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3 EXPANSÃO URBANA DE NATAL-RN, (TRANS)FORMAÇÃO DE

3.2 O GRANDE PONTO

Com o comércio concentrado na Ribeira antes da Segunda Guerra Mundial, a Cidade Alta tornara-se um bairro predominantemente residencial. Poucas eram as casas comerciais que povoavam as suas ruas. Após o término daquele conflito, grande parte do comércio da Ribeira deslocou-se para a Cidade Alta. Sobre essa mudança, o cronista Aderbal de França fez o seguinte registro: “Invadindo o centro urbano, o comércio já está

modificando profundamente a característica da Avenida Rio Branco, de onde as famílias se afastam para que se instalem mais casas de negócios” (SOUZA, 2008, p.174).

Todavia, essa invasão comercial se deu com a formação de uma via que viria a ser o orgulho da cidade, sobretudo, nas décadas de 1950 e 1960 do século XX: a Avenida Rio Branco. No final do século XIX, a Avenida Rio Branco não passava de um nome dado a um areal pontilhado de casas rarefeitas, que se estendia do baldo em direção à Ribeira. Inicialmente, essa artéria chamava-se Rua Nova. Por determinação da Câmara Municipal, ela recebeu a denominação de Visconde Rio Branco. A partir da década de 1910, eliminou- se o Visconde e permaneceu, apenas, Avenida Rio Branco (SOUZA, 2008).

Ao longo do século XX, ela evoluiu da condição de um imenso areal ladeado por casinhas humildes, baixas, de taipa e rarefeitas, para ser uma artéria de grande movimento e prestígio. Essa evolução resultou da ação conjugada e permanente do Poder Público e da iniciativa privada. O impulso inicial foi dado pelo governador Augusto Tavares de Lira que realizou o calçamento e arborização de grande trecho da Avenida Rio Branco, apenas, concluído, em 1916. Em 1928, deu-se início o calçamento de paralelepípedo, apenas, concluído em 1934, como uma nova arborização (SOUZA, 2008).

Em 1934, é concluído o prolongamento da Avenida Rio Branco até a Ribeira. No dia 18 de junho de 1936 foi inaugurado, também na Avenida Rio Branco, o maior e melhor cinema da cidade, o cinema REX, com capacidade para 1.070 pessoas sentadas. Nos idos de 1936, o cinema REX era a principal casa de espetáculo da sociedade natalense, ponto de encontro de gerações, dando por mais de três décadas grande vitalidade à Rio Branco (SOUZA, 2008).

Destaca-se, também, o pequeno comércio que funcionava em cigarreiras em Natal no final da década de 1930 na Avenida Rio Branco. A cigarreira mais famosa, que funcionava na calçada do antigo Natal-Club, no cruzamento da Avenida Rio Branco com a rua João Pessoa, foi O Zepelin, fundada em julho de 1939.

Em 1948, o jornal A Ordem fazia o seguinte comentário sobre a arborização e importância da Avenida Rio Branco: “Em nossos dias, a central artéria da cidade está arborizada com fícus, que substituíram, não sem vantagens, as tradicionais mungubeiras da então chamada rua Nova, antiga denominação da Rio Branco” (SOUZA, 2008, p.173 e 174).

No final da década de 1960 e início dos anos de 1970, a Avenida Rio Branco ostentava a maior concentração de agências bancárias de Natal. Tal concentração culminou com a inauguração, no dia 30 de outubro de 1973, do prédio do Banco do Brasil na Avenida Rio Branco, no terreno anteriormente ocupado pelo mercado da Cidade Alta, totalmente destruído por um incêndio em janeiro de 1967.

Como marcos da expansão comercial da Avenida Rio Branco na década de 1940, destacam-se: as Lojas Brasileiras (agosto de 1940); o cassino Natal (outubro de 1943); a Fábrica Santa Lígia de fiação de tecelagem de estopa e fabricação de sacos, de Cavalcanti Moura & Cia (1945); a sorveteria Rio Branco (maio de 1945); o Bar Bolero, situado em frente ao REX (1947); e o posto ESSO, instalado no prédio n° 3000, pela Standart Oil Company of Brazil (SOUZA, 2008).

A arquitetura dessa artéria começou a mudar com o Edifício Amaro Mesquita, cuja construção foi iniciada em fevereiro de 1951, na esquina da rua João Pessoa com a Rio Branco, no espaço antes ocupado pelo “Café Grande Ponto”. Trata-se do primeiro edifício de cinco andares construído em Natal (SOUZA, 2008).

Já na década de 1950, destacam-se importantes casas comerciais que se instalaram na Avenida Rio Branco, fato que demonstra a pujança desta Avenida: Casa Duas Américas (outubro de 1951); A Formosa Syria, de Modas e Calçados (julho de 1952); Casa Régio, de eletrodomésticos, de Reginaldo Teófilo da Silva, inaugurada em agosto de 1956.

