DOM´INIOS FUNDAMENTAIS DE FORD PARA GRUPOS DISCRETOS
DE ISOMETRIAS HIPERB ´
OLICAS COMPLEXAS
Seme Gebara Neto
Orientador:
Prof. Dr. Nikolai Alexandrovitch Goussevskii
Tese apresentada ao Departamento de Matem´
atica do Instituto de Ciˆ
encias Exatas
da Universidade Federal de Minas Gerais, como parte dos requisitos para
obten¸c˜
ao do grau de Doutor em Matem´
atica
`
Agradecimentos
Ao Nikolai, meu orientador.
Ao Chico, meu irm˜
ao.
Sum´
ario
Introdu¸c˜ao 1
1 O Espa¸co Hiperb´olico Complexo HnC 4
1.1 O modelo projetivo . . . 4
1.2 O dom´ınio de Siegel e o grupo de Heisenberg . . . 5
1.3 Classifica¸c˜ao das Isometrias Holomorfas . . . 7
1.4 Subvariedades totalmente geod´esicas e hipersuperf´ıcies equidistantes . . . 9
1.5 A estrutura CR para o espa¸co de Heisenberg . . . 13
1.6 Esferas isom´etricas . . . 14
1.6.1 Esferas isom´etricas de Dirichlet . . . 15
1.6.2 Esferas isom´etricas de Ford . . . 15
2 Dom´ınios fundamentais para grupos discretos de isometrias holomorfas 18 2.1 O dom´ınio fundamental de Ford em geometria hiperb´olica complexa . . . 18
2.2 O dom´ınio fundamental de Ford em geometria CR-esf´erica . . . 19
2.3 O Teorema dos Poliedros de Poincar´e . . . 20
2.4 O teorema de Giraud . . . 22
2.5 Finite dihedral groups . . . 23
2.6 Superposi¸c˜ao de grupos grupos diedrais . . . 27
2.7 Grupos gerados por trˆes transla¸c˜oes . . . 31
2.8 Grupos gerados por duas transla¸c˜oes . . . 35
Introdu¸
c˜
ao
O objetivo principal deste trabalho ´e descrever a estrutura combinat´oria dos poliedros fundamentais de Ford para alguns grupos discretos de isometrias holomorfas complexas. Entre os grupos estudados, est˜ao os grupos c´ıclicos e alguns outros grupos elementares (isto ´e, cujo conjunto limite ´e finito).
O entendimento dos dom´ınios fundamentais ´e ferramenta importante para a constru¸c˜ao de grupos discretos de isometrias. Muitos exemplos podem ser obtidos a partir de grupos elementares (grupos c´ıclicos, diedrais, abelianos, nilpotentes, sol´uveis, etc.), uma vez conhecida a estrutura combinat´oria de seus poliedros fundamentais de Dirichlet ou Ford, usando os teoremas de combina¸c˜ao de Klein-Maskit.
Em geometria hiperb´olica real, os poliedros fundamentais de Dirichlet e Ford para grupos elementares s˜ao bastante conhecidos. Mais do que isso, tˆem estrutura combinat´oria simples. Por exemplo, para grupos c´ıclicos onde o gerador ´e el´ıptico, parab´olico ou hiperb´olico, qualquer que seja a ordem do gerador (no caso el´ıptico) e qualquer que seja a dimens˜ao do espa¸co hiperb´olico real, os dom´ınios de Dirichlet ou Ford tˆem sempre duas faces.
Em geometria hiperb´olica complexa novas dificuldades surgem, devido `a natureza diferente desta ge-ometria. Uma dificuldade central diz respeito ao comprimento dos ciclos de arestas que aparecem nos poliedros de Dirichlet e Ford: o teorema de Giraud (veja o teorema 2.4.1) garante que cada ciclo de arestas n˜ao-planas de um poliedro de Dirichlet ou Ford para um grupo discreto de isometrias holomorfas complexas tem comprimento no m´aximo trˆes. Este fato implica que a estrutura combinat´oria de um poliedro fundamental de Dirichlet ou Ford pode ser bastante complicada.
Isto se reflete j´a para grupos c´ıclicos gerados por um elemento el´ıptico de ordem finita. Considere um elemento el´ıptico g agindo no espa¸co hiperbolico complexo de dimens˜ao dois H2C, que deixa invariante
um R-plano R. Se G ´e o grupo c´ıclico gerado por g, o poliedro de Ford para G ´e o exterior comum
entre as esferas isom´etricas dos elementos n˜ao-triviais do grupo. Olhando para a interse¸c˜ao destas esferas com oR-plano invarianteR, vemos que somente as esferas deg eg−1definem faces do dom´ınio de Ford,
pois o exterior de cada uma das outras esferas isom´etricas cont´em o exterior comum entre esferas do gerador e de seu inverso. Mas em H2
C uma configura¸c˜ao bem diferente ocorre: cada uma destas esferas
isom´etricas cont´em (na verdade duas) faces do poliedro de Ford para G, chamadas por Giraud ([6]) de “lados invis´ıveis”, por n˜ao aparecerem na restri¸c˜ao aR.
Os estudos sobre dom´ınios fundamentais de Ford para geometria hiperb´olica complexa come¸cam com a generaliza¸c˜ao do conceito de esfera isom´etrica de uma isometria holomorfa complexa, proposto por Goldman [7] (que provou tamb´em serem as esferas isom´etricas esferas espinais verticais) e passam pela demonstra¸c˜ao de que o exterior comum a todas as esferas isom´etricas de elementos n˜ao-triviais de um grupo discreto define um dom´ınio fundamental para a a¸c˜ao do grupo (o dom´ınio de Ford). Estudos nesta dire¸c˜ao s˜ao encontrados em Goldman ([7]), Kamyia ([12]) e, de uma forma mais completa, em Dutenhefner ([3]).
• Phillips [18], onde ´e demosntrado que dom´ınios de Dirichlet para grupos c´ıclicos onde o gerador ou ´e um elemento hiperb´olico ou um elemento parab´olico unipotente, tˆem duas faces, independentemente da localiza¸c˜ao do ponto base;
• Goldman e Parker [9], que caracterizaram os poliedros de Dirichlet para grupos diedrais, gerados por invers˜oes em duas linhas complexas assint´oticas: se Γ denota este grupo, foi mostrado que existe uma hipersuperf´ıcie real Γ-invarianteF tal que se o ponto base est´a em F o poliedro de Dirichlet tem exatamente duas faces, e, caso contr´ario, tem infinitas faces, e
• Parker [16], que estudou detalhadamente grupos c´ıclicos gerados por um elemento elipto-parab´olico, concluindo que, se o ponto base est´a no eixo do gerador, ent˜ao o poliedro de Dirichlet tem exatamente duas faces e, caso contr´ario, tem infinitas faces.
Por outro lado, trabalhos sobre a estrutura combinat´oria dos poliedros de Ford para grupos elementares de isometrias hiperb´olicas complexas ainda s˜ao poucos e os casos conhecidos s˜ao apenas os mais simples. Esta tese caminha na dire¸c˜ao de cobrir parte desta lacuna, estudando grupos c´ıclicos e alguns outros grupos elementares.
Um estudo bastante amplo sobre os poliedros de Ford para grupos c´ıclicos ´e apresentado. Os resultados aqui demonstrados s˜ao os seguintes:
?? Sejag∈PU(2,1)um elemento elipto-parab´olico, que n˜ao fixa o ponto idealq, e sejaFG o dom´ınio
de Ford do grupoG=hgicom rela¸c˜ao aq. Ent˜ao
1. Seq pertence ao eixo deg,FG tem precisamente duas faces.
2. Seq n˜ao pertence ao eixo deg,FG tem infinitas faces.
?? Seja Go grupo gerado por um elemento el´ıptico regular g∈PU(2,1) de ordem finitan >2, com
g(q)6=q, que deixa invariante umR-plano.
1. Seqpertence a um eixo deg, ent˜aoFGtem precisamente duas faces, contidas nas esferas isom´etricas
deg e de seu inverso.
2. Seqn˜ao pertence a nenhum eixo deg, ent˜aoFG tem2 + 2(n−3) = 2n−4faces: as duas primeiras
est˜ao contidas nas esferas isom´etricas de g e de seu inverso, cada uma das demais esferas isom´etricas cont´em duas faces.
?? Sejag∈PU(2,1)um elemento loxodrˆomico, que n˜ao fixa o ponto ideal q, e sejaFG o dom´ınio de
Ford do grupo G=hgicom rela¸c˜ao a q. Ent˜ao
1. Seg ´e hiperb´olico, ent˜ao FG tem precisamente duas faces.
2. Seg n˜ao ´e hiperb´olico eqpertence ao eixo de g, ent˜aoFG tem precisamente duas faces.
3. Segn˜ao ´e hiperb´olico e seqn˜ao pertence ao eixo deg, ent˜ao o n´umero de faces deFG´e finito, mas
pode ficar arbitrariamente grande.
Para que esta classifica¸c˜ao sobre gurpos c´ıclicos esteja completa, falta apenas um caso, onde o gerador ´e um elemento el´ıptico regular que n˜ao preserva umR-plano. A diferen¸ca entre tais elementos e aqueles
que preservam umR-plano pode ser descrita como segue: seg um elemento el´ıptico regular que preserva
umR-planoR, ent˜aog´e a composi¸c˜ao das invers˜oes em duas linhas complexasL1eL2perpendiculares a
R. J´a um elementohque n˜ao preserva umR-plano pode ser obtido compondo-seg com uma rota¸c˜ao (de
ordem maior que dois) em torno deL2. Depende portanto de dois parˆametros reais. Grupos gerados por
este tipo de elemento s˜ao objetos de estudos futuros.
Sobre grupos c´ıclicos gerados por elementos el´ıpticos podemos observar tamb´em que o teorema ??
de Dirichlet para um grupo c´ıclico gerado por um elemento el´ıptico preservando um R-plano em H2 C:
podemos representar H2
C como a bola unit´ariaB2 ⊂C2 e sua fronteira como a esfera unit´ariaS3 ⊂C2.
