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GEOLOGIA DA REGIÃO DE VILA POUCA DE AGUIAR

2.4 GRANITOS PÓS-TECTÓNICOS

2.4.1 Plutão de Vila Pouca de Aguiar

Os granitos pós-tectónicos presentes na zona constituem o plutão granítico de Vila Pouca de Aguiar.

O maciço pós-tectónico de Vila Pouca de Aguiar localizado na Zona Galiza Média Trás-os-Montes é um maciço circunscrito, discordante em relação às estruturas sin-D3 das rochas encaixantes, constituídas dominantemente por

metassedimentos de idade silúrica, pertencentes ao Domínio Peritransmontano (A. Ribeiro 1974; M.A. Ribeiro 1998). Contacta ainda com granitos sintectónicos de duas micas: a NE, o granito de Serapicos; a este, com o granito do Minheu; a oeste, com o granito de Lagoa e a sul, com os granitos da Gralheira e de St3 Marta do

Alvão (Fig. 2.1).

Trata-se de um maciço granítico compósito, com uma forma alongada segundo a direcção NNE-SSW. A ausência de deformação visível à escala macroscópica assim como o seu carácter discordante relativamente às estruturas D3, permitiu incluir

este maciço no grupo dos granitos pós-tectónicos. 2.4.2 Fácies graníticas constituintes

Este maciço é constituído, no essencial, por três unidades graníticas biotíticas (Fig. 2.1) que definem um zonamento concêntrico (Martins 1989; Martins & Noronha 1991; Martins & Sant' Ovaia 1998; Martins 1998), e cujas relações de campo sugerem sincronismo de instalação:

• O granito de Vila Pouca de Aguiar (GVPA), porfiróide e de grão médio, caracterizado pela presença de encraves microgranulares tonalíticos e granodioríticos;

• O granito de Gouvães da Serra (GGS), também porfiróide de grão grosseiro, mas de expressão cartográfica reduzida;

• O granito de Pedras Salgadas (GPS) mais leucocrata de grão médio a fino, também porfiróide e que ocupa a parte central do maciço.

De seguida, passaremos a caracterizar mais pormenorizadamente estas três fácies mencionadas.

GVPA

Esta fácies é a mais representativa no maciço ocupando cerca de 135 km2. É um

granito de grão médio a grosseiro, biotítico, cujo carácter porfiróide é devido à presença de megacristais de feldspato potássico (Estampa II, fotografia 1). Esta fácies é caracterizada pela presença de encraves de forma arredondada a elíptica.

A presença de filões de aplito ou pegmatito é rara; mais comum é a presença de filões de quartzo de direcção NNE-SSW e portanto relacionados com a fracturação principal.

São visíveis zonas de rubefacção do granito relacionados com processos de episienitização semelhantes aos referidos por Martins & Saavedra (1976), Noronha (1983) e Mendes (1994) para o maciço do Gerês.

GPS

Ocorre no centro do maciço de VPA, ocupando uma área de cerca de 60 km2. O

contacto entre o GPS e o GVPA faz-se por falha de direcção N20° a N-S no sector E. A sul este contacto faz-se também por falha de direcção N20° (Fig. 2.1). Nos outros sectores o contacto, é sempre gradual, não havendo uma passagem brusca de uma fácies à outra.

É um granito mais leucocrata e menos biotítico que as outras fácies. O carácter porfiróide, meos evidente que no GVPA, é também devido à presença de megacristais de feldspato potássico (Estampa II, fotografia 2). Refíra-se ainda a presença de episienitização e a ausência de encraves nesta fácies (Estampa II,

fotografia 3). O complexo filoniano, embora de fraca importância, é essenciamente formado por filões quartzosos.

De referir a presença de várias pedreiras para exploração deste granito, principalmente no sector sul da sua área de afloramento (Estampa III, fotografia 1). Esta abundância de explorações deve-se ao facto, deste granito apresentar uma boa homogeneidade de cor e textura e uma fracturação suficientemente espaçada que tornam viável a obtenção de blocos com as dimensões adequadas para a comercialização. Há, no entanto zonas, em que a intensa fracturação e a espessura da camada de alteração, inviabilizam a exploração de blocos para pedra ornamental, sendo aproveitados somente para produção de cubos para a pavimentação.

Espacialmente associado ao GPS destacam-se pequenos "stocks" de um granito fino de duas micas, sem deformação interna, "o granito fino de Pedras Salgadas"

(Martins 1998). Este granito não foi, no entanto, amostrado.

