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Governança da Informação e Blockchain – Empresa C

5 RESULTADOS E ANÁLISE DE DADOS

5.2 ESTUDO DE CASOS MÚLTIPLOS

5.2.4.1 Governança da Informação e Blockchain – Empresa C

Tendo em vista a análise de dados realizada, identificou-se que a Empresa C impacta positivamente a Governança da Informação pela sua plataforma de gerenciamento social de financiamento e impacto. Esta seção expõe os resultados encontrados que destacam essa relação entre uso da tecnologia Blockchain e a influência para a GI.

Em relação à Accountability, capacidade de responsabilização, percebeu-se que a solução da Empresa C, conforme os documentos analisados (documentos 30, 31 e 32), permite o registro de todas as etapas do projeto social para liberar os recursos apenas quando os objetivos desses projetos forem sendo cumpridos. A Accountability também está relacionada a duas outras capacidades: capacidade de saber o que um ator está fazendo e a capacidade de fazer esse ator fazer outra coisa (Schedler, 1999; Hale, 2008; Faria, 2013). Nesse sentido, o registro do projeto na plataforma da Empresa C com a descrição dos objetivos, metas e formas de mensuração auxiliam ao investidor a ter essa capacidade de saber o que está sendo feito no projeto que realizou algum investimento, ao mesmo tempo que a condição de liberação de verbas por objetivo cumprido acaba por executar a capacidade de fazer o ator fazer outra coisa (o projeto), caso não esteja executando-o conforme o acordado. Esse processo foi destacado pelo Entrevistado 5:

O aplicativo de doação funciona assim: qualquer pessoa vai, doa pro projeto, o dinheiro fica parado em uma ‘poupança’ e só quando o resultado que a ONG propôs é atingido, ela apresenta uma prova e o validador checa a prova, aí ele dá um ‘tick’,

a Blockchain registra tudo, registra quanto dinheiro tem, qual pedaço do dinheiro foi para cada objetivo e você tem tudo transparente [...]. (Entrevistado 5)

Salienta-se que há consequências a serem aplicadas à organização que perder um prazo de apresentação de relatório. Nos documentos analisados (documentos 34 e 41), encontrou-se o destaque que não existe apenas a perda de pagamento pelos relatórios, como também o bloqueio de todos os pagamentos futuros (como os resultados de realizações de metas validadas futuramente), até que o relatório seja enviado. Ou seja, há um mecanismo de controle e responsabilização daquelas instituições que não enviam seus relatórios por meio da liberação ou não de dinheiro.

No que se refere ao item Acessibilidade, capacidade de uma informação ser encontrada e apresentada para quem a necessita, de forma apropriada (Martin et al., 2010), reconheceu-se que a proposta de valor da Empresa C está totalmente alinhada com esse item de GI. Isso porque esta empresa busca dar acessibilidade ao seu público alvo (projetos, investidores, instituições sociais) valendo-se de uma plataforma de fácil uso, em que os usuários não precisam entender de Blockchain ou saber programar, além de incentivar a divulgação de informações dos projetos com base na remuneração.

Em relação à Acessibilidade aos serviços da Empresa C, realça-se a fala do Entrevistado 5, o qual destaca que “quem não sabe nada de Blockchain, pode ir, é uma página normal que você entra com seu cartão de crédito e você consegue checar de uma maneira mais acessível, tal objetivo usou 2 libras do seu dinheiro e ainda faltam 8 para ser usados e você vai recebendo esses updates”. Além disso, nos documentos analisados (documentos 30, 33 e 41) há o destaque para o fato de que “não é realista esperar que as organizações sociais interajam diretamente com nossos contratos inteligentes para definir e monitorar seus projetos. Estamos, portanto, construindo um projeto simples de arrastar e soltar e um painel de relatórios que permitirá que pessoas não técnicas o façam a partir de uma interface da web normal”. A acessibilidade é entendida como algo relevante para o negócio da Empresa C ter sucesso, uma vez que possui diversos stakeholders.

O mecanismo de recompensas de contribuição busca ser um incentivador para o compartilhamento de informações entre os atores envolvidos nos projetos e, assim, dar acessibilidade a essas informações sobre o impacto dos diversos projetos sociais aos investidores. Nesse sentido, a Empresa C, segundo os documentos analisados (documentos 35, 36 e 41), “recompensa os usuários por agregar valor aos dados de impacto fornecidos pelos diversos projetos da rede, incentivando efetivamente a criação de um enorme banco de dados pesquisável de informações sobre qualquer área de impacto”. Esse mecanismo é útil, por

exemplo, para a identificação de padrões operacionais de sucesso ou insucesso e para identificar projetos que alcançam um alto nível de impacto a um custo menor. Enfatiza-se que os autores dos relatórios publicados com as informações recebem uma taxa, que é paga pelos usuários que acessam essas informações. Nesse linha, o impacto do uso das soluções da Empresa C para o item de Acessibilidade está relacionado, além de uma maior divulgação ligada a projetos sociais, à questão de garantia de veracidade das informações desses projetos, algo destacado como relevante para esse item por Tsai et al. (2016) e Tschorsch e Scheuermann (2016).

