 2017, p.48).

Todavia, apresentam os mesmos autores, que as lideranças chinesas entenderam perfeitamente que as políticas liberais recomendadas pelo Consenso de Washington, não deveriam ser copiadas pelos países emergentes. Ao longo dos últimos trinta anos a China tirou proveito da “abertura da economia ao investimento estrangeiro”. Mas foram as estratégias nacionais, que definiram as políticas de absorção de tecnologia com excepcionais ganhos de escala e de escopo, adensamento das cadeias industriais e crescimento das exportações. Em suma, sob o olhar de Belluzzo e Galípolo, “os chineses jamais imaginaram que sua escalada industrial e tecnológica pudesse ficar à mercê de uma abertura sem estratégia, ou apenas na oferta ilimitada de mão de obra” (Ibdem, p. 49).

Ainda em relação ao papel do Estado nacional chinês, que se utilizou de estratégias baseadas no sucesso anterior de seus vizinhos, sobretudo o Japão e a Coréia, “a ação estatal cuidou dos investimentos em infraestrutura e utilizou as empresas públicas como plataformas destinadas a apoiar a constituição de grandes conglomerados industriais preparados para a batalha da concorrência global” (BELLUZZO; GALÍPOLO, 2017, p.49”). Combinaram a utilização do mercado como instrumento de desenvolvimento, e o máximo de controle das instituições centrais da economia competitiva moderna: o sistema de crédito, a política de

comércio exterior, a administração da taxa de câmbio, os mecanismos de fomento à inovação científica e tecnológica (Idem).

Como resultado dessa atuação, a China foi alçada em 2010 como o país de maior participação nas Exportações Mundiais de Mercadorias. É esmagadora no volume de produção de ítens eletrônicos chaves como a TV (42,3%); produtos de vídeo (66,8%); telefones móveis (52,7%); PC’s (97,2%) e câmeras digitais (62,9%). Sem contar que em 2009, a China desbanca a União Europeia na exportação de roupas, somando 34% contra 30,7%; além de ter também a maior produção de veículos motorizados, ainda que o maior país exportador desse ítem seja o Japão (Ibdem, p.50-51).

A partir desse quadro desenvolvido por Belluzzo e Galípolo, podemos compreender a afirmativa de Chesnais sobre os Estados Unidos serem o único país onde o regime de acumulação financeirizado comandado pelo “capital portador de juros”127 (capital de placement) foi também um “regime de crescimento” (CHESNAIS, 2005, p.59). Entendemos que Belluzzo e Galípolo complementam essa afirmação quando expõem que “a elevada liquidez e a alta ‘elasticidade’ dos mercados financeiros globalizados patrocinam a exuberante expansão do crédito nos Estados Unidos, a inflação de ativos, o endividamento das famílias viciadas no hiperconsumo e os desequilíbrios dos balanços de pagamentos” (BELLUZZO; GALÍPOLO, 2017, p.53-54). Nesse sentido, aponta Klink que o papel do Estado-nação está longe de estar esgotado. Ele continua desempenhando um papel importante na regulação da acumulação capitalista, ao menos nos países desenvolvidos (KLINK, 2001, p.50).

Esse fator teve influência também no processo de industrialização brasileira, que foi decisivo para a instalação da cadeia automobilística no Grande ABC, principalmente em São Bernardo do Campo, a partir da década de 1950. Clélio Campolina Diniz aponta os esforços de 50 anos, que vai de 1930 a 1980, dos investimentos estatais em infraestruturas na área dos transportes, telecomunicações e energia elétrica, tendo repercussão não apenas em termos macroeconômicos, mas também em termos regionais (DINIZ, 2015, p.40). Ainda que o modelo de substituição das importações tenha sido acoplado à política de incentivos aos investimentos estrangeiros e à importação de tecnologia estrangeira (KLINK, 2001, p.197). Condição agravada pelo baixo grau de conectividade entre o sistema tecnológico e o setor privado nacional, o que ocasionava uma dependência cada vez maior de fontes estrangeiras e estatais