Ent˜ao, qualquer vizinhan¸ca do ponto ideal q ∈ ∂H2
C em C2 cont´em pontos de H2C. Se a vizinhan¸ca
´e suficientemente pequena, para pontos base nesta vizinhan¸ca a estrutrua do dom´ınio de Dirichlet ´e exatamente a mesma daquela dos dom´ınios de Ford.
Como conseq¨uˆencia das t´ecnicas utilizadas nas demonstra¸c˜oes dos resultados acima, caracterizamos tamb´em os poliedros de Ford para alguns outros grupos discretos de isometrias, provando os seguintes resultados
2.5.1O poliedro de FordFDn para o grupo diedral finito de ordem 2n,n≥2, tem exatamente 6n−6
faces. Cada esfera isom´etrica de um elemento n˜ao trivial cont´em duas faces (caso o elemento seja um ge-rador ou perten¸ca ao subgrupo c´ıclico gerado pelo produto dos gege-radores) ou quatro faces (caso o elemento seja uma invers˜ao, exceto para os geradores). Pensado simplesmente como um poliedro emH2
C(ou emH),
isto ´e, como interse¸c˜ao de semi-espa¸cos definidos pelas esferas isom´etricas,FDn tem2+2(2n−3) = 4n−4
faces. As duas primeiras contidas nas esferas isom´etricas dos geradores. Cada uma das outras esferas isom´etricas intercepta o exterior comum das esferas isom´etricas dos geradores em duas componentes co-nexas.
H´a tamb´em um estudo sobre grupos gerados por invers˜oes em trˆes linhas complexas, duas delas ul-traparalelas e a terceira sua perpendicular comum, formando dois diedros, ambos com ˆangulo reto (se¸c˜ao 2.6). Este ´e um exemplo de um grupo n˜ao-elementar. ´E mostrado que, sob certas condi¸c˜oes, a estrutura do poliedro de Ford cont´em a estrutura dos poliedros de Ford de cada um dos diedros, no sentido que n˜ao h´a novas faces e arestas al´em daquelas que aparecem em cada um dos diedros quando observado isoladamente.
Finalmente, nas se¸c˜oes 2.7 e 2.8 s˜ao estudados grupos gerados por duas ou trˆes transla¸c˜oes de Heisenberg, encontrando infinitas faces para o poliedro de Ford do grupo gerado por duas transla¸c˜oes e 18 faces (48 arestas) para o poliedro de Ford do grupo gerado por trˆes transla¸c˜oes. Este ´ultimo grupo pode ser visto como grupo fundamental de uma variedade tridimensional modelada na geometria do Grupo de Heisenberg (uma das oito geometrias existentes em dimens˜ao trˆes, tamb´em chamada Nil). Esta variedade ´e um fi-brado de c´ırculos sobre o toro e as rela¸c˜oes entre os geradores deste grupo definem o n´umero de Eulere
desta fibra¸c˜ao e vice-versa. No exemplo estudado aqui, foi pr´e-fixadoe= 2. Um pr´oximo trabalho pode caracterizar a estrutura combinat´oria do poliedro de Ford para estes grupos, em fun¸c˜ao do n´umeroe.
Cap´ıtulo 1
O Espa¸
co Hiperb´
olico Complexo H
n
C
A seguir, uma descri¸c˜ao do espa¸co hiperb´olico complexo, que ´e o ambiente dos objetos deste trabalho. Os resultados enunciados neste cap´ıtulo podem ser encontrados, numa an´alise detalhada no livro de Goldman,
Complex Hyperbolic Geometry[7].
1.1
O modelo projetivo
O espa¸co hiperb´olico complexoHn
C n-dimensional ´e uma variedade de K¨ahler simplesmente conexa
com-pleta de curvatura seccional holomorfa negativa e constante. A m´etrica pode ser normalizada para que a curvatura holomorfa seja igual a -1. Os modelos apresentados a seguir est˜ao normalizados desta ma-neira. Nessas condi¸c˜oes, a curvatura seccional real deHn
Cvaria entre -1 e -1/4. O primeiro modelo a ser
apresentado ´e omodelo projetivo.
Vamos denotar porCn,1 o espa¸co vetorial complexo de dimens˜aon+ 1 com a forma Hermitiana n˜ao
degeneradah·,·idefinida por
hZ, Wi = z1w1 + · · · + znwn − zn+1wn+1,
sendo que
Z =
z1
.. .
zn
zn+1
e W =
w1
.. .
wn
wn+1
.
Considere os seguintes sub-espa¸cos deCn,1:
V0 = {Z ∈Cn+1: hZ, Zi= 0}
V− = {Z ∈Cn+1: hZ, Zi<0}
V+ = {Z∈Cn+1: hZ, Zi>0}.
Os vetores em V0,V− ouV+ s˜ao respectivamente chamados denulos,negativosoupositivos.
Seja P : Cn,1\ {0} → CPn a proje¸c˜ao natural sobre o espa¸co projetivo. O espa¸co hiperb´olico complexo ´e definido como Hn
C = P(V−), munido da m´etrica Riemannina induzida da forma h·,·i pela
proje¸c˜aoP. Esta m´etrica ´e chamada dem´etrica de Bergman.
Visto que vetores negativosZpossuem a ´ultima coordenadazn+1diferente de zero, podemos normalizar
esta coordenada como 1. AssimHn
Bn = ©
z = (z1, z2, . . . , zn), ∈ Cn : hhz, zii<1ª,
sendo que hh·,·ii denota o produto escalar usual emCn.
O grupo de isometrias biholomorfas deHn
C´e PU(n,1) que age no espa¸co hiperb´olico complexo como
transforma¸c˜oes lineares projetivas. Assim PU(n,1) ´e a projetiviza¸c˜ao do grupo unit´ario U(n,1) com respeito `a forma Hermitiana definida acima em Cn,1. Todo o grupo de isometrias de HnC ´e gerado por
PU(n,1) e por conjuga¸c˜oes complexas. Adistˆancia de Bergmanρentre dois pontosz, w∈Hn C´e dada
por
cosh2
µρ(z, w)
2
¶
= hZ, WihW, Zi
hZ, ZihW, Wi
sendo que Z eW s˜ao quaisquer vetores negativos emCn,1 que se projetam emzewrespectivamente.
1.2
O dom´ınio de Siegel e o grupo de Heisenberg
A fronteira de Hn
C ´e a esfera S2n−1 =P(V0). Do mesmo modo, como a fronteira do espa¸co hiperb´olico
real pode ser identificada com a compactifica¸c˜ao em um ponto do espa¸co Euclidiano, a fronteira do espa¸co hiperb´olico complexo pode ser identificada com a compactifica¸c˜ao em um ponto do grupo de Heisenberg.
Antes disso, vejamos odom´ınio de Siegelhn para o espa¸co hiperb´olico complexo. Este ´e o seguinte subconjunto deCn:
hn={(w′, wn)∈Cn |2Re(wn)− hhw′, w′ii >0}
sendo que w′ = (w
1, . . . , wn−1)∈Cn−1. Astransforma¸c˜oes de Cayley
z∈Bn ←→ w∈hn
zj= 2wj
1 + 2wn wj=
zj
1 +zn (1≤j < n)
zn= 1−2wn
1 + 2wn
wn=1
2 1−zn
1 +zn
relacionam o modelo da bola com o dom´ınio de Siegel.
O espa¸co hiperb´olico complexo tamb´em pode ser parametrizado porcoordenadas horoesf´ericas[9, p´agina 522]. Para definir coordenadas horoesf´ericas, ´e necess´ario escolher um ponto ideal q na fronteira do espa¸co hiperb´olico complexo. Feito isso, cada ponto x∈ Hn
C estar´a na interse¸c˜ao de uma horoesfera
centrada em qcom uma geod´esica real partindo de (ou chegando em) q. O ponto usualmente escolhido para definir coordendas horoesf´ericas tem no modelo projetivo coordenadas Q∞ =
0
−1 1
, e ´e denotado
q∞. Estas coordenadas s˜ao (ζ, v, u), pertencentes ao conjuntoS =Cn−1×R×R+, e parametrizamHnC,
no modelo projetivo e no dom´ınio de Siegel, por
ψ: Cn−1×R×R+ −→ HnC
(ζ, v, u) −→
2ζ
1− hhζ, ζii −u+iv
1 +hhζ, ζii+u−iv
Cn−1×R×R
+ −→ hn
(ζ, v, u) −→
" ζ
hhζ, ζii+u−iv
2
#
ondehh·,·iidenota a forma Hermitiana usual definida positiva emCn−1.
A correspondˆencia inversaψ−1 assinala, a cada vetor negativo
z′
zn
zn+1
, emCn,1, as seguintes
coorde-nadas horoesf´ericas:
ζ= z
′
zn+zn+1
, v= Im
µz
n−zn+1
zn+zn+1
¶ ,
u=−Re
µ
zn−zn+1
zn+zn+1
¶
− hhz
′, z′
ii |zn+zn+1|2
.
(1.2)
Esta equa¸c˜ao pode ser escrita como a seguinte igualdade de vetores emCn,1:
z′
zn
zn+1
=
1
2(zn+zn+1)
2ζ
1− hhζ, ζii −u+iv
1 +hhζ, ζii+u−iv
=
1
2(zn+zn+1)ψ(ζ, v, u) (1.3)
Por outro lado, cada pontow= (w′, w
n) no dom´ınio de Siegel hn, define coordenadas horoesf´ericas por
ζ = w′ , v = −2 Im(wn) e u = 2 Re(wn)− hhw′, w′ii.
