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3 SERVIÇOS PÚBLICOS NA INTERNET: INSTRUMENTO DE

3.4 A aplicação da Internet para os serviços públicos

3.4.3 O Governo Eletrônico evolui no Brasil

Iniciativas de desenvolvimento de programas de Governo Eletrônico e de disponibilização de serviços públicos na Internet têm acontecido no Brasil e são relatadas através de pesquisas, o que mostra que o país tem acompanhado a evolução tecnológica que ocorre nos governos em nível mundial. Na análise de portais de serviços de governos centrais, realizada com 190 países da ONU (Organização das Nações Unidas), o Brasil aparece em décimo oitavo lugar (RONAGHAN, 2001).

Bahiense (2002) mostra em seus estudos aplicados às secretarias de fazenda, ou de finanças como também são denominadas, a aplicabilidade das tecnologias da Internet para o relacionamento do Estado com o Cidadão. Nesse caso o interesse maior é facilitar os processos arrecadatórios, dando conforto e comodidade para que o Cidadão cumpra com suas obrigações fiscais para com o Estado. Segundo o autor:

(...) as análises permitem concluir que parcela significativa (47,3%) das secretarias, estaduais e municipais, está associada ao conglomerado com as práticas mais inovadoras (...). Os seus modelos de gestão têm como paradigma as boas práticas de mercado, de onde retiram novas tecnologias. Possuem domínio da administração de TI e, dentro da amostra, são as que oferecem a maior gama, qualitativa e quantitativamente falando, de serviços digitais. (p.144).

Apesar disso, sustenta que “(...) permanecem praticamente inexploradas, para a esmagadora maioria das secretarias da amostra, as enormes potencialidades de uso da web.” (p.85).

Zimath (2003) realizou uma pesquisa para determinar o estágio de desenvolvimento do Governo Eletrônico no Brasil, como fator de promoção da cidadania, sob a ótica do cumprimento do plano de metas estabelecido no programa de Governo Eletrônico da administração federal (MP, 2000), estabelecido até o ano de 2003, na qual conclui que até dezembro de 2002:

a) das 45 metas gerais estabelecidas, 49% foram cumpridas integralmente, 43 o foram parcialmente e 8% não foram iniciadas;

b) excluindo-se as metas de resultados internos do governo, das 17 metas cujas ações estabelecem relações com a sociedade, 50% foram cumpridas integralmente, 40% parcialmente e 10% não foram cumpridas.

A autora complementa a análise afirmando que, apesar do perceptível avanço nos últimos três anos, “Com certeza o e-Gov no Brasil está longe de alcançar a sua melhor forma, talvez nenhum país do mundo tenha chegado lá ainda, mas está caminhando nesta direção.“ (p.86).

Na pesquisa realizada nos portais de Governo Eletrônico de 26 estados do Brasil, Bittencourt Filho (2000) constata que 65% deles estão no nível mais básico, constituindo-se numa presença inicial dos governos na Internet, porque praticamente apresentam informações institucionais e divulgação do governo. São portais com baixa interatividade e de pouca atratividade para o cidadão. Outros 15% ainda apresentam baixa atratividade e interatividade, mas já disponibilizam alguma forma de interação de informações on-line. Em 20% deles existe uma média atratividade e interatividade, já com um significativo número de serviços que podem ser realizados on-line. Em nenhum dos estados encontra um portal com serviços de grande interesse ao público, sempre atualizados e com muitos serviços

on-line.

Fernandes e Afonso (2001) em classificação semelhante encontram dados não muito diferentes, com percentuais de 50, 25 e 25%, respectivamente. Nenhum portal de estado está localizado no quarto estágio, que para os autores é o da integração de serviços, onde o usuário não precisa conhecer a estrutura do estado, mas sim resolve tudo num único lugar e com uma única senha de acesso.

O grau de preparo para o Governo Eletrônico no Brasil é avaliado na pesquisa de Akutsu (2002), Uma das conclusões é que nos 10 estados estudados, os quais somados respondem por 85% do PIB, as administrações estaduais e as municipais das respectivas capitais, possuem plenas condições tecnológicas de prestar serviços públicos ao Cidadão. Isso parece indicar que o estágio de evolução não é limitado pelos recursos tecnológicos, mas sim pela vontade política dos governantes em realizar as transformações preconizadas pela tecnologia da Internet.

Uma demonstração de eficiência na aplicação da Internet na relação entre o Estado e o Cidadão no Brasil está na declaração de imposto sobre a renda das pessoas físicas. No ano de 2003, cerca de 95% dos contribuintes obrigados a declarar enviaram seus dados pela Internet, o que significa 16,5 milhões de brasileiros utilizando-se desse canal; em 1998, no primeiro ano da oferta do serviço pela Secretaria da Receita Federal, apenas 4,4 milhões de declarações trafegaram pela rede. Além do conforto para o Cidadão, a economia resultante para o governo é da ordem de R$ 7 milhões no ano, contabilizando-se apenas os gastos que teria para enviar pelo correio as notificações para quem tem restituição a receber ou imposto a pagar, as quais podem agora ser enviadas por e-mail pela Internet (SORIMA; ABOS, 2003).

Um outro exemplo marcante de ganho para o Estado e para o Cidadão, na realidade brasileira, é um dos resultados da pesquisa realizada para a Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo por Ferrer (2004).Ela demonstra que o custo do processo de pagamento do IPVA caiu de R$ 21,38 por transação no antigo sistema, para R$ 0,66 no novo sistema, na Internet. Além de reduzir os custos, o novo sistema provocou o aumento na arrecadação em 300%, no período 1994 a 2002, quando a frota de veículos cresceu apenas 33%. Para o Cidadão, os custos também diminuem porque agora ele faz o serviço pelas próprias mãos, podendo dispensar o despachante, com maior conforto, pois não precisa fazer deslocamentos extras.

Esses ganhos parecem significativos quando comparados aos valores trazidos pela pesquisa para avaliação da utilização da Internet na prestação de serviços governamentais nos Estados Unidos, realizada por Cohen e Eimicken (2001), que apresenta uma redução de custos na renovação de registro de automóveis no Alaska, de US$ 7,74 no balcão, contra US$ 3,62 na Internet.

Pela análise desses autores e devido ao pouco tempo em que a Internet está a serviço da sociedade, pois os primeiros portais de informação e de serviços públicos no Brasil remontam ao ano de 1995 (CUNHA, 2000), pode-se considerar que existe uma evolução significativa no uso da Internet pelos governos no Brasil, mas ainda há muito a se explorar. É convicção do pesquisador que a mesma satisfação encontrada por Raskin (2003) para os serviços de arrecadação no Paraná pode ser esperada para toda a gama de serviços públicos prestados pelo Estado.

Na comparação que faz com as experiências estrangeiras, Bittencourt Filho (2000) constata que os governos estaduais brasileiros, e mesmo o federal, precisam desenvolver ações efetivas para prestar melhores serviços na Internet: “O direcionamento dos governos estaduais brasileiros pela utilização da rede mundial está comprovado, entretanto, percebemos que o nível de oferta de informações e serviços relevantes ainda é muito baixo.” (p.119).