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O GT 21/ANPED: uma trajetória no debate sobre a temática racial no Brasil

RELAÇÕES RACIAIS E FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM PRODUÇÕES DO GT21/ANPED

4.1. O GT 21/ANPED: uma trajetória no debate sobre a temática racial no Brasil

A ANPED, consistui uma associação cuja fundação data de 1978, cuja atuação compromete-se com a universalização e desenvolvimento da educação no Brasil. O histórico da Associação indica que

Ao longo de sua trajetória, a Associação construiu e consolidou uma prática acadêmico-científica destacada e, nesse percurso, contribuiu para fomentar a investigação e para fortalecer a formação pós-graduada em educação, promovendo o debate entre seus pesquisadores.29

Em tais debates “vários foram os GTs que concederam abrigo institucional aos pesquisadores da área de Relações Raciais e Educação dos Afro-brasileiros” (SISS e OLIVEIRA,2007. p.2) antes da criação de um grupo de trabalho específico que congregasse as questões referentes a temática. Entretanto, Siss e Oliveira (2007) assinalam uma precariedade dessa experiência: a concessão desse espaço comprometia, de certa forma, os próprios grupos de trabalho que oportunizavam a discussão dessa temática: “Caso a participação desses pesquisadores se ampliasse, os próprios GTs corriam o risco de se desfigurarem enquanto Grupo de Trabalho com temática específica, no âmbito da Associação” (SISS e OLIVEIRA,2007. p.2).

Nesse contexto, o registro do histórico do GT 21 assinala que, em 2001, por ocasião da 24ª Reunião Anual da ANPED, institui-se oficialmente o Grupo de Estudos 21 (GE 21), denominado a época, “Relações Raciais/Étnicas e Educação”. Dois anos após a sua criação, duas alterações demarcam a experiência do grupo: a). a de categoria, passando de Grupo de Estudos a Grupo de Trabalho; b). a de

denominação, “recebendo duas novas denominações: Afro-Brasileiros e Educação e Educação e Relações Étnico-Raciais, sendo que esta última predomina até hoje”30.

O histórico do GT 21 indica ainda o apoio advindo de mais de 500 associados individuais e de inúmeras instituições de pesquisa científica31, mobilizando a fundação do Grupo de Trabalho que se constituiria um espaço, no qual os debates e os encaminhamentos específicos da área das relações étnico-raciais e educação conformaria o funcionamento do Grupo, quais sejam, questões de interesse particular da educação dos afro-brasileiros. Com a participação de pesquisadores e pesquisadoras de várias instituições, o GT contou com o protagonismo dos seguintes coordenadores e coordenadoras:

Quadro 12 – Coordenação e vice-coordenação do GT 21/ANPED – 2001 a 2019.

Período Coordenaçao e vice-coordenação

2001/2002 Iolanda de Oliveira (UFF) e Maria Lúcia Rodrigues Muller (UFMT) 2003/2004 Iolanda de Oliveira (UFF)

2004/2005 Iolanda de Oliveira (UFF) e Regina Pahim Pinto (FCC) 2006/2007 Ahyas Siss (UFRRJ) e Maria Lúcia Rodrigues Muller (UFMT) 2008/2009 Ahyas Siss (UFRRJ) e Paulo Vinicius Baptista da Silva (UFPR) 2010/2011 Paulo Vinicius Baptista da Silva (UFPR) e Nilma Lino Gomes (UFMG) 2012/2013 Nilma Lino Gomes (UFMG) e Paulo Vinicius Baptista da Silva (UFPR) 2014/2015 Erisvaldo Pereira dos Santos (UFOP) e Cândida Soares da Costa (UFMT) 2015/2017 Wilma de Nazaré Baía Coelho (UFPA) e Julvan Moreira de Oliveira (UFJF) 2017/2019 Eugenia Portela de Siqueira Marques (UFDG) e Lucimar Rosa Dias (UFPR)32

Fonte: Página do GT 21/ANPED – Breve histórico do Grupo de Trabalho (GT) 21 Educação e Relações Étnico-Raciais.33

30 Disponível em http://www.anped.org.br/grupos-de-trabalho/gt21-educação-e-relações-étnico-raciais.

Acesso em 23 dez 2017.