A fronteira do espa¸co hiperb´olico complexo∂Hn
C≃S2n−1, est´a em correspondˆencia biun´ıvoca com o
conjunto
∂HnC ≃ Cn−1×R× {0} ∪ {q∞},
ondeq∞´e o ponto distinguido no infinito. Para simplificar, vamos utilizar coordenadas (ζ, v), ao inv´es de
(ζ, v,0), para denotar pontos na fronteira.
A identifica¸c˜ao acima, entre o espa¸co hiperb´olico complexo e o dom´ınio de SiegelS=Cn−1×R×R+,
pode ser estendida `a fronteira destes espa¸cos simplesmente adicionando que
ψ: q∞ 7→ Q∞=
0
−1 1
.
Deste modo, podemos identificar a fronteira do espa¸co hiperb´olico complexo com a compactifica¸c˜ao em um ponto dogrupo de HeisenbergH=Cn−1×R. A opera¸c˜ao deste grupo ´e definida por
(ζ, v)∗ (ζ′, v′) = (ζ+ζ′, v+v′+ 2 Imhhζ, ζ′ii).
As coordenadas horoesf´ericas tamb´em s˜ao utilizadas para se definir anorma de Heisenberg| · |0no
dom´ınio de Siegel. Esta norma ´e definida por
|ζ, v, u|0 = | kζk2+u−iv|1/2 = 4
p
Am´etrica de Cygan[15, p´agina 297] emS ´e definida por
ρ0((ζ1, v1, u1),(ζ2, v2, u2)) = |ζ1−ζ2, v1−v2+ 2Imhhζ1, ζ2ii, |u1−u2| |0 (1.5)
1.3
Classifica¸
c˜
ao das Isometrias Holomorfas
Um automorfismo g de Hn
C´e representado por uma transforma¸c˜ao unit´aria ˜g de Cn,1, e os pontos fixos
de g em Hn
C correspondem a autovetores do levantamento ˜g. Pelo teorema do ponto fixo de Brouwer,
todo automorfismo deHn
Cpossui um ponto fixo emHnC ∪ ∂HnC. Ent˜ao, podemos dividir os elementos do
grupo PU(n,1), de isometrias holomorfas deHn
C, em trˆes categorias b´asicas (veja [2] ou [7, p´agina 203]).
Dizemos que g∈PU(n,1) ´e
• el´ıpticosegpossui, pelo menos, um ponto ponto fixo emHn C,
• parab´olico seg possui exatamente um ponto fixo na fronteira deHn C,
• loxodrˆomicosegpossui exatamente dois pontos fixos na fronteira deHn C.
Em dimens˜aon = 2, se um elemento g em PU(2,1) ´e loxodrˆomico, ent˜ao o levantamento ˜g possui autovalores da forma eiθ, k e 1/k, para um certo n´umero real θ e um outro n´umero real positivo k.
Dizemos que este elemento ´ehiperb´olicoseθ= 0.
Um elementog´e el´ıptico se, e somente se,ggera um grupo c´ıclico cujo fecho ´e compacto. Os autovalores da matriz correspondente tˆem sempre norma 1. Dizemos tamb´em que um elemento el´ıpticog´e el´ıptico-regularse todos os autovalores da correspondente matriz degs˜ao distintos. Por outro lado, um elemento el´ıpticog ´eel´ıptico-especialsegpossui pontos fixos na fronteira do espa¸co hiperb´olico complexo.
Um elemento parab´olicog´eunipotenteseg puder ser representado por um elemento unipotente em U(n,1); isto ´e, uma transforma¸c˜ao linear tendo 1 como seus ´unicos autovalores. Este elemento parab´olico
g´eel´ıptico-parab´olicosegn˜ao ´e unipotente. Neste caso,gpossui uma ´unica linha complexa invariante Σ na qualg age como um automorfismo parab´olico (de H1
C) e g age como um automorfismo n˜ao trivial
no fibrado normal `a Σ.
Em [7, p´agina 204], Goldman definiu umafun¸c˜ao discriminante
f :C −→ R
f(z) = |z|4 − 8Re(z3) + 18|z|2 − 27.
que pode ser usada para se determinar a classe de conjuga¸c˜ao de elementos em SU(2,1), o conjunto das matrizes em U(2,1) com determinante igual a 1. De fato, seω3 denota a ra´ız c´ubica primitiva de 1 emC,
podemos enunciar
Teorema 1.3.1 Sejaτ : SU(2,1) −→ Ca fun¸c˜ao que associa a cada matriz o seu tra¸co. SeA∈SU(2,1) ent˜ao
1. A´e el´ıptico-regular se, e somente se,f(τ(A)) < 0; 2. A´e loxodrˆomico se, e somente se,f(τ(A)) > 0;
3. A´e el´ıptico-parab´olico se, e somente se, A n˜ao ´e el´ıptico e τ(A)∈f−1(0)
− {1, ω3, ω23}.
4. A´e uma reflex˜ao complexa (isto ´e, de ordem 2 que fixa ou um ponto ou uma linha complexa emH2 C
se, e somente se,A´e el´ıptico e τ(A)∈f−1(0)
5. A´e parab´olico unipotente se, e somente se,τ(A)∈ {1, ω3, ω32}.
Vejamos agora alguns exemplos importantes de isometrias holomorfas do espa¸co hiperb´olico complexo
H2
C. [7, se¸c˜ao 4.2.2, p´agina 120]
Fixado um ponto (ζ0, v0) do grupo de Heisenberg H = C×R, a transla¸c˜ao de Heisenberg por
(ζ0, v0) ´e a aplica¸c˜aoT(ζ0,v0) em PU(2,1) representada pela seguinte matriz unit´aria
T(ζ0,v0) =
1 ζ0 ζ0
−ζ0 1−12(kζ0k2−iv0) −12(kζ0k2−iv0)
ζ0 12(kζ0k2−iv0) 1 +12(kζ0k2−iv0)
.
Em coordenadas horoesf´ericas, esta isometria age como:
T(ζ0,v0)(ζ, v, u) = (ζ0+ζ , v0+v+ 2 Imhhζ0, ζii, u).
Esta aplica¸c˜ao ´e parab´olica, com ponto fixo o ponto idealq∞, e age transitivamente em cada horoesfera,
centrada emq∞, deH2C.
Adilata¸c˜ao de Heisenbergde fatork >0 ´e representada pela matriz unit´aria
Dk =
1 0 0 0 1+k2k2 1−k2k2 0 1−k2
2k
1+k2 2k
.
Em coordenadas horoesf´ericas,Dk age como:
Dk(ζ, v, u) = (k ζ , k2v , k2u).
Esta aplica¸c˜ao ´e hiperb´olica com pontos fixos (0,0) ∈ H e q∞. Mais ainda, Dk age transitivamente no
conjunto de horoesferas, centradas emq∞, deH2C.
Umacadeia verticalsobre um pontoζ0∈Cno grupo de Heisenberg ´e o conjunto (veja mais detalhes
na se¸c˜ao 1.4)
{ (ζ0, v) : v∈R} ∈ H
A rota¸c˜ao de Heisenbergao redor da cadeia vertical sobre 0∈C´e representada pela seguinte matriz
unit´aria:
A =
eiθ 0 0
0 1 0 0 0 1
,
e age, em coordenadas horoesf´ericas, como
A(ζ, v, u) = (eiθζ , v , u).
Esta aplica¸c˜ao ´e el´ıptica-especial e tem como conjunto de pontos fixos emH2
C∪∂H2C:
½ · z1
z2
¸
∈ B2 tal que z1= 0 e|z2| ≤ 1
¾ .
Um elemento loxodrˆomico, n˜ao hiperb´olico,g ´e conjugado a uma rota¸c˜ao de Heisenberg ao redor da cadeia vertical seguida de uma dilata¸c˜ao de Heisenberg. Portanto g age em coordenadas horoesf´ericas como:
1.4
Subvariedades totalmente geod´
esicas e hipersuperf´ıcies
equi-distantes
Defini¸c˜ao 1.4.1 O produto vetorial Hermitiano
⊠ :C2,1×C2,1−→C2,1
´e definido por(veja [7, p´agina 45])
v⊠w =
v1
v2
v3
⊠
w1
w2
w3
=
v3w2 − v2w3
v1w3 − v3w1
v1w2 − v2w1
Este produto vetorial Hermitiano ⊠ desempenha, no espa¸co vetorial complexo 3-dimensional C2,1, um
papel parecido ao do produto vetorial usual×, no espa¸co EuclidianoR3. Isto ´e, o produto vetorial de dois
vetores ´e um vetor perpendicular aos vetores originais, ou seja,
hv, v⊠wi = hw, v⊠wi = 0.
As subvariedades totalmente geod´esicas do espa¸co hiperb´olico complexoHn
C podem ser listadas (veja
o artigo [2] para mais detalhes); h´a dois tipos: seja J a estrutura quase-complexa de Hn
C herdada da
estrutura usual em Cn,1 pela proje¸c˜ao naturalP. As subvariedades totalmente geod´esicas de Hn C ou s˜ao
holomorfas(seu espa¸co tangente em cada ponto ´e invariante pela estrutura quase-complexaJ deHn Cou
s˜aototalmente reais(cujo espa¸co tangente em cada ponto ´e ortogonal `a sua imagem por J).
Por isometrias do espa¸co hiperb´olico complexo, as subvariedades totalmente geod´esicas holomorfas de
Hn
C s˜ao equivalentes a HkC, para todo inteiro k, 1≤k ≤n, onde este espa¸co hiperb´olico pode ser visto
como um subconjunto de Hn
C, simplemente considerando-se as ´ultimas n−k coordenadas iguais a zero.
Se a codimens˜ao complexa ´e 1, esta subvariedade ´e chamada dehiperplano complexoe se a dimens˜ao complexa ´e 1, delinha complexa.
Os hiperplanos complexos deHn
C possuem uma descri¸c˜ao simples (veja [7, p´agina 99]). Se H ⊂HnC
´e um hiperplano complexo, ent˜aoH =P( ˜H) onde ˜H ⊂Cn,1 ´e um hiperplano linear complexo deCn,1.
