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1.7.1 Classificações

A grande abundância de granitóides no Maciço Hespérico criou a necessidade duma classificação destes granitóides, e na tentativa de encontrar afinidades entre as diversas fácies, vários critérios foram adoptados - geológicos, geocronológicos, petrográficos e estruturais.

As primeiras classificações a surgir neste domínio devem-se a Schermerhorn (1956) e Oen (1970) e foram estabelecidas com base em critérios geológicos, embora os critérios estruturais também estivessem subjacentes, reconhecendo-se três grandes grupos:

"Oldest granites" (os mais antigos) "Older granites"

"Younger granites" (os mais recentes)

"Oldest" e "Older granites" corresponderiam dominantemente a granitos de duas micas e os "younger granites" seriam granitos com biotite dominante.

Por outro lado, classificações químico-petrográficas levaram à formulação de dois grupos: "granitóides alcalinos de duas micas", estreitamente relacionados com o metamorfismo regional e "granodioritos calcoalcalinos com biotite dominante", de origem mais profunda e sem relação aparente com o metamorfismo regional (Capdevila & Floor 1970).

A classificação genética mais utilizada considera dois grandes grupos de granitóides: os granitóides mesocrustais e os granitóides infra ou basicrustais (Capdevila et ai. 1973; Corretgé et ai. 1977). Os primeiros terão sido gerados por anatexia húmida controlada por metamorfismo regional e/ou por anatexia induzida. Aos segundos corresponderá uma origem mais profunda e independente de processos anatécticos, tendo sido propostos para estes, dois processos genéticos: diferenciação magmática a partir do material básico infracrustal e fusão parcial do material crustal com ou sem hibridização de materiais básicos infracrustais

(Capdevila et al. 1973; Albuquerque 1971). No Quadro 1.1. pode observar-se uma síntese das classificações propostas.

Quadro 1.1. Relação entre as diferentes classificações utilizadas (Ferreira et ai. 1987).

BASE GEOCRONOLÓGICA OU GEOLÓGICA BASE QUÍMICA E PETROGRÁFICA BASE GENÉTICA FÁCIES COMUNS

"Oldest" e/ou "Older"

"Alcalinos" Granitóides mesocrustais Leucogranitos Granitos Granodioritos de anatexia "Oldest" e/ou "Older"

"Calcoalcalinos" Granitóides mesocrustais Leucogranitos Granitos Granodioritos de anatexia "Oldest" e/ou "Older"

"Calcoalcalinos" Por vezes peraluminosos Granitóides infra ou basicrustais Granodioritos e Adamelitos precoces "younger" "Calcoalcalinos" Por vezes peraluminosos Granitóides infra ou basicrustais Granodioritos e Adamelitos precoces "younger" "Calcoalcalinos" Por vezes peraluminosos Granitóides infra ou basicrustais Granodioritos e Adamelitos tardios

Como já se referiu a maioria dos granitóides nomeadamente os da ZCI e da ZGMTM, estão ligados ao ciclo hercínico. Assim, foi estabelecida uma classificação para estes granitóides com base numa perspectiva dinâmica, situando-os no tempo da sua instalação e utilizando como referenciais as três fases de deformação já mencionadas (Ferreira et ai. 1987).

Esta classificação admite a existência de dois grupos de granitos ante- mesozóicos:

(i) pré-orogénicos

(ii) sinorogénicos, onde se distinguem os subgrupos ante-D3 (ante-

tectónicos), sin-D3 (sintectónicos), tardi-D3 (tarditectónicos) e pós-D3

(pós-tectónicos), conforme se tratem de fácies anteriores, contemporâneas, tardias ou posteriores à 3a fase de deformação

hercínica, respectivamente;

A classificação de um granitóide de acordo com esta nomenclatura, é baseada essencialmente na presença (ou ausência) de um "petrofabric" magmático ou de deformação. No Quadro 1.2. está representada sumariamente esta classificação.

Quadro 1.2. A classificação dos granitóides. (Adapt. Ferreira et al. 1987).

Pré - orogénicos

Sinorogénicos

ante-tectónicos Granitos de duas micas Sinorogénicos

sintectónicos tarditectónicos

Granitos de duas micas Granitóides biotíticos Sinorogénicos

pós-tectónicos Granitóides biotíticos

1.7.2 Distribuição e enquadramento geodinâmico

De acordo com a classificação proposta por Ferreira et ai. (1987) podemos estabelecer a distribuição e resumir as principais características dos granitóides da ZCI s i :

(i) Granitóides pré-orogénicos

Sugerem estreita relação com a tectónica anterior às principais fases de deformação hercínicas; distribuem-se ao longo de alinhamentos específicos, situados na bordadura ocidental e meridional da ZCI.

