• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO II – A COMPUTAÇÃO EM NUVEM

2.1 Objeto Empírico: A computação em nuvem – principais conceitos

2.1.1 Google Cloud Platform e Google Drive

A Google estabeleceu-se recentemente como uma das maiores empresas em diversos setores tecnológicos de grande porte, como a telefonia celular, por meio do sistema

23 É importante pontuar que esse modelo de negócios de empresa-para-empresa está diretamente associado ao

movimento do capitalismo atual, que depende de plataformas tecnológicas que cada vez mais substituem os meios físicos de negociação de produtos e serviços. Além disso, esse modelo não se refere apenas à prestação de serviços de uma empresa para outra, mas também à compra e venda de informações de uma empresa capaz de captar esses dados, para outra interessada em utilizá-los.

Android, e também pela sua presença massiva na internet por meio de aplicativos e serviços, como o Gmail, o Google Maps, Translator, o YouTube, o buscador, além de sua plataforma de serviços em nuvem, o Google Cloud Platform e o Google Drive.

Essa atuação intensa e consolidada há anos é um dos principais elementos apontados pela empresa para atrair novos clientes e usuários. No website da plataforma, é enfatizada - numerosas vezes - a “vantagem” inerente que o usuário teria ao rodar suas aplicações e dados pela mesma infraestrutura que “permite ao Google retornar bilhões de resultados de busca em milissegundos, servir 6 bilhões de horas de vídeos no YouTube por mês e proporcionar armazenamento para 425 milhões de usuários do Gmail” (GOOGLE CLOUD PLATFORM, 2014). Além disso, a atuação global da empresa é outro ponto enfatizado, como um elemento que garante redundância no acesso aos serviços contratados, de forma que os dados armazenados possam ser redirecionados por um conjunto enorme de

mirrors24 localizados em todo o globo, garantindo acesso a usuários em qualquer ponto do

mundo.

Entre os principais serviços apresentados pela empresa estão a sua plataforma direta para usuários, chamada de Google Drive, incorporada no conjunto de aplicativos que tornam-se disponíveis para o usuário assim que for criada uma conta da Google. Essa aplicação é incorporada também automaticamente aos smartphones que se utilizam da tecnologia Android, e permite que qualquer usuário faça uso de um espaço em nuvem no qual pode armazenar principalmente arquivos de texto e planilhas, com a capacidade de liberar o acesso a esses dados para outros usuários selecionados. A partir disso, os usuários conectados a esses arquivos podem fazer alterações e salvá-las na nuvem em tempo real, de forma que uma mesma planilha pode ser trabalhada por diversas pessoas ao mesmo tempo sem a necessidade de ter o arquivo armazenado diretamente em algum dispositivo. O serviço conta também com a possibilidade de utilizar calendários e agendas, no qual o usuário pode atualizar seus compromissos e lembretes de forma que tenha acesso a eles em qualquer dispositivo que esteja conectado ao aplicativo, como celulares, tablets e computadores, sem

24 Mirrors são servidores que exercem o papel de redirecionar informações de um servidor para outros lugares.

Por exemplo, uma empresa pode disponibilizar um arquivo que está localizado em um servidor nos Estados Unidos por mirrors no Japão, na França ou no Brasil, de forma que usuários que se conectem na internet nesses locais sejam capazes de adquirir o arquivo com taxas de download mais rápidas e menos problemas de perda de pacotes ou deficiências na transmissão.

ter que atualizar as informações especificamente em cada um deles.25

Em relação aos serviços oferecidos para outras empresas, por meio do Google Cloud Platform, a empresa tem como principal foco as modalidades de Infrastructure as a Service (IaaS), com a Compute Engine e Platform as a Service (PaaS), com a App Engine. Esses dois serviços, que podem ser contratados separadamente ou de forma conjunta, são disponibilizados de acordo com as exigências do serviço contratado, proporcionando, no primeiro caso, computadores de alto nível tecnológico para rodar operações e aplicativos em nuvem que a empresa insere no sistema, ou, no segundo caso, desenvolver aplicativos novos se utilizando da infraestrutura proporcionada pela Google.

