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1 AS DEFINIÇÕES DA MARCA MESMO EM ALGUNS DICIONÁRIOS E

1.9 Gramática Metódica da Língua Portuguesa de Napoleão Mendes de Almeida

Napoleão Mendes de Almeida nasceu em Itaí, São Paulo, no dia 8 de janeiro de 1911, e faleceu na cidade de São Paulo em 1998. Professor de Português e Latim, filólogo e gramático, considerado tradicional e caturro, deixa claro o seu conservadorismo quando em uma entrevista à Revista Veja, em 1993, diz entre outras coisas que

A televisão é o maior veículo de erros e enganos de português que existe (...) Há um humorístico chamado Os Trapalhões. Essa palavra não existe em português. O verbo é atrapalhar. Quem atrapalha, portanto, é atrapalhão. Por que tirar o a da palavra? (...) Autores como Alexandre Herculano e Eça de Queiroz, além de possuir uma prosa atraente, obrigam o leitor a ir ao dicionário pelo menos duas vezes por página. Isso é um ótimo sinal. No outro extremo está o escritor que se lê por 100 ou 200 páginas sem deparar com uma palavra que não se conheça, e que escreve com períodos de gago, aquele que tem dois pontos finais em cada linha. 19

Vejamos em sua Gramática Metódica da Língua Portuguesa, que vendeu mais de meio milhão de exemplares, se o conservadorismo manifesto em sua entrevista acima mencionada reflete-se também em sua obra.

1.9.1 Mesmo e o “demonstrativo”

Demonstrativo: assim se denomina a palavra que localiza o substantivo ou o identifica, nos ensina Almeida. No exemplo O mesmo homem, mesmo está identificando o substantivo homem, portanto, é um pronome demonstrativo identificador do substantivo.

No capítulo XX de sua gramática, Napoleão Mendes de Almeida, além de classificar objetivamente mesmo como demonstrativo, conforme vimos acima, dedica-lhe uma atenção especial em pelo menos três páginas. Vejamos apenas o essencial para o nosso propósito.

Em frases como: É o mesmo (= É a mesma coisa); O mesmo ouvi eu; Redunda no mesmo; Vem a ser o mesmo, Almeida classifica mesmo como sendo um pronome neutro (grifo nosso, p. 185). E, ainda, segundo o autor, idêntica função neutra tem mesmo quando flexionado no feminino em expressões em que se subentende a palavra coisa: Fiquei na mesma; Deu na mesma.

Segundo Napoleão Mendes de Almeida, mesmo funciona também como advérbio, a exemplo de colocações tais como: Ele não quer mesmo; Hoje mesmo; Estive mesmo e Eloá quer mesmo sair.

O autor faz ainda comentários sobre o “emprego condenável do demonstrativo mesmo”. A aversão às formas a ela, dela, para ela é, segundo o autor, a responsável pelo emprego condenável de mesmo:

Talvez por temor de, no emprego do pronome ela, formar palavras grotescas, como “boca dela”, ou para evitar a repetição desse pronome, costumam certos autores, infalivelmente, substituí-lo por a mesma, da mesma, para a mesma, com a mesma, substituição verdadeiramente ridícula, que só logra atestar fraqueza de estilo, falta de colorido e de recursos sintáticos. Assim é que frequentemente vemos passagens como estas: “Vou à casa de minha mãe; falarei com a mesma sobre o assunto” – “Realizou-se ontem a esperada festa; à mesma compareceram...”. É caso de perguntar se o interlocutor tem outra mãe ou se o cronista assistiu a outra festa. Reproduzamos corrigidos os exemplos dados: “Vou à casa de minha mãe, com quem falarei sobre o assunto” (ou: e com ela falarei sobre o assunto) – “Realizou-se ontem a esperada festa, à qual compareceram...” (ALMEIDA, 1986, p.186) 20

1.9.2 Outros empregos de mesmo

Com esse título Napoleão Mendes de Almeida (1989, p. 187) oferece-nos mais três significações para mesmo:

a) com o significado de em pessoa, próprio, idêntico: “...eu sou a mesma pontualidade” – Mas quem há de amar as moscas, sendo a mesma imundícia?” – “Cristo era a mesma inocência” – “... como o declarou o mesmo Cristo” - “... fundada em sua semelhança mesma”. – “... de uma terra mesma nasceram duas tão contrárias”;

20 Cf. mais exemplificações do que o autor chama de “uso condenável de mesmo” in: ALMEIDA, N.

b) para indicar com mais ênfase e distinção a pessoa ou coisa determinada pelos demonstrativos este, esse, aquele: “Este mesmo livro”;

c) para identificar, comparativamente uma pessoa, ou coisa: “Respondeu-lhe com a mesma serenidade” – “... os mesmos e ainda maiores estragos” – “Esta roupa é a mesma de ontem” – “Exerce a mesma função de antes”.

No que diz respeito à expressão “assim mesmo”, o autor nos diz que ela pode representar três significados:

a) igualmente: “Assim mesmo tratarei com El-rei”

b) apesar disso, contudo, ainda assim: “A prova máxima não era assim mesmo concludente”

c) desse mesmo modo, como estais dizendo: “Falei assim mesmo” – “Pois aconteceu assim mesmo”. (1989, p. 187)

Finalmente, em “outros empregos de mesmo”, com a significação de próprio, Almeida concebe que “cabe às vezes a elegante posposição de mesmo ao substantivo; ‘Em virtude na natureza mesma’ – ‘Com a admiração da gente mesma’” (1989, p. 187)

1.9.3 Mesmo e as subordinativas concessivas

Explica-nos Almeida, que as conjunções que trazem ideia de concessão chamam-se concessivas, a exemplo de embora, quando mesmo, mesmo, mesmo que e etc.

O seguinte exemplo nos é apresentado para demonstrar esse emprego:

- Quando mesmo te laves em água de nitro, não te limparás (...)

Em resumo, podemos afirmar que Almeida, diferentemente de alguns gramáticos, que ignoram a marca mesmo, empenha-se em apresentá-la nas múltiplas formas em que pode ser empregada. Se esse empenho, de um lado é louvável do ponto de vista da pesquisa científica, de outro, prova que os gramáticos conservadores, ao tentarem dar conta de todos os empregos

de uma marca, acabam simplesmente listando classificações que nada auxiliam no entendimento de seus usos.