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Grupo 03: acontecimentos repetidos em algumas edições

Etapa VI: Esta etapa apresenta uma comparação dos dados obtidos nas análises dos

7 ANÁLISE DAS NOTÍCIAS SELECIONADAS

7.2.3 Grupo 03: acontecimentos repetidos em algumas edições

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Foram selecionados, nesta etapa, para serem submetidos à análise, 02 acontecimentos transformados em notícias que tiveram mais de uma veiculação, ou seja, que entraram na pauta de algumas das edições de telejornais da RGT no período de 24h, definido por esta pesquisa: (1) Votação, no Supremo Tribunal Federal, sobre a constitucionalidade do

ensino religioso nas escolas públicas brasileiras, que se trata de ocorrência da ordem da

previsibilidade, veiculada nas edições dos telejornais Jornal Nacional do dia 27.09.2017,

Jornal da Globo do dia 27.09.2017, e Hora 1 da Notícia do dia 28.09.2017; e (2) Bebê brasileiro recebe benção do Papa, que se trata de ocorrência da ordem da imprevisibilidade,

veiculada nas edições dos telejornais Hora 1 da Notícia do dia 28.09.2017, e Bom Dia Brasil do dia 28.09.2017.

7.2.3.1 Acontecimento 01: Votação, no Supremo Tribunal Federal, sobre a constitucionalidade do ensino religioso nas escolas públicas brasileiras

O acontecimento referente à Votação, no Supremo Tribunal Federal, sobre a

constitucionalidade do ensino religioso nas escolas públicas brasileiras foi veiculado, sob

forma de notícia, nas edições de três telejornais:

- a notícia 01, na edição do telejornal Jornal Nacional de 27.09.2017, às 20h52min, com

duração de 03 minutos e 36 segundos, configurando-se como uma reportagem;

- a notícia 02, na edição do telejornal Jornal da Globo de 27.09.2017, às 00h25min, com

duração de 01 minuto e 06 segundos, configurando-se como uma nota coberta;

- na notícia 03, na edição do telejornal Hora 1 da Notícia de 28.09.2017, às 05h46min,

com duração de 01 minuto e 18 segundos, configurando-se como uma nota coberta.

As narrativas, nas três diferentes configurações discursivas deste acontecimento sob forma de notícia, relatam a retomada pelo Supremo Tribunal Federal de uma votação iniciada em agosto de 2017 sobre a constitucionalidade do ensino religioso confessional, ou seja, de crenças específicas, em escolas públicas brasileiras. Os telejornais, em cada uma das veiculações dessa notícia, abordaram a decisão dos ministros de permitir que religiões específicas sejam ensinadas em disciplinas, nas escolas públicas, desde que a participação dos alunos seja facultativa.

158 O acontecimento objeto das notícias em análise, em suas três configurações, trata-se de uma ocorrência da ordem da previsibilidade: a retomada do julgamento pelo Supremo Tribunal Federal sobre a constitucionalidade do ensino religioso de crenças específicas em escolas públicas brasileiras. A votação, iniciada e interrompida em agosto de 2017, foi retomada e concluída no dia 27.09.2017, entrando na pauta das edições dos telejornais JN e JG no dia 27.09.2017, e na edição do telejornal H1 de 28.09.2017.

Os três textos das notícias referentes à Votação, no Supremo Tribunal Federal, sobre a

constitucionalidade do ensino religioso nas escolas públicas brasileiras, apresentados

respectivamente sob a forma de reportagem e nota coberta, atendem fortemente às características consideradas em qualquer seleção jornalística, já que respondem aos critérios maiores de atualidade, novidade, importância e interesse, aos quais se agregam traços de

impacto, polêmica e justiça frente ao acontecimento noticiado. A apresentação de

acontecimento que representa, em um estado laico, resultado impactante à realidade escolar, mantendo a possibilidade de implantação de práticas religiosas específicas nas escolas públicas, bem como o número significativo de líderes políticos evangélicos em cargos públicos do país, justifica a inclusão da matéria nas pautas de três telejornais da RGT. No entanto, a média relevância atribuída ao acontecimento pode ser observada pelo tempo – 6min – dedicado ao assunto nas edições dos três telejornais aqui analisados. Ressalte-se, ainda, que o acontecimento não foi noticiado em todos os telejornais da RGT.