127 Consta em nota do tradutor na edição citada do livro de Chesnais a seguinte informação: “* Traduzimos o termo

capital de placement como “capital portador de juros” por indicação do autor e pela inadequação do conceito de capital financeiro. O conceito de capital de placement significa mais precisamente uma combinação do capital portador de juros, como é definido por Marx, com o capital fictício, e em seu comportamento predomina o aspecto especulativo e rentista. (N.T.)” (CHESNAIS, 2005, p.28).

de inovação, demonstrando sua fragilidade em um desenvolvimento endógeno. Pois o que se obteve foi:

a presença pujante do capital multinacional oligopolístico que tinha se instalado num regime de alta proteção tarifária, sem ter enfrentado exigências mais estratégicas no âmbito de uma política industrial nacional, como por exemplo, em termos de transferência de tecnologia para a indústria nacional e, mais particularmente, para a rede de micro e pequenas empresas (KLINK, 2001, p.198).

Quanto à relação do Estado-nação, Belluzzo e Galípolo, informam que na primeira etapa da atual globalização produtiva e financeira saíram-se bem os que souberam atrelar, “de forma ativa e inteligente, os projetos nacionais de desenvolvimento à nova configuração da economia mundial proposta pelas multinacionais” (2017, p.43-44).

Em decorrência, quanto à reestruturação produtiva, ou reorganização da estrutura produtiva apontada por Belluzzo e Galípolo, gerada pela globalização, ao passo que surgiu como resposta à crise econômica nos casos estadunidense e europeu, impondo mudanças tecnológicas e organizacionais, no Brasil, “a reestruturação veio antes ou junto com a crise, de cujo resultado ocorreu a queda do emprego industrial”. Isto é, “no caso brasileiro a reestruturação foi imposta de fora, provocando, como resultado, a queda do emprego” (DINIZ, 2015, p.44-45).

Terezinha Ferrari (2012, p.53) aponta o amplo e complexo espectro que formalmente se apresenta no rótulo da reestruturação produtiva, o qual envolve oito configurações:

1. Reconfiguração da base técnica dos processos de trabalho no chão de fábrica, ocasionando elevados índices de desemprego industrial;

2. aumento no caráter cooperativo do trabalho, com o consumo produtivo pelo capital de maior número de atividades expulsas ou não do interior das unidades produtivas fabris, acarretando uma intensificação do uso do solo urbano;

3. Indicação de que o setor de serviços é a solução para esse desemprego industrial; 4. Generalização do uso da informática e da teleinformática;

5. Reacomodamento do Estado às exigências da reprodução do capital; 6. Implantação de uma ordem institucional diversa;

7. Arcabouço ideológico pautado no cooperativismo, no voluntariado, na cidadania, no desenvolvimento econômico local;

A perda de emprego industrial no Grande ABC durante o período de 1988 a 1997, segundo Klink, foi dramática. A indústria metalúrgica, por exemplo, perdeu 45% do seu pessoal ocupado, o que equivaleu a mais de 20.000 mil postos de trabalho. Os números para a indústria mecânica e a indústria de material de transporte (que inclui a indústria automobilística e a de autopeças) foram 60% e 35% respectivamente. Além do mais, o crescimento do emprego no comércio e nos serviços da região não compensaram a queda do emprego industrial (KLINK, 2001, p.110).

Prossegue informando o autor que o decréscimo de empregos nos setores de “móveis e carros no Grande ABC segue aproximadamente o padrão de queda de emprego nesses setores no nível da região metropolitana”. Em contrapartida, “as perdas nos setores metalúrgico, metal- mecânico e químico no Grande ABC são mais acentuadas que o decréscimo nestes mesmos setores na região metropolitana” (Ibdem, p.113).