(ii) Granitóides sinorogénicos

Granitóides ante-D3: Correspondem a granitos de duas micas e biotíticos com restites. Correspondem aos primeiros granitóides orogénicos cuja instalação se deu durante a actuação da Ia e 2a fases e relacionam-se com o metamorfismo regional

associado com estas fases. Ocupam domínios onde a colisão continental inicia o espessamento crustal. Estes magmas graníticos surgidos em alinhamentos antigos exprimem provavelmente o resultado da fusão parcial dos sedimentos situados ao longo desses alinhamentos; têm uma origem semelhante à estimada para os granitóides pré-orogénicos mas agora em regime compressivo.

Granitóides sin-D3: Estes granitóides que apenas registaram os efeitos da 3a fase

hercínica constituem um grupo muito vasto em termos texturais e composicionais e Enquadramento

comprovam a existência de um período de distensão ante-D3 que permitiu a ascensão destes magmas. A maioria destes granitóides são sincinemáticos com D3 e o seu grau de deformação está relacionado com zonas de cisalhamento de magnitude cortical. São possíveis de distinguir dois subgrupos extremos:

- granitóides biotíticos com plagioclase cálcica e seus diferenciados; - granitos de duas micas, ou biotíticos com restites

Granitóides tardi-D3: São fácies semelhantes às anteriores mas que se apresentam menos deformadas e embora mantendo alinhamentos subparalelos às fácies sin-D3 vão-se distanciando sucessivamente da linha que define o plano de cisalhamento à superfície.

Granitóides pós-D3: São granitóides essencialmente biotíticos apresentando afinidades mineralógicas e químicas com os granitos do tipo I de Chapell e White (1974). Ocorrem associados a desligamentos frágeis tardios. Os maciços mais representativos são o do Gerês associado à falha Gerês-Lovios e os de Lamas de Olo, Vila Pouca de Aguiar e Chaves associados à falha Régua-Verin.

Na ZCI e ZGMTM, no que diz respeito à área de afloramentos, os granitos mais importantes são os de duas micas sintectónicos e tarditectónicos e os granitos biotíticos tardi a pós-tectónicos.

Resumidamente no que diz respeito à tipologia podemos distinguir dois grupos principais de granitos:

• granitos de duas micas

• granitos biotíticos com plagioclase cálcica

Ambos sinorogénicos, os primeiros com uma génese ligada ao metamorfismo regional e gerados numa crusta não muito profunda; os segundos gerados a temperaturas mais elevadas numa crusta mais profunda.

1.7.3 Geocronologia

A determinação da idade absoluta dos granitos ibéricos tem constituído o objectivo de diversos geólogos.

As primeiras determinações de dados geocronólgicos dos granitos peninsulares surgem há mais de 30 anos, sendo por isso referências bibliográficas fundamentais os trabalhos de Mendes (1967/68) e mais recentemente de Pinto et ai. (1987).

Os granitóides hercínicos da ZCI estão quase exclusivamente datados pelo método Rb-Sr e K-Ar, este com incidência nos minerais em especial na biotite, e aquele com incidência na "rocha total" ou "rocha total + minerais".

No entanto, Pinto (1986) adverte para o facto de nos cálculos que têm conduzido à obtenção de datações geocronológicas, pelos métodos Rb-Sr e K-Ar não terem utilizado sempre os mesmos valores das constantes de decaimento dos isótopos radiactivos, o que inviabiliza comparações de idades.

A projecção das idades absolutas dos granitóides peninsulares num diagrama de frequências (Fig. 1.5), vem mostrar a existência de períodos de paroxismo ígneo coincidentes no tempo com as idades das três fases de deformação hercínica (M.L. Ribeiro 1993). Frequência ri ■ % 20 ™ 10 - Idade (Ma) 250 450 650

Fig. 1.5. Distribuição de idades dos granitos peninsulares (M.L Ribeiro 1993).

Recentemente, têm sido obtidas datações U-Pb em zircões e monazites em granitos sintectónicos, tarditectónicos e pós-tectónicos, sobre as quais nos debruçaremos, pela sua importância para o presente trabalho.

Dias et ai. (1998), apresenta as seguintes datações U-Pb para granitóides da Zona Centro-Ibérica (si):

• granitóides biotíticos sin-D3: 313-319 Ma (maciços de Ucanha-Vilar, Lamego,

Sameiro e Refoios do Lima);

• granitóides com biotite dominante tardi-D3: 306-311 Ma (granitos de Braga,

Gonça, Agrela e Celeiros);

• granitóides tardi a pós-D3: 300 Ma (granito de Briteiros);

• granitóides pós-D3: 290-296 Ma (maciço de Peneda-Gerês).

