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3.2 Tipos e formas de coleta de dados

3.2.2 Grupos focais on-line

O grupo focal teve origem na sociologia. Hoje, é amplamente utilizado na área de marketing e também tem crescido em popularidade em outros campos de ação. No campo da ciência social, foi Robert Merton quem publicou o primeiro trabalho utilizando o grupo focal; Paul Lazarsfeld e outros, mais tarde, introduziram essa técnica na área de marketing (Aaker, 2001), que foi a principal responsável pela adoção e popularização dessa técnica.

Os grupos focais são pequenos grupos de pessoas reunidos para avaliar conceitos ou identificar problemas, constituindo-se em uma ferramenta comum usada em pesquisas de marketing para determinar as reações dos consumidores a novos produtos, serviços ou mensagens promocionais.

Trata-se de uma técnica de pesquisa qualitativa composta por pequenos grupos de pessoas que se reúnem para discutir um tópico específico. Diferentemente de outras técnicas com grupos ou entrevistas, a interação do grupo também é um dado da pesquisa a ser considerado e não simplesmente o processo de pergunta e resposta. O propósito do grupo focal é gerar idéias, opiniões, atitudes e perspectivas.

Os grupos focais tradicionais (face to face) são reuniões de pessoas em uma sessão, na qual se utiliza a dinâmica de grupo para facilitar a interação entre as pessoas, em termos de troca de idéias, sentimentos, experiências, a respeito de um assunto específico (Chase & Alvarez, 2000; Maclaran & Catterall, 2002; Malhotra, 2001; Morgan, 1996; Sette et al., 2000; Whiting, 2001). O moderador experiente lidera a discussão e tem como objetivo principal obter uma visão detalhada das informações de um grupo de pessoas sobre determinado assunto ou produto, o que não se diferencia da metodologia de grupo focal on-line, como observam Gaiser (1997), Moloney et al. (2003), Sweet (1999), Walston & Lissitz (2000). Gaiser (1997, p. 143) afirma que, “a internet providencia um novo meio para conduzir pesquisa”.

Assim, a metodologia de grupos focais on-line é desenvolvida nas seguintes etapas: definição do escopo – objetivo, o que se quer identificar no grupo; seleção dos participantes do grupo: partes interessadas (o grupo é segmentado de acordo com o tema de pesquisa e interesse dos participantes); elaboração do roteiro para a dinâmica do grupo (realizada por uma moderadora experiente); realização da dinâmica de forma estruturada; tabulação e análise das informações obtidas, abordagens estas utilizadas pelos seguintes autores (Adler & Zarchin, 2002; Chase & Alvarez, 2000; Gaiser, 1997; Sweet, 1999; Sweet & Walkowski, 2000; Walston & Lissitz, 2000).

O grupo focal on-line é um dos métodos de coleta de informações. A sua principal vantagem é a conveniência, além do custo reduzido e da rapidez para coletar informações de um número de indivíduos. O aspecto de imprevisibilidade existe nos grupos focais on-line, visto que ninguém pode prever o que acontecerá numa reunião de um grupo de discussão (Adler & Zarchin, 2002; Gaiser, 1997; Sweet, 1999; Walston & Lissitz, 2000).

Os grupos focais on-line propiciam riqueza e flexibilidade na fase de coleta de dados, ao contrário do que acontece quando se aplica um instrumento de pesquisa individual, no qual não se obtém tal ganho nessas características, além do ganho em espontaneidade pela interação entre os participantes (Adler & Zarchin, 2002; Gaiser, 1997; Maclaran & Catterall, 2002; Strickland et al., 2003; Sweet, 1999; Sweet & Walkowski, 2000; Walston & Lissitz, 2000). De acordo com os pesquisadores citados, esta metodologia apresenta como vantagens os seguintes fatores:

Š habilidade de coletar dados em um pequeno espaço de tempo; Š método rápido, econômico e eficiente para obter informações; Š a experiência de grupo geralmente é positiva para os participantes; Š facilita a discussão entre os participantes;

Š alguns indivíduos preferem oportunidade de grupos, pois acham importante apoio de outros membros do grupo;

Š os membros do grupo têm a possibilidade de ouvir diversos pontos de vista;

Š alta validade dos dados, ou seja, além de o procedimento medir efetivamente o que se deseja, tem-se plena legitimidade e convicção nos dados coletados;

Š baixo custo em relação a outros métodos e permite ao pesquisador aumentar o tamanho da amostra dos estudos qualitativos.

