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Grupos de sujeitos ligados a instituições educacionais aspectos gerais

FOTO 19 – Homenagem de alunas do Colégio Sion (SP) às mulheres da Inconfidência

5 O MUSEU DA INCONFIDÊNCIA NA HISTÓRIA NACIONAL, NA MEMÓRIA

5.5 Grupos de sujeitos ligados a instituições educacionais aspectos gerais

Nesta pesquisa, o levantamento mostrou que muitas escolas trocavam correspondências prévias com o diretor do Museu manifestando a intenção de visitar o espaço como complementação de algum estudo iniciado nas escolas (Foto 9).

Das correspondências encontradas, o maior número de visitantes escolares foram da região sudeste, em sua maioria, Minas Gerais, mais especificamente Belo Horizonte, além dos Estados do Rio e São Paulo. Houve muito pouca ocorrência do registro de visitantes do Espírito Santo. Ao longo dos vinte anos, públicos ligados a instituições educacionais de outros estados e estrangeiros também frequentaram o museu. O primeiro grupo de visitantes identificado como sendo ligados a instituições educacionais veio da capital do estado de

Minas Gerais, sendo registrada como a “Caravana de BH do Colégio Marconi30” (08/1946, p.

39 F).

Em um breve estudo, o Colégio Marconi de Belo Horizonte foi criado por imigrantes italianos ligados ao movimento integralista31. Dentro das propostas da educação integralista, o aspecto de socialização como suporte para o ensino fazia-se presente nas diretrizes do movimento. Um exemplo desta prática foi apontada na dissertação de Lenir Palhares cita um estudo acerca da Enciclopédia Integralista a Divisão de Estudos que previa “[...] a formação de uma identidade coletiva e o desenvolvimento do sentimento de pertença [...]”. O objetivo era, além da doutrina, a educação esportiva, moral e cívica. Essas práticas eram compostas de programação como “[...] visitas a estabelecimentos, fábricas e museus ‘para desenvolver na criança, não só o amor ao trabalho, como também o gosto artístico’” (ENCICLOPÉDIA, 1959, p. 177-178 apud PALHARES, 2016, p. 111, grifo nosso). A autora afirma que “[...] as atividades de socialização se apresentavam como ocasião para instrução de conteúdo, introjeção da disciplina, amor à pátria e fidelidade ao movimento”. Palhares afirma que “As práticas educativas envolvendo atividades de socialização dos estudantes não eram prerrogativa dos integralistas, estavam inseridas numa tendência que se afinava com os pressupostos da Escola Nova” (2016, p. 111).

Acredita-se que foi por uma atividade escolar que a programação dessa visita trouxe o grupo do Colégio Marconi e outros grupos a Ouro Preto. A presença deles aparece com registro de vinte e oito participantes, no dia 22 de agosto de 1946. Como as assinaturas parecem ser de adultos, não há como distinguir alunos de professores ou quem foi o responsável pelo grupo, pelo fato de não haver auto declaração. Quanto ao gênero, assinaram um primeiro grupo de vinte homens e, na sequência, oito mulheres (Foto 17 e 18).

A título de esclarecimento metodológico, quando um grupo ligado a instituições educacionais semelhante ao referido Colégio Marconi, era localizado, no lançamento da planilha registrava-se como uma (01) a presença coletiva, ou seja, de um (01) grupo e não com o número de visitantes. Optou-se por esta forma de se contabilizar por entender que, de outra forma, tal lançamento poderia comprometer os resultados finais devido à imprecisão do que era informado nos livros. Muitas vezes o responsável pelos alunos não permitia que todos assinassem ou não indicava o número exato de participantes da visita.

30 O Colégio Municipal Marconi (hoje Escola Municipal Marconi) foi fundado em 1937, na cidade de Belo

Horizonte, Minas Gerais, seu prédio é um bem tombado em nível municipal. (COLÉGIO MUNICIPAL MARCONI, 2018)

31 Ver: PALHARES, Lenir. O integralismo e a educação: um estudo sobre as escolas integralistas em Minas

Gerais (1932-1937). 2016. 136f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2016.

FOTO 17 – Registro da visita de grupo de escolares do Colégio Marconi em 1946

Fonte: Foto da autora.

