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GRÉVE DE COLONOS EM RIBEIRÃO PRETO

as coisas como elas são, mas como nós

GRÉVE DE COLONOS EM RIBEIRÃO PRETO

A revolta vai tomando maiores proporções.

A grève dos colonos de varias fazendas do minicipio de Ribeirão Preto, longe de declinar, estende-se a outras fazendas, tomando um carater geral.

São conhecidas a causas deste movimento: é sabido que os colonos não podem continuar os trabalhos da lavoura, por que as condições em que se encontram não lhes permitem adquirir os alimentos necessarios para poderem trabalhar.

Os fazendeiros, e com eles o Patronato Agricola, dizem que os colonos estão em melhores condições do que ha cinco ou seis meses, quando assinaram os contratos, visto que a carestia da vida lhes é favoravel, pois podem vender a carne de porco, o milho, o feijão e outros legumes, por preços mais elevados.

E’ sabido que, em contratos escritos ou verbais, os fazendeiros prometeram ceder uma pequena parte de terra para o cultivo do milho, feijão, legumes, etc.

Ainda que estas promessas ou contratos fossem cumpridos, os colonos ver-se-iam mal para adquirirem os primeiros elementos; mas o certo é que estas promessas ou

contratos falharam por completo, porque os fazendeiros não permitem que os colonos disponham de um palmo de terra, para o seu uso particular.

Por tanto, o toucinho, o milho, o feijão e outros cereais ou legumes, que estes haviam de vender, para ganharem alguma cousa, são obrigados a compra-los nos armazéns dos fazendeiros, a preços impossíveis.

[...]

Os fazendeiros, secundados pelo Patronato, não querem saber dos compromissos contraídos com os colonos.

Um correspondente burgués, nada suspeito de agitador, afirma que o aumento de salario reclamado pelos colonos não compensaria as perdas que eles tiveram com as plantações. Outra fonte de receita, ou de roubo descarado, é a das multas. Só na fazenda de Valdemiro Pinto Alves, foi um colono multado em 150 mil reis, por ter hospedado, em sua casa, durante uma noite, um seu irmão que havia tomado parte em uma gréve, no mes de maio do ano passado.

Por qualquer pretesto, os administradores, por ordem dos patrões, impõe multas a granel, extorsionando miseravelmente o esforço, o trabalho sobreumano, até das crianças de 7 ou 10 anos, que trabalham sob o sol ardente e sob a fria chuva ou a geada, desde a madrugada até a noite.

Para os fazendeiros a vida dos colonos não é digna da menor atenção. O mercado humano é abundante. Por isso, e apoiados pelo Patronato Agricola, afirmam que não devem ceder, e resolveram, em uma reunião realizada no 1.º de Maio, em R. Preto, não atender absolutamente nada ás reclamações dos que, para eles trabalham, e constituir uma liga de resistencia, que terá por fim influir sobre o governo para reprimir todas as revindicações dos colonos, estabelecer condições peiores para os seus escravos brancos, e bases vexatorias, como por exemplo a de que nenhuma fazendeiro aceitará colono algum que não haja terminado o trabalho na fazenda que tenha abandonado; devendo este apresentar uma caderneta de filiação e conducta, como se fosse um criminoso.

Como os patrões temessem uma revanche dos colonos, tratados a chicote como nos tempos do tronco, e com a propósito de provocar um incidente que désse ensejo a um massacre, mandaram ocupar as fazendas militarmente e insultar os grévistas.

Ao menos isto é o que se desprende do resultado das diligencias policiais. A imprensa tem cumprido o seu dever de defender os fazendeiros e atacar os colonos, o que não nos admira, porque já o fazia antes, defendendo o brutal regime de escravatura que terminou em 13 de Maio de 1888.195

Uma “Nota interessante”fôra publicada logo em seguida ao artigo sobre as greves de trabalhadores rurais. Nesta nota o articulista focalizou a incidência de uma extremada violência e exploração sobre o trabalhador dócil. Não apenas o trabalhador insubmisso, contestador e rebelde, mas todos, mesmo os que se esforçavam em colaborar com o patrão e seus administradores, viviam a mercê das arbitrariedades e dos abusos.

Nota interessante.

Para que todo o mundo se scientifique da bela forma em que são tratados os colonos, mesmo os de procedimento exemplar... e para que sirva de exemplo aos que tratam de conquistar a simpatia dos administradores e patrões, apresentamos ao colono Giuseppe Capelini, trabalhador na fazenda do sr. Soletic Arruda na zona de Bebedouro.

