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A REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA: na linha de um novo paradigma

1.1 MUDANÇAS NO MUNDO: A Globalização

1.1.1 A Globalização e sua face política

Esta nova ordem mundial evidencia a necessidade de pensar a problemática da governabilidade política na atualidade. Apresenta algumas premissas do contexto atual; a suposição de que o mundo encontra-se diante de uma crise de governança, com sinais na década de 70, somado com os primeiros sintomas de esgotamento do período de ouro2 do capitalismo.

Para Hobsbawm apud Oliveira (2000, p. 27) o fato é que o capitalismo não funcionava mais tão bem quanto na era de ouro, perdendo o controle das suas operações. As formas de administração e controle, a política de governo coordenada nacional e internacionalmente não atendia mais às demandas do momento.

As transformações significativas em relação ao destino do capitalismo seriam decorrentes da crise do capitalismo com a perda do controle por ele mesmo. A globalização política seria fruto das atuais relações de poder, tendo como referência o liberalismo, que se mostrou como solução imediata para as dificuldades políticas. Portanto, é expressa uma articulação política no âmbito das classes capitalistas, sem perder de vista a base estrutural sob a qual se organiza a sociedade.

1 A Guerra fria dominou o cenário internacional durante a segunda metade do século XX, através de suas políticas de

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O marco histórico do surgimento desse novo cenário segundo Oliveira (2000, p 30), é o fim da Segunda Guerra Mundial, seus tratados, acordos feitos entre países vencedores, marcado pela convergência em torno de um mesmo ideal político e econômico de reconstrução social.

A ordem mundial que se estabeleceu como um modelo polarizado entre os EUA e URSS, foi caracterizado no primeiro pela flexibilidade das democracias liberais e no segundo pela rigidez do estatismo soviético. A dicotomia de idéias entre americanos e soviéticos deu origem ao fenômeno da Guerra Fria onde o modelo de centralização da planificação da economia defendida pelos soviéticos e a defesa da democracia de livre mercado pelos americanos, tiveram como resultado a disputa do domínio político e econômico das nações, por esses dois blocos.

Com o objetivo de examinar as possibilidades criadas com o fim da Guerra Fria e de estabelecer um sistema mais eficaz de segurança e governação mundiais, criou-se em 1992 uma Comissão sobre Governança Global3, em Estocolmo. Para lidar com as novas questões e antigos problemas, deveria adotar uma estratégia de flexibilidade e reformar o sistema de cooperação.

“A tese defendida por esta comissão repousa sobre a noção que houve uma mudança de eixo do poder, operada sobretudo pelas transformações econômicas nas últimas décadas. Essas transformações são atribuídas à financeirização da economia, à predominância do livre mercado e à retração do Estado-nação, ante o poder das grandes corporações e grupos econômicos. Esses fatores trazem à tona a preocupação em repensar as formas de regulação capazes de disciplinar a realidade emergente”. (OLIVEIRA, 2000 p. 28).

Outro conteúdo discutido trata-se da redefinição do papel dos Estados nacionais neste novo contexto. Segundo Druck,

“O que se observa é que, para o capital, o Estado se torna um entrave ao seu movimento de internacionalização por impor limites aos seus ganhos – através, por exemplo, da regulamentação do mercado de trabalho, da política tributária, alfandegária-; ou mesmo quando o Estado deixa de ser parceiro para se tornar

2 O Período de ouro é atribuído às décadas de 50 e 60, quando o fordismo obteve seu maior êxito e se configurou

como modelo.

3 Comissão criada em 1992, com o objetivo de examinar as possibilidades criadas com o fim da Guerra Fria e de

estabelecer um sistema mais eficaz de segurança e governação mundiais.

O conceito de governança é descrito por essa comissão como a totalidade das diversas maneiras pelas quais os indivíduos e instituições, públicas ou privadas, administram seus problemas comuns: “Governança diz respeito não só as instituições e regimes formas autorizados a impor obediência, mas também a acordos informais que atendam aos interesses das pessoas e instituições” (Comissão... 1995:2, citado por Oliveira 2000, p27)

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concorrente, seja através de representação política que o domina naquele momento, favorecendo um ou outro setor do capital”. (DRUCK, 2001 p. 19).

Segundo a mesma autora as relações internacionais expressam relações de força e de poder, existindo nações fortes e nações fracas, numa conjuntura em que as alianças políticas entre as nações dos blocos capitalista e socialista já não mais se enfrentam como tal.

