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Gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais

2 O DIREITO FUNDAMENTAL À EDUCAÇÃO

2.4 Princípios constitucionais da educação

2.4.4 Gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais

Com o princípio da gratuidade167 do ensino público em estabelecimentos oficiais, há vedação clara de cobrança de taxas e mensalidades em escolas e universidades públicas, pois a educação é direito de todos e dever do Estado, e cabe a este oferecê-la em forma de serviço público gratuitamente,

164 Ibidem . p. 180.

165 Vide os artigos 12, 26 e 28 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, em respeito, à Constituição.

166 Ibidem. p. 182. 167

Sobre a gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais, o Supremo Tribunal Federal editou a súmula vinculante n. 12 que informa que “a cobrança de taxa de matrícula nas universidades públicas viola o disposto no art. 206, IV, da Constituição Federal”. O artigo 206, VI, tem a seguinte redação: “art. 206 – O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: IV – gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais.”

uma vez que é custeada com a receita auferida dos tributos e das transferências constitucionalmente previstas.168

É um princípio específico para as instituições de ensino do ramo público, que adquire ainda maior abrangência incluindo a gratuidade em todas as demais despesas com o ensino como, por exemplo, as das secretarias em fornecer documentos e certidões, das bibliotecas, laboratórios, exames e provas, entre outros. Compreende, ainda, o fornecimento de livros e materiais didáticos, transporte, prática desportiva e assistência à saúde, enfim todas as outras atividades que importem a manutenção e desenvolvimento do ensino.169

José Afonso da Silva170, a respeito desse tema, menciona a existência de correntes de educadores e de publicistas que defendem o pagamento do ensino público como forma de promover a justiça social. E a razão alegada é simples: a cobrança dos alunos ricos que têm acesso ao ensino público é necessária em virtude da injustiça que é cometida aos alunos pobres que pagam para permanecer na rede privada de ensino. E o uso a ser feito desse dinheiro arrecadado seria o investimento para prover o acesso e permanência de estudantes carentes.

A verdade é que, como bem acentua José Afonso da Silva, tanto alunos pobres quanto ricos devem ter a acesso ao ensino gratuito fornecido pelo Estado. Essa distorção em se ver alunos pobres na educação privada e alunos ricos na educação pública possui raiz muito mais profunda que se imagina e não

168 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo: Malheiros, 2003. p. 817.

169 Sobre a gratuidade, alerta Jorge Miranda que além dos elementos já indicados ela “envolve não tanto não pagamento de taxas quanto atribuição de bolsas de estudo (pelo Estado e pela sociedade civil) e apoio social escolar; e, no limite, até salário escolar para compensação do salário profissional que deixem de granjear aqueles que não tenham outros meios de subsistência e que, se ele não for previsto, não poderão continuar os seus estudos.” O pensamento do jurista português se encontra em acordo com o disposto no artigo 213, §1º da CR/88 cuja redação é: “Os recursos públicos serão destinados às escolas públicas, podendo ser dirigidos a escolas comunitárias, confessionais ou filantrópicas, definidas em lei, que: §1º - Os recursos de que trata este artigo poderão ser destinados a bolsas de estudo para o ensino fundamental e médio, na forma da lei, para os que demonstrarem insuficiência de recursos, quando houver falta de vagas e cursos regulares da rede pública na localidade da residência do educando, ficando o Poder Público obrigado a investir prioritariamente na expansão de sua rede na localidade”. (MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional. Tomo III. p. 450 e 451)

é cobrança de taxas dos alunos ricos na rede pública de ensino, medida flagrantemente inconstitucional que vai corrigir tais disparidades.171

As distorções são de proporções tão significativas que o processo seletivo para ingresso em Universidades Públicas é muito mais difícil, facilitando a entrada de alunos da rede particular, que de um modo geral têm melhor preparo, enquanto que a seleção dos alunos em instituições de ensino superior pagas é bem mais acessível fazendo com que os alunos oriundos do ensino público optem por elas, contando com programas de governo que promovem bolsas ou descontos na mensalidade. Em virtude dessa realidade é que Universidades Públicas, a exemplo da Universidade Federal do Pará, promovem cotas sociais direcionadas aos alunos da rede pública de ensino como modo de corrigir a referida distorção.172

José Afonso da Silva propõe que outras medidas sejam tomadas para a realização da justiça social dentro da escola (que não seja cobrança de contribuição de alunos ricos) como fornecimento de materiais e outros auxílios para os alunos que comprovem hipossuficiência financeira, aumento de imposto sobre a renda, entre outros.173

A gratuidade do ensino público, além de ser princípio específico da educação pública, consiste em direito relacionado à democratização do acesso à educação. A inconstitucionalidade em cobrar mensalidades ou taxas em instituições de ensino publico consiste na discriminação que desnecessariamente se cria entre os alunos que têm condições financeiras de pagar e os que não têm. Comprometendo, desse jeito, a igualdade entre os estudantes na rede pública, a ser promovida com o devido uso dos tributos conforme a capacidade financeira de cada cidadão, por meio da redistribuição de renda que o sistema arrecadatório do Estado pode proporcionar. Pois, a renda auferida a título de tributos deve ter como base a capacidade financeira de cada um.174

A esse respeito, Clarice Seixas Duarte175 menciona a obediência ao princípio da solidariedade do Estado Social e Democrático de Direito que

171 SILVA, loc. cit. 172 SILVA, loc. cit. 173 SILVA, loc. cit.

174DUARTE, Clarice Seixas. O direito público subjetivo ao ensino fundamental na constituição de 1988. Faculdade de direito da Usp. São Paulo: 2003. p. 242.

determina deveres de colaboração entre os indivíduos que se funda nos postulados da justiça distributiva que promove repartição das riquezas através do Estado.

Sobre o tema, Maliska176 aduz que não existe progressividade da gratuidade, como há para a universalidade de acesso ao ensino, pois toda instituição educacional criada pelo Poder Público deve ser não onerosa para o estudante. É que o artigo 208, inciso I, CR/88 informa que o ensino fundamental será obrigatório e gratuito, inclusive para aqueles que não tiveram acesso a ele na idade adequada, enquanto que o inciso II se refere à progressiva universalização do ensino médio gratuito, disposições que poderiam levar à falsa compreensão de que se poderia criar estabelecimentos públicos de ensino não gratuito.

A progressividade que se refere o citado inciso II deve ser interpretada no sentido da ampliação da quantidade de escolas públicas assim como de universidades, uma vez que seria conduta nitidamente inconstitucional a criação de ensino pago dentro do âmbito da Administração Pública.177

2.4.5 Valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na