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CAPÍTULO III ANÁLISE DO CORPUS ANÁLISE DO CORPUS

3.1.7 GRAMATICALIZAÇÃO DAS PREPOSIÇÕES

Neste item apresentamos exemplos de preposições que sofreram o processo de gramaticalização:

EXEMPLO 01:

- A mulher de bunda bonita vive angustiada: quem é amada? Ela ou sua bunda? Algumas bundas até parecem ter pena de suas donas e quase dizem: “Olhem para ela também, ouçam suas opiniões, sentimentos... Ela também é legal...” (Meditações Diante do Bumbum de Juliana, p. 32)

EXEMPLO 02:

- Este crime horrorizou todo mundo. Até os assassinos na cadeia se chocaram. (Suzane, 19 Anos, Bela E Rica, Matou Por Amor, p. 63)

EXEMPLO 03:

- Hoje, podemos tudo, podemos casar até com jacarés ou macacas. (O Amor Deixa Muito A Desejar, p. 86)

- ATÉ: de acordo com os dicionários o item lexical “até” é uma preposição que indica limite no espaço, no tempo, na ação, na quantidade ou na qualidade. Porém nos textos analisados, ele apresenta o sentido de “inclusive”, ou seja, exerce a função de advérbio de inclusão. Está passando por um processo de degramaticalização, pois constatamos que está deixando de exercer a função de preposição e passando a ter um papel de advérbio. Vê-se, assim, que surge uma nova função para uma forma já existente, o que nos remete à gramática emergente da língua, tendo ocorrido, portanto, de acordo com P.

J. Hopper (apud POGGIO 2002), o Princípio da Descategorização, pelo qual a palavra perde sua categoria e assume outra classe gramatical e, consequentemente, ganha maior autonomia por conta do processo de degramaticalização, pois a unidade lingüística saiu do nível gramatical (preposição) e passou para o nível lexical (advérbio). Neste caso, ainda, segundo Ataliba T. de Castilho (apud POGGIO 2002), aconteceu o Princípio da sintagmatização e reanálise, uma vez que esta última é um mecanismo de mudança pelo qual o falante reorganiza a estrutura do enunciado, reinterpretando os elementos que o compõem, baseado na metonímia, e essa reorganização estrutural do enunciado pode implicar uma modificação das fronteiras entre elementos do léxico na língua falada e na escrita e o Princípio da Continuidade e Gradualismo, uma vez que a língua passou por inovação em sua estrutura por meio da interação durante o processo de comunicação. Nos exemplos acima podemos constatar que a maneira como o autor faz uso da preposição “até” bastante criativa, mostrando o modo como as pessoas comunicam-se no uso comum da língua. A preposição “até” está passando por um processo de degramaticalização na língua em uso e essa mudança está migrando para a língua escrita, e é a pressão comunicativa que se sobrepõe às regras já estabelecidas no sistema linguístico, dando a ele novas configurações.

A seguir mostramos exemplos de expressões lexicais. 3.2 EXPRESSÕES LEXICAIS

As expressões lexicais mostram a maneira como o falante constrói o enunciado de maneira entenda e que seja entendido pelos seus ouvintes em sua comunidade linguística. Dessa maneira, o falante constrói os sentidos de sua fala no momento da interação comunicativa. Os usuários da língua no momento da fala podem assumir vários papeis, dentre eles, o de locutor, alocutário, narrador, interlocutor etc. Sendo assim, podemos afirmar que em todo o discurso existe o desdobramento de sujeitos ocupando várias posições no texto, auxiliando na construção de sentidos dos textos, que é o que veremos nos exemplos seguintes. É importante observar que o sentido de cada palavra ou expressão está ligado à posição ocupada pelo falante no ato da comunicação e as escolhas lexicais estão relacionadas ao conhecimento prévio dos falantes.