O processo de globalização, tende a ampliar a importância das relações internacionais e a disputa pela atração de novos investimentos. Esse processo de disputa inter-regional foi conhecido no Brasil como Guerra Fiscal (DINIZ, 2015, p.36; KLINK, 2001, p.71). Atrelado a essa dinâmica, Diniz afirma que na década de 1990, o país assistiu a um dos mais rápidos e abrangentes processos de privatização de que se tem notícia na história econômica mundial, incluídos vários segmentos da infraestrutura (DINIZ, 2015, p.40)128.

Lencioni aponta que o crescimento da participação da iniciativa privada na provisão das infraestruturas, se faz acompanhar pelo processo de metropolização do espaço. A produção dessas infraestruturas se coloca cada vez mais como negócios do capital, uma vez que o Estado vem refluindo na sua competência de prover tais infraestruturas ou de dirigir o processo de seu desenvolvimento (LENCIONI, 2017, p.55).

Terezinha Ferrari aborda esse aspecto, afirmando que o capital se apropria privada e parasitariamente do patrimônio público acumulado (inclusive universidades públicas e fundações) e de ativos públicos reais. Citando István Mészáros, prossegue a autora apresentando que o capital permanece ampliando o desperdício, privatizando o patrimônio público e destruindo os meios de produção e mercadorias a partir da obsolescência programada, além de incrementar um crescimento econômico que se restringe a alguns países ou a algumas regiões de alguns países (FERRARI, 2012, p.65).

128 Chesnais discorre o quanto nos anos 1980 a dívida pública enquanto pilar das instituições que centralizam o

capital portador de juros, permitiu a expansão dos mercados financeiros ou a sua ressurreição em outros países. Ela gerou pressões fiscais fortes sobre as rendas menores e com menor mobilidade, austeridade orçamentária e paralisia das despesas públicas. Foi ela que facilitou a implantação das políticas de privatização nos países chamados “em desenvolvimento” (CHESNAIS, 2005, p.42).

Em decorrência, Lencioni apresenta que o capital industrial não é mais hegemônico, pois não é em sua órbita que acontece o domínio e a direção do processo de reprodução do capital em geral. O processo de transformação de parte da propriedade das empresas em ativos financeiros passíveis de serem comercializados nas bolsas de valores, o desenvolvimento do mercado de moedas, a centralização do capital sob a forma financeira, a liberalização e a desregulamentação das economias nacionais permitindo maior liberdade de movimento ao capital, provocou uma autonomização das finanças em relação à produção129 (2017, p.59).

Para compreender essa dominação, a autora apresenta que o capital financeiro é composto de duas formas:

Ele é, em si, portador de juros, mas ele é, também, capital fictício. Portador de juros porque tem a potencialidade de se constituir num empréstimo de dinheiro pelo qual se cobrará juros; capital fictício porque expressa uma riqueza apenas ilusória; sua magnitude decorre de estratégias monetárias e financeiras(LENCIONI, 2017, p.59)130.

Devido a isso, o período atual é identificado como sendo de crise do modo de regulação fordista, onde a hegemonia se assentava no capital industrial (Idem, p.58). Por conseguinte, consolida-se um regime específico de propriedade do capital, a saber, a propriedade patrimonial131. Um patrimônio designaria uma “propriedade mobiliária e imobiliária que foi acumulada e dirigida para o ‘rendimento’” (CHESNAIS, 2005, p.48-49).

O que se apresenta, portanto, é a relação entre o capital financeiro e o setor imobiliário. De acordo com Lencioni, essa relação eleva a magnitude do capital-dinheiro em circulação, fazendo com que os grandes empreendimentos imobiliários sejam uma decorrência (LENCIONI, 2017, p.67). Edifícios são construídos, verticaliza-se mais e mais a cidade e, ao mesmo tempo, se criam novas centralidades nas quais um dos “carros-chefes” são os shopping centers. Não são “necessidades do desenvolvimento urbano e nem das atividades comerciais; são, antes de tudo, necessidades do setor imobiliário” (Idem, p.68).

