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CAPÍTULO II – A COMPUTAÇÃO EM NUVEM

2.1 Objeto Empírico: A computação em nuvem – principais conceitos

2.1.2 Windows Azure e Onedrive

A Microsoft, uma das maiores e mais antigas empresas do ramo da computação e desenvolvedora do Sistema Operacional Windows, o mais utilizado mundialmente para computadores pessoais, buscou nos últimos anos reformular a sua imagem, e a computação em nuvem é um dos principais focos dessa transformação na empresa. Com a extensão das operações da empresa para telefones celulares (por meio do Windows Phone) e para o

desenvolvimento de aplicativos para computadores e dispositivos móveis, a empresa conseguiu ampliar seu escopo de atividades de forma a atingir ainda mais usuários.

Nesse movimento, a criação do Onedrive e do Windows Azure buscam aproveitar-se da dominância dos sistemas Windows para atrair usuários e empresas de todo o mundo, por conta de sua fácil integração com os computadores pessoais e celulares que se utilizam as plataformas da empresa. No caso do Azure, segundo dados da própria Microsoft, mais de 54% das empresas listadas entre as 500 maiores do mundo pela revista Fortune utilizam o serviço (MICROSOFT, 2014), e a apresentação do aplicativo mostra claramente o foco na integração: o website para usuários é disposto graficamente da mesma forma que o Windows 8, sistema operacional mais recente da empresa, e que, assim como no caso da Google, também se utiliza de um sistema integrado de login com as contas Microsoft do usuário.

As aplicações disponíveis pelo Azure compreendem a maioria dos tipos de serviços de computação em nuvem existentes, com serviços em SaaS, IaaS e PaaS. No entanto, o Azure é apresentado pela própria empresa como uma alternativa praticamente exclusiva a grandes empresas e corporações; o website do serviço conta, inclusive, com uma seção específica que compara os preços e as ferramentas disponíveis no Azure ao seu principal concorrente no meio corporativo, os serviços do Amazon Web Services, sem citar outros concorrentes como a Google, a Apple ou a IBM.

No entanto, ao contrário da Amazon, a Microsoft também conta com o Onedrive, um serviço voltado para usuários comuns e que assemelha-se bastante ao Google Drive. O aplicativo, incorporado automaticamente para usuários do Windows 8 e dos Windows Phones, serve para guardar arquivos, como fotos, textos, vídeos e outros documentos, além de disponibilizar armazenamento de arquivos editáveis, como textos e planilhas, da mesma forma que o Google Drive. O serviço, que previamente se chamava Skydrive, disponibiliza altas capacidades de armazenamento (mais de 15gb para usuários iniciais26), e, apesar de ser focado em usuários comuns, apresenta facilidades e vantagens também para clientes corporativos.

Outro destaque da atuação da Microsoft no meio é o foco apresentado pela

26 O espaço inicial disponibilizado gratuitamente pelo Onedrive é notoriamente alto, especialmente em

comparação com outros serviços do mesmo gênero, como o Dropbox, por exemplo, que libera 2gb de espaço inicialmente para seus usuários, e exige que o usuário convide amigos para utilizar o serviço para aumentar a capacidade de armazenamento.

empresa nas questões de segurança e privacidade. O Windows Azure e o Onedrive contam com seções específicas em seus websites detalhando aspectos de segurança e a maneira como a empresa busca prevenir possíveis falhas ou ataques as informações guardadas. Da mesma forma, a Microsoft oferece serviços de atendimento constantes em caso de problemas técnicos, e conta com uma parceria com a Cloud Security Alliance, uma instituição criada por um conjunto de empresas privadas, com a intenção de desenvolver guias, manuais, pesquisas, treinamento e certificados sobre segurança e privacidade na nuvem.

A abordagem da Microsoft se baseia principalmente no tamanho da empresa e na facilidade de integração com sistemas físicos que seus serviços disponibilizam. A extensão da utilização dos sistemas Windows, e a larga rede já existente de servidores e serviços que são preparados para o sistema operacional são os principais meios de convencimento utilizados pela empresa contra seus competidores. Dessa forma, é possível observar nos websites e nos aplicativos desenvolvidos pela Microsoft um foco no conceito de continuidade, de maneira similar ao que é feito pela Google.

No entanto, a busca pelo estabelecimento dessa continuidade não se limita apenas ao website em si, a criar uma experiência fluida de navegação online. Esse pressuposto aparece também no estabelecimento de uma visão de mundo que governa as operações dessas empresas na nuvem, o que se torna explícito no caso da Microsoft a partir de um discurso proferido por Steve Ballmer na Universidade de Washington, nos Estados Unidos, em 2010.