Neste item apresentamos exemplos de expressões lexicais que sofreram o processo de lexicalização:

- Eu era fanático pelo Ipiranga, de uniforme verde e vermelho, que eu almejava ostentar um dia, de preferência se Silvinha, moreninha de olhos verdes, estivesse na amurada me vendo driblar adversários, dando-lhes chapéus sucessivos e entrando triunfalmente pelo gol do Lá Vai Bola, temido time do Leme. (Pelé Eterno Me Trouxe A Infância De Volta, p. 47)

- DANDO-LHES CHAPÉUS: é um exemplo de lexicalização, não significa dar chapéu a alguém para que esse alguém possa colocar em sua cabeça, ou melhor, cobrir sua cabeça para proteger do sol, chuva etc. É uma expressão idiomática típica do futebol. Durante uma partida de futebol o jogador jogou a bola por cima de seu adversário fazendo com que ela passasse por cima de sua cabeça e ele jogador a pegasse do outro lado para continuar jogando. Nesse exemplo além do locutor na enunciação há o locutor-enquanto-pessoa, ou seja, é a pessoa do mundo que se apresenta no discurso como sendo de sua autoria. Ou seja, ele locutor-enquanto-pessoa daria vários chapéus em seus adiversários.

- Até hoje sinto o arrepio, quando vi que meu destino de perna-de-pau estava traçado, não só no futebol mas talvez na vida, pois percebi com pânico que, enquanto todo mundo na arquibancada olhava o jogo, eu olhava os torcedores olhando o jogo. (Pelé Eterno Me Trouxe A Infância De Volta, p. 49)

- PERNA DE PAU: é um processo de lexicalização que significa quem não tem habilidade para jogar futebol. Existe um locutor-enquanto-pessoa no texto contando sobre sua falta de habilidade para o futebol.

- Mas não posso me queixar de nada, casei várias vezes, tive duas filhas e um filho maravilhosos, chorei muitas vezes de dor-de-corno e de desentendimento, mas não posso me queixar, pois, além do que vivi, vejo hoje que as memórias são tão sólidas quanto as realidades. (Resposta A Uma Moça 50 Anos Depois, p. 57)

- DOR DE CORNO: é um exemplo de lexicalização que significa que uma pessoa que é traída pelo seu companheiro(a) e é mais utilizado para os homens do que para as mulheres. O locutor-enquanto-pessoa sabe que sua mulher o traiu e por isso ele narra no texto seu sentimento, descontentamento com a situação.

- Depois da queda do muro de Berlim, a arrogância dos EUA, em sua crença de que uniriam o mundo todo numa grande “mcdonaldização” da vida também caiu por terra. (Onde Estão Os Hippies, Agora Que Precisamos Deles, p. 88)

- CAIU POR TERRA: é um exemplo de lexicalização que significa que algo acabou, cessou. Nesse exemplo o locutor-enquanto-pessoa conta o que aconteceu com um país.

- E, enquanto meu filhinho começa a dormir, pensando no gambá cheiroso, eu vou pensando em sua pergunta profunda: “Papai, o que que tinha antigamente? Bem, respondo para mim mesmo, antigamente, tinha eu, outro “eu”, diferente do casca- grossa de hoje. (Antigamente, Quando Eu Era Pequenino, p. 147)

- CASCA-GROSSA: é um exemplo de lexicalização, não é usado com o sentido concreto de casca, mas sim com o sentido de uma pessoa que é difícil de conviver com as outras em sociedade. Nesse exemplo o locutor-enquanto-pessoa está contando um comportamento que ele tinha.

- Eu queria desbundar feito eles, mas meu pai não deixava e, aí, eu só enchia a cara de Jack Daniels. (Espelho Meu, Quem É O Imperador Do Mundo?, p. 160) - ENCHIA A CARA DE JACK DANIELS: é um exemplo de lexicalização que significa beber muito. O locutor pensou em beber muito, pois não conseguiu realizar determinada atividade, porque seu pai não deixava, então como forma de minimizar uma frustração, ele bebia bastante.

- E se a barra pesar muito, pau nos chineses que virão, e nos russo e árabes. (Espelho Meu, Quem É O Imperador Do Mundo?, p. 163)

- SE A BARRA PESAR MUITO: é um exemplo de lexicalização que significa uma situação ou momento difícil. Há um locutor no texto que relata que se a situação piorar será pior para os chineses.

- ...e todo mundo vai me respeitar e gostar de mim, porque eu vou ser legal com quem for legal comigo, mas, se não for legal comigo, será esculachado, porque eu não

vou dar colher de chá para traidor e porque nunca mais vou ser humilhado. (O Grande Sucesso Do Herói Sem Coração, p. 175)

- COLHER DE CHÁ: é um exemplo de lexicalização e não é usado com o sentido concreto de uma colher de chá, mas sim com o sentido de facilitar algo para alguém. O locutor não facilitará nada para ninguém.