Ent˜ao, ˜H⊥´e uma linha positiva. Assim, para qualquer vetor positivoP
∈H˜⊥, temos que
H = {z∈HnC : hz, P˜ i= 0 sendo ˜z∈C
n,1 um levantamento de z
}
Um tal vetorP ´e chamado devetor polar ao hiperplano complexoH.
Em dimens˜aon= 2, os conceitos de hiperplano complexo e linha complexa coincidem. Portanto, toda linha complexa em H2
Cpode ser dada por um vetor polar.
Proposi¸c˜ao 1.4.1 Seja Σ uma linha complexa em H2C e sejam xe y dois pontos distintos de Σ. Para
quaisquer representantes,X eY, destes pontos emC2,1, um vetor polar a esta linha complexa ´e dado por
PΣ = X⊠Y.
As posi¸c˜oes relativas de duas linhas complexas Σ1 e Σ2, emH2C, s˜ao nomeadas da seguinte maneira:
• Σ1e Σ2s˜aoconcorrentesse elas se encontram em um ´unico ponto no interior do espa¸co hiperb´olico
complexo.
• Σ1e Σ2s˜aoassint´oticasse elas se encontram em um ´unico ponto na fronteira do espa¸co hiperb´olico
• Σ1 e Σ2 s˜aoultraparalelasse elas n˜ao se encontram emH2C∪∂H2C.
Defini¸c˜ao 1.4.2 Sejam Σ1 e Σ2 duas linhas complexas em H2C concorrentes em um ponto z ∈ H2C. O
ˆ
anguloφ=∠(Σ1,Σ2)entreΣ1 eΣ2´e definido como o menor ˆangulo Riemanniano entre duas geod´esicas
γ1⊂Σ1 e γ2⊂Σ2 que passam porz.
Da defini¸c˜ao acima, ´e claro que o ˆangulo∠(Σ1,Σ2) pertence ao intervalo 0≤∠(Σ1,Σ2)≤π/2.
Defini¸c˜ao 1.4.3 Sejam Σ1 e Σ2 duas linhas complexas ultraparalelas em H2C. Ent˜ao, existe uma ´unica
linha complexa Σortogonal comum `aΣ1 e `aΣ2. AdistˆanciaentreΣ1 eΣ2 ´e definida como a distˆancia
entre os pontosΣ∩Σ1 e Σ∩Σ2 do espa¸co hiperb´olico complexo.
Em [7, p´agina 100], foi apresentada uma maneira para se determinar o ˆangulo e a distˆancia entre duas linhas complexas, em fun¸c˜ao de vetores polares a elas.
Proposi¸c˜ao 1.4.2 Sejam Σ1 e Σ2 duas linhas complexas emH2C, com respectivos vetores polares P1 e
P2, normalizados de modo que hP1, P1i = hP2, P2i = 1. Neste caso,
1. se |hP1, P2i| < 1, ent˜ao Σ1 e Σ2 s˜ao concorrentes e |hP1, P2i| = cos(φ), onde φ ´e o ˆangulo entre
estas linhas complexas. Neste caso,P1⊠P2´e um vetor negativo, que representa o pontoΣ1∩Σ2.
2. se|hP1, P2i|= 1, ent˜aoΣ1eΣ2s˜ao assint´oticas. Neste caso,P1⊠P2´e um vetor nulo, que representa
o pontoΣ1∩Σ2, contido na fronteira do espa¸co hiperb´olico complexo.
3. se |hP1, P2i| >1, ent˜ao Σ1 e Σ2 s˜ao ultraparalelas e |hP1, P2i|= cosh(ρ/2), onde ρ ´e a distˆancia
entre estas linhas complexas. Neste caso,P1⊠P2 ´e um vetor positivo, polar `a ´unica linha complexa
ortogonal comum aΣ1 e Σ2.
Associado a uma subvariedade totalmente geod´esica complexaF ⊂Hn
C est´a o conceito de proje¸c˜ao
ortogonalΠF :HnC−→F (veja [7, p´agina 75]). De fato, temos queHnC ´e uma variedade Riemanniana
completa e simplesmente conexa de curvatura n˜ao positiva e F ⊂ Hn
C ´e uma subvariedade totalmente
geod´esica e completa. Para todo x∈Hn
C, a fun¸c˜ao distˆancia
Hn C−→R
u 7→ ρ(u, x) ´e uma fun¸c˜ao estritamente convexa ao longo de geod´esicas emHn
C. Visto queF ´e totalmente geod´esica, a
restri¸c˜ao desta fun¸c˜ao `aFtamb´em ´e estritamente convexa e, portanto, possui um ´unico m´ınimo. Definimos ent˜ao ΠF(x)∈ F como sendo o ponto de F mais pr´oximo de x. ´E claro que, a linha geod´esica de xa
ΠF(x) ´e ortogonal `aF em ΠF(x).
Mais ainda, existe umainvers˜aoiF :HnC−→HnCemF. Esta invers˜ao ´e uma aplica¸c˜ao em PU(n,1),
de ordem 2, cujo conjunto de pontos fixos ´e precisamente F e que pode ser definida do seguinte modo: para todox∈Hn
C, ΠF(x) ´e o ponto m´edio, na m´etrica de Bergman, entrexeiF(x).
SeF ⊂Hn
C´e um hiperplano complexo com vetor polarP, ent˜ao a proje¸c˜ao ortogonal ΠF :HnC−→F
sobreF e a invers˜aoiF :HnC−→HnCemF s˜ao dadas por
iF(Z) = −Z + 2h
Z, Pi
hP, PiP ΠF(Z) = Z −
hZ, Pi
sendo que estamos considerandoZ um vetor negativo e P um vetor positivo emCn,1.
Passemos agora a estudar as subvariedades totalmente geod´esicas e totalmente reais. Por isometrias do espa¸co hiperb´olico complexo, elas s˜ao equivalentes a Hk
R, para k inteiro tal que, 1 ≤ k ≤ n, onde
este espa¸co hiperb´olico real pode ser visto como um subconjunto de Hn
C simplesmente considerando-se
as ´ultimasn−k coordenadas iguais `a zero e as primeiraskcoordenadas n´umeros reais. A subvariedade totalmente geod´esica Hk
R ´e chamada de puramente real. Uma tal subvariedade totalmente geod´esica
e totalmente real de dimens˜ao maximal n ´e chamada de Rn-plano. Neste caso, tamb´em temos que,
associado a um Rn-plano est´a o conceito deinvers˜ao. Esta invers˜ao ´e uma isometria anti-holomorfa de Hn
C, de ordem 2, cujo conjunto de pontos fixos ´e precisamente oRn-plano. Em dimens˜aon= 2, a invers˜ao
J noR2-plano puramente realH2R´e dada por
J :
z1
z2
z3
7−→
1 0 0 0 1 0 0 0 1
z1
z2
z3
=
z1
z2
z3
.
Em dimens˜ao n= 2, a interse¸c˜ao de uma linha complexa com a fronteira de H2
C´e uma cadeia e a
interse¸c˜ao de umR2-plano com ∂H2
C´e umR-c´ırculo. No grupo de HeisenbergH=C×R, estas curvas
possuem uma descri¸c˜ao geom´etrica simples (veja [7, se¸c˜oes 4.3 e 4.4]). Uma cadeia ou ´e uma reta vertical ou ´e uma elipse que se projeta, no plano complexo C× {0}, em uma circunferˆencia. Um R-c´ırculo ou
´e uma reta Euclidiana horizontal ou ´e o levantamento horizontal de uma leminiscata contida no plano complexo C× {0}. ´E claro que as invers˜oes em linhas complexas e em R2-planos definem invers˜oes nas
respectivas cadeias eR-c´ırculos emH.
´
E importante observar que no espa¸co hiperb´olico complexo n˜ao existem subvariedades totalmente geod´esicas de codimens˜ao real 1.
Lembre-se do conceito de superf´ıcies equidistantes no espa¸co hiperb´olico complexo (veja os detalhes em [7, cap´ıtulo 5]): sejam z1 e z2 dois pontos distintos emHCn. Obissetor equidistante dez1 ez2 ´e
definido por
B = B{z1, z2} = {z∈H2C|ρ(z, z1) =ρ(z, z2)}
Seja Σ ⊂ Hn
C a ´unica linha complexa contendo z1 e z2 e seja σ ⊂ Σ a geod´esica de Σ que bissecta o
segmento geod´esico que liga z1 a z2. Chamamos Σ de espinha complexa e σ de espinha real do
bissetorB.
Um bissetor ´e uma subvariedade de codimens˜ao real 1 emHn
C; portanto n˜ao ´e totalmente geod´esico.
Mas ele possui duas decomposi¸c˜oes em subvariedades totalmente geod´esicas: uma por subvariedades holo-morfas e outra por subvariedades totalmente reais. Estas decomposi¸c˜oes s˜ao chamadas dedecomposi¸c˜ao em fatias de Mostowedecomposi¸c˜ao em meridianos de Goldman.
Teorema 1.4.1 (decomposi¸c˜ao em fatias) Seja B um bissetor em Hn
C com espinha complexa Σ e
espinha real σ. SeΠΣ:HnC→Σdenota a proje¸c˜ao ortogonal sobreΣ, ent˜ao
B = Π−1Σ (σ) = [
s∈σ
Na igualdade acima, ´e claro que, para cada s ∈ σ, Π−1Σ (s) ´e uma linha complexa ortogonal `a Σ em s.
Estas linhas complexas s˜ao asfatiasdo bissetorB.
Teorema 1.4.2 (decomposi¸c˜ao em meridianos) Seja B um bissetor em Hn
C com espinha real σ.
Ent˜ao, para cadak satisfazendo 2≤k≤n,B ´e a uni˜ao de todos osRk-planos contendoσ.
OsRn-planos contendo a espinha real de um bissetor s˜ao chamados demeridianos.