Este colono presenteava o administrador com a metade da sua colheita particular, para conquistar-lhe a simpatia.

Este ano, porem, a colheita foi quasi nula e não lhe foi possivel repartir com o administrador.

Como consequencia viu se, ele e a sua familia, perseguidos pelo administrador: A sua horta foi arrasada pelos “camaradas”.

Queixou-se ao agente consular italiano e recebeu como resposta algumas verdades: que o fazendeiro e o administrador tinham o direito e podiam espancar e matar, tanto a ele como a sua familia, por que a lei estava da parte deles.

Reclamou ao chefe de policia, Sampaio Vidal, 15 dias de trabalho, sem resultado. Tentou embarcar para queixar-se ao cônsul em S. Paulo e na estação foi preso, estando dois dias na cadeia, sem comer.

Ao mesmo tempo, a sua familia estava encarcerada na propria casa, cercada por capangas armados.

O administrador entrou na sua residência e seqüestrou-lhe o contrato.

Finalmente fugiu e apresentou-se ao Patronato “qualquer coisa”, e este mandou-o voltar para a fazenda.

Entregou 200 mil reis a um advogado para que tomasse a sua defesa, e não viu mais nem a defesa e muito menos os 200 mil reis.

Agora encontra-se sem dinheiro e com a familia seqüestrada.

Só falta que lhe seja aplicada a lei de expulsão por rebelde e agitador exaltado. Melhor lição não a pode dar nenhum mestre.196

Em dois artigos os redatores trataram da derrota dos trabalhadores rurais. No editorial ao nono número de Germinal!, os editores documentaram a derrota da greve dos trabalhadores rurais. Esta foi uma ocasião para análise do evento, procurando retirar-lhe as lições. Há neste texto uma outra denúncia. Trata-se da existência escravização sistemática de indígenas por fazendeiros em plena república. O articulista descreveu as estratégias utilizadas por fazendeiros para conseguir prender e escravizar índios no Alto do Rio Doce: distribuição gratuita de bebidas alcoólicas entre os indígenas e, após estarem embriagados, fácil aprisionamento e escravização.

O triunfo da iniqüidade (?). _________

Os colonos, vencidos, voltaram ao trabalho.

O ipopòtamo capitalista triunfou mais uma vez sobre a resistencia proletaria. Os fazendeiros, cavalheiros distintos e “humanitários”, viram com gàudio como os colonos declinaram o seu talante subversivo e retomaram pacificamente o trabalho, trabalho fecundo que produz o rico cereal, fonte de riqueza e de progresso da agricultura, do “bem estar” e “da prosperidade da Nação”.

Os senhores LAVRADORES estavam no seu direito zelar pelo - - - -197

dos trabalhos agricolas, e a justiça estava de sua parte, reconhecida pelos proprios colonos; tanto é assim que voltaram ao trabalho, “arrependidos” de haverem-se rebelado contra os seus benemèritos patrões e protectores, que lhes facilitaram pão (pàu) e trabalho.

A coalição de todas as forças da burguesia, envolveu os camponezes grevistas num circulo de ferro.

A represália dos fazendeiros, a campanha da imprensa, os atropelos e ameaças da policia, o auxilio prestado pelo governo aos patrões, e os conselhos de calma se passividade com os representantes régios gelaram as energias dos revoltados, foi superior á inteligencia e à força dos vencidos.

[...]

Quem ler a imprensa mercenaria, em sua maioria ou em grande parte escrita por adventicios, pensará que os burgueses, que tanto maltratam os trabalhadores estrangeiros, guardam todas as suas amabilidades para os filhos desta terra; não saberá que o patriotico govêrno prende, deporta e massacra trabalhadores brasileiros para defender a exploração e os interesses de empresas italianas, francesas, inglesas, ect., e que protege os selvicolas fusilando-os e tomando posse das suas terras, reduzindo-os depois a escravidão.

Veja-se este botão de amostra, que extraímos dos jornais do dia 14 do corrente.

“Uma pessoa chegada do Alto Rio Doce informa que alguns fazendeiros daquella localidade, não dispondo de colonos e trabalhadores para as suas roças, obrigam os índios a trabalhar.

Para atrair os indigenas, esses fazendeiros colocam perto das “malocas”, varios objectos de quinquilharias; em seguida fornecem cachaça aos indios, prendendo-os quando estes se acham completamente embriagados.

Nas fazendas, os indios são obrigados a trabalhos excessivos e castigados rudemente como nos tempos da escravidão.

