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Habilidades e competências no SARESP

No documento A atividade de avaliar no SARESP (páginas 50-56)

VI. Descritivas de ações: Distinguem-se da seqüência descritiva por que,

4) Mecanismos Enunciativos:

1.2.1. Habilidades e competências

1.2.1.2. Habilidades e competências no SARESP

O SARESP, por sua vez, avaliando as habilidades de compreensão dos textos propostos, reconhece competência como a capacidade para o desenvolvimento de estratégias para alcançar o sentido de todo e qualquer texto:: literário, científico, histórico, instrucional e outros, viabilizando o acesso ao conhecimento em toda e qualquer área17. Ou seja, enquanto nos PCNs as competências articulam habilidades, valores, atitudes e conhecimentos, numa visão integradora do ser humano, o SARESP busca avaliar de que forma os conteúdos escolares estão contribuindo para a construção ou reconstrução de tais processos.

16 Descartes, influenciado por Kant (2a metade do século XVIII) situa as idéias na consciência individual, rejeitando a supremacia do Estado que passa a uma posição secundária, fruto de uma convenção na qual os indivíduos renunciam a uma parcela da sua liberdade e de seus direitos em benefício da vida em comum. A personalidade seria, portanto, moldada pelo sistema educacional que priorizaria valores como caráter, justiça, amor...

51 Cabe ainda ressaltar que, enquanto as diretrizes do MEC explicitam cinco competências – domínio de linguagens, compreensão de fenômenos,

construção de argumentações, solução de problemas e elaboração de propostas18 – a ser desenvolvidas em contextualização e interdisciplinaridade, o SARESP concentra-se na primeira para atingir as demais. Assim, na prova objetiva os alunos mobilizariam os conhecimentos associados ao domínio de linguagem e à compreensão de fenômenos, ficando os demais – argumentação, solução de problemas e elaboração de propostas no trabalho com os diferentes gêneros – como itens a ser observados nas redações.

2. Avaliação

Discutir um processo de avaliação como atividade, implica na consideração da linguagem como um dos seus componentes, resultante da interação social, cujo uso pressupõe um “Outro”, inserido num contexto sócio-cultural relevante. Neste sentido, e considerando os pressupostos estabelecidos por Vygotsky (1934/1999) para quem a linguagem é o sistema simbólico organizador dos signos em estruturas complexas que permite lidar com o mundo exterior, vejo a avaliação como uma oportunidade de abstração, generalização, transparência, transmissão e assimilação de informações e experiências, características do pensar dialético.

Esta discussão considera atividade como o proposto por Williams (2001): é importante que a atividade seja vista não como algo com uma existência própria, mas como uma rede de atividades em um contexto amplo, considerando a organização social, as relações políticas, o ambiente natural, as necessidades e as regras particulares aí embutidas.

Essa rede de atividades constrói-se dentro de uma comunidade marcada por valores ideológicos determinados pelas relações socioeconômicas de seus membros. Deste modo, considerando os instrumentos avaliativos tradicionais como resultantes de um “consenso entre indivíduos socialmente organizados“ (Bakhtin,1929:44), torna-se possível entender as resistências de parte da sociedade às propostas de mudanças de foco na avaliação do estudante. O primeiro aspecto está relacionado à historicidade dos instrumentos avaliativos,

52 surgidos em função da necessidade de classificação das pessoas segundo critérios oriundos de uma classe social hierarquicamente estratificada, cujo poder aquisitivo necessitaria ser perpetuado entre os herdeiros. Estes, portanto, teriam na escola a oportunidade de aquisição do conhecimento essencial à manutenção do status.

O segundo aspecto amplia essa relação social com o conhecimento: de acordo com Bakhtin, ao constituir-se como um “corpo social”, qualquer grupo confere aos mecanismos de suas relações um valor particular, segundo critérios ideológicos. Neste universo, para ser aceito, um objeto necessita adquirir significação para aquela sociedade, ou seja, constituir-se como um signo ideológico.

Freitas (2002) considera que no modelo dialógico bakhtiniano, a linguagem fundamenta-se na interação social, no entrecruzamento dos valores sociais muitas vezes determinados por situações de dominação econômica, constituindo-se como elemento organizador da vida mental e, portanto, na construção da consciência.

Para Álvarez Méndez os instrumentos avaliativos refletem as contradições presentes na educação sobretudo a partir da década de 70, quando os anseios por uma educação democrática e igualitária levam à proposição de mudanças. Entretanto, na prática, o discurso progressista convive com modelos conservadores de avaliação, com características reguladoras e classificatórias.

Segundo o autor as inovações relacionadas às práticas avaliativas ocorreram tão-somente em termos de retórica: foram introduzidos novos termos e expressões que mascaram a exclusão, justificada por pressões “de fora”.