- No fim de ano todo mundo começa a falar: “Feliz Natal, feliz ano novo!” Mas, ser feliz, como? O sujeito passou o ano todo quebrando a cara, reclamando da mulher, batendo nos filhos, lutando contra o desemprego, sendo humilhado pelos patrões, e aí chega o fim do ano e todo mundo diz: “Seja feliz!” E aí o sujeito tem de estampar um sorriso alvar no rosto. (A Felicidade É A Empada Do Bigode, p. 189)

- QUEBRANDO A CARA: é um processo de lexicalização que significa fazer coisas pensando que darão certo, que sairão da maneira como pensamos que sairão e ao final não acontecer da maneira com imaginávamos que fosse acontecer. O locutor-enquanto- pessoa no texto mostra que as pessoas sempre ao final de cada ano, por questão de costume, ou tradição desejam sempre, Feliz Natal e Feliz Ano Novo para todas as pessoas sem saberem se essas pessoas tiveram ou não um ano próspero e por isso, torcem para que o próximo ano seja melhor do que foi o passado.

- Estou de saco cheio; vou telefonar para o Nelson Rodrigues para ver se ele me dá uma luz, lá do céu. (A Humanidade Sempre Foi Uma Ilusão À Toa, p. 193)

- ESTOU DE SACO CHEIO: é um processo de lexicalização que significa não agüentar mais determinada situação ou momento pelo qual está passando. Nesse exemplo o locutor expressa um sentimento, demonstrando uma inquietação em relação a algo que aconteceu de maneira errada, não esperada pelo locutor.

Podemos observar que essas expressões são de base metafórica, ou seja, todas estão ligadas às experiências de vida das pessoas, fazem parte do seu conhecimento enciclopédico e o autor, para mostrar a maneira como elas usam a língua, tentou trazer o mais próximo possível de seu leitor essa linguagem. Todos os exemplos sofreram o processo de lexicalização.

Conforme já foi mencionado, de acordo com Martelotta & Palomanes (2008, p. 179),

em termos mais específicos, podemos dizer que, de um modo geral, a proposta cognitivista leva em conta aspectos relacionados a restrições cognitivas que incluem a captação de dados da experiência, sua compreensão e seu armazenamento na memória, assim como a capacidade de organização, acesso, conexão, utilização e transmissão adequada desses dados. É importante aqui registrar que esses aspectos somente se concretizam socialmente, ou seja, não refletem apenas o funcionamento de nossa mente como indivíduos, mas como seres inseridos em um ambiente cultural. Em outras palavras, segundo essa visão teórica há uma relação sistemática entre a linguagem, pensamento e experiência. Isso nos leva a um outro aspecto da proposta cognitivista, que incorpora os fenômenos referentes à interação social. Esse outro aspecto de cunho social leva alguns autores a acrescentar ao vocábulo designativo dessa escola linguística o elemento sócio-, criando o termo sociocognitivismo. Esse termo enfatiza a importância do contexto nos processos de significação e o aspecto social da cognição humana. Mais do que isso, focaliza a linguagem como uma forma de ação, ou seja, através da linguagem comentamos, oramos, ensinamos, discursamos, informamos, enfim, enquadramo-nos nos milhares papeis sociais que compõem nossa vida diária.

É importante observar que, nos casos de expressões que estão passando pelo processo de lexicalização, o posicionamento do autor é muito parecido com o que ele exerce nos exemplos de verbos que estão passando pelo processo de gramaticalização e também nos exemplos de discursivização, ou seja, é nesses casos que fica mais evidente a mudança de posicionamento do autor, os movimentos que o cronista realiza. Nesses exemplos, ela faz o seguinte movimento: em primeiro lugar, ele transfere-se da sua posição, da sua condição de conhecedor da norma padrão da língua; em segundo lugar, projeta como é que essas pessoas não conhecedoras da norma linguística padrão língua se comunicam de forma interativa, e, por fim, em terceiro lugar, o cronista designa-se como tal, ou seja, denomina-se como um usuário qualquer da língua em uso no dia a dia em tempo real de comunicação que não têm o domínio da norma padrão da língua. Fazendo esse movimento, o autor consegue colocar nos textos escritos mudanças existentes na língua em uso comuns no dia a dia e as transformações pelas quais a língua está passando que só podem ser verificadas na interação comunicativa, nas conversas descontraídas de amigos, nas falas espontâneas, que não são abordadas nas gramáticas normativas.

