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H IstórICo de r ompImento de B arragens em m Inas g eraIs

CAPÍTULO 3. DEPENDÊNCIA DE BARRAGEM, ALTERNATIVAS

3.2 H IstórICo de r ompImento de B arragens em m Inas g eraIs

O rompimento de barragens é um risco inerente ao setor extrativo mineral, potencializado nas etapas de pós-boom (2011 em diante) das commodities, como destacado por Davies e Martin (2009). Apesar do notório risco associado a essas obras de engenha- ria, até o evento da Barragem do Fundão, pouca atenção foi dada aos repetidos eventos de rompimento de barragens de mineração no Brasil. Em nossa pesquisa, não identificamos nenhum estudo que sistematizasse possíveis causas, impactos ou custos de desastres dessa natureza no país.

Por meio de busca por notícias de jornais na internet, foi possível construir a Tabela 1, onde são apresentados os rompimentos ocorridos em Minas Gerais noticiados pela mídia28.

28 Além dos rompimentos de barragens de mineração em Minas Gerais, teve ampla

repercussão o rompimento da barragem de rejeito industrial contendo lixívia negra da Indústria Cataguases de Papel, em 2003, que deixou 600 mil pessoas sem água. Barragens de água também possuem registro de rompimento pelo Brasil, no entanto, as barragens de mineração têm pelo menos 10 vezes mais de chance de romper (DAVIES, MARTIN, LIGHTHALL, 2002).

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Tabela 1: Principais desastres envolvendo barragens de mineração em Minas Gerais.

Ano Empresa Município Breve descrição

1986 ItaminasGrupo Itabirito Rompimento de barragem causan-do a morte de sete pessoas. 2001 Mineração Rio Verde Nova Lima

Rompimento de barragem cau- sando assoreamento do 6,4 km do

Córrego Taquaras e causando a morte de cinco pessoas. 2006 Mineradora Rio Pomba

Cataguases Miraí

Vazamento de 1.200.000 de m3 de

rejeitos contaminando córregos, causando mortandade de peixes e interrompendo fornecimento de água 2007 Mineradora Rio Pomba

Cataguases Miraí

Rompimento de barragem com 2.280.000 de m3 de material inun-

dando as cidades de Miraí e Muriaé desalojando mais de 4.000 pessoas. 2008 Companhia Siderúrgica

Nacional Congonhas

Rompimento da estrutura que liga- va o vertedouro à represa da Mina Casa de Pedra, causando aumento do volume do Rio Maranhão e

desalojando 40 famílias. 2008 Dado não disponibi- lizado pelo IBAMA

Itabira vazamento de rejeito químico de Rompimento de barragem com mineração de ouro 2014 Herculano Mineração Itabirito do a morte de três pessoas e ferindo Rompimento de barragem causan-

uma.

2015 MineraçãoSamarco Mariana

Rompimento de barragem com 54 milhões m3 causando 19 mortes, de-

salojando mais de 600 famílias em Mariana e Barra Longa, interrom- pendo o abastecimento de água em

várias cidades e alcançando o mar no Espírito Santo, com efeitos sobre

a fauna e a flora fluvial e marinha. Fonte: adaptado de Faria (2015); Ibama (2009); N. Oliveira (2015); Souza (2008).

Capítulo 3

Nos últimos 20 anos, foram identificados oito rompimentos de barragem de mineração em Minas Gerais, incluindo a barragem do Fundão. Em metade dos casos de rompimento houve vítimas fatais e em pelo menos três ocasiões famílias foram desalojadas. Com exceção dos dois casos da Mineradora Rio Pomba Cataguases, ocorridos em Miraí, os outros eventos se deram no quadrilátero ferrífero, onde há maior concentração de barragens de mineração.