Assim sob o argumento de que a “sociedade assim o exige”, a escola oculta as próprias limitações para lidar com as mudanças. Isso é compreensível quando refletimos sobre a formação dos profissionais e os papéis a eles atribuídos: os professores explicam, perguntam, avaliam; o aluno ouve, responde, reproduz nas avaliações os conceitos que lhe foram transmitidos.

53 A avaliação do SARESP ilustra essas contradições: ao se configurar como uma avaliação anual, externa, com características de aferição do quanto foi aprendido ao longo de uma etapa ou processo (rendimento), esse sistema consolida a qualificação dos alunos em rituais consagrados pela burocracia e se opõe às propostas de avaliações alternativas, embasadas na responsabilidade e na formação do professor.

Com a finalidade de associar o SARESP com a Teoria da Atividade, inicio pela definição de vocábulos como Sistema e Rendimento (no dicionário), passando em seguida à inclusão dos constituintes do sistema de avaliação que ora discuto no triângulo que caracteriza a atividade:

a) Sistema [do grego systema, ‘reunião, grupo’ pelo latim systema]. s.m. 1. Conjunto de elementos, materiais ou ideais, entre os quais se possa encontrar ou definir alguma relação; 2. disposição das partes de um todo, coordenadas entre si, e que funcionam como uma estrutura organizada. (...) 6. conjunto ordenado de meios de ação ou de idéias, tendente a um resultado; plano, método.

b) Rendimento: Eficiência relativa ao desempenho de determinada função ou tarefa; produtividade.

(FERREIRA, Aurélio B. Novo dicionário da língua portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986).

Em síntese, o SARESP se apresenta como uma estrutura hierárquica que tem como motivo a verificação de aprendizagem mediante a instituição de um instrumento. Do mesmo modo, envolve diferentes sujeitos, pertencentes a uma comunidade e atuando conforme regras e a divisão de trabalho, com um resultado a alcançar. Seus componentes encontram-se resumidamente esquematizados a seguir:

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Instrumentos:prova tipo teste, redação e questionário socioeconômico. Resultado: Dados estatísticos das habilidades e competências dos alunos.

Sujeitos:Dirigentes de Ensino; comunidade escolar; pais e alunos.

Objeto

:

Avaliação do Rendimento Escolar.

Regras: normas que regulam a aplicação da avaliação. (o que cada um faz)

Divisão de Trabalho: os papéis atribuídos a cada um dos participantes da avaliação. (quem faz o quê).

Comunidade:

Diretorias, escolas e alunos (participantes da interação)

Considerações teóricas da relação do SARESP com a Teoria da Atividade: (a) Os Sujeitos, o Instrumento e o Objeto coexistem numa relação direta,

projetados pelas ações. O SARESP desenvolve um Objeto (avaliação do aproveitamento escolar), com regras específicas, tarefas (divisão de trabalho); Sujeitos (Alunos, professores,etc); Instrumento mediador (a linguagem).

(b) A Comunidade exerce a função de elemento organizador da consciência, pois, de acordo com Vygotsky, são as ações externas que direcionam a atividade mental interna, favorecendo a aprendizagem humana e os processos mentais individuais.

(c) As Regras criam as restrições e organizam a divisão do trabalho. Eventuais mudanças acarretam nova divisão do trabalho e, conseqüentemente, a transformação da própria atividade. As regras podem ser prescritas ou construídas durante a interação;

55 (d) O ponto de partida de uma atividade é o estado de necessidade, a partir do

qual projetamos motivos e ações.

(e) A linguagem, dentro da atividade exerce dupla função: (1) Instrumento, meio pelo qual se acede à atividade; (2) Objeto compartilhado na construção coletiva dos significados.

(f) Ocorrem contradições entre qualquer um dos constituintes do sistema, por exemplo, entre o(s) sujeito(s) e o objeto quando este não é compartilhado por todos.

(g) A divisão de trabalho é o elemento mediador da relação comunidade e objeto; diz respeito às tarefas que cada um dos componentes do grupo desempenha, ou seja, a forma de participação da comunidade no desenrolar de uma atividade.

O quadro a seguir conclui esta seção com uma visão geral do sistema: QUADRO 2 – EDIÇÕES DO SARESP.

Séries Aplicadas

Ensino Fundamental Ensino Médio

Ano 1ª 2ª 3ª 4ª 5ª 6ª 7ª 8ª 1ª 2ª 3ª 1996 1997 1998 2000 2001 2002 2003 2004

56 • 1996 – 1998: Avaliação de entrada início do ano letivo;

• a partir de 2000: Avaliação de saída final do ano letivo.

O quadro acima se complementa com as seguintes orientações, disponíveis na Internet (site www.educacao.sp.gov.br):

No documento A atividade de avaliar no SARESP (páginas 50-56)