7.2.3.1.2 Análise paratextual de caráter contextual

O Brasil é um estado laico, ou seja, constitucionalmente imparcial em relação às questões religiosas, não definindo uma religião oficial. A Constituição, não obstante, garante aos cidadãos brasileiros a liberdade religiosa e de expressão. O país, que, na década de 1970, teve 91% da população autodeclarada católica (NÚMERO, 2012), e que hoje tem apenas 8% da população autodeclarada ‘sem religião’, vivencia uma redução no número de católicos romanos e um aumento no número de evangélicos. De acordo com o censo demográfico do IBGE, entre os anos 2000 e 2010, o número de católicos romanos autodeclarados caiu 12%, totalizando 65% da população, enquanto o número de evangélicos cresceu 61%, totalizando 22% da população brasileira (IBGE, 2012). A pesquisa do IBGE também registra outras religiões com menor número de autodeclarados no Brasil como o umbandismo, o candombleicismo e o espiritismo.

159 O ensino religioso confessional, isto é, de doutrina religiosa específica nas escolas públicas brasileiras já vem sendo tratado pela legislação desde 1996, com última alteração em 1997, através da Lei de Diretrizes e Bases da Educação que, no seu artigo 33, reza que:

O ensino religioso, católico e de outras confissões religiosas, de matrícula facultativa, constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, em conformidade com a Constituição e as outras leis vigentes, sem qualquer forma de discriminação (BRASIL, 1997).

O tópico voltou a ser discutido pelo Supremo Tribunal Federal para a revisão do teor

confessional da disciplina. O relator da ação de inconstitucionalidade, ministro Luís Roberto

Barroso, defendeu o ensino religioso não confessional, ou seja, sob uma perspectiva laica, pragmática e plural, em detrimento do ensino de religiões específicas nas escolas públicas (STF, 2017).

Faz-se necessário pontuar que essa discussão ocorre em um contexto social perpassado pelo crescimento e consolidação de igrejas evangélicas, tais como a Assembleia de Deus, que, segundo o censo do IBGE, é o maior segmento evangélico do país, totalizando 12 milhões de fiéis. Igrejas como essa pregam valores morais rígidos, a preservação da família tradicional e oferecem alternativas assistencialistas a seus fiéis, a maioria deles pessoas com baixa escolaridade e renda.

A expansão evangélica no país tem tido também reflexo na política: dos 513 parlamentares do Congresso Nacional, cerca de 90 fazem parte da chamada ‘Bancada Evangélica’ que, apesar de ser composta por políticos de diferentes partidos, une forças no combate a políticas de gênero, legalização do aborto, regulamentação do uso de drogas, etc. Na contramão desse movimento, surgem políticos e coletivos sociais que promovem resistência e buscam estratégias a diminuição do poder dessa bancada.

Assim, a veiculação de notícias sobre a decisão do Supremo Tribunal Federal em relação à constitucionalidade do ensino religioso específico em escolas públicas brasileiras representa mais uma iniciativa de incitação do debate social sobre os limites entre a laicidade, o ensino religioso livre e as relações de poder, principalmente político, que podem perpassar essa discussão.

160 A veiculação de matérias, sob forma de reportagem, na notícia 01, exibida pela edição do telejornal JN, e de nota coberta, nas notícias 02 e 03, veiculadas nas edições dos telejornais JG e H1, sobre a Votação, no Supremo Tribunal Federal, sobre a constitucionalidade do

ensino religioso nas escolas públicas brasileiras (27.09.2017 e 28.09.2017), ocorre ao

mesmo tempo em que o afastamento do senador Aécio Neves de seu cargo por corrupção, determinado pelo Supremo Tribunal Federal, bem como a notícia sobre os leilões de usinas de gás e petróleo promovidos pelo Governo Federal ganham destaque nas edições dos telejornais. Ainda assim, a Votação, no Supremo Tribunal Federal, sobre a

constitucionalidade do ensino religioso nas escolas públicas brasileiras esteve entre as

manchetes das três edições dos telejornais em que foi veiculada, apesar de ter recebido um menor destaque no interior dos programas.

A notícia 01, sob forma de reportagem, veiculada na edição do JN de 27.09.2017, dividiu espaço com outras manchetes, entre elas, a repercussão do afastamento do senador Aécio Neves de seu cargo no Senado; os leilões de usinas de petróleo e gás pelo Governo Federal; e as indicações da RGT ao prêmio de televisão Emmy Internacional.