A grande ênfase da empresa na ideia de nuvem e na aposta de que esse modo de funcionamento na internet é o futuro governou, de fato, boa parte das ações da empresa nessa década. Steve Ballmer, CEO da empresa no período entre 2000 e o começo de 2014, buscou deixar claro durante sua gestão de que a entrada da empresa no meio não era apenas uma diversificação de serviços, mas um modelo de operações que serviria como guia para as ações da empresa:

“Eu diria simplesmente que a nuvem é o combustível para Microsoft, e a Microsoft é o combustível para a nuvem. Nós estamos a, o que, 10 milhas de nossos escritórios centrais. Nós empregamos cerca de 40 mil pessoas ao redor do mundo que estão envolvidas em construção de softwares, 40 mil. E se você perguntar a essas 40 mil pessoas, ou se medir o que essas 40 mil pessoas estão fazendo, cerca de 70 por cento das pessoas que trabalham conosco estão ou fazendo algo pensado exclusivamente para a nuvem, ou que seja inspirado a servir as cinco dimensões das quais falei hoje.” (BALLMER, 2010).

palavras de Ballmer, não se resume apenas a um aproveitamento de oportunidades econômicas, mas também de conectar as pessoas e permitir que estas explorem seu potencial criativo e inventivo27 e, ao mesmo tempo, consigam trocar informações e fazer parte de uma “comunidade” maior de indivíduos com os mesmos propósitos. Nesse sentido, é essencial que haja um senso de continuidade, de fluidez entre as trocas de informação, que se estabeleçam plataformas que sejam capazes de, como Galloway apresenta, reduzir o senso desconfortável de deslocamento radical que a navegação na internet provoca, e que se intensifica na nuvem, quanto mais os dados e informações de uma pessoa se desatrelam de sua imediata presença física e são transferidos para um arquivamento em nuvem.

“Enquanto nós pensamos na nuvem como uma oportunidade, eu penso muito nas coisas que as pessoas têm feito. A habilidade para literalmente qualquer criador pequeno criar uma peça de conteúdo, uma peça de software, e tê-la disponível instantaneamente em qualquer lugar do globo é fantástica.” (BALLMER, 2010).

A perspectiva apresentada por Ballmer no discurso em questão, portanto, não é um elemento isolado, uma perspectiva específica ligada a empresa que ele presidiu em particular. A Microsoft e a Google, por meio de suas ações e dos discursos que acompanham essas operações, são parte integrante para a construção de um discurso hegemônico sobre a computação em nuvem e, de certo modo, o funcionamento e as potencialidades da internet. Em conjunto com a atuação direta das empresas , essa perspectiva também parte de produções acadêmicas voltadas para o meio, como os textos do escritor inglês Charles Leadbeater, um dos principais proponentes da ideia de "Cultura de Nuvem".

Leadbeater, jornalista de formação, foi conselheiro do ex-primeiro ministro britânico Tony Blair, e tornou-se uma das principais fontes de discursos no universo da computação em nuvem durante a década de 2000. As publicações do autor buscam indicar tendências futuras para construções tecnológicas, sempre com ênfase na possibilidade de exploração da criatividade nesse meio (referências que operam relativamente da mesma maneira são a revista Wired e as obras do escritor americano Ray Kurzweil). Para os objetivos desse

27A noção de Indústria Criativa e de Economia Criativa engloba um conjunto de atividades econômicas que têm

como principal foco a exploração de capacidades criativas, de informação e conhecimento de forma a gerar riqueza por meio da utilização da propriedade intelectual. Essa definição incorpora qualquer tipo de atividade que faz uso da criatividade e da captação de informações para dar continuidade ou ampliar fluxos monetários e financeiros, amparando-se em estruturas jurídicas que garantam a exploração privada de propriedade intelectual. Nessa perspectiva, a participação humana é vista como um capital intelectual (ou capital humano, como conceituado por autores como Gary Becker, por exemplo), que opera de forma a valorizar-se e gerar valor em processos econômicos.

trabalho, é importante ressaltar que Leadbeater não será considerado como uma referência acadêmica, mas sim como uma fonte de discursos nativos no campo da tecnologia e dos estudos sobre a internet, um indivíduo que produz conteúdo em conexão com outros atores no meio e tem uma atuação influente em relação a estes.