Quando o autor faz a transferência, projeta e designa-se pelo outro, ele faz as escolhas lexicais que são mais adequadas a esse campo, o campo do outro, o campo da coloquialidade, ou seja, o cronista faz uso do léxico como fundamento ou âncora para o

enunciado configurado pelas modalidades da enunciação, revelando dessa maneira o uso bem coloquial do autor.

De acordo com Turazza (2005, p.59) as lexias são descritas por Pottier como a combinação de dois signos mínimos: o lexical e o gramatical, compreendendo a formalização de um plano semântico que está à disposição do falante. As lexias lexicais compreendem a classe das designações e as lexias gramaticais compreendem das relações e a classe das formulações, que implica que essas lexias gramaticais veiculam as intenções de um locutor, ou seja, ela exerce um papel fundamental com âncora para a elaboração dos enunciados.

Continua a autora (2005, p. 59),

em síntese, as lexias da classe de designação são as que representam os referentes antropo-socio-culturais, geradores e refletores da visão de mundo do grupo; as lexias da classe de relação e de formulação têm a função de articular as relações entre as primeiras no universo discursivo, manifestando, de certa forma, a intenção do locutor, através de mecanismos de modalidades, explícitos ou implícitos, no enunciado.

Verificamos que, nesse momento, o falante e o ouvinte negociam os sentidos, mostrando, assim, a liberdade organizacional do falante, dentro das restrições construcionais, pois os falantes fazem suas escolhas que levam a resultados de sentidos e efeitos pragmáticos diversos. No ato da comunicação, o falante tem tendência de sempre usar expressões novas, com sentidos novos que chamem atenção das outras pessoas. É o que podemos chamar de reanálise, ou seja, o usuário da língua reorganiza a estrutura do enunciado, reinterpretando os elementos que o compõem. Esse fenômeno implica uma modificação entre os elementos do léxico na língua falada que pode ser registrada na língua escrita para preservar a maneira de falar das pessoas na interação comum do dia a dia. Essa mudança no léxico na língua falada ocorre também por causa da inferência por pressão de informatividade – o elemento é pressionado pelo contexto a admitir um sentido novo.

Constatamos que, nesses exemplos, existe o locutor que é representado pelo “eu” na enunciação, é o responsável pelo discurso, e existe também a representação de um locutor-enquanto-pessoa, representado pela pessoa do mundo que se apresenta no discurso com sendo de sua autoria.

Nesses exemplos, constatamos que, apesar de estarem em textos escritos, é muito frequente a forma como os usuários da língua fazem uso dela, uma vez que as transformações, adaptações e renovações que são realizadas e criadas pelos falantes para

serem melhor compreendidos pelos que os ouvem, para que possam atingir seus objetivos, que é o foco de estudo da linguística funcional.

Sendo assim, nessas ocorrências, podemos constatar o que foi mencionado anteriormente que, no processo de gramaticalização, a metáfora é uma das motivações mais importantes, pois, Martelotta (1996) considera que a gramaticalização envolve vários níveis:

A – Nível cognitivo: a gramaticalização (pelo menos no que se refere ao nível morfológico) segue, como parece ocorrer com os processos de mudança metafórica em geral, a tendência de usar elementos do mundo concreto para o mundo abstrato. O elemento do léxico é mais concreto que a gramática: é mais fácil conceptualizar substantivos do que relações textuais.

B – Nível Pragmático: a gramaticalização envolve uma intenção genérica do falante de usar algo conhecido pelo ouvinte para fazê-lo compreender melhor o sentido novo que ele quer expressar. Pode-se também ver nessa passagem concreto > abstrato uma intenção comunicativa de facilitar a compreensão do ouvinte a partir da utilização de conceitos mais concretos e mais conhecidos para a expressão de ideias novas que surgem no decorrer do processo comunicativo.

C - Nível Semântico: a gramaticalização, como processo de mudança ocorrida no léxico, envolve o conhecimento por parte dos interlocutores dos significados de origem das palavras envolvidas; caso contrário, o sentido novo corre o risco de não ser detectado pelo ouvinte.