´
E claro que uma linha geod´esica completaσemHn
Cdefine um ´unico bissetor. Assim, os pontos finais
V1 e V2 desta geod´esica em ∂HnC tamb´em definem, de maneira ´unica, este bissetor. Este pontos s˜ao os
v´erticesdo bissetor de espinha realσ.
A interse¸c˜ao de um bissetor com a fronteira do espa¸co hiperb´olico complexo ´e chamada de esfera espinal. Do mesmo que bissetores, uma esfera espinal tamb´em se decomp˜oe em fatias e meridianos, que s˜ao fronteiras das fatias e meridianos do bissetor, e tamb´em fica unicamente definida pela escolha dos seus v´ertices.
As invers˜oes em fatias e meridianos de um bissetor deixam o bissetor invariante.
Teorema 1.4.3 Seja B um bissetor emHn C.
1. SeF ´e uma fatia deB, ent˜ao a invers˜aoiF permuta os v´ertices deB, portanto deixaB invariante
e tamb´em deixa invariante cada meridiano deB.
2. SeM ´e um meridiano de B, ent˜ao os v´ertices deB s˜ao fixados pela invers˜aoiM, logo iM deixaB
invariante. iM tamb´em deixa invariante cada fatia de B.
Os exemplos mais simples de bissetores em H2
C, s˜ao aqueles que tˆem como fronteira as esferas de
Heisenbergou osplanos de contato, que definimos a seguir, usando no grupo de HeisenbergH=C×R
coordenadas horoesf´ericas (ζ, v),ζ=x+iy.
Sejap0 = (ζ0, v0) um ponto qualquer no grupo de Heisenberg e sejaR um n´umero real positivo. A
esfera de HeisenbergI de centrop0 = (ζ0, v0) e raioR ´e a esfera, na m´etrica de Cygan, com este centro
e este raio, isto ´e, I = {p∈ H |ρ0(p, p0) = R}. Se p= (ζ, v), ent˜ao I ´e caracterizada pela seguinte
equa¸c˜ao:
|ζ−ζ0|4 +
·
v −v0 − 2 Im
µ ζ0ζ
¶¸2
= R4
Os v´ertices desta esfera de Heisenberg s˜ao os pontosV1= (ζ0, v0+R2) eV2= (ζ0, v0−R2). Portanto, a
espinha complexa da esfera de HeisenbergI´e a cadeia vertical sobre o seu centro.
Sejap0= (ζ0, v0) um ponto qualquer no grupo de Heisenberg. O plano de contatoE(ζ0,v0), definido por
p0, ´e a esfera espinal que tem como v´ertices o ponto idealq∞e o pontop0. Em coordenadas horoesf´ericas,
esta esfera espinal ´e dada pela equa¸c˜ao
v = v0 − 2 Im
µ ζ ζ0
¶
= v0 + 2y0x −2x0y,
ondeζ0=x0+iy0 e (ζ=x+iy, v) ´e um ponto emE(ζ0,v0). ´E claro que a espinha complexa desta esfera
1.5
A estrutura CR para o espa¸
co de Heisenberg
A fronteira do espa¸co hiperb´olico complexoHn
C´e a compactifica¸c˜ao em um ponto do grupo de Heisenberg
H =Cn−1×Re admite uma estrutura natural de Cauchy-Riemann (CR-estrutura), isto ´e, um campo
de hiperplanos E ⊂ T ∂Hn
C possuindo uma estrutura complexa satisfazendo v´arias propriedades. Esta
estrutura de Cauchy-Riemann define a estrutura do espa¸co hiperb´olico complexo no sentido que um CR-automorfismo holomorfo da ∂Hn
C se estende unicamente como uma isometria holomorfa de HnC e,
reciprocamente, cada isometria do espa¸co hiperb´olico complexo define um automorfismo de contato desta CR-estrutura.
Em geral, uma hipersuperf´ıcie realH, bastante regular, em uma variedade complexaM, admite uma tal estrutura. Para todox∈H, lembramos que esta estrutura CR emx´e definida por: [9, p´agina 523]
Ex = TxH ∩ J(TxH)
sendo que J:TxH →TxH denota a estrutura quase-complexa deM.
Neste sentido ent˜ao, toda horoesferaHu⊂HnCadmite uma tal estrutura de Cauchy-Riemann. Mais
ainda, veremos que a perspectiva geod´esica preserva o campo de hiperplanos que define a estrutura CR deHn
C. Desta propriedade, poderemos definir uma estrutura CR na fronteira∂HnC do espa¸co hiperb´olico
complexo.
Para isso vamos fazer uso do operador diferencial realdc, definido como sendo a parte imagin´aria do
operador diferencial complexo 2∂, isto ´e,
dc= 2Im(∂) =−i(∂−∂).
Lema 1.5.1 Seja M uma variedade complexa e seja H uma hipersuperf´ıcie real de M definida por
H =f−1(0)sendoOum valor regular de uma fun¸c˜ao diferenci´avelf :M →R. Ent˜ao,ω=dcf :T M →R
´e uma calibra¸c˜aopara a estrutura CR de H induzida do seu mergulho na variedade complexaM. Isto ´e, para todox∈H, temos queEx= Ker{dcfx:TxH→R}.[7, p´agina 59]
Vamos determinar agora uma 1-forma que calibra a estrutura de Cauchy-Riemann da fronteira do espa¸co hiperb´olico complexo. Esta 1-forma de contato ω depende do potencial de K¨ahler associado ao ponto q∞, no infinito do grupo de Heisenberg. Para este fim, considere agora o dom´ınio de Siegel
hn={(w1, . . . , wn)∈Cn |2Re(wn)− hhw′, w′ii >0}
para o espa¸co hiperb´olico complexo. Cada horoesferaHu, do espa¸co hiperb´olico complexo, ´e definida como
o conjunto de n´ıvelf−1(u) da fun¸c˜aof(w) = 2Re(w
n)− hhw′, w′ii.Deste modo, estas horoesferas tamb´em
s˜ao os conjuntos de n´ıvel do potencial de K¨ahler associado a q∞, ψq∞(w) = ln(2Re(wn)− hhw
′, w′
ii). O potˆencial de K¨ahler ´e invariante pelo estabilizador de q∞ em PU(n,1), mas a fun¸c˜ao f, acima, n˜ao ´e
invariante por este grupo de isotropia. Ent˜ao, para definirmos a estrutura de Cauchy-Riemann em cada horoesfera, ´e melhor utilizarmos o potencial de K¨ahler ao inv´es da fun¸c˜aof. Pelo lema anterior, a estrutura de Cauchy-Riemann em cada horoesfera ´e calibrada pela 1-forma ω =dcψ
q∞ no sentido que para cada
x∈Hn
C, se Hu ´e a ´unica horoesfera contendo x, ent˜ao o campo de hiperplanos Ex⊂Tx(Hu) ´e o n´ucleo
do funcional linearωx|TxHu :TxHu → R.
Em coordenadas horoesf´ericas (ζ, v, u) ∈ Cn−1×R×R+ para o espa¸co hiperb´olico complexo, esta
1-forma de contatoω´e dada por: [7, p´agina 123]
ω = 1
u(dv − 2Imhhζ, dζii) =
1
u(dv + 2xdy−2ydx) =
1
u
dv + 2
n−1
X
j=1
(xjdyj −yjdxj)
ondeζ= (ζ1, . . . , ζn−1) eζj=xj+iyj.
Finalmente, vejamos como definir uma estrutura de Cauchy-Riemann para o grupo de Heisenberg
H = ∂HnC− {q∞}. De maneira geom´etrica, a fun¸c˜ao que identifica as diversas horoesferas de H n C ´e a
perspectiva geod´esica [9, p´agina 522]
Πu:Ht −→ Hu
(ζ, v, t) 7→ (ζ, v, u).
Claramente, esta aplica¸c˜ao preserva este campo de hiperplanos emHn
C. Daqui, podemos dizer que este
campo de hiperplanos ´e paralelo ao longo de geod´esicas que terminam no ponto ideal q∞. De maneira
anal´ıtica, vimos que para cadax= (ζ, v, u)∈ S, a estrutura CR em x´e o hiperplano real deTxHu dado
por
Ex = Kerωx = Ker
µ
1
u(dv + 2xdy−2ydx) ¶
= Ker (dv + 2xdy−2ydx)
o qual ´e independente da coordenada horoesf´ericau. Isto demonstra a afirma¸c˜ao acima, de que este campo de hiperplanos ´e paralelo ao longo de perspectivas geod´esicas. Ent˜ao, no grupo de HeisenbergHtamb´em podemos definir uma estrutura de Cauchy-Riemnann, como o campo de hiperplanos
Ker (dv + 2xdy−2ydx).
Mais ainda, a 1-forma de contato que calibra esta estrutura de Cauchy-Riemann ´e dada por
ω = dv + 2xdy−2ydx , ∀(ζ, v)∈ H onde ζ=x+iy.
1.6
Esferas isom´
etricas
Nesta se¸c˜ao, os bissetores ser˜ao relacionados com calibra¸c˜oes da estrutura de Cauchy-Riemann da fronteira do espa¸co hiperb´olico complexo. Lembre-se, pelo lema 1.5.1, que seU ´e uma vizinhan¸ca de∂Hn
C⊂P(Cn,1)
e sef :U →R´e uma fun¸c˜ao diferenci´avel com valor regular 0 e se f−1(0) =∂HnC, ent˜ao a restri¸c˜ao de
dcf `a ∂Hn
C ´e uma 1-forma de contato calibrando a estrutura CR na∂HnC. O espa¸co das calibra¸c˜oes da
estrutura CR da∂Hn
C ´e denotado por Cal(∂HnC). Observe que este conjunto ´e 1-dimensional no sentido
que seω1, ω2∈Cal(∂HnC), ent˜ao existe uma fun¸c˜aoλ:∂HnC→Rtal queω1=λω2.