A reportagem, em análise, teve veiculação no segundo bloco da edição do JN, sendo precedida pela notícia de outro acontecimento oriundo de Brasília – a criação de um fundo partidário público para o financiamento das campanhas eleitorais, e, sucedida por uma notícia regional, a chacina com quatro mortos, ocorrida em Natal no Rio Grande do Norte. Verifica- se, assim, a utilização de uma estratégia de roteirização, através da aproximação de assuntos ocorridos em Brasília.

A notícia 02, sob forma de nota coberta, veiculada na edição do telejornal JG de 27.09.2017, dividiu espaço com outras manchetes, entre elas, o afastamento do senador Aécio Neves pelo STF; os leilões das usinas de petróleo e gás pelo Governo Federal; e a autorização do ensino religioso confessional nas escolas públicas brasileiras. As pequenas diferenças entre os assuntos abordados e evidenciados nas manchetes do JN e do JG nesse dia ficam por conta do destaque que o JG deu ao aumento no número de vagas temporárias de trabalho no país e às indicações da RGT ao prêmio de televisão Emmy Internacional, veiculada na escalada apenas do JG, apesar de as notícias terem sido abordadas no interior de todos os telejornais da emissora.

A nota coberta, em análise, teve veiculação no segundo bloco da edição sendo precedida pela exibição do resultado dos leilões promovidos pelo Governo Federal para a venda de usinas hidrelétricas, de petróleo e gás, e, sucedida pelo a seguir, ou seja, pelos destaques do

161 bloco seguinte. Dessa maneira, não se identifica uma coerência no roteiro que justifique a veiculação da nota coberta nessa posição da edição do telejornal.

A notícia 03, sob forma de nota coberta, veiculada na edição do telejornal H1 de 28.09.2017, dividiu espaço com outras manchetes, entre elas, o aumento no número de registros de casos de abuso sexual contra crianças e adolescentes em Santa Catarina; a aprovação pelos deputados federais de regras mais brandas para o refinanciamento de dívidas de empresas privadas; e o bebê brasileiro que recebeu uma benção do Papa Francisco.

A nota coberta, em análise, teve veiculação no início do terceiro bloco da edição, sendo antecedida pelo intervalo comercial e a vinheta do programa, e, sucedida por uma nota pelada sobre o sorteio da Mega Sena, que não teve vencedor. Cabe ressaltar ainda que as informações veiculadas sobre o ensino religioso confessional em escolas públicas nos telejornais JG e H1 foram exatamente iguais, com a mesma sequência de frases e imagens, alterando-se apenas a voz de narração.

Na comparação sintagmática das manchetes das três edições dos telejornais aqui analisados, a autorização de ensino religioso confessional nas escolas públicas brasileiras foi a única que permaneceu evidenciada nos três telejornais.

No caso da reportagem e das notas cobertas aqui analisadas, a RGT, além das equipes próprias de cada um dos três telejornais, lançou mão também da estrutura de sua equipe em Brasília, aproveitando seus serviços na produção das notícias, o que fica bastante perceptível quando se observa a escalação dos profissionais para a realização das três matérias. O texto, além disso, é composto por imagens transmitidas e cedidas pela TV Justiça, um canal de televisão público, sem fins lucrativos, coordenado pelo STF e responsável pela transmissão das votações.

Através da veiculação da reportagem e das notas cobertas da Votação, no Supremo

Tribunal Federal, sobre a constitucionalidade do ensino religioso nas escolas públicas brasileiras, a RGT, enquanto instância enunciativa maior, e os telejornais JN, JG e H1,

enquanto instâncias enunciativas imediatas, atendem à promessa firmada com a audiência de informar os telespectadores sobre as principais alterações ocorridas na legislação que afetam a vida dos cidadãos, trazendo também informações sobre o posicionamento dos diferentes ministros do STF. Tudo leva a crer que, se a decisão dos ministros fosse outra, isto é, pela proibição do ensino religioso confessional nas escolas públicas, o destaque dedicado ao assunto nos telejornais seria maior do que o disponibilizado no caso da manutenção de uma lei existente há quase 20 anos.