31 O quadro associativo da ANPED é composto por duas categorias: a). Sócios Individuais -

professores e estudantes vinculados aos programas de pós-graduação stricto sensu em educação e demais pesquisadores da área. b). Sócios Institucionais – constituído pelos programas de pós- graduação stricto sensu. Disponível em http://www.anped.org.br/estrutura. Acesso em 26 dez 2017.

32 Os dados referentes a eleição da Coordenação do GT 21, para gestão no biênio 2017/2019,

Cumpre ressalvar uma espécie de avaliação, indicada no registro histórico, no site do GT 21, a nosso ver, indicativa do movimento de avanço no que tange a tais debates e encaminhamentos: a constante presença de pesquisadores e pesquisadoras de diferentes instituições de ensino no âmbito desse Grupo de Trabalho; com inserção de docentes negros/as e brancos/as; representando as

cinco regiões brasileiras; ampliando-se em termos de instituições de vinculação

dos docentes abrangendo distintas categorias administrativas (instituições públicas, privadas e comunitárias).

Esse avanço se concretiza também mediante a presença dos integrantes do GT 21 em espaços relevantes na condução e proposição do debate acerca da temática étnico-racial:

Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros (NEABS), Consórcio Nacional de Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros (CONNEAB), Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN), Conselho Nacional de Educação (CNE), Comissão Técnica Nacional de Diversidade para Assuntos Relacionados à Educação dos Afro-Brasileiros (CADARA), Conferência Nacional de Educação (CONAE, 2010). Vários integrantes do GT 21 atuam também em comissões acadêmicas responsáveis pela implantação e implementação de ações afirmativas nas instituições públicas de ensino superior. Nos últimos anos, alguns integrantes também passam a ocupar cargos na coordenação da pós-graduação, nas pró-reitorias e reitorias de universidades públicas e demais instituições do ensino superior do país e Ministério de Estado, como a caso da Profa. Dra. Nilma Lino Gomes.34

Esta inflexão ilustra os processos de legitimação de um campo, na medida em que a inserção desses agentes nesses fóruns, concorre para que a visibilidade do campo promova debates cujos desdobramentos repercutem na adoção de políticas públicas.

A definição da conferencista de abertura da 38ª Reunião Anual da ANPED, ocorrida em 2017, Profª Drª Nilma Lino Gomes, ilustra, em dois aspectos, essa visibilidade: primeiro pela escolha da conferencista, que em sua trajetória registra a

33 Disponível em http://www.anped.org.br/grupos-de-trabalho/gt21-educação-e-relações-étnico-raciais.

Acesso em 23 dez 2017.

34 Disponível em http://www.anped.org.br/grupos-de-trabalho/gt21-educação-e-relações-étnico-raciais.

coordenação do GT 21 nos períodos de 2010/2011 (como vice-coordenadora) e 2012/2013 (como coordenadora); a reitoria Pró-Tempore da Universidade da Integração da Lusofonia Afro-Brasileira – UNILAB, no período de 2013/2014; titularidade da Secretaria de Políticas Públicas de Promoção da Igualdade Racial – SEPPIR, no ano de 2015 e do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial, da Juventude e dos Direitos Humanos, no período de 2015/2016, concretizando a experiência da intersubjetividade acadêmica.

Tal concretude, advinda das relações estabelecidas entre os componentes do campo, mobiliza a reiteração deste, seja no nível dos agentes, seja no nível das estruturas. A relevância representada pelas Reuniões Nacionais da ANPED, no âmbito da pesquisa em Educação, indicam que a conferência de abertura representa um lugar de reconhecimento aos/as pesquisadores/as do campo: os 23 (vinte e três) Grupos de Trabalho articulam-se para a definição do/a conferencista das Reuniões Nacionais35.

