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O RIO GRANDE DO SUL NO CONTEXTO NACIONAL NO FINAL DO SÉCULO XIX E PRIMÓRDIOS DO SÉCULO

73 Ver a biografia: CALDEIRA, Jorge (Org.) José Bonifácio de Andrada e Silva São Paulo: Ed.

1.4 O RIO GRANDE DO SUL NO CONTEXTO NACIONAL NO FINAL DO SÉCULO XIX E PRIMÓRDIOS DO SÉCULO

O Rio Grande do Sul, dentro do cenário nacional, esteve sempre à parte em função das próprias características em relação ao processo de colonização portuguesa no Brasil e espanhola no território do Prata. As constantes lutas pelo domínio das regiões do Prata proporcionaram o nascimento de traços peculiares em termos políticos, sociais e, conseqüentemente, econômicos para o Rio Grande do Sul152.

Tratando-se do período imperial, o Rio Grande do Sul, em termos econômicos, tinha como principal produto o charque. Este produto também era exportado para outras Províncias do Império, onde tinha a função de alimentar os escravos. Na segunda metade do século XIX, em termos nacionais, o principal produto do império era o café e a economia nacional continuava sendo agro- exportadora. O charque, neste contexto, não ocupava lugar de destaque na economia nacional.

152 PICCOLO, Helga. A política Rio-Grandense no Império. In: DACANAL, José Hildebrando; GONZAGA, Sérgius (Orgs.). RS: Economia e Política. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1979. p. 93-118.

Entre os objetivos da Província estava também promover a expansão populacional153, uma vez que, desta forma, poderia enquadrar o Rio Grande do Sul dentro do circuito de Províncias aptas a se desenvolverem em todos os aspectos, em nível regional e nacional. Além disso, também havia a preocupação de povoar o território em função das constantes lutas na região entre o império brasileiro e os países platinos, assegurando-se assim a posse do mesmo.

A colonização de origem européia que se deu no século XIX na Província proporcionou a ocupação de áreas, entendidas na época como desocupadas. Os colonos europeus desenvolveram uma economia baseada inicialmente na pequena propriedade. Estes colonos se estabeleceram mais na região norte da Província, pois no sul do Estado se concentravam os grandes latifúndios. Já nas últimas décadas do século, a região nordeste também foi colonizada pela expansão da colonização.

Quando se faz uso da expressão áreas desocupadas, é necessário ter presente que, nestes locais, havia nativos. Para o governo estadual, entretanto, as ditas áreas desocupadas deveriam servir para o desenvolvimento econômico do estado. Assim, era mais cômodo tratar as terras habitadas pelos indígenas como desocupadas154.

153 A noção de expansão populacional é tida aqui como frentes de expansão que detêm o objetivo de integrar regiões inexploradas para a economia regional ou nacional. Oliveira coloca que frente de expansão “é a sociedade nacional, através de seus segmentos regionais, que se expande sobre as áreas e regiões cujos únicos habitantes são as populações indígenas” (OLIVEIRA, Roberto Cardoso. A sociologia do Brasil indígena. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1992, p. 98).

154 A partir da obra Becker, se estruturaram vários aldeamentos indígenas no século XIX no Rio Grande do Sul. A autora destaca que os primeiros aldeamentos indígenas, fundados por determinação provincial no Rio Grande do Sul, foram os aldeamentos de Guarita, Nonoai e campo do Meio, fundados entre 1848-1850. Após, foram surgindo outros aldeamentos como o de Pontão, Santa Izabel, Caseros, Votouro, Cacique Doble, Pinheiro Ralo, Erexim, entre outros (BECKER, Itala Irene Basile. Op. cit., p. 48-58). A política de aldeamentos do governo da Província do Rio Grande do Sul acima de tudo pretendia favorecer os interesses econômicos dos colonos e fazendeiros, mesmo porque as reivindicações dos aldeamentos indígenas só eram atendidas quando os índios fugiam dos aldeamentos ou atacavam os brancos, deste modo notamos que esta política dos aldeamentos não pretendia sanear todas as dificuldades encontradas pelos indígenas, como falta de alimentos e os conflitos com brancos e outros grupos indígenas, apenas cooptá-los afim de que não se tornassem empecilho ao avanço da sociedade colonial (NONNENMACHER, Marisa Schneider. Op. cit., p. 165). Ainda, conforme Nonnenmacher, além dos aldeamentos indígenas oficiais da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, também haviam os toldos, “que eram tidos como aldeamentos de índios já contatados e que, por uma ou outra razão, não ficavam nos aldeamentos ditos ‘oficiais’” (Ibid., p. 43). De acordo com Pezat,

Em termos políticos, na metade do século XIX, dois partidos políticos compunham e organizavam o que se convencionou designar “Liga”, isso mais precisamente em 1852, quando houve uma rearticulação política após o decênio farroupilha. Coexistiam, então, o Partido Conservador e o Partido Liberal. A “Liga” tinha o predomínio dos Conservadores, e era justificada com o objetivo de acabar com os impasses políticos locais, tendo como objetivo trazer benefícios ao Rio Grande do Sul. No mesmo ano surge, no entanto, a “Contra-Liga”, formada por membros que não se identificavam com a “Liga”, liberais e conservadores. A “Contra-Liga” seria a matriz do Partido Liberal Progressista.155

Ao contrário do progressivo aumento da produção nas colônias de imigração156, ocorria um gradativo processo de estagnação na região da

campanha, onde se concentravam as grandes zonas pecuaristas. Mesmo assim, os latifundiários pecuaristas continuavam desfrutando do monopólio do poder político no Rio Grande do Sul. No ano de 1872, independente da situação política nacional, o Partido Liberal157, basicamente composto por pecuaristas, solidifica-se no poder.