Havia, ainda, a Casa Utilar, de Jessé Pinto Freire, instalada no andar térreo do edifício São Miguel, edifício com seis pavimentos inaugurado em fevereiro de 1956 pelo Sr. Miguel Carrilho, grande comerciante da cidade (Diário de Natal de fevereiro de 1956); Casa Rio, de Alcides Araújo (julho de 1957); a Livraria Universitária, de Walter Pereira (janeiro de 1959) e a Nova Paris, tradicional loja de bijuterias e artigos para presentes (abril de 1959).

Destaca-se, ainda, a construção do edifício Barão do Rio Branco, de treze andares, destinado à instalação de escritórios e consultórios, inaugurado em 16 de julho de 1972 (SOUZA, 2008).

A pavimentação asfáltica teve início durante a Segunda Guerra Mundial, quando os americanos construíram a pista de Parnamirim/Natal. Entretanto, a era do asfalto, como ficou conhecida na imprensa da época, foi obra iniciada pelo prefeito Djalma Maranhão que, em março de 1962, asfaltou a rua João Pessoa e, em abril de 1962, um trecho da Avenida Rio Branco, compreendido entre a rua João Pessoa e a rua Ulisses Caldas (SOUZA, 2008).

Não foi à toa que a rua João Pessoa e um trecho específico da Avenida Rio Branco foram escolhidos como as primeiras artérias da cidade a serem asfaltadas. Sobre a rua João Pessoa, localizada na Cidade Alta, cabe ressaltar que esta se tornou, na época, um dos pontos mais tradicionais da capital potiguar. Ela surgiu em decorrência da expansão urbana do bairro Cidade Alta em direção ao que viria ser o terceiro bairro de Natal: Cidade Nova, atualmente, os bairros Petrópolis e Tirol.

Não se pode falar nessa rua sem falar do “Café Grande Ponto” (ver Figura 14). Instalado nos anos de 1920 pelo Sr. Francisco das Chagas Andrade, na esquina da rua

João Pessoa com a Avenida Rio Branco, tratava-se de um prédio bastante frequentado pela elite intelectual, política e econômica, sendo o destaque da vida social da capital potiguar nas décadas de 1930 e 1940 do século XX. Mesmo depois que o “Café Grande Ponto” deixou de existir, porque o prédio foi substituído pelo Edifício Amaro Mesquita, construído entre 1951 e 1953, o topônimo “Grande Ponto” sobreviveu, designando todo o trecho da rua João Pessoa, compreendido entre a Avenida Rio Branco e a rua Princesa Isabel (SOUZA, 2008).

O mapa axial de 1924 demonstra o núcleo de integração definido por uma teia ligando a Cidade Alta, Ribeira e Cidade Nova. Essa modelagem configuracional caracteriza espacialmente o primeiro "boom" urbano que Natal experimentou. Destaca-se o cruzamento que, por décadas, foi considerado o epicentro da vida social natalense: "O Grande Ponto", encontro da Avenida Rio Branco com a rua João Pessoa (ver Figura 16).

Algumas ruas da Ribeira também constituem esse núcleo de integração, confirmando, assim, a importância comercial que esse bairro ainda detinha na época. De modo geral, os eixos com alta integração correspondiam às ruas com concentração de comércio e serviços (TRIGUEIRO e MEDEIROS, 2003).

Figura 16 – Mapa axial de Natal em 1924. Destaque para as atuais Avenida Câmara Cascudo e rua Ulisses Caldas e, ainda, a Av. Rio Branco e João Pessoa, "O Grande Ponto". O núcleo de integração retorna para a Cidade Alta e começa gradativamente a se deslocar em direção à Cidade Nova. O eixo mais integrado do sistema é a rua Ulisses Caldas.

Fonte: Fonte: Morfologia e Usos na Arquitetura (MUsA), PPGAU-UFRN.

Rua João Pessoa

Na representação da configuração de Natal nos anos de 1940 (ver Figura 18), a Avenida Rio Branco destaca-se como o eixo mais acessível do sistema, confirmando seu status de principal Avenida comercial da cidade. Contudo, o núcleo de integração começa a mudar, avançando sobre a grade regular do bairro Cidade Nova – o terceiro bairro oficial de Natal –, que se desenvolveu na primeira metade do século XX como bairro da classe de alta renda (TRIGUEIRO e MEDEIROS, 2003).

Figura 17 – O Grande Ponto na década de 1940. Inicialmente um café no cruzamento da Avenida

Rio Branco com a rua João Pessoa, tornou-se a designação de uma área referente ao trecho da rua João Pessoa, compreendido entre a avenida Rio Branco e a rua Princesa Isabel, sendo o epicentro da vida social nas décadas de 1930, 40 e 50 em Natal.

Figura 18 – Mapa axial de Natal em 1940. Destaque para as Avenidas Rio Branco e rua Mossoró - continuação da rua Ulisses Caldas. A interseção da Avenida Rio Branco com a rua João Pessoa - "O Grande Ponto" - ainda aparece em evidência. O núcleo de integração se deloca em direção à Cidade Nova. O eixo mais acessível do sistema é a Av. Rio Branco.