D – Nível Sintático: a gramaticalização ocorre basicamente em contextos que a estimulem, o que significa que não só existem aspectos sintáticos que propiciam a gramaticalização, mas principalmente, que esses aspectos são responsáveis pelo fato de a mudança tomar efetivamente este e não aquele caminho.

Essas mudanças sempre ocorrem de forma gradual e estão relacionadas aos níveis cognitivo, pragmático, semântico e sintático conforme explicados acima. É importante lembrar que a linguagem está diretamente relacionada ao nosso pensamento e à nossa

experiência de vida, ou seja, nosso conhecimento enciclopédico. Ela faz parte da cognição humana, é um processo que ocorre de maneira instantânea, envolvendo um ato mental, ou seja, é por meio dos atos mentais que os usuários da língua criam e constroem novas formas linguísticas para os elementos linguísticos nos mais variados contextos, ou melhor, nas diversas situações comunicativas. Por meio de seu conhecimento de mundo, o usuário constrói sentidos e significados para as diversas situações comunicativas até a convencionalização das formas linguísticas.

Verificamos também que os usuários da língua têm capacidade de processar informações, de decodificá-las, de compreendê-las e armazená-las na memória, adaptando-se aos mais diversos e variáveis meios sociais nos quais eles estão inseridos. Ou seja, nos exemplos observamos que quando o falante participa de uma interação comunicativa, ele transfere para a fala todo seu conhecimento de mundo e esse processo está relacionado a linguística cognitiva, pois, todo processo comunicativo em que há interação face a face está baseado na percepção de mundo que o usuário da língua tem, pois ninguém fala simplesmente por falar. Em todo momento de comunicação, o usuário mostra como ele percebe, categoriza e conceitualiza o mundo. Por mais que não queiramos, sempre que nos comunicamos estamos revelando o modo como percebemos, categorizaramos e conceitualizamos o mundo. E o contexto no qual os falantes/ouvintes estão inseridos orienta a construção do significado, na construção de sentidos, dando ênfase à experiência humana. Mostrando dessa forma a capacidade que as pessoas têm para processar informações e adaptá-las às mais diversas situações comunicativas.

Nos casos de lexicalização verificamos que os falantes, em certos contextos linguísticos, usam uma construção sintática ou uma formação de palavras com uma nova forma significativa, contendo propriedades formais e semânticas que não são completamente deriváveis ou previsíveis a partir dos constituintes da construção. Ao longo do tempo, pode ocorrer mais perda da constituição interna e o item pode se tornar mais lexical. É uma mudança diacrônica, logo gradual, como ocorre com a gramaticalização, sendo seus itens mais idiomáticos e menos composicionais. Esse fenômeno caracteriza as expressões idiomáticas, como diálogo de surdos, colher de chá e casca grossa. O ponto de partida dessa construção é um item lexical que faz parte do léxico da língua e deve ser aprendido pelos falantes.

De acordo com Martelotta (2011, p. 121-122), lexicalização e gramaticalização apresentam similaridades:

A- Perda de fronteira – nos dois processos há perda de fronteiras: junção e coalescência (redução de segmentos fonológicos, conseqüente da fusão de itens, por exemplo: em boa hora > embora.

B- Perda de composicionalidade – nos dois processos há perda de motivação com o desaparecimento do sentido composicional.

C- Unidirecionalidade – nos dois processos há uma unidirecionalidade que acarreta morfossintaticamente mais > menos fronteiras, assim como semanticamente mais > menos composicional; e não o contrário.

Os exemplos de substantivos estão assumindo novos sentidos na língua em uso e o falante é o responsável por essa aquisição de novos sentidos para palavras já existentes. Estão passando pelo processo chamado de lexicalização na medida em que adquirem novos sentidos para palavras já existentes. Constatamos que existe uma negociação do sentido por falante e ouvinte no ato da comunicação e que os falantes têm uma tendência para usar expressões novas. Esses novos sentidos atribuídos a formas já existentes ocorrem por conta da pressão de informatividade que se dá em função do contexto na interação comunicativa, mostrando, dessa maneira, que os elementos são pressionados pelo contexto de uso para admitir um novo sentido, ou seja, é a liberdade organizacional do falante no momento da elaboração de seu enunciado, pois é ele quem faz as escolhas que levam a novos efeitos de sentidos. Sendo assim,