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4. CAPÍTULO – CARACTERÍSTICAS MUSICAIS DOS GRUPOS OBSERVADOS

4.1 A Estruturas Musicais dos Grupos Observados e suas Inter-Relações com as

4.1.8 Guaiano

Conhecido também por “guaiana”, “guaiano” ou “cateretê”, o catira tem, em sua estrutura, duas partes distintas. É executado por dois cantadores, acompanhando-se de uma ou duas violas, e número par de "palmeiros", em geral superior a seis, que se dispõem em duas filas, uma de frente a outra, de forma que cada componente fica de frente a um outro, seu par. A música é cantada em dueto, e algumas catiras acompanham-se com pandeiros. (CORREIA, 2002 p. 107, 108)

Difundido de forma ampla no Norte de Minas Gerais, a “guaiana”, “guaiano” ou “catira”, “cateretê”,, pode ser considerado parte importante do ritual das Folias de Montes Claros. A partir dos relatos do Mestre Peixotão, o Guaiano se inseriu nos contextos das Folias em Montes Claros mais recentemente. São interpretadas músicas compostas pelos foliões ou aprendidas no rádio, de estilo caipira ou sertanejo, tratam de aspectos corriqueiros, casos de amor e homenagens ao estilo de vida no campo e à natureza.

Lundu naquele tempo já tinha, mas o Guaiano, foi agora. Porque num era aquele povo, hoje o povo tá mais instruído, modificou muito, aprende no rádio, tá um cantor cantando lá no Ri (Rio de Janeiro) e ele tá aqui (mão no ouvido) ó eu vou aprender esta moda....Aí hoje mudernou. Quem canta moda nova, e naquele tempo tocava era o Guaiano paulista. Era uma viola, dava um a sapatiada quatro cabra bom na sala, as vezes um cantava a primeira, a segunda, a terceira e a quarta, e aí sapecava palma e tal. Lundu era também nesta época, toda vida dançava lundu.50

É possível encontrar similaridades entre o Guaiano e outras danças da região do Norte de Minas. Segundo Chaves (2008) pode-se considerara duas danças praticadas nos municípios de São Francisco e Januária51: o “quatro” e o “trocado”. Estas danças são comumente executadas por

quatro pessoas. O quatro (ou paulista)de andamento mais rápido, exige maior destreza por parte dos dançadores e executantes. O repertório utilizado para essa dança, é composto geralmente por músicas aprendidas com mais velhos pela tradição oral. Já o trocado, costuma ter andamento mais lento, sendo acompanhado por músicas conhecidas, geralmente de duplas sertanejas. Segundo chaves, essa dança também é conhecida por guaiana.

Os trocados certamente são os que mais variam, os mais sujeitos às inovações e incorporações de novidades. Não é à toa, portanto, que quem mais os toque durante o giro são os foliões mais novos, de cinqüenta anos

50 Mestre Peixotão/acervo da pesquisa

para baixo. Dificilmente vemos um velho passando um trocado (CHAVES, 2008 p. 187)

O Guaiano diferentemente do lundu é cantado. É caracterizado por canto, sapateado e palmas, geralmente com acompanhamento de uma ou duas violas. O Guaiano exige um conhecimento específico e apropriado para execução do mesmo. Os Foliões que dominam o Guaiano, geralmente ocupam funções de destaque nas Folias.

A dança do Guaiano é executada por quatro foliões, tocadores e cantadores. Divididos em duplas, uma de frente para a outra, se movimentam trocando de posições no ritmo da música. Os participantes mudam de posição e em forma de “S” realizam movimentos entrelaçados. No Guaiano se estabelecem movimentos circulares, os Foliões não trobam durante os movimentos o que causa um aimpressão de entrosamente e magia no movimento.

FIGURA 55 – Formação da dança do Guaino – Barro do Paiol

O Guaiano é dividido em dois momentos: na primeira parte, o andamento é mais lento, e é cantada uma moda de viola geralmente de autoria de duplas caipiras famosas A música é cantada em dueto, ao final de cada estrofe, entram mais duas vozes denominadas de baixo ou segunda (5º nota do acorde) e a requinta (que é a nota da tônica dobrada uma oitava acima, cantada em falsete ou gritada), conhecida como o “gritinho” da Folia.