Os frequentes casos de rompimentos de barragem de minera- ção estão associados às condições geológicas dos depósitos atuais e às tecnologias de baixo custo utilizadas no processo de extração e beneficiamento primário. A exaustão de minas com teores de minérios mais elevados vem levando as mineradoras a expandirem sua exploração sobre depósitos com teores menores, possibilitada pelo desenvolvimento de tecnologias de moagem e concentração (CHAMBERS; BOWKER, 2015). Com isso, as minas estão pro- gressivamente maiores e mais profundas. Deste modo, ocorre a geração de maior volume de rejeito, cuja opção para tal tem sido principalmente a disposição desses em barragens. Segundo Andrew Robertson (2011), a cada 30 anos a mineração aumenta o volume de rejeito em 10 vezes. Em um século passou-se de 100 ton/dia de rejeito, em 1900, para 100.000 ton/dia, em 2000. Hoje se gera 670.000 ton/dia (ÁVILA, 2016).

O aumento tem sido não só no número, mas também no ta- manho das barragens, cada vez maior. A expansão do volume de rejeito vem gerando barragens maiores em altura e em volume de reservatório. A altura máxima das barragens passou de 30 m para 240 m no último século, dobrando a cada 30 anos. Já as áreas das barragens cresceram 5 vezes no mesmo período. Por essas novas características, aumentam-se os riscos em 20 vezes a cada um terço de século, com a maior possibilidade de ruptura e maior potencial devastador. Pois, a probabilidade de ocorrências é proporcional à

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altura e a magnitude dos efeitos é proporcional ao volume das bar- ragens (ROBERTSON, 2011).

Os números de quantas barragens de mineração existem no mun- do não é contabilizado oficialmente, não sendo preciso. Em 2002, Davies, Martin e Lighthall chegaram a um número aproximado de 3.500 barragens de rejeito pelo mundo. Bowker (2015) contabilizou no último século 269 ocorrências em infraestruturas de rejeito de mineração em todo o mundo, entre 1915 e 2015, sendo 70 destas de nível muito grave. Nestas ocorrências, a partir de 1970, estima-se a perda de mais de mil vidas humanas (HUDSON-EDWARDS; JAMIESON; LOTTERMOSER, 2011). Bowker e Chambers (2015) projetaram que entre 2011 e 2020 ocorrerão pelo menos onze ocor- rências de gravidade elevada (grau definido pelo volume superior a um milhão de metros cúbico de rejeito, pelo carreamento por mais de 20 km ou pela causa de mortes múltiplas), com um custo público total de 6 bilhões de dólares.

O gráfico 1, com dados levantados por Bowker (2015), aponta o aumento vertiginoso dos casos de falhas em instalações com rejeito de mineração a partir dos anos de 1960, que alcançou o total de 56 ocorrências nos anos de 1980. Nas últimas duas décadas, porém, houve uma diminuição no número de ocorrências total. Contudo, os incidentes com efeitos graves e muito graves, sociais e ambientais, apresentaram aumento progressivo entre 1960 e 2000. Nos anos 2000, mesmo com uma leve queda absoluta das ocorrências, os even- tos de maior impacto corresponderam a 65% dos casos registrados. A diminuição do número de casos, a partir dos anos 2000, está rela- cionada à melhoria construtiva e à utilização de novas técnicas mais seguras (AZAM; LI, 2010), associadas ao maior controle, regulação e gestão dos riscos. Por outro lado, o agravamento das consequências das falhas com rejeitos decorre do maior volume das infraestruturas de estoque de rejeito, gerado pela baixa mineralização dos depósitos

Capítulo 3

e pela elevação da exploração (BOWKER; CHAMBERS, 2015). Até meados da década de 2010 já haviam ocorrido 23 rompimentos, sendo dez deles graves ou muito graves.

Gráfico 1: Aumento das falhas das instalações de rejeito no Mundo 1940-2010

Fonte: (Chambers; Bowker, 2015)

As causas dos rompimentos de barragens são variadas, mas encontram-se associadas principalmente a questões climáticas não usuais e à manutenção inapropriada. Segundo Azam e Li (2010), apenas 27,5% dos rompimentos de barragem, entre 1910 e 2009, tiveram como causas questões climáticas, as outras decorreram de infiltração (20,4%), defeitos na estrutura e na fundação da barragem (15,6%), falhas de manutenção (12,5%) e instabilidade da encosta e transbordamento (10,7%).

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