A mesma pessoa disse ainda que tanto as quinquilharias como a cachaça são pagas pelo Ministerio da Agricultura, ao qual são apresentadas contas sobre essas despesas”. 198

O artigo é finalizado com um chamamento a que os trabalhadores incrementassem as suas associações, engrossando o movimento reivindicativo e contestador. Todas as conquistas sociais, assinalou o articulista, se deve à organização dos trabalhadores e não a algum pendor humanista ou filantrópico dos patrões e governantes. Numa breve nota, o redator199 registrou o resultado da

197 Palavras ilegíveis.

198 GRACO. O triunfo da iniqüidade (?) – Os colonos, vencidos, voltam ao trabalho. Germinal! São Paulo, ano 1, n.

9, p. 1, 17 mai. 1913.

derrota sofrida pelos colonos no movimento paredista: a vingança dos fazendeiros, promovendo a expulsão de muitos trabalhadores rurais.

Sobre a lei de expulsão de estrangeiro, os editores tiveram o cuidado de tornar público o texto desta legislação. Além de estamparem trechos de artigos publicados na imprensa comercial e artigos noticiando acontecimentos em diversas localidades denunciando as arbitrariedades das forças da ordem sobre os segmentos populares, os editores disponibilizaram os artigos e parágrafos normatizadores da deportação. A divulgação do conteúdo da lei era endereçada tanto à sociedade nacional, em particular aos trabalhadores e classes populares, como à sociedade européia, sobretudo às associações operárias.

Os editores também publicaram, ao longo de alguns números do jornal, a legislação regulamentando a entrada de imigrantes no país. Desta série de artigos, encontrei apenas dois200.

Os editores procederam a uma apresentação dos artigos da lei, acrescentando-lhe rápidos comentários, reforçando a interpretação estampada desde o título do artigo: a imigração de trabalhadores brancos da Europa enquanto novo mecanismo para uma nova escravidão. Processo este, os editores faziam questão de enfatizar, gestado, promovido e sustentado pelas instituições democráticas e liberais da recém fundada república brasileira.

Escravidão Moderna. __________

Regulamento de trafico de escravos para a Estado de São Paulo.

Art. 82 – Cumprido o control (contados como carneiros) e recebido as

respectivas bagagens o diretor da Hospedaria atestará a exatidão da entrega dos emigrantes e das suas bagagens, mencionando as faltas constatadas, entregando o atestado ao representante dos introdutores (para que receba do governo a importancia

da venda dos escravos caçados na Europa).

Art. 43 – O governo, quando julgar conveniente para fomentar a emigração (a

trata de brancos) concederá subvenções ás companhias de navegação que facilitem

200 ESCRAVIDÃO moderna. Regulamento de trafico de escravos para o Estado de São Paulo. Germinal! São Paulo,

ano 1, n. 5, p. 2, 13 abr. 1913. ESCRAVIDÃO moderna. Regulamento de trafico de escravos para o Estado de São Paulo. Germinal! São Paulo, ano 1, n. 9, p. 1, 17 mai. 1913.

bilhetes de atração, de passagem a preços reduzidos; aos emigrantes que se dirigirem a este Estado e desembarquem no porto de Santos.

Art. 72 – O governo poderá emitir, mediante acordo com as companhias de

navegação, bônos para bilhetes de chamada de imigrantes para os trabalhos (mortiferos) agricolas assalariados, (que em vez de salario receberão vexames e violencias) ou para núcleos coloniais (peiores do que as fazendas) em conformidade com as disposições do presente regulamento.

Art. 8 – A’s emprezas de (expoliação) agricolas ou de colonisação como tambem

aos particulares que introduzem a sua espensa neste Estado, emigrantes aptos par o trabalho agricola, seja como assalariados, ou como concessionarios de lotes coloniais, poderá o governo retituir em parte ou em total, a importancia dispendida na adquisição de (escravos) bilhetes de passagem de 3ª classe, desde o porto de embarque a Santos, sempre que sejam observadas as disposições do presente regulamento.

Quer dizer que se antes de 13 de Maio de 1888 os fazendeiros tinham que comprar á sua custa, os escravos que precisasem para o serviço da sua lavoura, ou trabalho da empresa, hoje adquirem gratuitamente o rebanho humano, para toda classe de trabalho.

Já é progresso.