Para Chomsky apud Oliveira (2000, p. 32-33), os estados-nações não ocupam o espaço de atores na arena internacional. Estão a serviço dos interesses corporativos transnacionais, “sendo pressionados a diminuir os gastos sociais enquanto mantêm, ou mesmo estendem, o Estado de bem-estar para os ricos”. (CHOMSKY apud OLIVEIRA 2000, p. 33).

Portanto, compreende-se a globalização política como fruto das atuais relações de poder, tendo como referência o liberalismo, que mostrou-se como solução imediata para as dificuldades políticas da esquerda e da direita. Para a primeira pregava a organização política, para a segunda, concessões. Com base nos autores citados acima, na nova ordem mundial, o mundo tende a ser liderado por ricos e para os ricos. Inteiramente dominado pelos interesses das grandes corporações econômicas e das instituições financeiras.

A temática da Governação global também é discutida pelo o Grupo de Lisboa4 que entende que o processo de globalização nos últimos 20 anos acentuou a transformação da competição transformando em ideologia e objeto agressivo de sobrevivência e hegemonia. O grupo considera que a principal fraqueza da atual configuração do mundo encontra-se na ausência de uma governação global, socialmente responsável e politicamente democrática. Não se encontra em declínio o poder do Estado-nação, em particular o poder econômico; nem que esteja sendo substituídos na esfera econômica pelas empresas transnacionais. Na interpretação de Oliveira, o grupo coloca que tem sido levado a cabo pelos estados através da privatização, da liberalização dos mercados nacionais e da regulamentação. (OLIVEIRA, 2000, p. 57-60).

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Constitui-se na reunião de algumas personalidades ligadas ao mundo acadêmico e cultural da Europa Ocidental, América do Norte e Japão, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian. Analisa as mudanças que afetam as economias nacionais, o crescimento de empresas multinacionais, o papel do Estado e o meio ambiental global, ao mesmo tempo em que examina os meios e condições para criação de novas formas de governação mundial. (Oliveira 2004, p. 27.

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O grupo de Lisboa apud Oliveira, chama a atenção para o papel que tem a nova intelligentsia

transnacional, o que denomina as oligarquias iluminadas globais. “Tais oligarquias são

representadas por industriais, líderes de negócios, gestores, originados principalmente dos EUA, Europa, sul e sudeste asiático, que têm como objetivo construir e trabalhar em cadeias globais de multinacionais, projetando estratégias globais para novos produtos, infra-estrutura, normas, serviços e mercado”. (OLIVEIRA 2000, p. 57).

Segundo Oliveira, se tem verificado a bastante tempo é que um governo de “facto” é formado pelas instituições financeiras internacionais estruturadas na Conferência de Bretton Woods em 1944. A autora apoiada na referência de Chomsky, aponta as características dessas instituições como a imunidade à influência e o operações realizadas em segredo, ameaçando a democracia, reduzindo- a. Nos países em desenvolvimento agem muitas vezes como poder de Estado.

Os grandes marcos políticos acontecem em encontros de cúpulas que reúnem gestores públicos e executivos das grandes corporações, chefes de Estado e mega-investidores. Os países ricos são tratados de mercados competitivos, e os países pobres, de mercados emergentes.

Compreende-se, portanto, que no contexto atual, o lado político da globalização deixa os Estados-nação e as grandes corporações, através de seus mecanismos de regulação e administração, no comando do mundo. Havendo diferenças radicais de privilégio e poder entre as nações ricas e as periféricas. “O postos de comando estariam em mãos dos países da Tríade (EUA, Alemanha e Japão)”. (FIORI & TAVARES apud OLIVEIRA, 2000 p 64).

O lado político da globalização também tem levado os estados nacionais a privatizações, liberalização dos mercados, em nome da necessidade de inserção no mercado mundial; conseqüentemente a manutenção e o alcance do bem-estar social tem sido comprometido, dificultados pelas políticas de ajustamento estrutural e o condicionalismo econômico exigidos pelo Fundo Monetário Internacional-FMI e Banco mundial-BM.

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Para Motta apud Oliveira (2000, p90) “O capitalismo pressupõe não apenas a integração tecnológica e econômica entre as empresas, mas também entre essas e o Estado, assumindo o Estado um papel importante”. Assim, o Estado não é usado pelos capitalistas, ele é capitalista. Exerce um papel de organização e administração das estruturas necessárias ao desenvolvimento capitalista. Estado este que, como uma força política, um aparelho de poder das classes dominantes que do ponto de vista empresarial pode ser visto como um patrão que decide através de acordos estabelecidos ora com objetivos sociais coletivos, ora para atender a objetivos individuais de partidos e de políticos As empresas estatais acabam servindo de peças para o jogo político que se estabelece nas relações do estado capitalista, da política neoliberal a favor das classes dominantes.