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Nesta seção serão analisados os dados relativos à aplicação do teste metafonológico seqüencial em 10 crianças que representam o grupo “Antes da Alfabetização” (Grupo Transversal 1). Essas crianças freqüentavam o Jardim A da educação infantil, que corresponde a dois anos antes da 1a série, tendo idades entre os 4:5 e 5:4 anos. Será também considerada a coleta de dados da escrita dessas crianças que possibilitou a observação da concepção de escrita apresentada pelos informantes.

4.1.1 Desempenho em consciência fonológica e escrita

A Tabela 33, a seguir, apresenta o desempenho dos sujeitos no teste metafonológico seqüencial e as hipóteses de escrita de cada um dos sujeitos.

Tabela 33 – Desempenho do grupo “Antes da Alfabetização” no TMS e na escrita

Informantes TMS (%) Sílaba (%) Fonema (%) Escrita

t1 31 44,28 23 57,5 8 26,66 PS t2 30 42,85 22 55 8 26,66 PS t3 34 48,57 24 60 10 33,33 PS t4 20 28,57 13 32,5 7 23,33 PS t5 24 34,28 16 40 8 26,66 PS t6 40 57,14 28 70 12 40 PS

t7 19 27,14 12 30 7 23,33 PS

t8 18 25,71 13 32,5 5 16,66 PS

t9 28 40 22 55 6 20 PS

t10 15 21,42 9 22,5 6 20 PS

Legenda: TMS – Teste Metafonológico Seqüencial PS – Pré-silábica

Os dados da tabela 33 mostram que crianças que ainda não iniciaram a alfabetização são capazes de responder testes metafonológicos, tanto no nível da sílaba quanto no nível do fonema. Observa-se uma maior dificuldade com relação à consciência fonêmica, o que é esperado quando se trata de crianças que ainda não passaram pelo ensino formal da escrita. No entanto, isso não significa que essas crianças não possuem consciência fonêmica e sim que elas apresentam um baixo nível de consciência dos fonemas individuais, apresentando melhor desempenho com relação à unidade silábica. Talvez seja mais correto afirmar que essas crianças apresentam sensibilidade aos fonemas (Cielo, 2000).

Com relação à escrita, todos os sujeitos mostraram-se pré-silábicos em suas tentativas de representar palavras graficamente. A grande maioria das crianças realizou desenhos e rabiscos quando solicitadas a escrever, utilizando- se raramente de letras. Dessa forma, pode-se constatar que os informantes do Grupo “Antes da Alfabetização” não apresentavam consciência com relação ao uso de grafemas e estavam numa fase pré-silábica inicial.

Os dados do desempenho em consciência fonológica podem ser melhor visualizados no gráfico que segue.

Figura 22 - Desempenho do Grupo “Antes da Alfabetização” no TMS 0 2 0 4 0 6 0 8 0 1 0 0 T 1 T 2 T 3 T 4 T 5 T 6 T 7 T 8 T 9 T 1 0 In fo rm a n te s D e se m p e n h o (% )

Conforme pode ser observado na figura acima, o desempenho do Grupo “Antes da Alfabetização” no Teste Metafonológico Seqüencial esteve entre os 20% e 60% de acertos, aproximadamente. A grande maioria dos informantes apresentou desempenho inferior a 50%, com exceção de T6. Pode-se concluir que crianças que ainda não receberam ensino sistemático da escrita apresentam capacidades metafonológicas, podendo responder a testes de consciência fonológica.

4.1.2 Comparação do desempenho nas tarefas do TMS

Nesta seção será observado o desempenho do grupo em cada uma das tarefas do teste.

Tabela 34 - Desempenho do grupo Antes da Alfabetização nas tarefas do TMS

Nível da Sílaba Nível do Fonema

Tarefas Acertos (%) Tarefas Acertos (%)