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7.2.3.1.4 Análise intertextual de caráter paradigmático

As notícias sobre a Votação do Supremo Tribunal Federal sobre ensino religioso

nas escolas públicas brasileiras, em análise, são configuradas pelo JN, sob a forma de

reportagem, e pelo JG e H1, sob forma de nota coberta. As estruturas das três conformações em análise seguem os paradigmas tradicionalmente adotados pelos seus modelos.

O modelo de reportagem, comumente empregado pelos telejornais brasileiros, comporta, além da cabeça da reportagem, apresentada pelo(s) âncora(s), a própria matéria, gravada e editada, que conta com a narração de um repórter em off, intercalada por declarações de entrevistados envolvidos com o acontecimento divulgado, além do boletim de passagem do repórter, momento em que ele aparece no vídeo, assinando a matéria. O modelo tradicional de reportagem pode contar, ainda, com a nota pé, ou seja, com a explicitação de uma observação ou de um posicionamento de alguma das partes envolvidas, proferido pelo(s) âncora(s) do estúdio.

A notícia 01, reportagem veiculada pelo JN, segue os moldes desse paradigma: o âncora do telejornal, William Bonner, introduz o assunto que prossegue com a narração em off pelo repórter Marcos Losekann, apresentando, ainda, três trechos do proferimento dos votos de ministros do STF, captados pela TV Justiça, e que ocupam o lugar de entrevistas, mesmo que não tenham sido concedidas ao repórter, bem como um boletim de encerramento, com a figura do repórter, não apresentando nota pé. A reportagem adota um modelo bastante previsível, em nada surpreendendo o telespectador.

A notícia 02, nota coberta veiculada pelo JG, segue os moldes desse paradigma: o âncora do telejornal, William Waack, introduz o assunto que prossegue com sua narração em off e a exibição de imagens captadas pela TV Justiça que mostram os ministros do STF proferindo seus votos em plenário. A nota coberta não apresenta uma nota pé, adotando um modelo bastante previsível, que em nada surpreendendo o telespectador.

A notícia 03, nota coberta veiculada pelo H1, segue, da mesma maneira, os moldes de seu paradigma: a âncora do telejornal Monalisa Perrone introduz o assunto do estúdio e o prosseguimento da narração se dá em off gravado também por ela com a exibição de imagens captadas pela TV Justiça que mostram os ministros do STF proferindo seus votos em plenário. A nota coberta não apresenta uma nota pé, adotando um modelo bastante previsível que em nada surpreende o telespectador. Cabe destacar, ainda, que as informações narradas no H1 são exatamente as mesmas apresentadas na nota coberta anterior, exibida pelo JG, sendo mantidas, inclusive, as mesmas frases, a ordem das informações e a sequência de imagens.

163 Fica, portanto, nítido o reaproveitamento pelo H1 do trabalho realizado pela equipe do telejornal JG.

7.2.3.1.5 Análise intratextual das notícias

A análise intratextual de caráter discursivo/expressivo dos textos das notícias sobre a

Votação do Supremo Tribunal Federal sobre ensino religioso nas escolas públicas brasileiras, veiculadas sob forma, respectivamente, de uma reportagem e duas notas cobertas,

descreve, na sequência, os procedimentos por eles adotados na manifestação dos dispositivos

discursivos/expressivos, referentes à tematização, figurativização, actorialização,

espacialização, temporalização e tonalização.

Tematização/Figurativização

Os textos das três notícias sobre o acontecimento, aqui analisados, propõem como tema central a oposição laico vs confessional, figurativizada pela votação dos ministros do Supremo Tribunal Federal sobre a constitucionalidade do ensino religioso confessional em escolas públicas brasileiras, tema esse que se articula a partir das seguintes oposições:

liberdade vs determinismo, pluralidade vs singularidade, público vs privado, individual vs comunitário. Assim, a temática da livre docência do ensino religioso no Brasil articula-se com

a dos espaços apropriados para essa manifestação religiosa.