Na segunda parte do Guaiano entra o pagode ou recortado, com temas e versos irônicos e jocosos, composto também de músicas de duplas caipiras. Quanto ao andamento, é mais acelerado, exigindo maior destreza e agilidade por parte dos dançadores. A coreografia é a mesma da primeira parte, porém mais rápida. Também cantado em dueto

1º Voz

Viola e 2º voz Segundeiro

com as mesmas características da primeira parte, apresentada acima. Sapateados e palmas só acontecem no final. (DURÃES, 2010)

Flor do Ipê

André /Andrade e Djalma

Eu nasci no mês de agosto No mês da flor do ipê Os campos ficam floridos

Que da gosto a gente ver Mas para mim é tristeza Não posso me compreender Que eu nasci no mês de agosto Mas foi só para sofrer, ai, ai, ai

Da minha infância querida Eu não consigo esquecer Na porta da minha escola

Um lindo pé de ipê Na hora do meu recreio

Ali eu me descansava Parece que a flor dizia Que a minha infância terminava, ai, ai

Logo veio a mocidade Pequenos dias risonhos

Passou na velocidade De um terminadinho sonho Transformando o meu sorriso

Num triste e amargo pranto Que chora ao ver no presente Esses meus cabelos brancos, ai, ai, ai

Agora velho e cansado Me resta pouca lembrança

Olho pro campo da vida Pequenas rosas balançam No mês de agosto eu vejo

Os lindos pés de ipês As flores nascem de novo Só eu não volto a nascer, ai, ai, ai

FIGURA 56 – Palmas e Sapateado Guaiano

4.2 Os Instrumentos

Os instrumentos são elementos fundamentais para a caracterização identitária da manifestação das Folais. Tratados como sagrados, estabelecem ligação direta como os santo e funções na estrutura ritual . Para os foliões em Montes Claros, foi Nossa Senhora quem deu os instrumentos aos Três Reis e lhes enviou de volta ao Oriente, para cantar de porta em porta e anunciar o nascimento de Jesus. Assim, desde o nascimento do rito, os

instrumentos ocupam lugar de grande valor para a prática musical das Folais e se tornam veículos de inserção no universo religioso da manifestação. De acordo com Suzel Reily:

Os reis chegaram a Belém com os seus presentes e receberam uma viola, um pandeiro e uma caixa. Com estes instrumentos faz-se música, e através da música constroi-se contextos de harmonia social. Ao participar desta troca, os Magos foram santificados, tornando-se mediadores entre os seres humanos e o Deus todo-poderoso (REILY, 2004 p. 150)

Percebe-se nos Ternos de Folia de Montes Claros uma formação instrumental semelhante. Os instrumentos geralmente utilizados, são: violões, violas, bandolins, cavaquinhos, e rabecas/violinos). Os de percussão, caixa, pandeiro e reco reco. Essa composição instrumental, foi percebida nas Folias da zona urbana de Montes Claros e também na zona rural.

Meu avô do lado de meu pai tocava era viola e meu avô pro lado de minha mãe tocava era rabeca. Aquelas violinha de cravelha, num tinha esta de hoje não, nem sei onde que fabricava, num existia Zé Côco não, eu via muito falar num fábrica que é veia daquelas viola Que Luz. Mas ela num era fabricado em Montes Claros não. Ela vinha de fora lá de são Paulo, a viola Que Luz, aqui não tina fabricação não, se alembra que cês mandaram Cide comprar a Que Luz e ele não achou? Ele achou desta outras né?

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Quanto à utilização desses instrumentos no ritual, existem formas diferentes no modo de executá-los e, dependendo do momento do ritual, nem todos são utilizados. Nos cantos religiosos, há participação de todo o terno com todos os instrumentos. Já nas danças, há predominância da viola e dos instrumentos de percussão: caixa e o pandeiro.

4.2.1 Rabeca/Violino

A rabeca e o violino, são instrumentos que ocupam espaço central nas Folias observadas. É o instrumento que canta, dá a base melódica às vozes e divide os momentos de início e conclusão dos cantos. Em Montes Claros, é muito comum se utilizar o violino pras as funções da rebeca, sendo que os dois são utilizados largamente. Para eles a forma de tocar o violino ou a rabeca é a mesma e é comum se fazerem alterações em ambos os instrumentos para deixa-los com as pecto mais semelhante.