FOTO 18 – Registro da visita de grupo de escolares do Colégio Marconi em 1946 – Continuação

Fonte: Foto da autora.

Foram encontrados, ao longo dos livros, visitantes procedentes da França, Argentina, Inglaterra, Bélgica, Itália Roma) e vários outros países que fizeram parte do campo “outros países” na planilha de dados. Esses visitantes não foram separados por continentes. Em muitos grupos constatou-se uma marcação de semelhança (“aspas”) nos campos espaços destinados a procedência e data. Dos grupos estrangeiros escolares, foi constante a presença de escolas e faculdades de Arquitetura e de Direito de diversas regiões e países (Foto 11) Foi encontrada, em agosto de 1962, o registro The Experiment in International Living, uma organização

estadunidense, sem fins lucrativos, voltada a programas de educação, desenvolvimento sustentável e intercâmbio, criada em 1932.

Várias foram as observações e curiosidades registradas nos livros de visitação do Museu da Inconfidência ao longo dos vinte anos pesquisados. Uma que chamou a atenção foi o comportamento do público feminino que se deixava registrar como “e senhora” ou “e esposa”, conforme já descrito, sugerindo sua condição de acompanhar o marido, considerado aqui como o responsável familiar. As assinaturas de mulheres visitando o Museu desacompanhadas eram em menor grupo e, muito poucas auto declarações de mulheres profissionais do tipo doutoras, advogadas, engenheiras. A maioria das auto declarações do gênero feminino encontradas nos livros foram de professoras e irmãs de caridade. Como uma auto declarada Prof.ª Irmã do Colégio Marista de Farroupilha/RS32 (ARQUIVO HISTÓRICO DO MUSEU DA INCONFIDÊNCIA, [19--], p. 92).

Uma observação acerca da pesquisa foi que, com o passar dos anos, já era possível observar grupos maiores de visitantes do sexo feminino ‘desacompanhadas’ de alguma autoridade masculina, além de um aumento de auto declarações atribuídas às mulheres desacompanhadas de algum responsável do sexo masculino. Um exemplo é uma auto declarada professora, responsável por um grupo de alunas, vindas do Estado da Guanabara, que registrou: “Professora da Escola Normal Inácio de Azevedo Amaral, acompanhada de 33 alunas do 2º ano normal”33 (ARQUIVO HISTÓRICO DO MUSEU DA INCONFIDÊNCIA, [19--], p. 77).

A partir da segunda metade da década de 1950 e principalmente na década seguinte, foi possível perceber a presença mais efetiva da mulher no cenário social, o que reflete nos livros de visita, exemplo disso é o registro de um grupo de visitantes composto por um grupo de 25 (vinte e cinco) mulheres, auto declaradas estudantes, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (ARQUIVO HISTÓRICO DO MEUSEU DA INCONFIÊNCIA, [19--], p. 26).

Foi encontrado dentro de um dos livros, em folha pautada solta, o registro da visita feita por um grupo de mulheres, escolares do Colégio Sion de São Paulo, em 18 de outubro de 1962, acompanhadas de uma religiosa, prestando homenagem às duas figuras femininas ligadas à Inconfidência Mineira, Bárbara Heliodora (1759-1819) e Marília de Dirceu (1767 - 1853) com os seguintes dizeres: “Homenagem à Bárbara Heliodora e Marília de Dirceu feita pelo Colégio Sion (São Paulo), sob a direção da Irmã Germana – Caravana dirigida pelo expositor cultural Estudantil Prof. Dr. Alceu Manard Araújo em 18/10/1962,” em folha solta encontrada no livro

32 Informações extraídas do Livro 02/1965 do Arquivo Histórico do Museu da Inconfidência ([19--)]. 33 Informações extraídas do Livro 07/1962 do Arquivo Histórico do Museu da Inconfidência.

1834 (ARQUIVO HISTÓRICO DO MUSEU DA INCONFIDÊNCIA, [19--]) (Foto 19).

FOTO 19 – Homenagem de alunas do Colégio Sion (SP) às mulheres da Inconfidência Mineira, em 1962

Fonte: Foto da autora.