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3 ESPAÇOS HÍBRIDOS: AS TECNOLOGIAS MÓVEIS NO COTIDIANO

4 ETNOGRAFIA MÓVEL: UMA PROPOSTA DE MÉTODO MÓVEL PARA OS ESTUDOS DA COMUNICAÇÃO

4.4 ETNOGRAFIA MÓVEL E OS ESTUDOS DA COMUNICAÇÃO

4.4.2 Os sistemas de navegação por satélite

4.4.2.1 O GPS Sistema de Posicionamento Global

Em função de seu amplo desenvolvimento, o GPS tornou-se um dispositivo de baixo custo e praticamente já está inserido no contexto social das pessoas, pois faz parte da telefonia celular de última geração. Para ilustrar de forma didática seu funcionamento em telefones celulares, traz-se um infográfico produzido pelo jornal O Estado de S. Paulo de 18 de janeiro de 2010 que mostra em detalhes ilustrativos como esse dispositivo funciona no dia a dia:

Figura 14: Infográfico funcionamento do GPS em telefones celulares Fonte: O Estado de S. Paulo - Infográfico40

O infográfico baseia-se em serviços de geolocalização como o Google Maps, mas atualmente diversos sites, redes sociais e outros serviços utilizam essa possibilidade enquanto agregador e potencializador de informações sobre a localização dos indivíduos. Alguns inclusive nascem com essa finalidade inicial como impulsionadores de redes sociais na internet.

Estes tipos de aplicações de localização consciente permitem que informações virtuais sejam agregadas ao espaço físico permitindo por meio de telefones celulares e redes de acesso à internet sem fio que qualquer indivíduo, munido destes dispositivos, possa compartilhar em rede onde está. Essas informações além de possibilitar encontros entre amigos ao compartilhar a localização em sites de rede social, pode ampliar as ações de marketing, pois agrega aos locais (restaurantes, lojas, estádios de futebol, feiras ecológicas, etc) informações importantes que podem partir diretamente do local e que por meio da fomentação de conteúdo informativo e compartilhado por parte do usuário pode gerar novos recursos de publicidade e propaganda.

Como a informação é agregada aos locais, o jornalismo é também uma área que se beneficia destes dispositivos. A possibilidade de construção de mapas dos acontecimentos na cidade desenvolvidos potencialmente pelas pessoas que frequentam os locais é apenas uma das formas colaborativas de construção de notícias atualmente. O Projeto Onde fui roubado41 serve para ilustrar e mostrar como essa colaboração é importante:

40 Disponível em: http://acervo.estadao.com.br/pagina/#!/20100118-42461-nac-49-inf-l3-not 41 Disponível em: http://www.ondefuiroubado.com.br/porto-alegre/RS

Figura 15: Projeto Onde fui roubado Fonte: Site do Projeto42

Este é apenas um exemplo de ambiente on-line com informações mapeadas de acontecimentos em espaços físicos. A plataforma é construída coletivamente pelos indivíduos que sofreram algum tipo de crime nos locais da cidade, e é uma das mais populares neste segmento com mais de 30 mil acessos diários. Onde fui roubado foi desenvolvido por dois estudantes e, além do mapa, mostra estatística e ranking de objetos roubados em tempo real. Este caso serve como exemplo de que as informações mapeadas e compartilhadas na rede podem gerar e ampliar processos colaborativos entre os indivíduos. Os locais são fundamentais para que as informações sejam referenciadas do ponto onde surgiram. Estas plataformas tornam-se importantes fontes de notícias para os jornalistas.

O movimento dos indivíduos pelos espaços urbanos gera experiências. Isto não é nenhuma novidade e faz parte do ser humano enquanto ser social. O que nos pontua uma diferença é que antes estas experiências eram apenas compartilhadas com um ciclo próximo de amigos ou conhecidos e muitas vezes, com ninguém por

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tratar-se de algo cotidiano como o caminho para o trabalho, ou o exercício de corrida matinal. O que era vivido naqueles locais ficava unicamente para o registro do indivíduo. Com os recursos dos dispositivos móveis e a localização consciente, estas experiências podem ser agregadas aos locais frequentados por meio das informações deixadas ao publicar nos sites de redes sociais. Quando se registra a mobilidade, deixam-se espalhados rastros pelos territórios.

O GPS pode ser um aliado nas pesquisas com os ―walkers‖, como ressalta Vergunst (2011). Num grupo de pessoas durante um caminho, muitas vezes depender do sistema pode não garantir bons momentos. Um deles é o problema com o mau tempo que instabiliza a área de mapeamento do GPS, principalmente quando ele é utilizado como mapa e direção. Outro ponto é o papel simbólico (VERGUNST, 2011) que ele obtém quando o indivíduo consegue chegar a algum lugar, ou até mesmo identificar lugares para os outros. A geolocalização é uma forma simbólica de mostrar que um local foi alcançado, ―desbravado‖, ―conquistado‖, e que passará a fazer parte da história da pessoa que por ali passou. Vergunst (2011) ainda destaca que muitas vezes no caso do GPS, por exemplo, o que importa na pesquisa etnográfica não é em si o resultado, mas a forma como as pessoas interagem com os objetos e paisagens. Nesse ponto, destaca-se a importância em compreender como as pessoas usam e ―vestem‖ estas tecnologias durante os processos de movimento, apontando para a direção de um outro processo metodológico, o autor destaca ―que esta seja a justificação de invocar a tecnologia tanto quanto uma forma de engajamento etnográfico e um tema dentro investigação etnográfica‖ (VERGUNST, 2001, p.210).

O GPS é utilizado para capturar momentos significativos e intrínsecos aos aspectos relacionados ao movimento, marcando as relações entre ambiente e os indivíduos. Seu uso para identificar um local torna aparente esta relação e auxilia na aplicação de técnicas de estudo que surgem para compreender como estudar a etnografia móvel nos objetos da comunicação social.

4.5. A APLICAÇÃO DA METODOLOGIA - ETNOGRAFIA MÓVEL NA