Seg´e um autormorfismo da estrutura CR da ∂Hn
Ce se ω ∈Cal(∂HnC), tem-se queg∗ω∈Cal(∂HnC).
Isto implica que existe uma fun¸c˜aoJg,ω :∂HnC→Rtal que
g∗ω = Jg,ωω.
Esta fun¸c˜aoJg,ω ´e chamada dedistor¸c˜aode g com respeito aω [7, p´agina 179]. A esfera isom´etrica
degcom respeito aω, denotada porIg,ω, ´e o conjunto dos pontos para os quais a calibra¸c˜aoω n˜ao muda
porg, isto ´e,
Ig,ω = {z∈∂HCn : Jg,ω(z) = 1}.
Portanto, associadas a diferentes calibra¸c˜oes podem ser definidas diferentes esferas isom´etricas para um mesmo automorfismo g. Vejamos agora alguns casos particulares de calibra¸c˜oes, associadas a entidades geom´etricas deHn
C, que ir˜ao definir esferas isom´etricas de interesse geom´etrico: as esferas isom´etricas de
1.6.1
Esferas isom´
etricas de Dirichlet
A esfera isom´etrica de Dirichlet de um automorfismogdeHn
Cser´a definida como a esfera isom´etrica deg
com respeito a uma 1-forma de contatoωxdefinida por um potencial de K¨ahlerψxassociado a um ponto
xno interior do espa¸co hiperb´olico complexo.
Precisamente, sejaxqualquer ponto no interior do espa¸co hiperb´olico complexo. O potencial de K¨ahler
ψx:HnC→Rassociado ax´e dado por
ψx(z) = 2 ln sech
µ ρ(z, x)
2
¶
= lnhX, XihZ, Zi
hX, ZihZ, Xi,
sendo que X eZ s˜ao quaisquer vetores negativos emCn,1 que se projetam, respectivamente, emxez.
Este potencial de K¨ahler define uma fun¸c˜ao diferenci´avel Ψx= expψx:HnC→Rdada por
Ψx(z) = sech2
µρ(z, x)
2
¶
= hX, XihZ, Zi
hX, ZihZ, Xi,
que pode ser estendida a uma fun¸c˜ao diferenci´avel numa vizinhan¸ca U de Hn
C ⊂ P(Cn,1) e que define a
fronteira do espa¸co hiperb´olico complexo como∂Hn
C= Ψ−1x (0). Ent˜ao,
ωx = dcΨx|∂Hn
C
define uma calibra¸c˜ao para a estrutura de Cauchy-Riemann de∂Hn
C, isto ´e,ωx∈Cal(∂HnC).
Agora, seja g um automorfismo qualquer da estrutura CR da ∂Hn
C. Se x∈ HnC, a esfera isom´etrica
Ig,xdeg com respeito a 1-forma de contatoωx´e chamada deesfera isom´etrica de Dirichletdegcom
respeito ax. ´
E poss´ıvel provar, veja [3, se¸c˜ao 1.5] que esta esfera isom´etrica ´e caracterizada por uma equa¸c˜ao envolvendo forma hermitiana de assinatura (n,1) em Cn,1 e, uma vez que o ponto base x ∈ Hn
C, esta
equa¸c˜ao ´e equivalente a uma equa¸c˜ao envolvendo a fun¸c˜ao distˆanciaρda m´etrica de Bergaman deHn C:
Ig,x = {z∈∂HnC : |hZ, Xi| = |hZ, g−1(X)i| }
= {z∈Hn
C : ρ(z, x) = ρ(z, g−1(x))}.
Ou seja,Ig,x´e a interse¸c˜ao de um bissetor equidistante com a fronteira do espa¸co hiperb´olico complexo.
Observe ainda que, se x ´e um ponto fixo do automorfismo g, ent˜ao esta esfera isom´etrica Ig,x se
degenera a todo o espa¸co hiperb´olico complexo.
1.6.2
Esferas isom´
etricas de Ford
Vamos agora definir esfera isom´etrica de Ford de um automorfismog deHn
C. Ser´a definida como a esfera
isom´etrica deg com respeito a uma calibra¸c˜ao associada a um pontoqna fronteira do espa¸co hiperb´olico complexo.
Sejaq ∈ ∂Hn
C um ponto qualquer na fronteira do espa¸co hiperb´olico complexo, e seja Q∈ Cn,1 um
vetor nulo representandoq. O potencial de K¨ahlerψQ:HnC→Rassociado aQ´e dado por
ψQ(z) = ln− h
Z, Zi
hZ, QihQ, Zi,
Este potencial de K¨ahler define uma fun¸c˜ao diferenci´avel ΨQ= expψQ :HnC→Rdada por
ΨQ(z) = − h
Z, Zi
hZ, QihQ, Zi,
que pode ser estendida a uma fun¸c˜ao diferenci´avel numa vizinhan¸caU deHn
C emP(Cn,1) e que define a
fronteira do espa¸co hiperb´olico complexo como∂Hn C= Ψ
−1
Q (0). Ent˜ao,
ωQ = dcΨQ|∂Hn
C
define uma calibra¸c˜ao para a estrutura de Cauchy-Riemann de∂Hn
C, isto ´e,ωQ ∈Cal(∂HnC).
Agora, sejagum automorfismo qualquer da estrutura CR da fronteira deHn
C. A esfera isom´etricaIg,q
de g com respeito a esta 1-forma de contato ωQ ´e chamada de esfera isom´etrica de Ford de g com
respeito ao ponto da fronteiraq [7, se¸c˜ao 5.4.4]. Para isto fazer sentido, precisamos demonstrar que esta defini¸c˜ao independe do representanteQdo pontoq. De fato, vamos demonstrar que a fun¸c˜ao de distor¸c˜ao
Jg,Q degcom respeito a 1-formaωQ n˜ao depende deQ, isto ´e, que para todo n´umero complexo n˜ao nulo
λ n´os temos queJg,λQ = Jg,Q. Para este fim, observe que o potencial de K¨ahler ψQ, a fun¸c˜ao ΨQ e
a forma de contato ωQ dependem do representante Q para o ponto da fronteira q. De fato, para todo
n´umero complexoλ6= 0, tem-se
ψλQ = ψQ − ln|λ|2,
ΨλQ =
1
|λ|2ΨQ ,
ωλQ = 1
|λ|2ωQ .
Como as fun¸c˜oes de distor¸c˜ao deg, Jg,Q e Jg,λQ, com respeito as formas de contato ωQ eωλQ, s˜ao
respectivamente definidas pelas equa¸c˜oes
g∗ωQ = Jg,QωQ e g∗ωλQ = Jg,λQωλQ,
podemos concluir que
g∗ωλQ = g∗
µ 1
|λ|2ωQ
¶
= 1
|λ|2g ∗ω
Q =
1
|λ|2Jg,QωQ =
1
|λ|2Jg,Q|λ| 2ω
λQ = Jg,QωλQ.
Destas equa¸c˜oes, segue a nossa afirma¸c˜ao Jg,λQ = Jg,Q. De agora em diante ent˜ao, podemos nos
referir a fun¸c˜ao de distor¸c˜ao Jg,q deg com respeito a um ponto da fronteiraq e tamb´em, para definir a
esfera isom´etrica de Ford de g, podemos utilizar a forma de contato ωQ, para qualquer representanteQ
deqemCn,1.
´
E poss´ıvel demonstrar, veja [3, se¸c˜ao 1.5], as seguintes propriedades:
• A esfera isom´etrica de Ford ´e caracterizada por uma equa¸c˜ao envolvendo a forma hermitiana de assinatura (n,1) emHn
C:
Ig,q = {z∈∂HnC : |hZ, Qi| = |hZ, g−1(Q)i| };
• Embora esta equa¸c˜ao n˜ao possa ser traduzida em termos da fun¸c˜ao distˆancia ρ da m´etrica de Bergman deHn
C, pois o ponto base q est´a agora na fronteira ∂HnC, a fun¸c˜ao de Busemann [7]
hQ(z) =ln−h
Z, QihQ, Zi
hZ, Zi pode ser utilizada:
• A esfera isom´etrica de Ford de um automorfismogcom rela¸c˜ao ao ponto idealq´e uma esfera espinal (isto ´e, a interse¸c˜ao de um bissetor equidistante com a fronteira do espa¸co hiperb´olico complexo) cuja espinha complexa passa porq. Quando trabalhamos com coordenadas horoesf´ericas definidas a partir do pontoq, esferas espinais cujas espinhas complexas passam porq recebem o nome especial deesferas espinais verticais.
• [15] A esfera isom´etrica de Ford ´e uma esfera na m´etrica de Cygan para∂Hn
C. Para isto, fixemos
coordenadas horoesf´ericas usuais, a partir do ponto idealq∞=
0
−1 1
. Sejagum automorfismo que
n˜ao fixaq∞, representado pela seguinte matriz em SU(n,1):
A α β γ∗ a b
δ∗ c d
,
sendo queA∈U(n−1) eα, β, γ, δs˜ao vetores coluna emCn−1e que∗denota a transposta conjugada
de uma matriz. A esfera isom´etrica de Ford deh´e a esfera, na m´etricaρ0, com centroqg=g−1(q∞)
e raioRg =
s
2
|a−b+c−d|. Isto ´e,Ig,q∞ = {z∈H
n
C : ρ0(z, qg) =Rh}.
Isto significa em particular queIg,q∞pode ser vista como a imagem da esfera de Heisenberg unit´aria
centrada na origem deH(dada pela equa¸c˜aokζk4+v2= 1) por uma similaridade: primeiro aplique
a dilata¸c˜ao de Heisenberg de fatorRg seguida por uma transla¸c˜ao de Heisenberg pelo vetorqg.