FIGURA 58 – Folião do Barro do Paiol tocando Rabeca

Na estrutura ritual o instrumento tem a função principal de fazer a introdução da música e acompanhar o canto durante a execução em geral. Assim, fazendo o que é chamado de “duas voltas”. Portanto, a rabeca apresenta o tema melódico que serve de apoio para o grupo, o qual executa a mesma melodia.

Os dois ternos de folia pesquisados utilizam da mesma afinação nas rabecas, conhecida como “cebolão”. Os dois grupos utilizam duas rabecas. Uma na voz principal e a outra fazendo uma segunda voz, geralmente, em terças paralelas .

FIGURA 59 – Cordas da Rabeca - Afinação cebolão

4.2.2 Viola e violão

A viola nas Folias é o instrumento dos mestres. Está presente em vários momentos das práticas das folias e tem uma importante função musical nos gêneros e ritmos que acompanham os rituais. É um elemento importante da definição da identidade musical de diversas expressões da cultura popular brasileira. De acordo Pinto:

FIGURA 61 – Violas e violão /Estrela de Belém

É seguro afirmar que a viola tornou-se o instrumento símbolo da música caipira praticada pelas populações rurais que habitaram durante muito tempo a região centro-sul do Brasil (São Paulo, sul de Minas Gerais, sul de Goiás e sudeste do Mato Grosso do Sul). Por volta do século XVII, após o declínio do bandeirantismo, esse povoamento caipira começou a se formar na medida em que trabalhadores livres, em geral herdeiros da miscigenação entre o colono português e o índio, fixaram-se progressivamente nessas terras, na condição de pequenos sitiantes, parceiros e agregados (PINTO, 2008 p. 15).

Os mestres entrevistados consideram a viola o principal instrumento da Folia, sendo que a mesma está presente em todas as músicas do ritual. Os instrumentos utilizados pelos grupos pesquisados em sua maioria são industrializados, sendo que o terno de folia Barro do Paiol utiliza violas artesanais.

Antigamente tinha as viola Que Luz. Mas ela num era fabricado em Montes Claros não. Ela vinha de fora lá de são Paulo, a viola Que Luz, aqui não tina fabricação não, se alembra que cês mandaram Cide comprar a Que Luz e ele não achou? Ele achou desta outras né? 53

Nas Folias observadas a viola é utilizada com a afinação cebolão, no entanto, nas diversas folias de Montes Claros forma observadas outras afinações como vencedor, oitava, meia guitarra e rio abaixo.

O violão nas Folias Barro do Paiol e Estrela de Belém realiza, fundamentalmente a mesma função: acompanhamento das músicas através do baixo, e rasqueado fortalecendo a base harmônica do grupo. Nos ternos observados notamos a presença de apenas um violão. Durante a execução, o violão realiza elementos melódicos de ligação. Nas Folias, o violão geralmente não participa de todo o repertorio, estando principalmente presente nos cantos de função religiosa, sendo que normalmente não é utilizado nos lundus.

4.2.3 Cavaquinho

O cavaquinho é um instrumento bastante comum na música brasileira. De quatro cordas, é utilizado em varias manifestações da cultura popular, onde destaca-se na execução de sambas e chorinhos. Nos dois grupos observados o cavaquinho é um instrumento tão importante quanto os demais. A função do instrumento no Grupo é reforçar a base harmônica e sonora do grupo, e também participa do solo fazendo duas vozes em terças paralelas A afinação utilizada é igual a dos outros instrumentos que compõe os ternos, ou seja, cebolão.

FIGURA 62 – Folião tocando Cavaquinho

4.2.4 Caixa de Folia

A caixa de Folia tem como principal função a marcação rítmica do grupo, mantendo um padrão constante, apoiando principalmente a execução melódica dos cantos. As caixas, como também são conhecidas, são geralmente confeccionadas manualmente pelos próprios Foliões. Como material, utiliza-se preferencialmente um tronco de madeira que é então ocado e coberto com um apele de animal esticada. Com arcos de madeiras em suas extremidades se prendem as peles, numa e outra extremidade. Para afinar o instrumento, são esticadas cordas presas na lateral.

