• Nenhum resultado encontrado

Considere agora o grupo H gerado pelas as transla¸c˜oes de Heisenberg vertical

(ζ, v, u)7→ (ζ, v + 1, u) e horizontal

(ζ, v, u)7→ (ζ + 1, v, u).

Estes elementos fixam o ponto q∞. Tome ent˜ao os elementos parab´olicos g e x, respectivamente os

conjugados das transla¸c˜oes acima com a invers˜ao na cadeia unit´aria centrada na origem de H. Seja G o grupo gerado por g e x. G ´e um grupo discreto de isometrias holomorfas e tem uma representa¸c˜ao em termos de geradores e rela¸c˜os dada por G = hg, x : [g, x] = 1i. Segundo o teorema 4.16 em [19], a folhea¸c˜ao vertical deH sobre C projeta no quociente H/G sobre um fibrado de retas sobre uma superf´ıcie n˜ao fechada.

Denote por FG o dom´ınio fundamental de Ford para a a¸c˜ao do grupo G.

Teorema 2.8.1 FG tem infinitas faces, sendo limitado pelas esferas isom´etricas dos elementos g, gkx,

gkx−1 e de seus inversos, para todo inteiro n˜ao negativo k.

Dem.:A id´eia da demonstra¸c˜ao aqui ´e um pouco diferente daquela do grupo gerado por trˆes transla¸c˜oes. L´a exibimos pontos em todas as faces do poliedro candidato a dom´ınio de Ford para o Grupo. Aqui, come¸caremos mostrando que o poliedro fundamental de Ford para G tem faces nas esferas isom´etricas de g, g−1, x e x−1. Depois usando o teorema de Giraud, mostraremos que FG n˜ao pode ser formado apenas

por estas faces, mas tamb´em tˆem que aparecer faces em Igkxe I′

gkxpara k≥ 0. Chamando de P o poliedro

definido pelo exterior comum das esferas acima, veremos que P ´e um poliedro fundamental para a a¸c˜ao de G formado por esferas isom´etricas de Ford, sendo portando o pr´oprio dom´ınio de Ford de G.

Os elementos do grupo G podem ser listados facilmente: s˜ao eles as composi¸c˜oes do tipo gkxm, onde

k, m∈ Z. Estes s˜ao todos pois G ´e abeliano livre.

Representantes dos elementos de G s˜ao dados pelas matrizes unit´arias abaixo.

gkxm=     1 −m m ¡1 +ik 2¢ m − ikm 2 ¡1 + ik 2 ¢³ 1m2 2 ´ +ikm2 4 (1+ik 2)m 2 2 − ik 2 ³ 1 +m2 2 ´ ik 2 +¡1 − ik 2¢ m 1 2 ³ 1m2 2 ´ −(1− ik 2)m 2 2 ikm2 4 +¡1 − ik 2 ¢³ 1 +m2 2 ´     .

O subgrupo gerado por g ´e unipontente, portanto as esferas isom´etricas das potˆencias gk est˜ao no

interior de Ig se k > 1 e no interior de Ig′ se k < −1. O mesmo acontece com o subgrupo unipotente

gerado por x: as esferas isom´etricas das potˆencias xm est˜ao no interior de I

x se m > 1 e no interior de Ix′

se m <−1.

Considere os v´ertices superior de Ig (isto ´e, o ponto (0, 2)∈ H) e inferior de Ig′ (o ponto (0,−2) ∈ H).

Como o exterior de Igk

xm est´a descrito por

Ext¡Igkxm¢ : 2 < | − 4mζ + (1 − |ζ|2+ iv)(−1 + m2+ ik)− (1 + |ζ|2− iv)(1 + ik + m2)|,

segue que o teste para ver se o ponto (0, 2) satisfaz esta inequa¸c˜ao se reduz a

2 <| − 2 + 4k + 4m2i

|,

o que ´e sempre verdade, exceto quando k = m = 0, caso em que gkxm= 1, e quando k = 1, m = 0, o

que ´e ´obvio pois (0, 2) ´e um v´ertice de Ig.

De maneira an´aloga demonstra-se que o v´ertice inferior (0,−2) ∈ I

gest´a no exterior de todas as outras

esferas isom´etricas dos elementos de G. Considere agora o ponto (2, 0)∈ I

x. O teste para verificar quando este ponto est´a no exterior de Igk

xm

se reduz agora a

2 <| − 8m2− 8m − 2 + 8ki|,

inequa¸c˜ao que ´e sempre verdadeira exceto se k = m = 0, caso em que gkxm= 1, ou se k = 0 e m =

−1, caso em que gkxm= x−1. Assim, (2, 0)∈ I

x est´a no exterior de todas as outras esferas isom´etricas dos

elementos de G. Analogamente, (−2, 0) ∈ Ix est´a no exterior de todas as outras esferas isom´etricas dos

elementos de G.