Em segundo lugar, pelas tensões e disputas que conformam esse lugar, com vistas a assegurar hierarquias que assumirão visibilidade no campo, espraiando-se para além dele. Ilustrativo desse cenário, tal movimento é assinalado pela Profª Nilma Gomes, em entrevista por ocasião da 38ª Reunião da ANPED, na condição de conferencista de abertura da aludida reunião:

deve-se construir uma gestão democrática na qual sejam reconhecidos e ouvidos os sujeitos dessas políticas, ou seja, os movimentos sociais, os sujeitos das ações coletivas e organizações da sociedade civil. Desses sujeitos têm vindo as pressões para construir políticas sintonizadas com as suas lutas sociais e históricas por direitos. A própria existência de ministérios como a SEPPIR, SPM, SDH, MDA e MDS36,

durante os últimos 13 anos no governo federal e em vários governos estaduais, municipais e distrital, é fruto da pressão

35 Em se tratando do nome da Prof.ª Nilma Gomes, uma mobilização conjunta das coordenações do

GT 23 - Gênero, Sexualidade e Educação e do GT 21- Educação e Relações Étnico-Raciais, com esforços empreendidos por quem acompanhou a trajetória daquela pesquisadora no período de sua gestão no GT 21, constituem um dos recursos que ilustram o reconhecimento daquela agente no campo.

36 As siglas mencionadas na entrevista da conferencista, correspondem aos órgãos públicos: SEPPIR

- Secretaria de Políticas da Promoção de Igualdade Racial; SPM - Secretaria de Políticas para as Mulheres; SDH – Secretaria de Direitos Humanos; MDA - Ministério do Desenvolvimento Agrário e MDS - Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.

desses movimentos pela sua presença na esfera pública como sujeitos. Pela sua presença no Estado.37

Nesse contexto de disputas, que incorporam demandas históricas do segmento negro, situa-se o Grupo de Trabalho a partir do qual foram analisadas as produções, com vistas a relacionar as internalizações que pautam os trabalhos que enfocam a formação de professores e as relações étnico-raciais.

A despeito da existência de trabalhos sobre educação e relações étnico- raciais, compondo a programação das reuniões da ANPED antes da institucionalização do GT 21, nossa opção pela investigação sobre as produções deste Grupo de Trabalho subsidiam-se pelo recorte temporal, que incide sobre o período em que as ações deste já encontravam-se em plena atividade: 2003 a 2013.

Ademais, o Grupo de Trabalho Educação e Relações Étnico-Raciais, da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação – GT 21/ANPED, consiste no Grupo de Trabalho que agrega, especificamente, no presente momento, produções vinculadas ao tema das relações étnico-raciais e Educação. A composição de seus quadros o caracteriza como um grupo “integrado por pesquisadores e pesquisadoras negros e não-negros, cuja produção científica está localizada o campo das Relações Étnico/Raciais e Educação”38.

Neste panorama, importou-nos relacionar as produções havidas neste evento com vistas a situar aspectos presentes na literatura especializada, estruturantes na produção de sentidos que circulam nesse campo. Que aspectos são estes? Vamos aos dados.

37 Entrevista com Nilma Lino Gomes (UFMG) - Conferência de Abertura da 38a Reunião Nacional da

ANPEd. Publicada em 11/09/2017. Disponível em http://www.anped.org.br/news/entrevista-com- nilma-lino-gomes-ufmg-conferencia-de-abertura-da-38a-reuniao-nacional-da-anped. Acesso em 23 dez 2017.

38 Disponível em http://www.anped.org.br/grupos-de-trabalho-comite-cientifico/grupos-de-

4.2. A produção sobre formação de professores e relações étnico-raciais no GT