• Como em geometria hiperb´olica real, aqui tamb´em o dom´ınio fundamental de Ford para um grupo discreto de isometrias ser´a definido como o exterior comum das esferas isom´etricas dos elementos n˜ao triviais do grupo. Sendo a interse¸c˜ao de um bissetor equidistante com∂Hn
C, cada esfera isom´etrica
Ig,q de um automorfismo g que n˜ao fixa q divide ∂HnC em dois semi-espa¸cos, um deles contendo
o ponto ideal q, que ser´a chamado de exterior de Ig,q. Assim sendo, fixando q =q∞ para definir
coordenadas horoesf´ericas e utilizar a m´etrica de Cygan, ointeriore oexteriordeIg,q∞ =Ig est˜ao
definidos por:
Int (Ig) ={z∈∂HnC: ρ0(z, g−1(q∞))< Rg} = {z∈∂HnC: |hZ, Q∞i|>|hZ, g−1(Q∞i| },
Ext (Ig) ={z∈∂HnC: ρ0(z, g−1(q∞))> Rg} = {z∈∂HnC: |hZ, Q∞i|<|hZ, g−1(Q∞i| }.
Nesse caso, podemos enunciar, como no caso de geometria hiperb´olica real, o seguinte resultado [3, proposi¸c˜ao 1.5.4]
Proposi¸c˜ao 1.6.1 Seja g∈PU(n,1) tal queg(q∞)6=q∞. Ent˜ao
g(Int (Ig))⊂Ext¡Ig−1
¢
e g(Ext (Ig))⊂Int¡Ig−1
¢
Observa¸c˜ao: As eferas isom´etricas de Dirichlet e de Ford s˜ao definidas na fronteira do espa¸co hiperb´olico complexo. Mas, como mostram as propriedades enunciadas estas esferas s˜ao de fato esferas espinais em
∂Hn
C. Assim, podemos estender o conceito de esfera isom´etrica ao interior do espa¸co hiperb´olico complexo,
simplesmente considerando o bissetor que define esta esfera espinal. Deste modo as esferas isom´etricas de Dirichlet e de Ford podem ser consideradas emHn
Cou em∂HnC ou emHnC∪∂HnC. E todos os resultados
Cap´ıtulo 2
Dom´ınios fundamentais para grupos
discretos de isometrias holomorfas
Lembrando que um dos objetivos deste trabalho ´e caracterizar o poliedro de Ford para grupos c´ıclicos de isometrias holomorfas, neste cap´ıtulo vamos formalizar o conceito de dom´ınio fundamental para a a¸c˜ao de subgrupos discretos de PU(2,1) tanto no espa¸co hiperb´olico complexoHn
C como em sua fronteira∂HnC.
Tamb´em vamos enunciar os resultados que garantem que os poliedros de Ford e Dirichlet para grupos discretos s˜ao dom´ınios fundamentais.
Veremos ainda os teoremas de Poincar´e, relacionado com a constru¸c˜ao de grupos discretos a partir de poliedros fundamentais, e de Giraud, relacionado com os ciclos de arestas dos poliedros fundamentais de Ford e Dirichlet.
2.1
O dom´ınio fundamental de Ford em geometria hiperb´
olica
complexa
Phillips, [18] define um dom´ınio fundamental para a a¸c˜ao em Hn
C de um grupo discreto de isometrias
holomorfas (subgrupo discreto de PU(n,1)):
Defini¸c˜ao 2.1.1 Seja G um subgrupo discreto de PU(n,1). Um dom´ınio fundamental para G´e um subconjunto aberto e conexo F deHn
C tal que
1. vol(∂F) = 0 (volume Riemanniano),
2. F n˜ao cont´em pontosG-equivalentes e, para todoz∈Hn
C, existeg∈Gtal queg(z)∈F,
3. F´elocalmente finito, isto ´e, cada subconjunto compacto deHn
Cintercepta somente uma quantidade
finita deG-imagens de F.
Um caso especial de dom´ınios fundamentais s˜ao os poliedros fundamentais, que aparecem naturalmente considerando esferas de Ford e Dirichlet.
Um subconjuntoF ⊂Hn
C´e umpoliedroseF ´e a interse¸c˜ao de uma quantidade finita ou enumer´avel
de semi-espa¸cos abertos em Hn
C. Umsemi-espa¸coem HnC ´e uma componente conexa do complementar
de um bissetor emHn
C. O fecho deF possui ent˜ao uma decomposi¸c˜ao em c´elulas dada pelas interse¸c˜oes
dos bissetores que definem F. Uma k-c´elula nesta decomposi¸c˜ao ´e chamada de k-face deF. Tamb´em, as faces de codimens˜ao um s˜ao chamadas deladosdeF, e as faces de codimens˜ao dois s˜ao chamadas de
Defini¸c˜ao 2.1.2 SejaGum subgrupo discreto dePU(n,1). Um poliedroF ´e umpoliedro fundamental paraGem Hn
C se as seguintes condi¸c˜oes s˜ao satisfeitas:
1. Para todo elemento n˜ao trivialg∈G,g(F)∩F=∅. 2. Para todoz∈Hn
C, existe g∈G tal queg(z)∈F.
3. Os lados deF s˜ao, dois a dois, identificados por elementos deG; isto ´e, para cada ladosexiste um lados′, e existe um elementog
s∈G, comgs(s) =s′. Esta identifica¸c˜ao deve satisfazer: gs′ =g−1
s
e(s′)′=s.O elemento g
s´e chamado de transforma¸c˜ao identificadora de lado.
4. F ´e localmente finito, isto ´e, qualquer subconjunto compacto deHn
Cintercepta somente uma
quanti-dade finita de imagens deF por elementos deG.
Como em geometria hiperb´olica real podemos caracterizar um subgrupoGde PU(n,1) discreto como aquele que age livre e descontinuamente em algum ponto de ∂Hn
C. Denotamos por Ω◦(G) ⊂ ∂HnC o
conjunto dos pontos ondeGage livre e descontinuamente. A demonstra¸c˜ao do pr´oximo teorema pode ser encontrada em [3, se¸c˜ao 2.4]. Lembrando que esferas isom´etricas de Ford dependem da escolha de um ponto idealq∈∂HnC, fixamos aqui q=q∞.
Teorema 2.1.1 Seja Gum subgrupo de PU(n,1)tal queq∞∈Ω◦(G). Ent˜ao,
F(G) = \
g∈G−{id}
Ext (Ig)
´e um dom´ınio fundamental para a a¸c˜ao de GemHn C.
Uma propriedade importante de um poliedro fundamental ´e a que afirma que as aplica¸c˜oes identificado-ras de lados geram o grupo originalG. No caso do espa¸co hiperb´olico real, este teorema est´a demonstrado em [13, IV.F.6, p´agina 70] ou em [1, teorema 9.3.3, p´agina 220]. A demonstra¸c˜ao do livro de Maskit pode ser aplicada para se demonstrar este mesmo fato no caso do espa¸co hiperb´olico complexo. Assim, podemos enunciar o seguinte teorema.
Teorema 2.1.2 Seja F um poliedro fundamental para um subgrupo discreto G de PU(n,1). Ent˜ao, as aplica¸c˜oes identificadoras de lados deF geram G.
2.2
O dom´ınio fundamental de Ford em geometria CR-esf´
erica
Vamos considerar agora a a¸c˜ao de um subgrupo discreto de PU(n,1) na fronteira∂Hn
Cdo espa¸co hiperb´olico
complexo. Novamente o poliedro de Ford ser´a um dom´ınio fundamental.
A seguinte defini¸c˜ao, para um poliedro fundamental, ´e uma generaliza¸c˜ao da defini¸c˜ao do livro do Maskit [13, p´agina 29], para um dom´ınio fundamental para grupos de transforma¸c˜oes conformes agindo no plano complexo estendido ˆC. Denotamos por Ω = Ω(G) o conjunto de pontos regulares deGem∂HnC,
isto ´e, o conjunto dos pontos ondeGage descontinuamente. Um subconjuntoF ⊂∂Hn
C´e umpoliedroseF´e a interse¸c˜ao de uma quantidade finita ou enumer´avel
de semi-espa¸cos abertos em∂Hn
C. Umsemi-espa¸coem∂HnC´e uma componente conexa do complementar
de uma esfera espinal em ∂Hn
C. O fecho de F possui ent˜ao uma decomposi¸c˜ao em c´elulas dada pelas
interse¸c˜oes das esferas espinais que definemF. Umak-c´elula nesta decomposi¸c˜ao ´e chamada dek-facede
Defini¸c˜ao 2.2.1 Seja G um subgrupo discreto de PU(n,1). Um poliedro F ⊂ ∂Hn
C ´e um poliedro
fundamental paraGem∂Hn
Cse as seguintes condi¸c˜oes s˜ao satisfeitas:
1. Para todo elemento n˜ao trivialg∈G,g(F)∩F=∅. 2. Para todoz∈Ω⊂Hn
C, existeg∈Gtal queg(z)∈F.
3. A fronteira deF consiste de pontos limites e de uma cole¸c˜ao finita ou enumer´avel de lados deF. 4. Os lados deF s˜ao, dois a dois, identificados por elementos deG; isto ´e, para cada ladosexiste um
lados′ e existe um elementog
s∈G, comgs(s) =s′. Esta identifica¸c˜ao deve satisfazer: gs′ =g−1
s e
(s′)′ =s. O elemento g
s´e chamado detransforma¸c˜ao identificadora de lado.
5. Se {sm} ´e uma sequˆencia de lados de F ent˜ao o diˆametro de Cygan dia0(sm) de sm tende a zero
quandom tende a infinito, isto ´e, os lados deF se acumulam somente em pontos limites.
6. Somente uma quantidade finita de imagens deF por elementos deGintercepta qualquer subconjunto compacto deΩ.
Fazendo referˆencia novamente a [3], enunciamos os pr´oximos resultados. Como usualmente, fixamos o ponto idealqem rela¸c˜ao ao qual as esferas de Ford est˜ao definidas comoq=q∞.