No que se refere ao Compartilhamento, livre intercâmbio de informações (Marchand, Kettinger, & Rollins, 200), observou-se, a partir dos documentos analisados (documentos 30, 37, 38, 39 e 40), que o grande desafio da empresa é fomentar o compartilhamento de informações sobre o impacto e execução de projetos sociais e seus financiamentos, possibilitando maior transaparência, segurança e melhoramento de processos para que os projetos consigam ter cada vez mais impacto social. Nesse sentido, a tecnologia Blockchain, valendo-se de suas propriedades, permite o registro seguro e imutável das informações, assim como o uso de smart contracts, mecanismo de incentivo para o compartilhamento da informação. Dessa forma, a solução desenvolvida pela Empresa C apresenta-se como a solução para problemas de segurança e, conforme destacado por Fuentes et al. (2017), facilita o processo de compartilhamento de informações.

Em relação ao Compliance, dever de comprimir os regulamentos internos e externos impostos às atividades da instituição, observa-se, pelos documentos analisados (documentos 30, 34, 37, 38), que, nas soluções da Empresa C, as caracteríticas da tecnologia Blockchain são utilizadas para dar mais transparência ao processo de doação e investimento social de impacto e os retornos advidos desse investimento. Assim, além da questão da auditoria verificar se os objetivos dos projetos estão sendo cumpridos para a liberação de mais recursos, a Empresa C está desenvolvendo uma aplicação para criar contratos padrões em que, segundo Entrevistado 5, “você pode escolher as cláusulas, as cláusulas de investimento, colocar e recompensar as pessoas que escreveram a cláusula e tornar isso tudo, criar, tipo, um programa de computador, você não tem como desviar do que está escrito ali.”. Todas essas aplicações da Empresa C buscam então, trazer segurança informacional aos atores envolvidos nas transações, algo que destaca ainda mais a relação de Compliance e segurança da informação mencionada por Safa, Solms e Furnell (2016).

No que tange ao item Comunicação, mecanismo de transferência de informações entre os indivíduos, destaca-se que toda a plataforma da Empresa C é pensada para melhorar a troca de informações entre investidores e projetos sociais. Assim, a partir dos documentos analisados

(documentos 34, 35, 36 e 37), observa-se que a Empresa B impacta positivamente no item comunicação, e pode ser entendido como um portal de comunicação, ou melhor, um portal de informações sobre projetos sociais, seus impactos e investimentos, tudo isso com a segurança da informação em relação à veracidade dessas informações e permitindo transparência nas trocas informacionais e, por consequência, maior impacto nos investimentos.

Em relalação ao Monitoramento, característica associada à existência de ferramentas que permitem acompanhar o uso da informação (Faria, 2013), ressalta-se que o monitoramento das informações acabam sendo uma característica essencial para o funcionamento das aplicações da Empresa C. Isso porque se precisa possuir mecanismos de monitoramento para verificar se os projetos estão cumprindo suas metas e liberando informações sobre o impacto social que estão causando, para que se possa destinar mais dinheiro para o projeto. Assim, verificou-se que as características da Blockchain ligadas à promoção da segurança da informação permitem um maior controle e monitoramento sobre o uso da informação.

No que se refere ao item de Padronização, promoção da consistência das informações com o uso de padrões na escrituração, destaca-se que, conforme os documentos analisados (documentos 38, 39 e 41), as soluções da Empresa C estão focadas em dar mais transaparência às informações sobre impacto e, para isso, buscam por meio do recompensar, criar um padrão sobre quais informações são relevantes para mensuração do impacto social. Além disso, a possibilidade de criação de contratos padrões para investimentos de impacto acabam, segundo Entrevistado 5, por gerar “mais transparência sobre como estes funcionam”, pois há um padrão da escrituração que possui características como a questão da imutabilidade e da segurança que ajudam a prevenir fraudes e facilitam a auditoria de informações, facilitando assim a gestão da informação (Faria, 2013).

Sendo assim, ao analisar todos os documentos e entrevista, foi possível ilustrar como o uso da tecnologia Blockchain nas soluções da Empresa C impacta positivamente na Governança da Informação de todos os stakeholders que utilizam a plataforma dessa empresa, corroborando com os resultados identificados na parte quantitativa desta tese. Os resultados apresentados destacam que as características dessa tecnologia permitem a garantia dos objetivos da Governança da Informação, ou seja, gerantem “precisão, integridade, acessibilidade e segurança” (Earley, 2016, p.17) mesmo que em diferentes aplicações e objetivos de negócios.

Destaca-se, por fim, que as análises apresentadas reforçam que a Governança da Informação é muito mais do que proteção de dados, ela pode ser fonte de geração de valor para as organizações por meio do gerenciamento de todo o ciclo de vida da informação, como é no

caso da Empresa C. Na próxima seção, ilustra-se a relação entre o uso de Blockchain a partir das soluções da Empresa C e os Custos Transacionais.