CONCLUSÃO.201

Os temas privilegiados de Germinal! foram dois: a lei de expulsão de estrangeiros, proposta pelo deputado paulista Adolfo Gordo, e a alta do custo de vida naquele período. A lei de expulsão de estrangeiros fora aprovada no ano de 1907, um ano depois do primeiro Congresso Operário Brasileiro e sofrera alterações de conformidade com o crescimento das agitações operárias seguidas aos dois congressos seguintes. Nos anos de 1913 e 1919 realizaram-se, no Rio de Janeiro, o segundo e terceiro congressos respectivamente, ao que o movimento operário sentia recrudescer a reação governamental através, simultaneamente, da intensificação das leis anti- anarquistas e do aprofundamento da repressão policial.

O argumento basilar manifestado pelos defensores da referida lei, com a finalidade de facilitar sua aceitação por maiores segmentos da sociedade, era de que as agitações sociais deviam-se à atuação exclusiva de estrangeiros anarquistas. A máxima do presidente Washington Luis, proclamando a questão social como sendo simplesmente uma questão de polícia, sintetizou

201 ESCRAVIDÃO moderna. Regulamento de trafico de escravos para o Estado de São Paulo. Germinal! São Paulo,

com muita propriedade a disposição dos estratos dominantes em relação às classes populares sob a chamada primeira república.

As comoções sociais, segundo a percepção da classe dirigente, deviam-se à ação de alguns dos imigrantes europeus. Na perspectiva da elite econômica e governante, os agitadores estrangeiros trouxeram para o Brasil idéias exóticas, inadequadas à realidade social vigente. O resultado da infiltração do que denominavam “planta exótica” era o estabelecimento de diversos tumultos envolvendo o trabalhador nacional. Este, por sua vez, era percebido enquanto possuidor de uma índole naturalmente dócil e ordeira, portanto avessa às manifestações de descontentamento e a subversões. O anarquismo, nesta perspectiva, consistia em exotismo estrangeiro, inadequado, prejudicial e perigoso à realidade social brasileira.

O questionamento da lei Adolfo Gordo, como feita pelos anarquistas, demonstrava o caráter eminentemente arbitrário desta e, por extensão, de todas as leis. Os articulistas associavam, em suas análises da lei de expulsão e da carestia, temas correlatos como monarquia, república, socialismo, anarquismo, sindicalismo, evidenciando a violência das leis.

No número especial de Germinal!, dedicado ao primeiro de maio, os editores estamparam umas poucas palavras de um dos condenados à pena capital quando dos acontecimentos de Chicago que dera origem à data simbólica de luto e de lutas dos trabalhadores no mundo contra o capitalismo e o Estado. Antes de sua execução, Samuel Fieldem, da mesma forma que os demais condenados202, pronunciou-se acerca da sentença e de sua luta. Os editores destacaram um trecho em que ele desnuda o caráter classista e violento da lei.

202 Os discursos dos mártires de Chicago foram publicados recentemente no Brasil com um texto introdutório de

Ricardo Mella. Ver MELLA, Ricardo. Primeiro de maio, dia de luto e luta – A tragédia de Chicago. Tradução Sérgio Luiz M. Mesquita, Ione Moura Moreira. Rio de Janeiro: SINDSPREV/RJ; SIDSCOPE; ACHIAMÉ, 2005.

A LEGISLAÇÃO.

“Suprimi a lei”. Eu pronunciei estas palavras tomando-as de um discurso de Mr. Foran no Congresso. E se é verdade que, como ele diz, nada se pode fazer pela legislação, que se supõe favoravel aos interesses comunais, nada mais logico do que aquela frase. Não se pode legislar sem ferir os interesses de alguns; necessariamente a lei ha de favorecer uns interesses e prejudicar outros. Se, pois, nada se pode conseguir mediante a legislação, e centenas de homens recebem um soldo anual por fazer leis, é logico e natural que a grande maioria que não recebe nenhum favor da lei prescinda de tais legisladores.203

Fazendo uma resenha dos acontecimentos internacionais de solidariedade aos trabalhadores no Brasil, Florentino de Carvalho204, ao contextualizar a situação despótica

infligida aos proletários no Brasil, remeteu ao absurdo da lei de expulsão. Neste contexto assinalou a nulidade da lei em si mesma, particularmente no que diz respeito ao dinamismo da vida social. No seu entendimento, pairava um abismo separando uma e outra.

Astrojildo Pereira enviou do Rio de Janeiro um artigo em que afirma a nulidade das leis. Seu texto intitulado Palavras subversivas inicia enfocando a violência característica das leis, desrespeitando as especificidades culturais e as singularidades pessoais. Com a lei procura-se impor um universalismo, nivelando a tudo e a todos a partir de um modelo. Criticou a idéia de igualdade perante a lei, apresentada pelos democratas, enquanto homogeneização. Diferenciou esta igualdade da preconizada no pensamento anarquista.

