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3. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

3.2. Caraterização do Plano Nacional da Contabilidade Pública (PNCP): adequabilidade e grau de implementação

3.2.2. Grau de adequabilidade

Quando questionados sobre o grau de adequabilidade do PNCP às necessidades do setor público em Cabo Verde, a maioria dos entrevistados tende a considerar que o PNCP não se adequa à realidade Cabo-verdiana. Para o E1 o PNCP não se adequa às necessidades do setor público em Cabo Verde devido ao “elevado grau de exigibilidade por parte das entidades competentes” e da “fraca adaptação do plano, no seu todo, na Administração Pública”, entendimento partilhado pelo E4, que, a propósito, parece seguir a mesma linha de pensamento quando refere que “o problema reside no facto de haver uma escassez de recursos humanos qualificados” para aplicar o PNCP e de o mesmo “se encontrar desatualizado”. Estas opiniões deixam a impressão de que as exigências da Administração Pública são elevadas para as capacidades de que a mesma dispõe, razão pela qual se verifica uma reduzida adaptação do PNCP, a que se somam, com o decorrer do tempo, crescentes necessidades de um modelo de relato com maior transparência e credibilidade.

E tanto assim que, de acordo com o E7, o sistema de contabilidade pública atualmente em vigor peca por não dispor de uma “fiscalização adequada que faça o PNCP funcionar como planeado”, levando a que “orçamentos sejam elaborados com um propósito” que é determinante, isto é, que conduz a uma “execução comprometida”. O E13 reforça esta posição, ao afirmar que existem diretrizes do PNCP que “deveriam ser cumpridas e respeitadas, mas que não o são”. Uma tomada de posição que remete não propriamente para uma inadequabilidade do PNCP, mas para uma inoperância e/ou incapacidade de

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todo o sistema, ou seja, particularmente por parte da supervisão, em face de um normativo mal aplicado e uma fiscalização inexistente e/ou ineficiente.

Complementarmente, os E2 e 11 apresentam uma posição que alerta para uma certa inadequabilidade do PNCP ao setor publico estatal, ao classificarem-no como “mais adequado ao setor empresarial do que ao público” (E11) ou que “não contempla algumas particularidades de determinados setores chaves do setor público” (E2). Por sua vez, o E3 afirma que o PNCP “deveria abarcar todas as normas internacionais da contabilidade, por forma a que as empresas públicas pudessem melhor refletir a sua situação patrimonial”, enquanto o E5 admite que o PNCP é “confuso e pouco esclarecedor”. De referir, também, que os E6 e 12 reforçam estas ilações, ao classificarem o PNCP como inadequado às necessidades do setor público, ainda que sem o justificarem ou fundamentarem. Uma reflexão sobre as opiniões emitidas por estes entrevistados (E2, 3, 5, 6, 11 e 12) não podem deixar de nos levar a admitir que o PNCP não é suficiente abrangente para ambos os subsetores da Administração Pública, o estatal e o empresarial, e que este grau de incapacidade e/ou inadequabilidade se fará sentir com maior intensidade no subsetor público, o que poderá justificar, em certa medida, um certo grau de inadequabilidade ou incapacidade que lhe vem sendo reconhecido quando não mesmo um normativo confuso ou pouco claro.

Por outro lado, os E8, 9, 10 e 14 consideram que o PNCP é adequado à realidade Cabo-verdiana, na medida em que “satisfaz a realidade cabo-verdiana” (E10), “dá respostas satisfatórias” (E8), resulta como um modelo que é “prático e adequado à realidade nacional” (E14) e, ainda, que “a contabilidade de caixa funciona perfeitamente, utilizando apenas uma classe (disponibilidades)” (E9), não obstante lhe reconhecer também algum desajuste que advém do facto de “ter sido criado em 2006 e até ao momento nenhuma estrutura pública o tenha implementado na totalidade”. O reconhecimento de que se trata de um modelo adequado às necessidades e que as “desvirtudes” que lhe possam ser associados decorrem de uma deficiente implementação e não de um qualquer grau de inadequabilidade à realidade do país. A posição destes entrevistados está em linha com resultados já apresentados e que apontavam para o facto de “Cabo Verde não ter preparado convenientemente as estruturas e os seus recursos humanos”, ou seja, que não obstante as expectativas geradas com a reforma e a necessidade de modernização da Administração Pública em Cabo Verde, com a publicação do PNCP em 2006, a verdade é que “(…) ela continua lenta, pesada e pouco permeável às necessidades dos cidadãos”(Gomes, 2014, p.21).