4.2.5 Pandeiro

O pandeiro, como a caixa, é responsável também pelo apoio rítmico na música. Devido as suas platinelas, que emitem um som mais agudo, da um “brilho” à percussão. Memso com função similar a caixa, o pandeiro apresenta variações próprias, e muitas vezes toca em momentos em que a caixa está parada.

FIGURA 64 – Folião tocando Pandeiro

4.3 Melodia/ Harmonia

Com estruturação melódica semelhante, os dois ternos pesquisados apresentam melodias estruturadas, fundamentalmente, em escalas diatônicas maiores. Este aspecto foi verificado em todas as músicas encontradas ao longo da pesquisa, não tendo sido portanto, detectado nenhum canto em tonalidades menores, ou em outros modos musicais. É evidente a estruturação por saltos intervalares “curtos”, ou seja, por grau conjunto ou utilizando intervalos de terças e quartas. Os intervalos de quinta e sexta aparecem nas melodias, mas não com a mesma frequencia que os terças e quartas.

Em relação à harmonia, percebe-se a utilização do sistema tonal. O padrão “tônica - sobdominante - dominante - tônica é recorrente. Somente no Lundu, a função harmônica não é utilizada. Os acordes de I, IV e V graus podem ser considerados a base de toda a estruturação harmônica dos Grupos observados.

4.4 As Letras

De acordo Porto (1982) as letras da Folia consistem em conhecimentos ou noções que os praticantes do rito têm em relação á Bíblia. Como boa parte dos Foliões é analfabeta ou semianalfabeta este conhecimento se constitui de uma união de dados, tendo uma base bíblica, mas sendo constantemente recriados pelo imaginário popular.

As letras tem sua estruturação definida em passagens bíblicas principalmente as ligadas ao Novo Testamento. Relatam sobretudo o nascimento de Cristo e a viagem dos Magos do Oriente para adorar o Menino Jesus . As letras têm forte conexão com os evangelhos de Mateus e Lucas, os únicos na Bíblia que tratam do nascimento e infância de Jesus (Mt 2, 1-12), e Lucas (Lc 2, 1-14). A título de ilustração, apresento a seguir uma passagem do canto da noite de natal do Terno de João Trindade, em que a letra retrata a influência descrita anteriormente:

Segundo Rios (2006) as letras da folia são preservadas e transmitidas pelos foliões mais antigas aos mais jovens, parentes, amigos, companheiros do grupo, em uma tradição

oral. Os Cantos, herdados e aprendidos, apresentam traços culturais coletivos advindos da referência de seus criadores e do contexto cultural em que se inserem.

Os cantos de Folia são geralmente estruturados em métricas de versos ou linhas de sete sílabas, reunidos em quadras, onde apresentam uma dinâmica de pergunta e resposta.

Desta forma, em uma quadra, os dois primeiros versos apresentam a pergunta (A), e os dois versos seguintes respondem ou resolvem (B). O canto é portanto executado a quatro vozes, dividido em duas duplas. Cada dupla canta, em dueto, o mesmo texto. O guia e seu ajudante cantam uma pergunta e, a outra dupla, então, dá a resposta, como ilustrado a seguir:

(A) Alegremente cheguemos54 Alegremente contente (B) Viemos dar o manifesto

Do sagrado nascimento

Nos dois ternos pesquisados, percebe-se grande semelhança entre as letras das músicas, principalmente no que concerne ao conteúdo, e as funções do canto no ritual, a maneira como fazem as saudações e os agradecimentos, aos Santos, aos moradores das casas visitadas e suas famílias e demais ícones religiosos.

Entre as muitas funções das letras, ela também desempenha o papel de orientar os foliões para momentos específicos do ritual. É possível notar, a utilização de versos para ajoelhamentos e marcação conclusiva, como os versos viva e reviva que anunciam o final do canto.

Ora Viva e reviva A lapinha de Belém Viva o pai e viva o fiho O espirito santo também55

54 Canto de chegada do terno João Trindade. 55 Canto de despedida do Barro do Paiol

Outra característica encontrada nas letras é o uso de palavras comuns no linguajar local e que são adaptadas para o texto bíblico, sendo necessário um aquase tradução para se compreender o significado das letras do Foliões

Aistrela mais formosa. Du norti pra u nasenti Os treis Reis anda in proqura

di um sodeusalepotente

De maneira geral os aspectos destacados anteriormente constituem as características fundamentais das letras e da performance musical das folias estudadas neste trabalho. Vale ressaltar que, conforme dito anteriormente, a letra de uma música é um elemento fundamental para a definição da função e do lugar que essa ocupa no ritual, sendo, inclusive, determinante para a contextualização religiosa da manifestação.