A participação em grupos focais on-line somente ocorre mediante convite (Brown, 2002; Chase & Alvarez, 2000; Gaiser, 1997; Malhotra, 2001; Monolescu & Schifter, 1999; Silverman, 2004; Sweet, 1999).

Após uma seleção prévia, e baseando-se nos resultados da primeira etapa, solicitou-se autorização do moderador das comunidades virtuais e repassou-se o convite aos membros para participarem de um debate via internet (grupo focal on-line). Ressalta-se que nem todos os participantes da primeira etapa participaram da segunda fase (grupos focais on-line), realizando-se novamente novos convites aos membros de comunidades virtuais sobre turismo explicando o objetivo do estudo (apêndice B).

Os participantes receberam um primeiro convite com informações gerais do estudo (apêndice B) e, após a confirmação de sua aceitação, recebiam outro e-mail informando que, posteriormente, o link de acesso à sala de debate seria disponibilizado via e-mail, que tinha como objetivo também lembrá-lo de sua participação um dia antes do debate (apêndice C). Assim, um dia antes do debate, os participantes recebiam outro e-mail (apêndice D) informando o endereço na internet23, relembrando data e horário. Este artifício é utilizado por diversos autores que já aplicaram tal metodologia (Chase & Alvarez, 2000; Moloney et al., 2003; Strickland et al., 2003; Walston & Lissitz, 2000).

Antes de um grupo focal on-line começar, os participantes eram informados de que poderiam expressar emoções de acordo com o ritmo da digitação. Os participantes poderiam utilizar símbolos típicos da internet, como ‘emoticons’ (Chase & Alvarez, 2000; Gaiser, 1997; Maclaran & Catterall, 2002; Walston & Lissitz, 2000). Este recurso pode ser utilizado para suprir a falta de manifestações de emoções que são mais típicas e mais fáceis de ser percebidas pelo pesquisador, quando o grupo focal é presencial. Segundo Walston & Lissitz (2000, p. 463), “os emoticons são mensagens não-verbais padronizada no processo de comunicação mediada por computador”.

Desse modo, são utilizadas imagens com rostos felizes, tristes, chorando, piscando, etc. Os símbolos de emoções são inseridos no texto no ponto em que elas acontecem. As emoções também podem ser expressas por meio de um tipo de fonte, letras maiúsculas ou cor diferente e também com o uso caracteres combinados que denotam expressões faciais (exemplos: :-) = feliz, :-))) = gargalhadas, :-( = triste, :-o = espanto, entre outros) (Maclaran & Catterall, 2002; Malhotra, 2001; Walston & Lissitz, 2000).

Nas datas estabelecidas, os participantes acessaram o endereço do site, usaram o nome de usuário para entrar na sala de debate predefinida pelo pesquisador. Uma dinâmica de apresentação foi ser estabelecida pela moderadora, a fim que todos os participantes tivessem algum tipo de conhecimento sobre os demais. Na seqüência, a moderadora digitou as questões, estabelecendo um tempo entre elas para que os participantes pudessem responder e questionar a moderadora, o pesquisador bem como os outros membros do debate.

Um roteiro para o debate foi desenvolvido e aplicado em todos os grupos focais on-line para manter o padrão de respostas obtidas com a metodologia, conforme apresentado a seguir (ver também apêndice E):

♦ Apresentação individual de todos participantes.

♦ O motivo da participação em comunidades virtuais sobre turismo. ♦ Influências ou não nas trocas de informações em comunidades virtuais. ♦ Confiabilidade das informações obtidas nas comunidades virtuais. ♦ Exemplos interações e trocas de informações em comunidades virtuais.

A interação variou entre 1 hora e 5 minutos e 1 hora e 30 minutos. Um rascunho da transcrição ficou pronto com o fim de cada sessão, necessitando apenas copiar e colar no editor de texto utilizado pelo pesquisador. Esta é uma das vantagens do método de grupo focal on-line em relação ao método tradicional (face to face) em que vários dias são necessários para transcrição (Chase & Alvarez, 2000; Gill, 2003; Silverman, 2004; Strickland et al., 2003; Sweet & Walkowski, 2000; Sweet, 2001).