GGS

Este granito ocorre na bordadura sul do maciço, contactando discordantemente com os granitos de duas micas da Gralheira e de Sta Marta do Alvão. A SSW,

contacta por falha com o GVPA, e a sul a passagem dum fácies à outra é gradual. Aflora também no sector ENE, sendo o contacto com o GVPA também gradual.

É um granito que apresenta uma matriz grosseira onde se destacam megacristais de feldspato potássico com contornos mal definidos (Estampa III, fotografia 2). 2.4.3 Mineralogia e Geoquímica

Estes granitóides podem ser considerados monzoníticos e possuem algumas características compatíveis com as de granitos do tipo I (Martins 1989; Martins 1998).

As associações mineralógicas das diferentes fácies são semelhantes. Como minerais principais ocorrem ortoclase, microclina, quartzo e plagioclase; como minerais acessórios aparecem a biotite (é o acessório mais importante, 4-9%),

moscovite, clorite, ilmenite, zircão, apatite e alanite. As três fácies caracterizam-se por predominância de biotite relativamente à moscovite, embora no caso do GPS, a biotite seja menos abundante, comparativamente com as outras fácies. A plagioclase é constituída por núcleos de composição andesítica que passam nos bordos a composição albite-oligoclase. O carácter porfiróide é evidenciado pela presença de megacristais de feldspato potássico e ocasionalmente plagioclase. Em todas as fácies é observável a cloritização da biotite mas com maior incidência no GPS. A ilmenite é sempre o opaco mais comum (Tabela 2.1).

Tabela 2.1 Características mineralógicas e geoquímicas das diferentes fácies do maciço de VTA. A composição normativa (%) foi estimada a partir da rocha total e da composição química da biotite. (La/Yb)N=La/Yn normalizados (Martins 1998). Ver também Anexo I.

GVPA GPS GGS

Min.-Max. Min.-Max. Min.-Max. QUARTZO 26,67-31,44 30,26 - 33,47 29,92 - 32,37 FELDSPATO K 18,56 - 23,42 21,82 - 23,96 23,04 - 24,95 PLAGIOCLASE 38,23 - 42,23 34,68 - 38,6 36,78 - 38,89 (%An) (16,2-30,1) (6,9-14,3) (16,0-2,0) BIOTITE 6,31 - 10,36 4,34 - 6,93 3,06 - 6,68 APATITE 0,15 - 0,34 0,04 - 0,21 0,00 - 0,17 OPACOS 0,06 - 0,68 0,07-0,31 0,00 - 0,49 Si02(%) 70,72 - 72,24 73,00 - 74,40 73,66 - 74,92 MgO (%) 0,51- 0,79 0,26 - 0,32 0,18 - 0,40 Zr (ppm) 153 -169 100-110 100 -136 (La/Yb)N 3,25 - 6,25 2,90 - 6,02 2,58 - 4,91 A sequência de cristalização proposta (Martins & Noronha 1991) é a seguinte: • os acessórios (apatite, alanite, zircão e ilmenite), constituem os primeiros

minerais a individualizar-se;

• a cristalização destes minerais é seguida pela da biotite e plagioclase, feldspato potássico e quartzo.

Posteriormente à cristalização desta associação mineralógica, sucedem-se fenómenos de alteração tardi-magmática, responsáveis pela formação de novas

fases. Assim, são visíveis fenómenos de microclinização, albitização, moscovitização e cloritização.

O tratamento dos dados geoquímicos (elementos maiores e menores incluindo terras raras) referentes a amostras distribuídas pelas unidades do GVPA e do GPS (Martins 1998), põe em evidencia o carácter fraco a moderadamente peraluminoso destes granitóides (Fig. 2.2).

50 /V=M-(K+Na+2Ca) i Leuco / 40 ■ Granitóides / n 30 20 10 / •

\*t

m B=Fe+Mg+Ti 30 20 10 / •

\*t

m B=Fe+Mg+Ti o GVPA • G P S ° G G S 0

\*t

_ j 0 r y \ 25 " 50 75 100 -10 - \ ^ \ IV -20 -30 \ -40 VI \ V -50

Fig. 2.2 Projecção dos granitos do plutão de Vila Pouca de Aguiar no diagrama A-B (Debon & Le Fort 1983) (in Martins 1998). I-moscovite predominante sobre a biotite; II-biotite predominante sobre a biotite; III-existência apenas de biotite; rV-rochas com clinopiroxena; VI-rochas de composição excepcional.