Considéraço és Finais

Como resultado das análises do comportamento musical religioso e dos conceitos construídos pelos próprios foliões pesquisados, acerca de si mesmos e de suas práticas musicais e religiosas nas Folias, concluiu-se que, através da música, os Foliões inseridos no amplo contexto comunitário, expressam elementos que revelam mitos, ritos, valores, práticas, sentimentos, atos de devoção e a memória coletiva.

Desta forma, o ser devoto e ser folião, são considerados figuras identitárias destes grupos religiosos. Os Foliões inseridos na pesquisa, consideram indissociáveis as relações da música com a religiosidade em suas práticas. Para os Foliões, a música ocupa um espaço significante de valores, usos e funções, particularmente associados ao contexto histórico e sociocultural dos grupos.

Neste sentido, nota-se que a música nas folias, exerce funções simbólicas tão importantes, e de tal forma imbricadas em todo o processo religioso que, para a manutenção e reinvenção das práticas religiosas por estes grupos, se torna essencial a compreensão das funções e implicações das práticas musicais neste contexto.

Através da música sujeitos e grupos expressam características culturais próprias. Essas expressões musicais revelam dados fundamentais para a compreensão da identidade e dinâmica cultural dos grupos de Folia Católica. O sagrado se estabelece no rito regido pela música e inserido no contexto da festa.

Fundamentados nos relatos dos Foliões e devotos observados na pesquisa, concluiu- se que atualmente esteja ocorrendo uma diminuição, no que se refere à religiosidade nas Folias. Ora, para os Foliões, este fato se dá porque entre os mais jovens a principal motivação para participar da Folia se dá pelo interesse em aprender música e pela oportunidade de se aproveitar a festa. Neste sentido os jovens estariam “menos” religiosos que os Foliões mais antigos e mais interessados em dominar as habilidades musicais, inclusive com o propósito de se tornarem músicos profissionais.

Apesar dessa afirmação, percebeu-se no trabalho e em conversas com os Foliões mais jovens, que apesar dos jovens assumirem uma postura mais interessada no aprendizado da música, a convivência com os mais velhos os inseria naturalmente no universo religioso. Ou seja, para os jovens não seria possível continuar atuando junto aos grupos de Folia sem compromisso religioso, o que com o tempo e a idade seria

naturalmente assimilado por eles, segundo os Foliões mais velhos, herdeiros próprios da responsabilidade em manter viva a tradição.

Para os sujeito da pesquisa, um dos pontos mais importantes de conexão das Folias com o comportamento religioso, e que estaria se perdendo, seria o ciclo das promessas, que passa pela promessa feita com fé, as graças recebidas e o pagamentos das promessas como sinal de confirmação de fé e elo com o sagrado.

As promessas por terem a característica de serem dirigidas ao outro, geralmente são feitas dos pais para os filhos, ou de um folião mais velho para um parente ou amigo próximo mais jovem. Como a obrigação de pagamento da promessa é remetida ao agraciado pela benção, é gerado um ciclo de transmissão da fé. Aquele que recebe a graça, por meio da cura, ou da resolução de algum problema pessoal, comprova o poder do Santo e através da Folia, confirma sua fé ao pagar a promessa atendida.

A promessa significa para os Foliões estudados um elemento de manutenção da fé e das práticas das Folias, sendo um aporte religioso citado constantemente como essencial para manutenção da religiosidade entre os grupos. No entanto, os Foliões acreditam que com o passar do tempo, as promessas têm diminuído, e consequentemente têm deixado as Folias mais afastadas de seus princípios religiosos. Ou seja, sem a promessa, a Folia estabelece novos elementos motivadores para manutenção de suas práticas, entre estes estão, sob o ponto de vista dos Foliões, a preservação da cultura, a música e a festa comunitária.

Assim, os objetos considerados sagrados, citados e descritos neste trabalho, como

No documento Doutorado em Ciência da Religião (páginas 151-200)

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