Fonte: Morfologia e Usos na Arquitetura (MUsA), PPGAU-UFRN.

Av. Rio Branco

Para Trigueiro e Medeiros (2003), esse movimento do núcleo de integração em direção à Cidade Nova, em consonância com a ocupação do bairro pelas camadas de alta renda, representa o segundo boom urbano e ponto de partida para o declínio do Centro Antigo, especialmente a Ribeira, que, aos poucos, deixa de fazer parte do centro topológico, tornando-se um cul-de-sac, à margem do novo centro topológico, ressentindo-se da ausência da agitação e efervescência do período da Segunda Guerra Mundial.

No dia 2 de março de 1946, foi inaugurado o novo edifício do Natal-Clube, construído na rua João Pessoa, esquina com a Avenida Rio Branco. Em 20 de dezembro de 1958, foi inaugurado, na rua João Pessoa, o Cine Nordeste, proporcionando a Natal o primeiro cinema com ar-condicionado. Semelhantemente ao que aconteceu com a Rio Branco, a partir dos anos de 1960, a rua João Pessoa começa a mudar bastante a sua fisionomia com a chegada de agências bancárias, novas casas comerciais e novos edifícios. Sobre o avanço do comércio da cidade ao longo da rua João Pessoa e em direção à Cidade Nova, a crônica social da época assim se expressa:

A rua João Pessoa (...) tomou outros aspectos, desta vez movida pelo dínamo do alto comércio. Uma a uma vão se fechando as portas residenciais (...). E a cidade continua se estendendo pelos morros e caminhos além, por onde surgem novos aglomerados humanos e outros bairros e outras favelas. Demos, porém, aqui os primeiros lugares, nestes últimos meses, às firmas Miguel Carrilho e Tê Barreto, com seus magníficos prédios de três andares, embora sem elevadores. Antigas casas já foram demolidas para próximas construções. E já existe o projeto do Sisal, que se erguerá brevemente. Começou na semana passada a construção do Edifício da VASP (Viação Aérea São Paulo S.A.), (representada em Natal pelo Sr. Carlos Cerino, com agência provisória na avenida Duque de Caxias) (Diário de Natal, 23 de março de 1964, In: SOUZA, 2008, p.182 e 183).

Seguindo a tendência dos anos de 1960, década a partir da qual a Cidade Alta tornou-se o centro financeiro da capital, o Banco do Rio Grande do Norte (Bandern) instalou sua nova agência central na rua João Pessoa, esquina com a Princesa Isabel. Outro edifício comercial que marcou o progresso da rua João Pessoa foi o Edifício Canaçu, de nove andares, inaugurado no dia 30 de dezembro de 1970. Ali, instalaram-se escritórios, consultórios médicos, lojas comerciais e agencia bancária (SOUZA, 2008). O edifício Sisal, inaugurado no dia 9 de dezembro de 1967, apresentou 8 pavimentos, 106 unidades, 80 salas comerciais e 12 apartamentos (Diário de Natal, 9 de dezembro de 1967, In: SOUZA, 2008, p.182 e 183).

A fim de proporcionar ao centro da capital um hotel de qualidade para hospedar homens de negócios e turistas, o empresário Alcides Araújo uniu-se a empresários

libaneses residentes em Natal e, juntos, resolveram construir o Hotel Monte Líbano, localizado na confluência da rua João Pessoa com a Avenida Rio Branco. A construção desse edifício foi iniciada em 1971; em 1974, ainda em construção, ele foi vendido à União de Empresas Brasileiras, passando a se chamar Ducal Palace Hotel, inaugurado no dia 5 de novembro de 1976. Tratava-se de um moderno hotel de quatro estrelas, com 18 andares (SOUZA, 2008).

No início dos anos de 1980, a rua João Pessoa ganhava dois importantes empreendimentos: o Edifício Cidade do Natal e a Loja Riachuelo. O Edifício Cidade do Natal foi inaugurado no dia 19 de dezembro de 1980. Tratava-se de um prédio com cinco pavimentos para escritórios, quatro andares de garagens e dois destinados a lojas, contando com um sistema de ar-condicionado central (Diário de Natal, 21 de dezembro de 1980, In: SOUZA, 2008, p.182 e 183), sendo o primeiro prédio da capital potiguar a possuir estacionamento para automóveis construído em andares superiores.

Já a Loja Riachuelo, do empresário potiguar Nevaldo Costa, impressionava pela introdução de escadas rolantes no interior da loja (SOUZA, 2008). Acompanhando o deslocamento do núcleo de integração em direção à Região Sul, esse empresário viria décadas mais tarde a construir o equipamento de maior impacto na estrutura urbana de Natal, exatamente, na interseção dos dois eixos de maior acessibilidade: as Avenidas Salgado Filho/Hermes da Fonseca com a Avenida Bernardo Vieira, o equipamento trata-se do Shopping Center Midway Mall.

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