Ent˜ao sabemos que h´a faces de FG em Ig, Ig′, Ixe Ix′. Todas as esferas isom´etricas de elementos de G

passam pela origem de H, o ´unico ponto fixo do grupo G. Logo h´a uma aresta de FG em cada uma das

interse¸c˜oes Ig∩ Ix, Ig∩ Ix′, Ig′ ∩ Ix e Ig′ ∩ Ix′.

N˜ao pode acontecer de FG ser formado apenas por estas quatro esferas, uma vez que, nesse caso,

haveria em FG exatamente quatro arestas n˜ao-planas. Mas o teorema de Giraud 2.4.1 garante que cada

ciclo de arestas em FG tem comprimento exatamente trˆes, ou seja, o n´umero de arestas n˜ao-planas tem

de ser m´ultiplo de trˆes.

Usando mais uma vez o teorema de Giraud, podemos obter as outras arestas do ciclo ao qual pertence a aresta a contida em Ig∩ Ix, obtendo desta forma outras esferas isom´etricas que certamente contˆem faces

de FG. Por um lado, Ig est´a identificada com Ig′, pela pr´opria g. Assim, b = g(a) est´a na interse¸c˜ao de

I′

g com uma certa esfera Fb. Do outro lado temos x−1 identificando Ix′ com Ix, portanto c = x(a) est´a na

interse¸c˜ao de I′

x com uma certa esfera Fc. Pelo teorema de Giraud o ciclo est´a completo, logo Fc = Igx−1,

Fb= Igx′ −1 e b = gx−1(c).

A aresta contida em I′

g∩ Igx′ −1 implica n˜ao s´o a existencia de uma face contida em I

gx−1 como tamb´em

a existˆencia de uma aresta contida na interse¸c˜ao desta ´ultima esfera isom´etrica com Ig, cujo ciclo, obtido

usando-se novamente o racioc´ınio acima, cont´em tamb´em arestas em Ig2x−1∩ Igx−1 e Ig′ ∩ I′

g2x−1.

Procedendo indutivamente, o ciclo de arestas contidas em Ig∩ Ig′k−1x−1, Igkx−1∩ Igk−1x−1 e Ig′∩ I′

gk

x−1

implica a existˆencia de um ciclo de mesma natureza, onde k deve ser substituido por k + 1. Ou seja, para cada k≥ 1, existe um ciclo com arestas contidas em

Ig∩ Ig′k

x−1, Igk+1x−1∩ Igkx−1 e Ig′ ∩ I′

gk+1x−1.

Chamaremos estes ciclos de ciclos ciclos do tipo 1. An´alises semelhantes com os ciclos aos quais pertencem as arestas contidas em Ig∩ Ix′, Ig′ ∩ Ixe Ig′ ∩ Ix′ levam respectivamente aos ciclos cujas arestas

est˜ao em

Ig∩ Ig′kx, Ig′ ∩ Ig′k+1x e Igk+1x∩ I′

Ig′ ∩ Igkx, Ig∩ Igk+1x e Ig′kx∩ Ig′k+1x, k≥ 1;

I′

g∩ Igkx−1, Ig∩ Igk+1x−1 e Ig′k+1x−1∩ Ig′kx−1, k≥ 1.

Chamamos estes ciclos de ciclos dos tipos 2, 3 e 4, respectivamente.

Ali´as, se considerarmos k ≥ 0, a descri¸c˜ao destes ciclos em fun¸c˜ao de k inclui tamb´em os ciclos aos quais pertencem as arestas contidas em Ig∩ Ix, Ig∩ Ix′, Ig′ ∩ Ixe Ig′ ∩ Ix′.

Desta forma concluimos que o poliedro de Ford para G possui uma face em cada uma das esferas isom´etricas listadas no teorema. Defina P como sendo o exterior comum destas esferas. Resta mostrar que P ´e um poliedro fundamental para G.

O Poliedro P , embora n˜ao tenha um n´umero finito de faces, satisfaz `as condi¸c˜oes do teorema de Poincar´e 2.3.1. Isto porque a hip´otese do poliedro D ter um n´umero finito de lados serve para garantir que os ciclos de arestas s˜ao finitos. Mas isto no nosso caso foi garantido pela constru¸c˜ao de P . Ent˜ao, para mostrar que P ´e um poliedro fundamental para G, basta mostrar que o grupo H, gerado pelos identificadores de faces de P e cujas rela¸c˜oes s˜ao dadas pelos ciclos tipos 1-4 descritos acima ´e o pr´oprio grupo G.

Para ver isso, procedemos de maneira geral, denominando as faces contidas em Igkx de Ak e as faces

contidas em Igkx−1 de Bk. Chame ainda de ak o identificador das faces Ak e A′k e de bk o identificador das

faces Bke Bk′. Uma planifica¸c˜ao do poliedro P , com esta nomenclatura das faces, encontra-se na figura 2.6.