S1 – Síntese 40 100 F1 – Produção inicial 22 55

S2 – Segmentação 33 82,5 F2 – Identificação final 19 47,5

S3 – Identificação inicial 22 55 F3 – Identificação inicial 16 40

S4 – Identificação de rima 20 50 F5 – Síntese 13 32,5

S9 – Exclusão inicial 15 37,5 F4 – Exclusão 6 10

S7 – Produção de rima 14 35 F6 – Segmentação 1 0,25

S5 – Identificação medial 12 30 F7 – Transposição 0 0

S6 – Produção inicial 11 27,5

S8 – Exclusão inicial 9 22,5

S10 – Transposição 6 15

Pode-se observar que, no nível da sílaba, a tarefa de síntese foi a mais fácil e a de transposição foi a mais difícil. A síntese silábica foi mais fácil que a segmentação. A identificação silábica inicial foi mais fácil que a identificação de rima, enquanto que a identificação de sílaba medial foi a mais difícil das tarefas de identificação. Esse dado corrobora achados de outros trabalhos, como os de Cardoso - Martins (1994) e Freitas (2003), que afirmam que as crianças falantes de português brasileiro parecem ser mais sensíveis aos sons iniciais das palavras.

Dominguez e Clemente (1993), pesquisando crianças falantes de espanhol, afirmam que para elas é mais fácil identificar sílabas no começo das palavras do que no final, e as duas atividades são mais fáceis que a identificação medial. Pode-se ainda relacionar esses fatos à aquisição da linguagem, onde se percebe maior dificuldade com relação à posição medial. Segundo Mezzomo (2003), para

o português, a coda medial é adquirida após a coda final, independente da classe de som observada.

Ainda com relação ao nível da sílaba, observa-se que a tarefa de exclusão silábica final foi mais fácil que a exclusão inicial, fato também observado por Dominguez e Clemente (1993) em falantes de espanhol. Por fim, a tarefa de produção de rima foi mais fácil que a de produção de palavra com a mesma sílaba inicial.

Com relação ao nível do fonema, observa-se que a tarefa de produção de palavra a partir de fonema inicial foi a mais fácil e a de transposição fonêmica foi a mais difícil. A identificação de fonema final foi mais fácil que a identificação de fonema inicial e a tarefa de síntese foi mais fácil que a de segmentação fonêmica.

A análise estatística dos resultados através da aplicação de uma ANOVA, permitiu a comparação do desempenho do Grupo Transversal 1 nas diferentes tarefas do teste. Com relação aos níveis da sílaba e do fonema, o valor da diferença entre os grupos (P valor) foi de 0.002, mostrando que há diferença estatisticamente significativa entre os dois níveis. A média de acertos no nível da sílaba foi de 45,50% e no nível do fonema foi de 25,65%. A figura abaixo apresenta os intervalos do desempenho do grupo nos níveis da sílaba e do fonema.

Figura 23 – Comparação entre o nível da sílaba e do fonema

Pode-se observar na figura acima que os intervalos ocorrem em pontos diferentes da escala de acertos, não havendo sobreposição de resultados. Os intervalos pontilhados, expressos entre parênteses, mostram o desempenho nos níveis da sílaba e do fonema. O Grupo Transversal 1 apresenta maior facilidade

em responder tarefas que envolvam a consciência silábica em detrimento da consciência fonêmica.

Com relação a rimas e aliterações, o P valor obtido através da ANOVA não foi estatisticamente significativo (P= 0.913), o que indica que para o Grupo Transversal 1 não há diferença entre tarefas que envolvam rimas ou aliterações. A média de acertos da rima foi 42,50% e da aliteração foi 41,25%. A figura 21, a seguir, mostra que há uma sobreposição de resultados, indicando que não há diferença entre o desempenho do grupo em tarefas que envolvam rimas ou aliterações.

Figura 24 – Comparação entre rimas e aliterações

A comparação entre os tipos de tarefas do teste evidenciou uma diferença estatisticamente significativa no desempenho das diferentes tarefas (P=0.000). Baseando-se nas médias de acertos, a ordem de facilidade das tarefas foi: síntese e segmentação (54,38%); produção (46,66%); identificação (44,50%); exclusão (21,42%) e transposição (7,50%). A Figura 22 apresenta os intervalos fornecido pela ANOVA.

Pode-se observar na figura acima que há dois grupos de tarefas mais fáceis e mais difíceis. As mais fáceis são síntese, segmentação, identificação e produção, representadas nos três intervalos mais acima na figura, enquanto as mais difíceis são as tarefas de exclusão e transposição, expressas nos dois intervalos mais abaixo na figura 22. No entanto, deve-se salientar que o escore da tarefa de exclusão apresenta uma grande queda (7,5% de acertos), evidenciando a grande dificuldade que essa tarefa representa para os informantes do grupo em questão.

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