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2 QUATRO MULHERES E DUAS TRADUÇÕES

2.1 SEX AND THE CITY

2.1.1 O grande sucesso

Se ao mesmo tempo em que é tão universal por tratar de temas contemporâneos na vida de mulheres do mundo inteiro Sex and the City é muito específico por mostrar e vivenciar a cultura de Nova York, apresentando muitas referências culturais locais, seria um paradoxo rotulá-lo de universal. O sucesso da série prova que as particularidades e especificidades culturais provavelmente não atrapalharam na compreensão geral do seriado. No caso do humor, entretanto, é necessário uma observação mais atenta para entender como foi traduzido. Veremos no próximo capítulo quais estratégias foram usadas pelos tradutores de cada tradução analisada.

O sucesso certamente prova que as traduções, mesmo que em muitos momentos deixem de provocar o riso por conter algo muito específico à cultura local e à língua de

partida, por diversos motivos que talvez nem este estudo consiga demonstrar, em muitos outros conseguem produzir a graça existente no original.

Várias publicações brasileiras fazem alguma referência à série, seja falando de moda, seja falando de sexo, de relacionamentos, ou da mulher moderna. A seguir, veremos alguns exemplos para ilustrar a grande repercussão que o seriado provocou também na imprensa:

Figura 11 : Revista Caras, novembro de 2007.

2.1.2 As personagens

As quatro mulheres do seriado Sex and the City possuem personalidades bem diferentes, de certo modo estereotipadas. Cada uma delas, com suas características e sua forma de ver a vida, contribui de modo diferente para a criação do humor na série.

Figura 14 – Carrie Bradshaw (Sarah Jessica Parker)

Carrie Bradshaw, personagem de Sarah Jessica Parker, é uma colunista do jornal The New York Star, que escreve sobre sexo e relacionamentos amorosos na cidade de Nova York. É apaixonada por moda e por sapatos caros, principalmente Manolo Blanik, marca que ganhou destaque no mundo inteiro por conta do sucesso da personagem. Logo no primeiro episódio da primeira temporada, conhece Mr. Big (interpretado pelo ator Chris Noth), o típico solteirão bem-sucedido de Nova York, por quem se apaixona completamente. No decorrer da série eles namoram e terminam o relacionamento algumas vezes, mas na última temporada acabam juntos, em um final feliz.

Figura 15 – Charlotte York (Kristin Davis)

Charlotte York é marchand e trabalha em uma importante galeria de arte de Nova York. De família tradicional, é delicada e recatada, conservadora em muitos aspectos, e a mais romântica do grupo. Seu sonho é se casar e ter filhos e, apesar de vivenciar tudo que Nova York tem para oferecer, vê cada novo pretendente como um marido em potencial. Casa-se com o Dr. Trey MacDougal, um médico muito rico de família tradicional e realiza seu sonho de Cinderela. Mas o casamento não dá certo porque depois de casar descobre que o marido pensa que casamento e sexo não combinam. Durante seu

divórcio conhece o advogado judeu Harry Goldenblatt, que não era o príncipe encantado dos seus sonhos, mas por quem acaba se apaixonando. Do grupo de amigas, Charlotte era a que mais desejava ser mãe, e uma das dificuldades que enfrenta é quando descobre que não pode ter filhos. Na última temporada, ela e Harry se casam e adotam uma criança.

Figura 16 – Samantha Jones (Kim Catrall)

Samantha Jones é dona de uma empresa de relações públicas e uma mulher autoconfiante e que sabe muito bem o que quer. Ela não mede esforços para encontrar meios para sua satisfação e seu prazer e aproveita tudo o que a cidade mais badalada do mundo tem a oferecer. No quesito sexo, Samantha está sempre disposta a novas experiências e aventuras, sem se preocupar com compromisso. É a mais velha do grupo, não tem sonhos de se casar e não gosta de crianças. Na última temporada, descobre um câncer de mama, e mostra que o medo dessa doença é uma realidade na vida das mulheres do mundo inteiro. Do sexo sem culpa à doença grave, do medo de envelhecer ao relacionamento com um homem bem mais jovem, podemos dizer que Samantha é a mais polêmica das personagens.