Apesar de esta planifica¸c˜ao ser realizada a partir do ponto fixo do grupo, este esquema n˜ao ´e exatamente uma proje¸c˜ao estereogr´afica, pois o ponto fixo tamb´em aparece na representa¸c˜ao finita. Devemos portanto imaginar identificados os pontos onde se acumulam as faces j´a que ambos s˜ao exatamente o ponto fixo do grupo. Nesse caso as esferas Ig e Ig′ tˆem representa¸c˜oes ilimitadas.

. . .

A’

A’

B

B

B

. . .

. . .

B’

B’

A

A

A

. . .

2

1

0

1

2

2

1

0

1

2

O

Figura 2.6: Descri¸c˜ao do poliedro P que na verdade ´e o poliedro de Ford para G.

As rela¸c˜oes decorrentes dos ciclos do tipo 1 s˜ao, bk+1= gbk, para k≥ 0. Por outro lado, ao conside-

rarmos as rela¸c˜oes decorrentes dos ciclos do tipo 4, encontramos bk+1 = bkg, para k≥ 0. Isto significa

que bk comuta com g para qualquer k≥ 0.

Olhando agora para os ciclos dos tipos 2 e 3, encontramos respectivamente as rela¸c˜oes ak+1= gak e

ak+1= akg, o que significa que ak tamb´em comuta com g para todo k≥ 0.

Como a0 = b−10 , concluimos que o grupo gerado pelos identificadores das faces de P tem uma repre-

senta¸c˜ao em termos de geradores e rela¸c˜oes hg, a0 : [g, a0] = 1i. Como a0 = x, segue que este grupo ´e

o pr´oprio grupo G e desse modo P ´e um poliedro fundamental para G. Sendo um poliedro fundamental formado por esferas isom´etricas de Ford, P ´e o poliedro de Ford para a a¸c˜ao de G, completando a prova do teorema.

Referˆencias Bibliogr´aficas

[1] A.F. Beardon, The geometry of discrete groups, Graduate Texts in Mathematics, 91, Springer- Verlag, New York, 1983.

[2] S. Chen, L. Greenberg, Hyperbolic spaces, in Contribuitions to Analysis, Academic Press, New York, 49-87, 1974.

[3] F. Dutenhefner, Representa¸c˜oes de grupos Fuchsianos no espa¸co hiperb´olico complexo, tese de doutorado, Universidade Federal de Minas Gerais, 2001.

[4] D.B.A. Epstein, Complex hyperbolic geometry, Analytical and Geometric Aspects of Hyperbolic Space, L.M.S. Lecture Notes, Vol. 111, 1987, pp. 93-111.

[5] D.B.A. Epstein, C. Petronio, An exposition of Poincar´e’s Polyhedron Theorem, L’Enseignement Math´ematique 40 (1994) 113-170.

[6] M G. Giraud, Sur certaines fonctions automorphes de deux variables, Ann. Ec. Norm. (3), 38 (1921), 43-164.

[7] W.M. Goldman, Complex Hyperbolic Geometry, Oxford University Press, 1999.

[8] W.M. Goldman, M. Kapovich, B. Leeb, Complex hyperbolic manifolds homotopy equivalent to a Riemann surface. Comm. Anal. Geom. 9 (2001), no. 1, 61-95.

[9] W.M. Goldman, J.R. Parker, Dirichlet polyhedra for dihedral groups acting on complex hyperbolic space, The Journal of Geometric Analysis, vol. 2, no. 6, (1992), 517-554.

[10] N.A. Gusevskii, J.R. Parker, Representations of free Fuchsian groups in complex hyperbolic space, Topology 39 (2000) 33-60.

[11] N.A. Gusevskii, J.R. Parker, Complex hyperbolic quasi-Fuchsian groups and Toledo’s invariant, a aparecer em GeometriæDedicata.

[12] S. Kamiya, Generalized isometric spheres and fundamental domains for discrete subgroups of PU(n, 1), preprint 1999.

[13] B. Maskit, Kleinian Groups, Grundlehren der mathematishen Wiβenschaften 287, Springer- Verlag, New York, 1988.

[14] G.D. Mostow, On a remarkable class of polyhedra in complex hyperbolic space, Pac. J. Math. 86, 171-276.

[15] J.R. Parker, Shimizu’s Lemma for complex hyperbolic space, Int. J. Math., vol. 3, no. 2, (1992), 291-308.

[16] J.R. Parker, Dirichlet Polyhedra for Parabolic Cyclic Groups in Complex Hyperbolic Space, Geometriae Dedicata 57:223-234, 1995.

[17] J.R. Parker, On Ford isometric spheres in complex hyperbolic space, Mathematical Proceedings of the Cambridge Philosophical Society 115 (1994) 501-512.

[18] M.B. Phillips, Dirichilet polyedra for cyclic groups in complex hyperbolic space, Proceedings of the American Mathematical Society, Vol. 115, Number 1, May 1992, 221-228.

Documentos relacionados