Por fim, ao tratar da metrópole, sintetiza a autora:

O processo de metropolização corresponde a um momento mais avançado do processo de urbanização e se constitui numa determinação histórica da sociedade contemporânea associada à reestruturação capitalista. Esse processo é uma determinação histórica porque se coloca como condição, meio e produto fundamental para a reprodução social contemporânea. A metrópole

129 Quanto a esse aspecto, ver CHESNAIS, 2005, p.53. Este trata que a restauração do poder da finança teve dois

resultados: 1) Centralização do capital. Fusões e aquisições orquestradas pelos investidores financeiros e seus conselhos; 2) a finança alojou a “exterioridade da produção” no cerne dos próprios grupos industriais. Possível que esse seja um dos traços mais originais da contra-revolução social contemporânea.

130 É a essa configuração que Chesnais denomina capital de placement, traduzido como “capital portador de juros”.

Ver nota de rodapé 127 desta dissertação.

131 Lencioni apresenta Michel Aglietta (1998), quem chamou atenção para a formação de um novo regime, que se

contemporânea, a que exprime o momento mais avançado da urbanização, a que revela uma nova época, é condição para a reprodução do capital e, ainda, um produto do próprio capital. Nesse sentido, é precisamente uma condição, meio e produto do momento da reprodução cuja determinação reside no capital imobiliário e financeiro (LENCIONI, 2017, p.81).

De acordo com Chesnais, a “finança” e seu pesado cortejo de consequências estão indissociavelmente ligados à valorização patrimonial e à instituição da “liquidez”, que lhe proporciona uma de suas bases mais fortes. Em decorrência, a propriedade patrimonial apóia- se em interesses muito poderosos que estão determinados a assegurar a sua perenidade. Todavia, o fundamento último do poder da finança é a propriedade privada dos meios de produção (CHESNAIS, 2005, p.65-66).

É nessa linha que expressa Ferrari: o modo de produzir capitalista é a unidade da produção e da circulação (2012, p.169). As características remanescentes da antiga cidade fordista - indústrias verticalmente integradas e cadeias produtivas pouco dinâmicas - são consideradas estorvos a propostas de surtos de desenvolvimento regionais e precisam, portanto, ser redelineadas. Esse raciocínio fornece a base para uma administração local e regional que presume garantir uma produtividade urbana concebida como necessária para a chamada conectividade global (p.44-45).

Em vista do que informa Klink, foi o mesmo ramo automobilístico do Grande ABC, quase todo ele em São Bernardo do Campo, que assumiu “estratégias defensivas e ofensivas de modernização da gestão”. Ao passo que desativam linhas de produção, na redução do número de produtos e, na substituição da produção doméstica por importações, propiciando assim uma desestruturação das cadeias produtivas regionais e elevadas quedas de empregos, ao mesmo tempo, introduzem programas de reestruturação produtiva ofensiva tais como just in time interno e externo, rearranjo em células e os grupos de melhoria, do que a média apresentada nas indústrias desse ramo no estado de São Paulo (KLINK, 2001, p.201).

Entretanto, a manutenção da liquidez do capital, a lógica do curto prazo, características da atuação dos grupos financeiros, estão por trás das políticas empresariais de redução de estoques, dos fluxos instantâneos de informação e da imposição de ritmos frenéticos a diversos ramos de trabalho nos diferentes territórios econômicos (FERRARI, 2012, p.165).

Ferrari aponta que o abalo sobre a cidade e sobre a vida cotidiana são inevitáveis. As cidades tornam-se espaços de estoque das mercadorias em trânsito, receptáculos de verdadeiras esteiras fordistas estendidas entre as fábricas. Ao contrário de serem sóbrias, limpas ou de serviços, são cidades fabricalizadas, que acolhem atividades laborativas de todo tipo como

extensões urbanas da própria fábrica, acolhendo um imenso proletariado urbano que cada vez mais se multiplica e se fragmenta (Ibdem, p.42-43).

