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A peça foi encenada pela primeira vez aos sábados e domingos, no período de 8 de agosto a 27 de setembro de 2009, no Teatro Sesi Rio Vermelho, em Salvador, e, posteriormente, foi encenada também em outras cidades da Bahia. Em 2011, em Salvador, houve uma nova temporada da peça, no Teatro Gamboa, durante o mês de agosto.

Figura 7 – Cartaz da primeira representação da peça “Nhô Guimarães”

Fonte: Google.

Acesso em: 11 nov. 2011

Em contato com a atriz Deusi Magalhães, protagonista da peça e também responsável pela adaptação do texto, juntamente com Edinilson Motta Pará, tivemos acesso ao texto teatral “Nhô Guimarães”. Segundo Cereja e Magalhães (2009, p. 100), “não há fenômeno teatral sem a conjunção da tríade ator, texto e público. Entre ator e público, se estabelece uma cumplicidade: ambos sabem que se trata de jogo, de uma representação”. Em entrevista à

Revista Muito, em novembro de 2009, Aleilton Fonseca tece comentários sobre adaptação

textual do romance ao teatro, afirmou ter “clareza de que se trata de outra linguagem e de que o texto teatral é uma seleção de algumas partes do romance. Disse ainda que como autor, deu liberdade a Deusi Magalhães e Edinilson Motta Pará e que eles foram muito cuidadosos (ver ANEXO D, 2009).

Embora o autor tenha dado liberdade aos criadores do texto teatral, em entrevista realizada no dia 02 de outubro de 2018, perguntamos se ele havia interferido da produção do texto, Aleilton Fonseca afirmou:

Só conheci o texto quando foi feito o primeiro ensaio aberto a um público. Senti um certo estranhamento ao me deparar com a personagem encarnada pela atriz Deusi Magalhães. A partir do que observei, fiz algumas sugestões quanto à interpretação e sugeri a inserção de partes do texto do romance que, a meu ver, faziam falta no texto da peça (APÊNDICE D, 2018).

No texto teatral “Nhô Guimarães”, há uma condensação dos capítulos do livro, pois se trata de um monólogo em um ato. Há indicações, logo no início do texto, das características da personagem idosa, que seria a narradora de Nhô Guimarães e a protagonista da peça.

Os capítulos utilizados no texto teatral foram indicados pela numeração dos capítulos do livro (ver anexo B), exceto a indicação “3”, em que ocorre a junção das histórias dos capítulos 11 (Dona Sancha) e 26 (Um trato trágico). As rubricas mostram a movimentação da personagem e das cenas, como por exemplo, “canta, acende a vela e arruma o altar”, “canta uma canção”, cantando e amassando feijão com farinha”, entre outras. Todas elas aparecem entre parênteses, em negrito ou itálico. A seguir, os trechos:

Sempre peço proteção a minha santa pra que estenda seu manto protetor sobre meu filho, lá na cidade, que ele tenha saúde e volte pra cá. Tenho fé, a fé remove montanhas, sempre pus a fé na frente de tudo. (canta, acende a

vela e arruma o altar) [...] Os caminhos eram trilhas de muitas perguntas. Na

travessia, os homens é que são chegados! (canta uma canção) [...] Sempre deixo um feijãozinho no jeito pra me socorrer, coloco a farinha e pronto, é só amassar pra fazer o bolinho (Canta amassando o feijão com farinha ) (ANEXO B).