As vantagens, como algumas já citadas anteriormente, são economia de tempo, ausência de custos de deslocamento dos participantes, facilidade de discussão entre os participantes e baixo custo em relação a outros métodos. Destaca-se também que podem participar pessoas de áreas geográficas distintas, pois o ambiente on-line permite essa flexibilidade (Chase & Alvarez, 2000; Maclaran & Catterall, 2002; Moloney et al., 2003; Walston & Lissitz, 2000; Sweet & Walkowski, 2000), visto que os participantes não precisam sair do conforto de sua casa ou escritório.

Outro ponto importante, de acordo com Adler & Zarchin (2002), Burton & Goldsmith (2002), Chase & Alvarez (2000), Maclaran & Catterall (2002), Sweet (2001), Sweet & Walkowski (2000) é que as pessoas em geral se revelam menos inibidas em suas respostas e têm maior oportunidade de expressar plenamente seus pensamentos on-line, visto que a forma de se expressar ou de se vestir de um membro, na forma face a face, pode inibir outros, tornando o primeiro um dominante no debate, caso a moderação não esteja preparada. O anonimato é outra vantagem para o grupo focal on-line, pois, sem a presença física, nenhum tipo de preconceito existe, sobre classe social, etnia, idade, etc.

Destaca-se também a congruência do ambiente on-line com o objetivo do estudo, devido ao aumento de participantes em grupos de discussão em comunidades virtuais (Adler & Zarchin, 2002; Burton & Goldsmith, 2002; Maclaran & Catterall, 2002; Moloney et al., 2003).

Como expressado anteriormente, algumas desvantagens são apontadas nesta modalidade de grupos focais. Uma desvantagem é a falta de comunicação não-verbal (Wilson, 2003), como gestos, expressão facial, postura corporal, etc. e paraverbal, como inflexões na voz, risos, choros, etc. (Burton & Goldsmith, 2002; Chase & Alvarez, 2000; Maclaran & Catterall, 2002; Moloney et al., 2003; Sweet & Walkowski, 2000). Desanctis et al. (2003, p. 566) complementam afirmando que, “a falta de contato face a face entre os participantes pode reduzir a relação e a identidade do grupo”. Outra desvantagem é a falta de habilidade na digitação (Moloney et al., 2003; O´Connor & Madge, 2003; Sweet, 2001), podendo ocorrer que um participante, com maior habilidade para digitar, domine a discussão. Este ponto também foi levado em consideração durante a aplicação dos grupos focais on-line, deixando tempo para os participantes se expressarem.

Tais características foram observadas no decorrer do debate, no entanto, foram adotadas medidas para sua superação. A moderadora e o pesquisador ficaram atentos às situações em que o participante apenas respondeu a: ‘sim’, ‘não’, ‘concordo’, ‘discordo’, etc., usando outras questões para que o participante esclarecesse sua resposta, conforme recomendação dos autores de grupos focais on-line (Burton & Goldsmith, 2002; Moloney et al., 2003; Schneider et al., 2002; Sweet & Walkowski, 2000).

Assim, a moderadora e o pesquisador o fizeram, argumentando com o participante que explanasse melhor sua resposta, indicando situações, experiências ou exemplos sobre o tópico/questão debatida, desse modo, obtendo uma resposta com maiores detalhes.

Por todos esses aspectos, a pessoa que modera o grupo focal on-line (neste estudo, uma moderadora24), é integrante fundamental na obtenção e apuração dos resultados com o grupo. Cabe a moderação estimular, organizar, induzir os participantes a fornecerem o maior número possível de informações (Morgan, 1996). A moderação é responsável pela condução da entrevista (debate), não podendo interferir nas participações do grupo, apresentando habilidade para reconduzir o assunto quando ocorrer dispersão, impedindo que qualquer integrante exerça liderança e incentivando os mais tímidos a se pronunciarem sobre o tema. Portanto, a moderação deverá ter as seguintes características: habilidades para digitar, entrevistar e ser organizado (Burton & Goldsmith, 2002; Chase & Alvarez, 2000; Gaiser, 1997; Sweet, 1999; Walston & Lissitz, 2000), as quais foram encontradas na moderadora dos grupos focais on-line desta pesquisa.

Os dados coletados nos grupos focais on-line foram analisados mediante a análise de discurso. As informações obtidas nos questionários, bem como nos grupos focais, puderam ser cruzadas e analisadas, levando-se em considerações aspectos sociais, cognitivos entre outros.