Palavras subersivas.

A igualdade perante a lei é uma blague monstruosa. Quando menos... Argumento?... Ora, ouvi!... O Brasil é um grande país. Com efeito: cêrca de de nove milhões de quilómetros quadrados, que se esparramam por aí além e habitados por vinte e cinco milhões de cidadãos, càlculo bruto. Perfeito. Agora, racionai... A vida desses vinte e cinco milhões de cidadãos é regulada pelo mesmo dispositivo das mesmíssimas leis. Não importa que sejam cidadãos de costumes diferentes, de tendencias diferentes, de temperamentos diferentes... Não importa. Eles que amoldem os seus temperamentos,

203 FIELDEM, Samuel. A legislação. Edição especial do “Germinal!” e da “Barricata” ESCRAVIDÃO moderna.

Regulamento de trafico de escravos para o Estado de São Paulo. Germinal! São Paulo, p. 1, 01 mai. 1913.

204 CARVALHO, Florentino de. Agitação do proletariado internacional contra o desportismo deste país. Germinal!

as suas tendencias, os seus gostos e os seus costumes pela fôrma de tais artigos e quais paràgrafos.

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Quando um anarquista fala da igualdade, que ideamos, entre os homens da sociedade futura, o larpa do borgués rebate logo, importante:

- Oh! isso é muito bonito... não ha dúvida... muito bonito... Mas é impossivel... a igualdade é impossivel... Não ha cousa no mundo igual a outra!...Veja bem... Sem os ricos, como poderiam os pobres viver?... Não è possivel... Sim... as suas teorias são muito bonitas... eu comprendo... A igualdade!... Ahn! ahn!... Olhe, menino: isso è pura metafisica!...

E o burguéses imbecil supõe esmagar-nos com palavras tais... Ora, o burro do burgués!

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Eu comparo a “igualdade de condições” que pregamos, a uma composição musical. Vede porque... Toda a composição musical é formada de notas com “valores diferentes”. A harmonia se consegue com o “apoio mútuo” entre essas notas deslocamento de qualquer delas produz a desarmonia. São diferentes, mas de-outras... mas juntas, ajudando-se, auxiliando-se, combinadas para um mesmo fim conseguem este fim, que é a harmonia. E’ bem o concêrto de valores desiguais, altos e baixos... E me parece uma imagem perfeita da “harmonia social”, que sonhamos: efeito da “composição” de uma sociedade em que os homens, desiguais entre si, serão todavia iguais nas condições da vida: de cada um segundo as suas forças; a cada um segundo as suas necessidades. E’ o programa lapidar.

Imaginai, porèm, uma pela musical composta de notas iguais perante a “lei” do som... Imaginai uma sèrie de “dós”... ou de “fàs”... ou de “rés”... Seria a desarmonia. E é a imagem exata de “desarmonia social”, que o bêsta do burgues defende: efeito da “composição” de uma sociedade de homes “iguais perante a lei”...

_______

O burgués, entretanto, faz questão de não compreender estas cousas. Porque o burgués é sempre um sujeito que não sonha. Um sujeito de idéas positivas. Idéas praticas... Pois tanto peor... não é verdade?... tanto peor... para o borguês! Porque um dia ele serà queimado na fogueira dos códigos e das leis que pretendem regular a vida da humanidade. Metafisicamente queimado...205

B. 206, em artigo intitulado “A liberdade”, elaborou reflexões sobre a ontologia da lei,

problematizando a perspectiva convencional definindo-a enquanto garantia tanto da própria liberdade como da sociabilidade humana. Em sua análise diferenciou a existência das leis da natureza das pretendidas leis sociais, questionando a necessidade destas. Das leis da natureza não podemos escapar. As leis sociais, por sua vez, não são fatais nem irrevogáveis. São convenções sociais estabelecidas com a intenção, manifesta ou velada, de preservar relações de domínio e

205 PEREIRA, Astrojildo. Palavras subversivas. Germinal! São Paulo, ano 1, n. 10, p. 1, 24 mai. 1913. 206 B. A liberdade. Germinal! São Paulo, ano 1, n. 14, p. 2, 22 jun. 1913.

exploração. Outro atributo da lei diz respeito ao processo de fetichização, tornando-se para as relações sociais uma outra forma de transcendência.

O articulista comparou o que chamou “superstições indígenas” com os adoradores de leis nas chamadas sociedades modernas. Deu destaque à desvantagem destes para aqueles ao afirmar que “a divindade dos indios destroi corpos, a lei destroi energias e macula as almas”. Por fim,