Em decorrência, para a manutenção das grandes indústrias nas regiões metropolitanas e a atração de outras, as políticas públicas urbanas procuram vender as cidades como mercadorias com valor de troca específico: são cidades-estoques, privilegiadas em termos logísticos com ruas, vias e rodovias relativamente adequadas para se transformarem em esteiras rolantes, interligando fábricas, portos secos e outros estabelecimentos pulverizados pelos territórios just in time que englobam essas cidades (Ibdem, p.64)

Nos termos de Klink, surge um descompasso entre o conceito de City (associados a valores de cidade empreendedora, produtividade urbana e eficiência) e “a antiga e esquecida noção de Polis (associada aos valores da cidadania, participação e debate)”. Ressalta o autor que estamos cada vez mais perdendo o conceito da política compatível com os valores da antiga Polis (KLINK, 2001, p.60).

Lencioni expõe que foi a atividade fabril que impulsionou o avanço dos limites metropolitanos, incorporando de forma contínua, e também aos saltos, novos territórios à região metropolitana. Em consequência, à medida que o processo de desconcentração territorial da indústria avançava, a região metropolitana se expandia, conformando a unidade territorial dos 39 municípios ora integrantes. Tomando como centro a cidade de São Paulo, esses limites se estendem com intensidade por cerca de 150 quilômetros de distância em todas as direções, se arrefecendo, aos poucos, por mais 100 quilômetros. Prossegue a autora:

Atividades que eram, até então, específicas do centro metropolitano passaram a se desenvolver em algumas cidades, sobretudo nas maiores, com mais de 500.000 habitantes. Mesmo longe do centro metropolitano, a vida cotidiana, paulatinamente, foi assumindo valores próprios do viver na cidade de São Paulo [...] Na metamorfose metropolitana de [...] São Paulo encontramos as condições indispensáveis que tornam possível a dispersão metropolitana, como o rápido crescimento da infraestrutura de transportes que tece redes de circulação no território e da infraestrutura de comunicação que possibilita o desenvolvimento dos fluxos imateriais (LENCIONI, 2017, p.224).

É possível verificar na cidade de São Bernardo do Campo, o que apresenta Lencioni. Se “as condicionantes naturais e sociais contam muito na seletividade dos investimentos de capital” (Idem, p.225), a cidade vem sendo atrativo para diversos shoppings centers, centros empresariais e complexos multiuso. Os empreendimentos de maior “impacto” foram inaugurados nessa década, sendo eles: São Bernardo Plaza Shopping (2012); Golden Square Shopping (2013); Projeto Complexo DOMO, que compreende as vertentes de uso residencial PRIME e HOME, e de uso comercial CORPORATE e BUSINESS (2013); Jurubatuba

Empresarial (2016); Complexo Multiuso MARCO ZERO Prime e MARCO ZERO Premiere (2016; 2017) e o complexo multiuso MONDIAL São Bernardo (2017).

Os anúncios abaixo são exemplo do que foi discorrido. A localização estratégica e a produção do espaço urbano como lógica central da acumulação capitalista contemporânea, determinada pelo capital imobiliário e financeiro fica evidente

O prefeito de São Bernardo participa da inauguração do:

Domo Corporate, primeiro empreendimento corporativo da cidade com padrão construtivo 'Classe A'. Localizado no Bairro Baeta Neves [centro da cidade], o edifício se destina a médias e grandes empresas que têm se estabelecido na região, principalmente em função de investimentos que estão sendo realizados no pré-sal, na Bacia de Santos, por empresas nacionais e internacionais.

Entre outros fatores, São Bernardo foi escolhida para receber o complexo devido a sua localização estratégica, entre Santos e São Paulo, e ao fato de ser um dos maiores centros industriais do País132.

Propaganda da Setin Incorporadora:

O Melhor dos Mundos em Segurança e Comodidade. A Setin e a Accor trazem para São Bernardo do Campo o consagrado conceito Mondial já existente em algumas das principais cidades do País. A linha Mondial é uma categoria de empreendimento que integra torres hoteleiras, comerciais e residenciais nos chamados complexos multiuso.

Morar no residencial de um complexo multiuso é uma tendência mundial.