A hegenomia do Partido Liberal no Rio Grande do Sul começa a dar indícios de ruína a partir de 1882, com a fundação do PRR (Partido Republicano Rio-Grandense), associado à criação do Jornal A Federação em 1884. O PRR era composto por um número minoritário de representantes que não viam seus interesses atendidos pelo Partido Liberal. O partido era sustentado por novas camadas da sociedade.158 [...] interesses particulares – ou seja, como o protetor e organizador da sociedade gaúcha em seu conjunto.159

existiam cerca de 2.000 índios espalhados na região. Provavelmente, a estimativa advinha de algum relatório da Província, pois não havia fonte na informação. Estes “impediam” o avanço da sociedade nacional, principalmente na região onde habitavam (PEZAT, Paulo Ricardo. Auguste

Comte e os fetichistas. Op. cit., p. 250).

155 PICCOLO, Helga. Vida política no século XIX: da descolonização ao movimento republicano. Porto Alegre: Ed. da Universidade/UFRGS, 1992.

156 Segundo Piccolo, a colonização alemã no século XIX, a partir de 1824 no Rio Grande do Sul, foi a grande responsável pela diversificação agrícola da Província. Ressalta, ainda, que, a partir de 1860, devido à produção colonial acentuada, o Rio Grande do Sul assumiu a posição de “celeiro do Brasil” (Ibid.).

157 Para aprofundar mais a temática observar: FÉLIX, Loiva Otero. Op. cit.

158 Segundo Pinto, “sem ser oligárquico e, portanto, sem dominar as relações de poder coronelistas, teve de articular outras forças de apoio. O PRR não lutou para conquistar para si o apoio dos coronéis, mas criou uma força de resistência a estes” (Ibid., p. 15). Um estudo importante para trabalhar sobre o coronelismo no estado, FÉLIX, Loiva Otero. Op. cit.

No Rio Grande do Sul, o positivismo se fez presente no PRR (Partido Republicano Rio-Grandense), principalmente a partir de 1882. Em 1883, durante o primeiro congresso, decidem criar um jornal oficial do partido e, em princípio de 1884, começa a circular A Federação.

O PRR utilizava o jornal para disseminar seus ideais positivistas. A Federação articulava, em suas publicações, questões políticas ligadas ao Estado e ao país160.

Com a proclamação da República, em 1889, criaram-se condições para que o PRR chegasse ao poder no Rio Grande do Sul. Este processo mostrou-se árduo, pois o Partido Liberal, que havia se consolidado no poder político sul- riograndense lutava para não perder sua hegemonia. Mas, o PRR chega ao topo da política sul-riograndense com a República e consolida seu poder.

A 14 de julho de 1891, a Constituição Estadual é aprovada, Júlio de Castilhos é eleito pela Assembléia o primeiro presidente constitucional do Rio Grande do Sul. Convém ressaltar que as instabilidades políticas do Rio Grande do Sul podem ser verificadas no fato de que, entre 1889 a 1897, houve dez presidentes do estado, mas, através de um apoio do governo federal, o PRR solidificou-se no poder.

O PRR161 realizou várias obras de infra-estrutura durante o longo período em que se manteve no poder, atendendo sempre “a todos os setores da sociedade”, inclusive aos interesses dos latifundiários, e buscando autonomia frente ao Estado Nacional. O partido buscava um desenvolvimento conjunto para o Estado. Sua grande força vinha dos proprietários rurais médios, do centro-norte do Estado e dos setores médios urbanos e industriais. Em 1898, Julio Prates de Castilhos passa o governo do Estado para Antônio Augusto Borges de Medeiros, seu correligionário, que permanece no poder até 1908. Em 1907, Carlos Barbosa, também do PRR, vence as eleições e assume a presidência do Estado em 1908,

160 Para saber mais sobre o jornal A Federação, ver RODRIGUES, Cíntia Régia. Op. cit., p. 198. 161 Segundo Sérgio da Costa Franco (Op. cit.) e Joseph Love (Op. cit.), o PRR era composto por um grupo extremamente heterogêneo, sendo que faziam parte desde a pequena burguesia urbana, fazendeiros sem status social, profissionais liberais, imigrantes que eram médios proprietários rurais.

ficando no cargo até 1913, quando volta Borges de Medeiros, que é sucedido por Getúlio Vargas em 1928.

No marco temporal proposto para o nosso trabalho, de 1908 a 1928, ocorrem os governos de Carlos Barbosa Gonçalves162 e Borges de Medeiros, que governa o Estado por cinco mandatos: nos anos de 1898 a 1903, 1903 a 1908, 1913 a 1918, 1918 a 1923, e de 1923 a 1928. Quando Carlos Barbosa foi Presidente do Estado, foi criada a Diretoria de Terras e Colonização (tema do segundo capítulo).