Actorialização

As narrativas contidas nos textos das notícias da Votação do Supremo Tribunal

Federal sobre ensino religioso nas escolas públicas brasileiras comportam os seguintes

atores:

- na notícia 01, reportagem veiculada pelo JN: o(s) âncora(s) do telejornal, William Bonner e Sandra Annenberg; o jornalista, Marcos Losekann, responsável pela condução da reportagem; e os ministros do Supremo Tribunal Federal, Marco Aurélio Mello, Celso de Mello, Roberto Barroso, Luiz Fuks, Rosa Weber, Cármen Lúcia, Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Ricardo Lewandovski. Os protagonistas principais da narrativa são, sem dúvida, o ministro Marco Aurélio Mello, o ministro Celso de Mello e a presidente do

164 STF, ministra Cármen Lúcia, já que, as declarações desses três atores durante a votação são destacadas pela instância de produção para integrar o conteúdo da reportagem. Cabe destacar, ainda, que os demais atores convocados, na narrativa, são o público que acompanha a votação em plenário. Já os protagonistas principais da reportagem são o repórter, que apresenta o acontecimento, e os âncoras do JN que veiculam a matéria, não demonstrando, no texto desta notícia, nenhum posicionamento.

- na notícia 02, nota coberta veiculada pelo JG: o âncora do telejornal, William Waack; e os ministros do Supremo Tribunal Federal, Marco Aurélio Mello, Celso de Mello, Roberto Barroso, Luiz Fuks, Rosa Weber, Cármen Lúcia, Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Ricardo Lewandovski. A protagonista principal da narrativa é, sem dúvida, a presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, destacada como a responsável pelo desempate, na votação, a favor do ensino religioso confessional nas escolas públicas brasileiras. Cabe destacar, ainda, que os demais atores convocados, na narrativa, são o público que acompanha a votação em plenário. Já o protagonista principal da nota coberta é o âncora do JG que veicula a matéria, não demonstrando, no texto desta notícia, nenhum posicionamento.

- na notícia 03, nota coberta veiculada pelo H1: a âncora do telejornal, Monalisa Perrone; e os ministros do Supremo Tribunal Federal, Marco Aurélio Mello, Celso de Mello, Roberto Barroso, Luiz Fuks, Rosa Weber, Cármen Lúcia, Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Ricardo Lewandovski. A protagonista principal da narrativa é, sem dúvida, a presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, destacada como a responsável pelo desempate na votação a favor do ensino religioso confessional nas escolas públicas brasileiras. Cabe destacar, ainda, que os demais atores convocados, na narrativa, são o público que acompanha a votação em plenário. Já a protagonista principal da nota coberta é a âncora do H1 que veicula a matéria, sem assumir posicionamento favorável ou contrário à decisão, enfatizando apenas sua concordância com o caráter facultativo da frequência nessa disciplina, direito conferido a todos os alunos.

A comparação das notícias da Votação do Supremo Tribunal Federal sobre ensino

religioso nas escolas públicas brasileiras, em suas três configurações aqui analisadas,

permite constatar uma decrescente mobilização actorial no que concerne ao relato da votação, realizada pelo STF, sobre a constitucionalidade do ensino religioso confessional nas escolas públicas brasileiras. O que distingue as notícias entre si são seus enunciadores, ou seja, os âncoras e o repórter que são diferentes de um telejornal para outro. Já os atores mobilizados pelas narrativas são os mesmos, nas três configurações, porém, sendo cada vez menos

165 utilizados de uma notícia para outra. Dessa maneira, constata-se menor complexificação, do ponto de vista actorial, de uma notícia para outra, caracterizando um movimento descendente dessa cadeia sintagmática em análise.

Espacialização

De maneira geral, os modelos – reportagem e nota coberta – adotados na configuração dos textos das notícias sobre a Votação do Supremo Tribunal Federal sobre ensino

religioso nas escolas públicas brasileiras, recorrem a dois espaços: (1) um interno, os

estúdios do JN, localizado no Rio de Janeiro, e do JG e H1, localizados em São Paulo; e, (2) um externo e real, a sede do Supremo Tribunal Federal em Brasília. As diferenças espaciais ficam evidenciadas pelo modelo próprio adotado por cada um dos telejornais:

- na notícia 01, reportagem veiculada pelo JN, o espaço interno, ou seja, o estúdio, localizado no Rio de Janeiro, comporta uma bancada transparente com linhas curvas em um design fluido cuja cor predominante é o azul; sobre a bancada ficam telas de computadores nas quais os âncoras acompanham o roteiro do telejornal; as cadeiras nas quais eles sentam não aparecem com clareza; atrás dos apresentadores é possível visualizar pessoas trabalhando. Durante a cabeça da reportagem, ao fundo, é projetada uma imagem gráfica, em 3D, que