A peça inicia com trechos dos capítulos 1 e 2 do romance, onde a narradora se surpreende com a aparição de um homem, que inicialmente ela confunde com “Nhô Guimarães”. A partir daí, a narradora anônima - apesar de conhecermos o nome do marido e de tantos outros personagens - começa a contar, numa espécie de stream of consciousness2, sobre sua experiência de vida e seu sertão-mundo. Como no romance, o homem não tem voz, e aqui nem corpo: é o pretexto para um longo monólogo da narradora idosa. A seguir, o trecho inicial do texto teatral:

NHÔ GUIMARÃES - Adap. Deusi Magalhães e Edinilson Motta Pará. Adaptação do romance homônino Nhô Guimarães de Aleilton Fonseca. Peça em 1 ato. Uma Personagem Velha com mais ou menos 85 a 90 anos VELHA entra no palco e leva um pequeno susto e diz:

– Uii!!! O Senhor por aqui! Nhô Guimarães...! Há Quanto Tempo! Apeie, chegue a frente. Mas que surpresa boa, o sr. me pegou fuçando na sanfona de Manu, iiihi que vergonha! Manú aguardou tanto por esse dia..., sr. nem imagina! O Sr. se lembra desta sanfoninha, das tardes no por do sol, Manú tocava como se fosse ninar o Sol, que caia no sono escuro da noite.Hum.. era lindo demais da conta! Ah! Que saudades de meu Manú, ele me faz tanta falta. Tenho certeza que ele está aqui pertinho da gente, feliz com sua visita. Mas conte Nhô como tem passado, porque ficou tanto tempo tão longe da gente? Todo dia a gente esticava os olhos para o horizonte na esperança de ver o sr. chegar... Sr. me pegou de surpresa!! (sorri). (ANEXO B).

Na sequência das partes do texto, há uma junção das histórias dos capítulos 4 (Manu e Nhô Guimarães) e 20 (Nhô Guimarães pelos Gerais). A protagonista fala da amizade de seu marido Manu e Nhô Guimarães, e também sobre as andanças deles pelo sertão. Aparecem no texto, as histórias dos capítulos 12 (A cidade encanta e prende as pessoas), 14 (A fé na frente de tudo) e 16 (Uma assombração). No capítulo 12 do livro, a narradora demonstra a saudade do filho e como o havia perdido para a cidade. No capítulo 14 conta sobre a promessa que fez a uma santa para salvar seu filho de uma doença grave, e no capítulo 16, conta a história de uma comadre que a traiu e depois de morta, voltou para lhe pedir perdão. Nesta parte do texto, há uma indicação de mudança de cenário e efeitos na iluminação da cena. A seguir, o trecho:

Oi! Foi só tocar nesse assunto que o tempo fechou! O céu enegreceu, as nuvens estão pretas, carregadas..., hum...a tempestade já se aproxima... Cuidado moço, saia de perto da janela, é perigoso! (apagam-se as luzes, som de trovão com luz) que susto! O sr. está bem? Calma que vou acender a lamparina. Ai! Que medo de raio e trovão, sabe moço, na noite, depois do

enterro de Davina, eu não conseguia esquecer seu rosto de morta, foi um assombro como nunca! (ANEXO B).

Ainda aparece, no texto, a histórias do capítulo 30 (Um pai desnaturado), o relato de um pai que abandona seu filho, ainda menino, e quando envelhece, é acolhido pelo filho. Por fim, o texto apresenta os capítulos 34 (Nhô Guimarães pelo mundo), 35 (Manu se foi). A cena final é construída com trechos do último capítulo do livro (36 – A história acaba e começa). O texto teatral é finalizado com as últimas palavras do romance. O texto narrativo termina com melancolia e também com uma referência à noção de tempo circular que encerra Grande

Sertão: veredas. A seguir, o trecho:

Você, sendo outro, é a mesma pessoa de meu filho. Se for verdade eu te abençôo e te acolho ao lar. Mas... se não for quem eu sinto, tanto quero e há tanto tempo espero... por caridade, não diga nada. Vá se embora calado. Se o caso for de ficar, é cedo; se for de partir, é tarde. Aqui a história acaba e começa (ANEXO B).

No romance ou no texto teatral, Nhô Guimarães apresenta aspectos culturais do sertão e seu imaginário, sendo o tema principal da obra o universo dos moradores do sertão. Na seção seguinte, apresentamos um estudo sobre os aspectos da cultura sertaneja presentes na obra.