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Grupo ICAT e revista Arquitectura

4. ACTIVIDADES DE ÂMBITO ASSOCIATIVO E CÍVICO

4.4. Grupo ICAT e revista Arquitectura

O conjunto de arquitectos e estudantes que estiveram envolvidos no movimento gerado por toda aquela actividade à volta da “conquista democrática” da SNBA acabou por ser responsável por outros acontecimentos importantes que culminaram, como veremos mais à frente, na sucessão nos Corpos Gerentes do Sindicato Nacional dos Arquitectos, por parte desse colectivo.

Verificar-se-á que JFC acompanhou este movimento.

Ainda em 1946 este grupo de arquitectos funda, em Lisboa, a sociedade ICAT (Iniciativas Culturais Arte e Técnica Lda) que irá comprar e renovar a revista Arquitectura e promover “animados debates de atelier”231 sobre o movimento moderno fora do âmbito do SNA232 e da EBAL.

O colectivo, “contando com elementos activos na oposição ao Regime”, tinha como objectivo defender e divulgar pontos de vista profissionais relacionados com “os problemas do contexto social e económico da produção da arquitectura”.233 Nessa altura “começam a esboçar-se

228 “Obra 142 - Duas moradias nos arredores de Lisboa” - Desenho e Maquette e “Obra 143 - Sede de uma Associação para uma Colónia Portuguesa”. Jorge Ferreira Chaves Av. Paris 14, 5º Dtº. Fonte: Catálogo da V EGAP.

229 “Obra 81 - Câmara de Comércio de Bissau”. Álvaro Valadas Petersen e Jorge Ferreira Chaves Av. Paris 14, 5º Dtº. Fonte: Catálogo da IX EGAP.

230 “Obra 124 - Projecto para a nova sede da Associação Comercial, Industrial e Agrícola da Guiné, a construir na Cidade de Bissau”. Álvaro V. Petersen R. Bulhão Pato 6, 1º Esqº e Jorge Ferreira Chaves Av. Paris 14, 5º Dtº.

Fonte: Catálogo da X EGAP. 231 FRANÇA, [1974] 1984, p. 438.

232 LOBO; DIAS, 1988, p. 6. 233 PORTAS, 1973, pp. 733-736.

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contactos profissionais entre Lisboa e o Porto que conduzirão a tomadas de posição colectivas realizadas à margem do sindicato”.234

Só a partir do nº 21, de Março de 1948, a revista Arquitectura refere na ficha técnica ser propriedade do ICAT.

O título completo era Arquitectura, revista de arte e construção passando a designação a ser apenas Arquitectura, sem o subtítulo, a partir do nº 25, de Julho de 1948.235 Este subtítulo viria a ser retomado posteriormente, durante os anos 50.

A divulgação de informação sobre arquitectura terá sido um dos aspectos mais importantes da existência deste movimento; Francisco Castro Rodrigues descreve o funcionamento da sede, que funcionava no atelier do arquitecto João Simões:

“A ICAT era como um carimbo que nós púnhamos na revista que mandávamos a editores de outras revistas para receber em troca as revistas deles.

Começamos a receber bons livros de arquitectura, porque começámos a mandar a revista para editoras estrangeiras. A certa altura, tinhamos tantos livros que pusemos um anúncio na revista a dizer que eles podiam ser consultados. E havia quem viesse para isso à sede da ICAT (...) na Rua Alexandre Braga (...). No intervalo dos nossos trabalhos, (...) atendiamos os que queriam ir lá ver os livros de arquitectura que a revista recebia.”236

Seria interessante consultar o registo legal da sociedade para poder reconstituir o elenco daquele colectivo. Constatou-se o seguinte: por um lado, para formar legalmente aquela sociedade, foi necessária uma lista de 21 membros entre os quais não puderam constar alguns dos elementos mais activos, que eram também os mais conhecidos pela PIDE, por receio que isso pudesse inviabilizar a autorização para a sua formalização legal237; por outro lado, a partir do momento em que ficou formalmente legalizada, tornou-se no que se pode designar por "associação de facto"238 pois a sua exacta constituição era indefinida.

Podemos considerar como membros dessa associação, a qual acabou por ser, de facto, informal, os que constituiram a referida lista para legalização da sociedade, bem como aqueles que dinamizaram ou participaram em actividades ligadas àquela dinâmica e não figuraram nessa lista.