A empresa também conta com serviços para o armazenamento de grandes volumes de dados, para a análise de Big Data e para o desenvolvimento de novas ferramentas, assim como uma ferramenta chamada de Prediction API, que seria capaz de, dado um conjunto de informações inserido no sistema, prever tendências futuras utilizando dados históricos sem que o usuário precise realizar nenhum cálculo.

A Google busca constantemente na comunicação com seus clientes e potenciais usuários aproveitar-se do tamanho de suas operações e de uma perspectiva de inovação: a empresa, que saiu de apenas um projeto de buscador na internet no meio da década de 1990 para tornar-se uma das maiores empresas do mundo em tecnologia procura constantemente apresentar aos seus usuários que novas ferramentas e aplicativos estariam sendo implementados gradualmente, enfatizando a praticidade em sua utilização. Curiosamente, no entanto, a empresa não conta com uma seção específica sobre segurança e privacidade relativa aos seus serviços de nuvem: existe apenas um link, pouco destacado, que leva o usuário a uma seção geral para todos os websites e aplicativos da Google, que apresenta alguns conceitos e garantias de segurança.

Outro aspecto que diferencia a abordagem da Google em relação aos outros provedores de nuvem é a integração entre os serviços disponíveis. Se o usuário cria uma conta no Gmail, esse mesmo registro é automaticamente utilizado para todas as outras aplicações

25 A empresa constantemente afirma aos seus usuários que esse tipo de serviço é oferecido gratuitamente, e de

fato a lógica de funcionamento oferecida não cobra diretamente pela utilização dos pacotes em questão. No entanto, é necessário inserir essa aparente gratuidade em um contexto mais amplo, da centralidade da informação, no qual a informação torna-se por si só detentora de valor; portanto, as informações cedidas, intencionalmente ou não, pelo usuário para empresas como a Google adquirem um valor que não é conectado diretamente com a venda do serviço, mas com a utilização dessas informações para fins diversos que serão explorados na continuidade do trabalho.

relacionadas a empresa, desde redes sociais (como o Google Plus) ou a loja de aplicativos para o Android (o Google Play), até o Google Drive e o Google Cloud Platform. Essa construção, em conjunto com uma busca constante por homogeneizar a identidade visual e o modo de disposição das imagens e links nos websites da empresa, busca proporcionar aos usuários um senso de continuidade, de fluidez na navegação entre as páginas.

“Na rede, o movimento do browser é experimentado como o movimento do usuário. O movimento do mouse é substituído pelo movimento do usuário. O usuário olha através da tela para um mundo imaginário, e que faz sentido. O ato de ‘surfar na rede’, que, fenomenologicamente, deveria ser uma experiência angustiante de deslocamento radical – passando de um servidor em uma cidade a outro servidor em outra cidade – não poderia ser mais prazerosa para o usuário. Legiões de usuários de computadores vivem e jogam online sem nenhum senso de deslocamento.” (GALLOWAY, 2004: 64)

Essa ideia de continuidade, no caso da Google, é estendido para não apenas um único website, mas para todos os aplicativos da empresa: é possível passar de um website a outro, transferir suas informações e dados de um aplicativo para outro com o mínimo de interrupções, telas de login e desvios. Dessa maneira, como Galloway argumenta, um processo que poderia proporcionar um senso desagradável de deslocamento radical é amenizado, de forma a modificar notavelmente a relação do usuário com os serviços de nuvem utilizados, buscando naturalizar cada vez mais esses caminhos e transições nas condutas.

A maneira descrita de produzir conteúdo e interfaces gráficas para a internet, no entanto, não é restrita ao modo de operação da Google. A Microsoft, também uma gigante do ramo da computação em nuvem, apresenta os mesmos traços ligados ao conceito de continuidade, em uma perspectiva que nos permite discutir não apenas as operações dos provedores, mas também a maneira como essas ações, e os discursos que emergem dessas relações, se conectam na idealização de uma "Cultura de Nuvem".