Figura 17 – Miranda Hobbes (Cynthia Nyxon)

Miranda Hobbes é uma advogada extremamente focada na carreira. Independente, realista e inteligente, tem sempre um comentário espirituoso a fazer. Não acredita mais no sonho do casamento e do príncipe encantado, mas apesar de valorizar muito sua independência, reconhece sua solidão. Seu humor espirituoso e irônico é muitas vezes uma forma de fugir do medo que sente dos relacionamentos amorosos. Engravida de um namorado e sofre todas as dificuldades de ser mãe solteira e ter ao mesmo tempo uma carreira de sucesso. No final, acaba se casando com o pai do seu filho, Steve, um barman.

Figura 18 - Perfil de cada personagem de Sex and the City, extraído da Série Especial da Revista Contigo!, (2007, p.9).

O seriado, apesar de ser um sitcom e ter como elemento fundamental o humor, também trata de temas tristes que acontecem na vida das mulheres: a impossibilidade de ter filhos (vivida por Charlotte), a morte da mãe de Miranda e a dor da perda, a dificuldade de ser mãe solteira e conciliar a família com uma carreira de sucesso, e o câncer de mama que Samantha enfrenta são exemplos de momentos mais sérios do seriado. Provavelmente o fato de tratar de temas tão universais, sem, é claro, esquecer do humor, é o que faz de Sex and the City um sucesso no mundo inteiro.

Alison Ross (1998, p.91) define os sitcoms (ou situation comedies) da seguinte forma:

Sitcoms have a series of weekly shows based around an initial idea of a situation and characters with potential humour. These characters remain essentially the same, rather than developing as they would in comedy drama; (such examples would need to be examined within the context of other dramatic techniques). The humour in a sitcom comes from playing around with the comic possibilities of those particular character types interacting with each other in that situation, and may not involve lines or gags which are funny in isolation24.

Desse modo, as características das personagens principais e dos outros personagens que compõem cada um dos episódios da série, partindo da idéia central do programa que é falar de relacionamentos e de sexo sob a perspectiva da mulher de 30 anos nos dias atuais, brinca com as possibilidades cômicas de cada personagem e de como cada uma delas interage nas diversas situações apresentadas. Apesar de serem episódios independentes, a história se desenvolve linearmente, com características de novela, o que talvez seja também um dos motivos de seu grande sucesso.

Na figura abaixo, extraída do site oficial da série no canal HBO, vemos um quadro com as personagens centrais do seriado e a identificação dos respectivos atores, mas, como já mencionamos, muitas outras participações ocorreram durante todas as temporadas da série.

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As comédias de situação possuem uma série de shows semanais baseados em torno de uma idéia inicial de uma situação e personagens com potencial de humor. Esses personagens permancem essencialmente os mesmos, em vez de evoluírem como fariam em uma comédia dramática; (tais exemplos devem ser examinados no contexto de outras técnicas dramáticas). O humor em um sitcom surge de brincadeiras em torno das possibilidades cômicas desses tipos particulares de personagens interagindo uns com os outros nessa situação e podem não envolver falas ou brincadeiras/piadas que sejam engraçados isoladamente. (tradução minha)

Figura 19: Principais personagens da série Sex and the City – Fonte: site HBO.

2.2 O CORPUS

Para a realização deste trabalho com base no modelo de análise descritivo, não poderíamos deixar de entender e analisar também como essas traduções foram feitas, qual o contexto em que foram realizadas e quem foram os tradutores. Encontramos aqui uma justificativa relevante para essa análise: contextos muito diferentes, que misturam prestígio, invisibilidade, formalidade, liberdade e muitas outras questões, como veremos a seguir.