Estas idades indicam que sucessivas intrusões graníticas se implantaram na Zona Centro Ibérica durante um curto espaço de tempo de cerca de 30 Ma que correspondem aos últimos estádios da orogenia Hercínica.

Martins et ai. (1999), apresentam também uma compilação de datações U-Pb para o maciço sintectónico de Cabeceiras de Basto (311±1 Ma), para o maciço tarditectónico de Vieira do Minho (311±2 Ma) e para o maciço pós-tectónico de Vila Pouca de Aguiar (299±3 Ma).

Estas idades permitem datar o final da fase D3 nesta zona do orógeno hercínico

que terá sido entre os 310 Ma e os 303 Ma.

1.7.4 Instalação de maciços graníticos nas ZCI e ZGMTM

Poucos trabalhos existem na bibliografia que tenham tido como objectivo o conhecimento do mecanismo de implantação dos granitos hercínicos da ZCI e da ZGMTM.

A referência bibliográfica fundamental é o trabalho de Oen (1970), em que são propostos modelos de implantação para os granitos que este autor classificou como "Older Granites" (considerando para estes, idades superiores a 300 Ma) e para os

granitos que considerou como "Younger Granites" (idades compreendidas entre os 280 e os 290 Ma).

Oen (op. cit.), considera a série dos "Older Granites" como maciços alóctones, mesozonais, alongados, ocupando as zonas axiais das estruturas dobradas Hercínicas (D3) e que formam no seu conjunto cinturas graníticas. Este autor,

sugere que a ascensão dos magmas foi largamente controlada pelo progressivo relaxamento das forças compressivas na crusta. A implantação seria permissiva controlada tectonicamente por cavalgamentos no tecto da camâra magmática que teria grande extensão lateral.

Blocos longitudinais separados por planos de cavalgamento teriam sido levantados e o magma granítico, da parte superior da câmara magmática, fluiu para preencher o espaço deixado pelo levantamento dos blocos. Esta ascensão do magma causaria o desenvolvimento de zonas de plutonometamorfismo. Entretanto os blocos que ascendem são erodidos à superfície.

Segundo o mesmo autor, os "Younger Granites" corresponderiam a várias intrusões essencialmente discordantes relativamente às estruturas principais hercinicas (D3), e seriam de origem mais profunda. Sugere para estes granitos, uma

instalação precedida e acompanhada por grandes fracturas que permitiriam a ascensão de magmas do fundo da câmara magmática. As várias unidades que constituem a intrusão seriam implantadas numa rápida sucessão por mecanismos de "magmatic stoping"1 e "cauldron subsidence".2

Segundo Oen (op. cit), os "Younger Granites" e os "Older Granites" derivariam duma mesma câmara magmática, em cujo topo estariam magmas mais alcalinos e possivelmente contaminados por crusta siálica e na parte mais inferior, em magmas mais calco-alcalinos contaminados com material mantélico.

1 "Magma stoping": o magma ao ascender invade fracturas da rocha encaixante. Eventualmente a propagação da fracturação faz com que blocos da rocha encaixante fiquem inteiramente rodeados por magma. Estes blocos mergulham na câmara magmática e são assimilados, o magma é então deslocado para cima ocupando o espaço vazio deixado por esses blocos. A repetição deste processo faz com que todo o magma possa ascender.

2 "Cauldron subsidence": mecanismo semelhante ao "stoping" mas a uma escala maior.

Espacialmente, um aspecto marcante dos granitóides sintectónicos, como já referimos, são os seus alinhamentos bem definidos que sublinham as zonas de antiforma de 3a fase de deformação hercínica e por vezes zonas de cisalhamento

dúctil. Quanto aos granitos tarditectónicos, embora mantendo alinhamentos subparalelos à estruturação Hercínica, vão-se distanciando sucessivamente aos alinhamentos definidos pelos grandes cisalhamentos (por ex. Vigo-Régua). Assim parece haver uma relação entre o mecanismo de implantação destes granitóides e a existência de zonas de cisalhamento profundas. Os granitos pós-tectónicos estão por sua vez, associados a desligamentos frágeis D4.

A relação espacial, proposta por Oen (op. át) entre a instalação dos dois grupos de granitos (precoces e tardios) e as estruturas hercinicas mantêm-se assim válida. No entanto, a geocronologia U-Pb dos granitóides pós-tectónicos (nomeadamente Gerês e Vila Pouca de Aguiar), tem atribuído idades mais antigas do que as de Oen, para o que designou por "Younger Granites".

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