As diferenças composicionais da biotite assim como as diferenças a nível dos elementos maiores, elementos menores e terras raras, sugerem a existência de uma invidualidade composicional e evolutiva entre o GVPA e o GPS. Assim, podem ser

associados a duas linhas evolutivas distintas do tipo subalcalino (Martins et ai. 1997a; Martins 1998) (Fig.2.3).

O GGS identifica-se para a maioria dos elementos maiores, menores e terras raras com o GPS, o que poderá significar serem magmas com características próximas (Martins 1998). K-(Na+Ca) -90 -80 -70 -60 -50 -40 -30 -20 -10 0 ,« 30 -■ rf so -■ ú tu 7 PQ D o o o o o 70 -- 90 - 220 T 200 X 180 rt

5

& 160 o

♦V

o X 180 rt

5

& 160 o

♦V

o oGVPA 140 -- • G P S í ^r\ ° G G S í ^r\ -90 -80 -70 -60 -50 -40 -30 -20 -10 0 K-(Na+Ca)

Fig. 2.3 Representaçãodos granitos nos diagramas quimico-mineralógicos B-F e Q-F (La Roche 1964) (inMartins 1998).

2.4.4 Geoquímica isotópica e Geocronologia

Os dados geocronológicos U-Pb e isotópicos (Rb-Sr e Sm-Nd) referentes apenas às duas unidades mais representativas, GVPA e GPS, revelam que:

• A idade de 299+3 Ma obtida para o GVPA pelo método U-Pb (Martins et ai. 1997b; Martins 1998) pode ser interpretada como a idade de instalação do maciço e é concordante com as idades Rb-Sr em rocha total, 299 ±9 Ma para GVPA e 295+13 Ma para GPS.

• Os dois granitos caracterizam-se por razões isotópicas iniciais (87Sr/86Sr) e

valores de eNd distintos (GVPA: Sr,= 0,7070-0,7074 e -2,54<eNd<-2,47; GPS: Sr~ 0,7049-0,7056 e -l,98<eNd<-l,94) sugerindo a existência de dois magmas subcontemporâneos mas de origens diferentes (Martins 1998).

2.4.5 Petrogénese

Martins (1998), considera, devido à individualidade geoquímica existente para as fácies principais e às assinaturas isotópicas distintas que apresentam, a intervenção de mecanismos petrogenéticos e de fontes diferentes para o GPS e o GVPA. O mesmo autor, admite como local favorável para a génese do magma de GVPA a crusta continental média-inferior, enquanto que para o GPS propõe um modelo de fusão parcial de material basicrustal ou mesmo mantélico. Exclui assim, a hipótese de uma fonte única e/ou uma simples evolução magmática associando as fácies constituintes do maciço. A zonalidade evidenciada pelo maciço de VPA será portanto devida à intrusão de dois magmas distintos de origens diferentes e segundo o mesmo autor, subcontemporâneos.

2.4.6 Considerações finais

O maciço de VPA, é no seu conjunto, constituído por duas unidades principais, não geneticamente relacionadas, o GPS e o GVPA, organizadas duma forma concêntrica. Esta organização traduz-se num zonamento normal, pois há um enriquecimento de Fe (± Mn e Mg) da fácies central (GPS) para a fácies periférica (GVPA), como confirmam a geoquímica e as observações mineralógicas. Este zonamento normal é confirmado pelos dados de susceptibilidade magnética, como veremos no Capítulo 4. Este zonamento não é, no entanto perfeito, como demonstra a existência da fácies do GGS.

A forma alongada do maciço segundo a direcção NNE-SSW, que é a direcção da falha Régua-Verin, sugere que a implantação deste maciço foi controlada por este acidente. Contudo, a instalação dos granitos que constituem o plutão de VPA não parece ter sido condicionada exclusivamente por aquela falha, mas por toda a fracturação gerada ou reactivada durante D4, como sugerem o estudo do "fabric"

magnético (Capítulo 4) e a modelização gravimétrica (Capítulo 5).

A escassez de aplitos e pegmatitos, espacialmente relacionados com granitos, e a abundância de biotite na composição destes, sugerem que estes granitos cristalizaram a partir de magmas pobres em água, o que favoreceu a sua ascensão, através de fracturas, até níveis crustais relativamente altos.

Os dados geocronológicos sugerem um quase-sincronismo na instalação das duas unidades principais. No entanto, o estudo das microestruturas (Capítulo 3) sugere a existência de algum contraste reológico entre as duas fácies. Para além disso, estudos da anisotropia magnética (Capítulo 4) e de modelização gravimétrica (Capítulo 5) demonstram que o "fabric" magnético e a geometria em profundidade do GPS foi condicionado pelo GVPA.

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