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Granulitos Máficos Heterogeneamente Retrometamorfizados

__________________________________________________________________________________________ 20 2.2.1 Complexo Atuba

5. SUÍTE ALTO TURVO

5.2.2. Granulitos Máficos Heterogeneamente Retrometamorfizados

São rochas microestruturalmente muito semelhantes aos granulitos máficos preservados, onde o plagioclásio, muito abundante, forma mosaicos de alto equilíbrio com contatos retos entre os grãos e junções tríplices a aproximadamente 120º (Fig. 5.8).

As rochas descritas nos pontos DR-180, DR-181 e DR-183 correspondem aos termos retrometamorfizados em menor intensidade. Apresentam forte foliação definida pela orientação preferencial de forma de plagioclásio e alongamento de agregados de minerais máficos (Fig. 5.9). Plagioclásio e minerais opacos são os minerais essenciais, enquanto hornblenda castanho escura, clinopiroxênio, quartzo, hornblenda azul esverdeada (retro-metamórfica), actinolita e biotita podem ser essenciais ou acessórios (Tabela 5.1). Demais acessórios e traços incluem titanita, apatita, clorita, epidoto, sericita, carbonato e raros restos de ortopiroxênio (Tabela 5.1).

O plagioclásio nestas rochas invariavelmente apresenta bordas e fraturas internas substituídas por saussurita e hornblenda azul retro-metamórfica (Fig. 5.10a, b). O plagioclásio da lâmina DR-180 mostra inclusões de clinopiroxênio, apatita, minerais opacos e hornblenda castanho escuro-esverdeada, enquanto nas lâminas DR-181 e DR-183 ocorrem abundantes inclusões de ‘bolotas’ de quartzo e ausência de inclusões de clinopiroxênio. Na lâmina DR-181 ocorrem ainda cristais de plagioclásio fino incluídos no clinopiroxênio.

Figura 5.8. Fotomicrografia de gnaisse granulítico retrometamorfizado da Suíte Alto Turvo. Mosaicos de plagioclásio com contatos retos entre os grãos e junções tríplices a aproximadamente 120º. Notar cristais parcialmente substituídos de clinopiroxênio (altas cores de interferência) envoltos por bordas de honblenda azul fibrosa (cor de interferência verde). Amostra DR-181, polarizadores cruzados (lado maior da fotomicrografia 3,2 mm).

Figura 5.9. Fotomicrografia de gnaisse retrometamorfizado da Suíte Alto Turvo. Notar orientação preferencial de forma de plagioclásio e agregados de minerais máficos. Amostra DR- 180, polarizadores cruzados e descruzados (lado maior das fotomicrografias 10,2 mm).

F.M. Faleiros, 2008 – Evolução de Terrenos Tectono-Metamórficos da Serrania do Ribeira e Planalto Alto Turvo (SP, PR)

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a) b)

Figura 5.10. Fotomicrografias de gnaisse básico retrometamorfizado da Suíte Alto Turvo, amostra DR-180. a) clinopiroxênio com bordas substituídas por hornblenda azul e núcleo parcialmente substituído por actinolita ± clorita; notar fraturas em plagioclásio preenchidas por hornblenda azul (lado maior da fotomicrografia 1,39 mm). b) notar hornblenda castanho e clinopiroxênio com bordas substituídas por hornblenda azul, e mineral (provavelmente piroxênio) pseudomorfizado por actinolita ± clorita (lado maior da fotomicrografia 2,8 mm).

O clinopiroxênio exibe pleocroísmo fraco entre verde pálido, amarelo pálido e cinza. Apresenta-se desequilibrado, com bordas, fraturas internas e zonas de clivagens substituídas por hornblenda azul (Fig. 5.10a, b). Ocorre comumente incluído em plagioclásio, ou entre grãos deste. Geralmente apresenta inclusões de mineral opaco tabular euédrico a subédrico, plagioclásio, hornblenda castanho escura, apatita e quartzo com formas esféricas.

A hornblenda castanho escuro-esverdeada (reliquiar da fase granulítica) é grossa (Fig. 5.10b), subidiomórfica a idiomórfica e apresenta-se disseminada na rocha em equilíbrio com o plagioclásio. Mostra em geral inclusões de minerais opacos e apatita, e, subordinadamente, inclusões de quartzo em forma esférica. Por vezes aparece incluída em cristais de clinopiroxênio, estando, neste caso, bem preservada da substituição intensa que afetou o hospedeiro. Comumente apresenta bordas substituídas por hornblenda azul retrometamórfica.

O quartzo, além de incluso em outros minerais reliquiares, aparece intersticial aos cristais na matriz, comumente com formas que mimetizam relações entre líquido e sólido.

Microclínio e mesopertita foram observados exclusivamente em banda tonalítica presente na amostra DR-183. O quartzo nesse leito, além de ocorrer como inclusões esféricas em cristais de plagioclásio e mesopertita, aparece disseminado na matriz ou formando pequenos aglomerados. É geralmente xenomórfico e apresenta extinção pouco ondulante. Os contatos entre grãos são retos a levemente irregulares. Feições de recristalização dinâmica são ausentes nesta lâmina. Por vezes ocorrem também intercrescimentos mirmequíticos.

A hornblenda retrometamórfica é fortemente pleocróica entre azul água marinho e verde oliva, fibrosa, e encontra-se principalmente cristalizada nas bordas de clinopiroxênio (Fig. 5.10a, b). Actinolita associada com clorita formam agregados microcristalinos como pseudomorfo de mineral totalmente consumido (Fig. 5.10b), provavelmente piroxênio (orto e clinopiroxênio). A biotita é retrometamórfica, marrom escura, muito fina e forma agregados intercrescidos com ou envolvendo critais e agregados de minerais opacos, sugerindo que foi formada às custas de consumo destes. Epidoto associado à clinozoisita e sericita aparecem cristalizados principalmente ao longo dos contatos entre os grãos de plagioclásio ou em suas clivagens. Carbonato associado a clorita e epidoto preenche veios tardios.