Teorema 2.2.1 Seja Gum subgrupo de PU(n,1)tal queq∞∈Ω◦(G). Ent˜ao,
F(G) = \
g∈G−{id}
µ
Ext (Ig) ∩∂HnC
¶
´e um poliedro fundamental para a a¸c˜ao de Gem∂Hn C.
Neste caso, tamb´em ´e verdadeira a afirma¸c˜ao de que as aplica¸c˜oes identificadoras de lado geram o grupo originalG.
Teorema 2.2.2 SejaGum subgrupo dePU(n,1)tal queq∞∈Ω◦(G), e sejaDum dom´ınio fundamental,
paraG, limitado por esferas isom´etricas de Ford de elementos emG. Ent˜ao,D ´e o dom´ıno fundamental de Ford de G, isto ´e,
D = \
g∈G−{id}
Ext (Ig) = F(G).
Este ´ultimo resultado significa que o poliedro de Ford de um grupo discreto G ´e o ´unico dom´ınio fundamental para Gque ´e limitado por esferas isom´etricas de Ford
2.3
O Teorema dos Poliedros de Poincar´
e
Aqui ´e apresentada uma vers˜ao do Teorema dos Poliedros de Poincar´e para geometria hiperb´olica com-plexa. Este teorema fornece condi¸c˜oes suficientes para que um dado poliedro D em Hn
C, com faces
identificadas por elementos de PU(n,1), seja um dom´ınio fundamental para o grupo gerado por estes identificadores de lados.
Considere um poliedro finitoD em H2
C (veja se¸c˜ao 2.1), sendo que os lados de D est˜ao, dois a dois,
identificados por elementos de PU(2,1). Vamos escrever condi¸c˜oes sobreDque v˜ao assegurar que o grupo
G, gerado por estes identificadores de lados, seja discreto, e queDseja um poliedro (dom´ınio) fundamental paraG.
A primeira condi¸c˜ao ´e a de que os lados deDsejam, dois a dois, identificados por elementos de PU(2,1), isto ´e, para cada ladoadeD, existe um ladoa′, n˜ao necessariamente distinto dea, e existe um elemento
ga ∈PU(2,1), satisfazendo as seguintes condi¸c˜oes:
(1)ga(a) =a′,
(2)ga′ =g−1
a .
As isometriasga s˜ao chamadas deaplica¸c˜oes identificadoras de lados.
(3)ga(D)∩D=∅.
(4)ga(D)∩D=a′.
SejaGo grupo gerado pelas aplica¸c˜oes identificadoras de lados. Observe que se existe um ladoa, com
a′=a, ent˜ao a condi¸c˜ao (2) implica queg2
a = 1. Se isto ocorrer, a rela¸c˜aog2a= 1, ´e chamada derela¸c˜ao
de reflex˜ao.
As pr´oximas condi¸c˜oes s˜ao relacionadas com as arestas deD. Em geral, a interse¸c˜ao de dois bissetores ´e complicada. Em particular, ela pode ser desconexa [7]. Portanto, impomos que
(5)N˜ao existem lados deDtangentes na fronteira deH2
Ce, cada aresta deD´e uma subvariedade completa
deH2
Chomeomorfa a um disco aberto.
Observe que as identifica¸c˜oes de lados definem uma rela¸c˜ao de equivalˆencia sobre as arestas deD; cada classe de equivalˆencia de arestas pode ser ciclicamente ordenada como segue. Comece com uma arestae1.
Ela pertence `a fronteira de dois lados; vamos chamar um destes lados de s1. Ent˜ao, existe um lado s′1 e
existe uma aplica¸c˜ao identificadora de ladog1 tal queg1(s1) =s′1. Sejae2=g1(e1). Comoe1, a arestae2
pertence `a fronteira de exatamente dois lados, um deles ´es′
1, e o outro ser´a chamado des2. Novamente,
existe um lados′
2e uma aplica¸c˜ao identificadora de ladog2, comg2(s2) =s′2. Continuando desta maneira,
podemos gerar uma sequˆenciaej de arestas, uma sequˆenciagj de transforma¸c˜oes identificadoras de lados,
e uma sequˆencia (sj, s′j) de pares de lados identificados. Visto que D possui um n´umero finito de lados,
a sequˆencia de arestas ´e peri´odica; assim todas estas trˆes sequˆencias tamb´em s˜ao peri´odicas. Seja k o menor per´ıodo de modo que estas trˆes sequˆencias sejam peri´odicas, com per´ıodok. A sequˆencia ordenada ciclicamente de arestase1, e2, . . . , ek ´e chamada deciclo de arestas. O n´umerok´e oper´ıododo ciclo.
Observe que
gk ◦ · · · ◦ g1(e1) = e1 .
O elementohe1 = gk ◦ · · · ◦ g1 ´e chamado detransforma¸c˜ao c´ıclicada arestae1.
Dada uma transforma¸c˜ao c´ıclica h, como acima, e dado um inteiro positivo m, defina a seguinte sequˆencia demkelementosh1, . . . , hmk deG:
h1=g1 , h2=g2g1 , h3=g3g2g1 , . . . , hk=h,
hk+1=g1h , hk+2=g2g1h , . . . , hmk−1=gk−1· · · g2g1hm−1 , hmk=hm.
SejaF(h) a seguinte fam´ılia de poliedros:
(6)A restri¸c˜ao da transforma¸c˜ao c´ıclicahe`a arestae´e a identidade, e deve existir algum inteiro positivo
m tal que hm
e = 1, isto ´e, he tem ordem m. Mais ainda, os poliedros da fam´ıliaF(he) preenchem, sem
auto-interse¸c˜ao, uma vizinhan¸ca da arestae.
As rela¸c˜oes, no grupoG, da formahm= 1, s˜ao chamadas derela¸c˜oes c´ıclicas.
Teorema 2.3.1 (Poincar´e) Assuma que um poliedroD⊂Hn
C, com um n´umero finito de lados, satisfa¸ca
as condi¸c˜oes(1)-(6)enunciadas acima. Ent˜ao, o grupoG, gerado pelas aplica¸c˜oes identificadoras de lados de D, ´e discreto, D ´e um poliedro fundamental para G, e as rela¸c˜oes c´ıclicas e de reflex˜ao formam um sistema completo de rela¸c˜oes paraG.
2.4
O teorema de Giraud
Como referˆencia aos resultados enunciados nesta se¸c˜ao, veja [3] ou [7].
Lados de poliedros est˜ao contidos em bissetores equidistantes. Portanto arestas est˜ao contidas em interse¸c˜oes de dois bissetores. Nem sempre a interse¸c˜ao de bissetores ´e bem comportada, pode ser por exemplo desconexa. Mas, quando tratamos com poliedros de Ford e Dirichlet, as esferas isom´etricas s˜ao respectivamente coverticais (as duas espinhas complexas passam pelo ponto ideal q∞ escolhido) ou
coequidistantes (definidos como bissetores equidistantes de um mesmo ponto w∈Hn
C). Assim sendo, as
interse¸c˜oes entre duas delas s˜ao conexas.
Para entender poliedros fundamentais para grupos discretos de isometrias ´e necess´ario entender os ciclos de arestas que definir˜ao as rela¸c˜oes do grupo. Ferramenta importante no caso de geometria hiperb´olica complexa ´e o teorema de Giraud ([7, se¸c˜ao 8.3.5]):
Teorema 2.4.1 (Giraud) Suponhamos que B1 e B2 s˜ao dois bissetores com respectivas espinhas
com-plexas Σ1 e Σ2 tais que:
1. Σ1 e Σ2 s˜ao distintas;
2. Σ1∩B2 = Σ2∩B1 = ∅.
Ent˜ao existe, no m´aximo, um outro bissetor, diferente de B1 eB2, que cont´em a interse¸c˜ao B1∩B2.
Vamos pensar agora em dimens˜ao complexa n = 2, onde lados (faces de codimens˜ao real 1) s˜ao simplesmente chamados faces.
Uma consequˆencia deste teorema ´e que, sendo ∆ um poliedro fundamental de Ford ou Dirichlet para a a¸c˜ao de um grupo discreto de isometrias deH2
C, ent˜ao, exceto no caso de uma aresta plana (isto ´e, contida
numa linha complexa), todo ciclo de arestas de ∆ tem comprimento igual a 3 (veja [7, p´agina 296]). Vamos supor ent˜ao que temos para a a¸c˜ao de um grupo discretoG, um poliedro desta natureza, isto ´e, um poliedro de Ford para determinado ponto idealq∞ou um poliedro de Dirichlet para determinado ponto
basew∈H2
C. Chamaremos a esfera isom´etrica de um elementog∈GdeIg e denotaremosIg′ =Ig−1.
Para identificar o ciclo de arestas ao qual pertence uma arestaa1 contida emIf∩Ig, usamos f para
identificarIf comIf′ =If−1. Assimf levaa1numa arestaa2, contida na intersec¸c˜ao deIf′ com uma certa
esfera isom´etricaF1. No sentido inverso, gidentifica a1 com uma arestaa3, contida na intersec¸c˜ao deIg′
com uma esfera isom´etricaF2. Pelo teorema de Giraud, o ciclo de arestas est´a completo, portanto h´a uma
isometriahtal queh(a3) =a1 eh(F2) =F1, isto ´e, Ih=F2 eIh′ =F1. Como este ciclo de arestas (como
todos os outros de arestas n˜ao-planas) tem comprimento exatamente trˆes, segueg◦f−1
◦h= 1, ou seja,
h=f◦g−1. Um outro modo de interpretar: sabemos, pelo teorema de Giraud que h´a exatamente trˆes
bissetores contendoa1; s˜ao elesIf,Ig ef−1(F1) =g−1(F2). Desse modo, concluimos quef◦g−1(a3) =a1
ef◦g−1(F
2) =F1. Portantoh=f◦g−1.
Observe a exce¸c˜ao que ocorre quandof3= 1 eg=f2.