Tentámos, como contributo para a história das actividades deste grupo, construir uma lista de membros do ICAT que será, pelo que foi exposto acima, apenas uma aproximação e

234 TOSTÕES, [1994] 1997, p. 25.

235 MILHEIRO, Ana Vaz - “A produção arquitectónica da regiões ultramarinas nas revistas Arquitectura e Binário”. In MESQUITA, Marieta Dá (coord.) - Revistas de Arquitectura: Arquivo(s) da Modernidade. Casal de Cambra: Caleidoscópio; Maio 2011a. p.115. 236 RODRIGUES; DIONÍSIO, 2009, p. 208.

237 NUNES, 2007, (p. 14). [Depoimento do arquitecto Celestino de Castro em 2007]. 238 Depoimento de Francisco Silva Dias em 2011.

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forçosamente incompleta. Para isso elaborámos uma lista composta por 13 nomes recordados por Francisco Castro Rodrigues239 a que acrescentámos 9 nomes que foram levantados nas fichas técnicas da Arquitectura, que incluem apenas a direcção e coordenação de cada número, não podendo as demais participações nas actividades da revista ser constatadas senão através de testemunhos. JFC colaborou, pelo menos, na angariação de publicidade.240 Esta lista foi revista por Manuel Taínha que confirmou quase todos os nomes, tendo referido também ter trabalhado em alguns números241, pelo que, o próprio pode ser considerado como membro.

A acrescentar ainda à lista, os nomes de Jacobetty Rosa, Adelino Nunes e Raul Tojal que, segundo José-Augusto França, também faziam parte. Segundo este autor, este grupo integrava cerca de 30 arquitectos, na sua maioria jovens, mas também alguns entre os mais antigos.242

Podemos considerar como elementos confirmados do ICAT os seguintes 26 arquitectos:

Adelino Nunes, Alberto Pessoa, Cândido Palma de Melo, Celestino de Castro, Dário Vieira, Fernando Silva, Francisco Castro Rodrigues, Francisco da Conceição Silva, Francisco Keil do Amaral, Hernâni Gandra, Inácio Peres Fernandes, João Simões, João Faria da Costa, João Vasconcelos Esteves, Joaquim Bento de Almeida, Joaquim Ferreira, Jorge Ferreira Chaves, José Segurado, José Huertas Lobo, Manuel Arroyo Barreira, Manuel Tainha, Miguel Jacobetty Rosa, Paulo Cunha, Raúl Chorão Ramalho, Raul Tojal e Vitor Palla.

A questão deveria ser, no entanto, objecto de um estudo mais aprofundado, pois também constatámos que se reveste de alguma complexidade e haverá vários factos e opiniões a ter em conta. Por exemplo: Celestino de Castro refere ainda Veloso Reis Camelo e Sebastião Formosinho Sanches como membros243, mas Manuel Tainha considera altamente improvável que este último tenha participado em actividades do grupo244; segundo Francisco Castro Rodrigues, Joaquim Bento de Almeida e Vitor Palla não poderiam ter sido do ICAT245, mas é um facto, porém, que organizaram vários números da revista Arquitectura.

Nas próximas duas secções [vol I, cap. 4.5. e 4.6.] relatam-se dois acontecimentos de grande relevância, relacionados entre si como veremos, cuja organização pode ser atribuída a elementos do ICAT. Nestes estiveram envolvidos vários dos nomes listados mas também

239 Depoimento de Francisco Castro Rodrigues em 2011. 240 Segundo Teresa Ferreira Chaves.

241 Depoimento de Manuel Tainha em 29 de Julho de 2011. 242 FRANÇA, [1974] 1984, p. 589 [nota 366].

243 NUNES, 2007, p. 14. [Depoimento do arquitecto Celestino de Castro em 2007]. 244 Depoimento em 2011.

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outros: no Encontro Nacional de Arquitectos no Porto [vol I, cap. 4.5.] participaram Luis Coelho Borges, João Castilho e Manuel Coutinho Raposo, que não figuram na lista apresentada em epígrafe; a carta a Artur Andrade [vol I, cap. 4.6.] foi subscrita por vários daqueles, mas também por António Varela, Filipe Nobre de Figueiredo, Artur Pires Martins, Amândio Funk do Amaral, Artur Simões da Fonseca, Ernâni Soares Nunes, Teixeira Bastos, Fernando Peres e ainda por Cottinelli Telmo e Pardal Monteiro, dois arquitectos que nunca são conotados com o movimento.