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Globalização dos Serviços Médicos

A globalização, segundo a abordagem dos economistas, refere-se à circulação de capitais, ao forte crescimento do comércio internacional de bens e serviços, surgindo novos pólos de oferta competitiva e empresas multinacionais tornando difícil adotar soluções protecionistas (Lopes, 2008).

A globalização é um processo multidimensional envolvendo áreas económicas, sociais, culturais, políticas e tecnológicas e isso define muito do ambiente do cluster saúde. Este fenómeno é uma característica mundial no início do século XXI, e vai continuar a ser uma influência crítica sobre a saúde para as próximas décadas (Woodward et al., 2001).

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A globalização, a privatização e o avanço das tecnologias da informação estão a expandir o mercado mundial de serviços acarretando consigo o aumento das oportunidades de negócio (Benavides, s.d.).

Este processo acarretou consigo o melhoramento de várias ferramentas e das próprias indústrias. É evidente a manifestação da globalização na indústria turística e da saúde através do facto dos pacientes com recursos poderem deslocar-se facilmente para um local para receberem tratamento. Deixaram de ser os médicos a deslocar-se para tratar os pacientes e assiste-se a um novo padrão de comportamento onde são os pacientes à procura de médicos e comparam as performances de hospitais. A excelência no tratamento prestado é condicionada por médicos com uma formação muito mais especializada, mesmo em países em vias de desenvolvimento (Lagace et al., 2007). A Internet facilita quase todas as facetas do turismo médico e segundo Fox et al. (2003), muitos pacientes americanos pesquisam condições médicas, prestadores de serviços, produtos e opções de tratamento online (Arellano, 2007).

Para Gross (2004), a informação tecnológica torna possível muitos serviços médicos estarem presentes noutros países. A telemedicina utiliza informação tecnológica para tratar ou monitorizar os pacientes através do telefone, câmara web ou vídeo. O registo do paciente já é realizado de modo eletrónico para que médicos de outros países possam ter acesso, como a título de exemplo os Raios-X (Herrick, 2007). Esta informação é importante nos casos do paciente realizar TM como também se tiver uma situação de emergência noutro país, o médico poderá ter acesso ao seu historial.

A globalização permitiu a abertura das economias e alterou as regras internacionais e a forma como as instituições se organizam e se movimentam no mercado resultando em fluxos de pessoas e até mesmo de mercadorias pelos países originando fluxos transfronteiriços. Em consequência destes fatores, a população (público que consome esta indústria), os setores relacionados com a saúde, como por exemplo a indústria farmacêutica, e as economias nacionais são afetadas por este setor que poderá levar a um maior consumo da saúde e por conseguinte se traduzirá em divisas tanto para as indústrias envolventes como para o país (Woodward et al., 2001).

Para além disso, este conceito aliado ao TM e por consequência à saúde, permitiu que existisse um mercado global da saúde; a reestruturação dos sistemas de saúde; o investimento no setor privado na saúde tanto em países industrializados com em vias de

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desenvolvimento; a segmentação de padrões de qualidade e de eficiência e por informar cada vez mais o consumidor na sua tomada de decisão (Hadi, 2009).

A globalização levou a uma reestruturação económica criando um espaço para o investimento de programas de saúde do setor privado nos países em desenvolvimento: para expandir seus serviços de saúde de modo a atender os pacientes do exterior e competir entre si para a liderança do mercado. De acordo com Chantarapitak (2006), para os pacientes em países desenvolvidos, onde o custo dos cuidados de saúde é muito elevado ou têm que esperar por um longo tempo para se submeterem a uma cirurgia, este mercado emergente tem proporcionado escolhas mais amplas para comprar serviços de saúde com preços variantes de diversos países (Hadi, 2009).

Consequências deste processo, um número crescente de pacientes estão a deixar as suas comunidades de origem em busca de cirurgias ortopédicas, atendimento oftalmológico, cirurgias dentárias, cirurgias cardíacas entre outras intervenções. A redução nos benefícios de saúde oferecidos pelos Estados e empregadores provavelmente irá aumentar o número de indivíduos à procura de assistência médica a preços acessíveis no mercado global de privatizada e a prestação de cuidados de saúde comercial (Turner, 2007). A proliferação dos serviços de saúde é refletida no crescimento dos serviços médicos além-fronteiras através do movimento de pessoas e consumidores médicos (Chanda, 2002).

Fruto do mundo global e também devido às diferenças socioeconómicas e dos padrões de vida e de trabalho entre países desenvolvidos e os não-desenvolvidos surge um fluxo de pessoas chamado Brain Drain. Este movimento é caracterizado pela movimentação de profissionais da saúde (médicos e enfermeiros) que tentam escapar de trabalhos precários e deslocam-se para países onde poderão ter melhores condições de trabalho e renumeração mais alta (Chanda, 2002; Turner, 2010). A título de exemplo, Blinder (2006) estima que 30 a 40 milhões dos empregos americanos irão mudar-se para a China, India, entre outros países (Turner, 2010).

Por outro lado, também se assiste à contratação ou à cedência de estágios a médicos e a enfermeiros (Herrick, 2007) por parte de países que não conseguem formar ou que não têm o mesmo nível de instrução como nos EUA e da Europa.

De acordo com Porter (2004), as indústrias emergentes ou os nichos de mercados são criados pela tecnologia da informação, pela mudança nos custos, emergência de novas

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necessidades dos consumidores ou outra mudança económica ou social que eleva um novo produto ou serviço ao nível de uma oportunidade viável de negócio. O turismo médico responde a este tipo de indústria, pois a sua evolução depende da tecnologia e da consolidação da internet (Caballero et al., 2007) e sendo que o Turismo Médico, que abarca tanto o turismo como o cluster saúde, representa a total integração da medicina com o capitalismo global (Turner, 2010).