Em jeito de síntese, foi elaborada a Tabela 15, que se segue, e onde se procurou sistematizar os resultados que acabámos de apresentar e discutir relativamente ao “grau de adequabilidade do PNCP às necessidades do setor público em Cabo Verde”.

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Tabela 15. Grau de adequabilidade do PNCP

Entrevistado Âmbito Razão/Ideia Chave

E 1 Não adequado

Fruto do elevado grau de exigibilidade por parte das entidades competentes e da fraca adaptação do plano, no seu todo, na administração pública.

E 2 Não adequado Pela não abrangência de algumas particularidades de setores chaves do setor público.

E 3 Não adequado

Por não abarcar todas as normas internacionais da contabilidade, por forma a que as empresas públicas possam melhor refletir a sua situação patrimonial.

E 4 Não adequado

Pela escassez de recursos humanos qualificados e um sistema contabilístico desatualizado.

E 5 Não adequado Pouco esclarecedor.

E 6 Não adequado Sem justificação.

E 7 Não adequado

Fraca fiscalização, levando a que o PNCP não funcione como esperado, e, como consequência, levando a que os orçamentos sejam elaborados com um propósito que pode ser desvirtuado e, em conformidade, uma execução comprometida.

E 8 Adequado Porque dá respostas satisfatórias.

E 9

Adequado/Não adequado

Adequado porque a contabilidade de caixa dá resposta suficiente às necessidades e não adequado porque, não obstante o PNCP ter sido criado em 2006, até ao momento nenhuma estrutura publica o conseguiu implementar totalmente.

E 10 Adequado Porque satisfaz a realidade cabo-verdiana.

E 11 Não adequado

Dá uma resposta insuficiente, uma vez que parecer ser mais adequado ao setor empresarial.

E 12 Não adequado Sem justificação.

E 13 Não adequado Pela deficiente implementação, ou seja, normas que não são aplicadas e executadas. E 14 Adequado Por se apresentar prático e adequado à realidade nacional.

Fonte: Elaboração própria.

A análise (Tabela 15) permite concluir que a maioria dos inquiridos (E1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 11, 12 e 13) consideram que o PNCP não se adequa às necessidades do setor público em Cabo Verde, ou seja, é apenas considerado adequado por uma pequena minoria (E8, 10 e 14). Que há, contudo, quem apresente uma posição “dúbia”, o E1, que o classifica como adequado e desadequado em simultâneo, o que nos leva a concluir que, ainda que indiretamente, também este acaba por reconhecer que o PNCP apenas é capaz de dar uma resposta parcial. Com o objetivo de dar um maior destaque aos resultados obtidos para o “grau de adequabilidade do PNCP à realidade de Cabo Verde”, foi elaborada à Figura 4 que se segue.

Figura 4. Grau de adequabilidade do PNCP em %

Fonte: Elaboração própria. 71% 21% 7% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80%

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A análise (Figura 4) permite pôr em evidência a esmagadora maioria (71%) de inquiridos para quem o PNCP é classificado “como não adequado”. Apenas uma minoria de 21% afirma o seu contrário, ou seja, classificam-no “de adequado”, e, ainda, um valor residual de 7% para quem o PNCP consegue, em simultâneo, “ser adequado e desadequado”, o que nos leva a reconhecer que, mesmo para estes (7%), ele acabará, depois de uma maior reflexão, por ser classificado como desadequado, na medida em que apenas é capaz de dar uma resposta parcial.

Os resultados apresentados remetem-nos, assim, para um normativo (PNCP) a que se associa um certo grau de inadequabilidade às exigências de uma Administração Pública moderna e eficiente. Que esta inoperância e/ou ineficácia se pode assacar, pelo menos em parte, a um processo de implementação do PNCP que se apresenta deficiente e insuficiente e que terá sido esta realidade (deficiente implementação), que muito provavelmente terá criado um sentimento de se estar em presença de um modelo contabilístico confuso ou pouco claro. De realçar, também, que esta posição não é consensual. Há uma minoria que defende que Cabo Verde dispõe de um normativo que responde perfeitamente às necessidades da sua Administração Pública, deixando antever que as debilidades e/ou inoperâncias que lhe são apontadas resultam de uma deficiente e insuficiente implementação.