A apatita é muito fina, euédrica e aparece inclusa em todos os outros minerais presentes na rocha, incluindo os minerais opacos.

Minerais opacos ocorrem inclusos em todos minerais, com exceção de apatita. Geralmente aparecem envolvidos por biotita tardia preferencialmente orientada, salvo quando se encontram inclusos na hornblenda castanho escuro-esverdeada, onde aparece sem feições de desequilíbrio.

5.2.3. Anfibolitos

Anfibolitos ocorrem localizadamente na Suíte Alto Turvo, uma vez que a maioria das rochas descrita em campo como anfibolito representam na verdade granulitos máficos parcialmente retrometamorfizados.

Os anfibolitos formam corpos de poucos metros de espessura alongados concordantemente com a estrutura dos gnaisses. Apresentam estrutura anastomosada, onde cristais subcentimétricos tabulares a levemente arredondados de plagioclásio, e agregados lenticulares de plagioclásio fino são amoldados por matriz formada por hornblenda e biotita (± clorita intercrescida). A hornblenda encontra-se orientada em duas direções oblíquas semelhantes a pares SC, enquanto os agregados de biotita são preferencialmente paralelos às bandas de cisalhamento C (Fig. 5.11).

Ao microscópio petrográfico a hornblenda é verde azulada e apresenta alta razão axial (1:5 a 1:10), sendo geralmente lenticularizada. Comumente os cristais mostram zonação textural fraca definida por núcleos em tons de verde pálido amarelado (actiniolítico) e bordas verde escuro azulada (hornblenda).

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Figura 5.11. Fotomicrografia de biotita anfibolito xistoso da Suíte Alto Turvo, região da Serra do Azeite. Notar alternâncias entre leitos ricos em hornblenda, biotita e plagioclásio. Amostra DR-176, polarizadores descruzados (lado maior da fotomicrografia 2,8 mm).

Figura 5.12. Fotomicrografia de biotita anfibolito xistoso da Suíte Alto Turvo, região da Serra do Azeite. Notar sombra de deformação de clorita envolvendo porfiroclasto de plagioclásio sericitizado. Amostra DR-176, polarizadores cruzados (lado maior da fotomicrografia 1,39 mm).

Os porfiroclastos de plagioclásio (de origem ígnea) apresentam geminação polissintética bem formada e encontram-se sericitizados ou parcialmente transformados em biotita. Localmente apresentam bordas parcialmente corroídas substituídas por agregados de clorita ± óxidos de titânio. O plagioclásio forma também agregados lenticulares onde restos de porfiroclastos de granulação média encontram-se envolvidos por mantos de plagioclásio poligonizado de granulação fina a muito fina, formando texturas manto-núcleo. Alguns destes agregados são formados por plagiclásio totalmente poligonizado, com contatos retos entre os grãos, e cristais isolados biotita fina euédrica disseminada. O plagioclásio nestes leitos é livre de sericitização e apresenta geminação polissintética bem formada. Localmente apresenta zonação textural definida por extinção concêntrica. Epidoto ocorre localmente como mineral residual.

A biotita é laranja escuro avermelhada e forma agregados lenticulares de razão axial muito alta (> 20:1). Comumente os leitos ricos em biotita são envoltos por agregados de clorita retrometamórfica intercrescida com óxidos de titânio fibrosos ou fibroradiados (rutilo ou titanita). A clorita ocorre também em sombras de deformação ao redor de porfiroclastos de plagioclásio ígneo (Fig. 5.12). Em bandas de cisalhamento localizadas ocorrem faixas de clorita xisto resultantes de transformação total do biotita anfibolito.

Localmente ocorrem termos transicionais entre granulitos máficos e anfibolitos. Consistem de rochas pouco foliadas formadas por duas hornblendas (castanho escuro e azul- esverdeada), além de plagioclásio, clorita, quartzo, epidoto, sericita e biotita. Apresentam textura granoblástica onde cristais isolados ou pequenos agregados de plagioclásio aparecem envoltos por matriz rica em hornblenda.

A hornblenda castanho escuro ocorre em núcleos de porfiroblastos com zonação textural, com bordas de hornblenda azul-esverdeada. As microestruturas observadas, (e.g. cristais com bordas corroídas da primeira envoltos por agredados caóticos da segunda) sugerem que a hornblenda azul-esverdeada substitui a hornblenda castanho escuro. Interpretamos que a hornblenda castanho escuro constitui uma relíquia da fase granulítica.

Além de presentes como borda de substituição de hornblenda castanho escuro, a hornblenda azul-esverdeada ocorre como porfiroblastos isolados, em agregados em meio aos domínios ricos em plagioclásio, ou ainda em textura simplectítica intercrescida com quartzo, neste caso pseudomorfizando mimeral totalmente consumido (piroxênio?).

O plagioclásio é granoblástico, grosso, com geminação bem desenvolvida e composição bastante variável (An30-50), podendo estar pouco a intensamente saussuritizado. Provavelmente

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A clorita aparece intercrescida com hornblenda castanha e hornblenda azul-esverdeada. Entretanto, no primeiro caso, apresenta bordas de reação com geração de hornblenda azul- esverdeada. Ocorre também como pseudomorfo de piroxênio. Geralmente é rica em inclusões de minerais opacos e aparece associada com epidoto euédrico, quartzo e hornblenda azul- esverdeada.

Biotita alaranjada é muito rara e encontrada localmente entre plagioclásio e hornblenda azul-esverdeada, porém com bordas de reação em ambas.