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Os hábitos de leitura de um país ou comunidade dependem, segundo Santos (2007), de um conjunto complexo de vários fatores. No nosso país a melhoria das condições económicas das famílias, as medidas de política educativa e cultural, o lançamento da rede de bibliotecas escolares, entre outras iniciativas implementadas pelo Ministério da Educação, nomeadamente o Programa Nacional do Ensino do Português (PNEP) e o Plano Nacional da Leitura (PNL) têm vindo a facultar o encontro com os livros e leitores e a aproximar os jovens da leitura, tendo sido alcançados efeitos bastante positivos no que concerne à literacia da leitura, em Portugal (PISA 2009). De qualquer forma, não podemos descurar o efeito nefasto da presença assídua da televisão, o acesso fácil à Internet (usada quase exclusivamente como meio de acesso a jogos on- line) ou os jogos de computador que continuam a dominar os hábitos preferenciais dos jovens em detrimento da leitura.

Relativamente a estudos mais recentes, temos o estudo “A Leitura em Portugal” (2007), realizado no âmbito do Plano Nacional da Leitura e coordenado por Maria de Lourdes Lima dos Santos, que mostra uma avaliação bastante positiva em todos os suportes analisados. Deste estudo, realça-se que é na camada mais jovem (dos 15 aos 24 anos) que se verificam as referências mais baixas registadas. Assim, e à medida que se progride na escolaridade, aumenta o desinteresse pela leitura, referindo, este estudo, que 30% dos jovens do ensino secundário afirmam um grande desinteresse por esta atividade. Os jovens, nesta fase etária, assumem preferir estar com os amigos, ver televisão, fazer desporto, praticar jogos de vídeo e computador e estar na Internet, do que ler. No entanto, e no que concerne aos mais novos, são os alunos de 1.º ciclo, nomeadamente os que frequentam o 3.º e 4.ºanos de escolaridade os que dizem gostar mais de ler (61%), seguidos dos alunos do 2.º ciclo que, além de gostarem de ler, são leitores aplicados, havendo, apenas, 16% que afirmam não gostar de ler. Perante esta realidade, a desvalorização efetiva da leitura entre os estudantes mais velhos parece impor-se à apetência pela leitura entre os mais novos.

No estudo PISA (Programme for International Student Assessement) a literacia de leitura foi definida como “a capacidade de cada indivíduo compreender, usar textos escritos e refletir sobre eles, de modo a atingir os seus objetivos, a desenvolver os seus próprios conhecimentos e potencialidades e a participar ativamente na sociedade”. Neste estudo, os estudantes foram avaliados na capacidade de extrair e recuperar informação para interpretar aquilo que liam e refletir ou avaliar o conteúdo do texto,

com base nos seus conhecimentos. Segundo os relatórios PISA (2000, 2003 e 2006) tivemos uma percentagem muito elevada de alunos de 15 anos com níveis muito baixos de literacia em leitura. Em 2006, comparativamente com os resultados de 2000, verificou-se uma evolução positiva, mas negativa relativamente a 2003, continuando os alunos portugueses a evidenciar fraco desempenho, no que respeita à leitura.

No PISA 2009, a Literacia em Leitura voltou a ser ponto de destaque da avaliação do estudo e segundo os resultados da OCDE, Portugal obteve em literacia de leitura 489 pontos, conseguindo, com este resultado, situar-se, pela primeira vez, na média da OCDE, ocupando o vigésimo primeiro lugar. Comparativamente com os 33 países da OCDE, Portugal foi o quarto que mais progrediu em leitura, registando um aumento de cerca de 20 pontos. A amostra, que incluiu 6298 alunos, é representativa dos alunos portugueses com idades de 15 anos, que frequentam entre o 7.º ano e o 11.º ano de escolaridade. Entre 2000 e 2009, a percentagem de alunos com níveis médios e excelentes aumentou 7,5 pontos e os níveis negativos diminuíram 9 pontos.

Contrariamente aos resultados PISA 2000, onde se constatou que as crianças de grupos socialmente menos privilegiados gostavam menos de ler (Azevedo , 2007), os resultados do PISA 2009 referem que o nosso país tem a maior percentagem de alunos de famílias economicamente desfavorecidas com excelentes níveis de desempenho em leitura.

De acordo com o relatório de avaliação dos primeiros anos de implementação do Plano Nacional de Leitura (2007), verificou-se um grande envolvimento e uma adesão bastante significativa por parte das escolas e das bibliotecas escolares, de educadores e professores do ensino pré-escolar e do ensino básico, sendo este envolvimento gradual e muito positivo. De facto, e atualmente, quase todas as escolas do 1.º, 2.º e 3.ºciclos têm vindo a desenvolver atividades ligadas ao PNL, promovendo, nomeadamente, a leitura orientada na sala de aula, a semana da leitura, ou o próprio Website do PNL. Assim, no relatório da avaliação do Plano Nacional de Leitura, no inquérito aplicado em 2010, a grande maioria das escolas aponta uma melhoria significativa das competências da leitura e da literacia dos nossos alunos. Perante estes resultados, Isabel Alçada, comissária do PNL à data da divulgação do relatório que temos vindo a citar, disse ao “Jornal Público” de 18.04.2008 “comparando com a Europa, os portugueses ainda leem pouco, mas a tendência é positiva” (pág. 9).

Relativamente ao resultado das provas de aferição 2011, em Língua Portuguesa, o resultado para o 1.º ciclo obteve um valor médio de 68%, menos 1% que no ano

anterior. A percentagem de alunos com resultados que evidenciam um nível de desempenho insuficiente (níveis D e E) aumentou 3,9% em relação a 2010. Em contrapartida no que se refere aos resultados com desempenho de bom e muito bom (níveis A e B) verifica-se um aumento do valor percentual de 10,7%.

Na prova de Língua Portuguesa do 2.º ciclo, não se regista a alteração do valor médio, que se mantém nos 64,6%. No que respeita a 2010, verifica-se um aumento de 4,1% na percentagem dos resultados considerados insuficientes, mas também uma valorização do peso dos alunos com níveis A e B, cujo valor aumenta 14,1%.

Quanto aos resultados obtidos relativamente às práticas de leitura por género sexual, também os estudos PISA revelam que, à semelhança de outros países participantes, as raparigas mantêm um desempenho médio superior ao dos rapazes, nos quatro ciclos PISA, apresentando, em média, melhores resultados do que os rapazes, sendo esta diferença estatisticamente significativa.

Perante este cenário nacional, é urgente continuarmos a “transformar o círculo vicioso, que nos preocupa, de um país de poucos leitores, num círculo virtuoso de muitos e bons leitores” (Sim-Sim, 2002:7).