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Habilidades sociais: satisfação com a vida em geral, com o casamento, com os filhos e com o trabalho, para homens e mulheres

Entre o conflito e o equilíbrio: ferramentas para examinar a relação trabalho-família

EFEITOS DE JORNADA DE TRABALHO, HABILIDADES SOCIAIS E GÊNERO SOBRE O EQUILÍBRIO TRABALHO-FAMÍLIA

1.1 Habilidades sociais: satisfação com a vida em geral, com o casamento, com os filhos e com o trabalho, para homens e mulheres

As habilidades sociais têm sido relacionadas com maior qualidade de vida, pois contribuem para que as relações entre os indivíduos sejam mais gratificantes, com maior realização pessoal, sucesso profissional e melhor saúde física e mental (França-Freitas, Del Prette & Del Prette, 2017). Portanto, um adequado repertório de habilidades sociais é um fator de proteção que faz com que o indivíduo vivencie menos dificuldades no enfrentamento das situações adversas (Del Prette & Del Prette, 2011).

As habilidades interpessoais envolvidas no casamento são denominadas de habilidades sociais conjugais e podem ser definidas como sendo o repertório de comportamentos utilizado para lidar satisfatoriamente com situações interpessoais no relacionamento com o parceiro (Aguiar, Matias, Barham, Fontaine & Del Prette, 2018). Para Norgren, Souza, Kaslow, Hammerschmidt e Sharlin (2004), tanto para os homens quanto para as mulheres, a expressão do afeto, a capacidade de resolução dos problemas e a comunicação estão relacionados à satisfação conjugal em casamentos de longa duração. Além disso, o nível de satisfação no relacionamento era maior conforme a proximidade e a coesão conjugal.

Em um estudo de Villa e Del Prette (2005), os resultados revelaram uma correlação significativa entre satisfação conjugal e habilidades sociais. Para os homens, a satisfação no casamento ocorria quando a parceira possuía autocontrole proativo, autocontrole reativo e expressividade e empatia. Para as mulheres, maridos com habilidades de conversação assertiva, autoafirmação assertiva e expressividade/empatia proporcionavam maior satisfação conjugal. Apenas os comportamentos empáticos envolvendo maior aceitação e compreensão do outro, os quais podem fortalecer o relacionamento, foram considerados importantes tanto para homens quanto para as mulheres.

Apesar de aparecerem com correlações mais baixas e escassas, outras habilidades também contribuem para a satisfação conjugal, segundo Villa e Del Prette (2005). São elas: (a)

coping e auto-afirmação diante de risco, que permite uma relação mais honesta e aberta para

enfrentar situações que provocam conflitos no relacionamento; (b) autosegurança na expressão de sentimentos positivos; (c) autocontrole da agressividade, podendo ser compreendida como a capacidade de expressar raiva e desprazer de uma maneira socialmente competente, em oposição a reações de impulsividade e explosões. Tais dados confirmam a hipótese de vários estudos anteriores (Bolsoni e Marturano, 2010a; Del Prette e Del Prette, 2008; Villa e Del Prette, 2005), nos quais foi evidenciado que as habilidades sociais favorecem a satisfação conjugal.

Nessa mesma direção, Sardinha, Falcone e Ferreira (2009) constataram que a combinação de expressões assertivas e empáticas exercem relevante influência na satisfação

conjugal. Em relação à empatia, houve diferença significativa entre os sexos, com as mulheres atingindo maiores níveis de empatia do que os homens. Concernente às respostas assertivas, diferentemente das expressões consideradas agressivas ou passivas, estas aprimoram o relacionamento do casal, melhorando a autoestima de ambos e equilibrando o poder no casal. Dessa maneira, entre cônjuges, as expressões assertivas podem tornar o relacionamento mais aberto e honesto devido à liberdade que cada um possui de expressar-se, independentemente de agradar o parceiro (Sardinha, Falcone & Ferreira, 2009).

Outro dado importante observado no estudo de Sardinha, Falcone e Ferreira, (2009) foi a associação entre autocontrole das mulheres em relação à agressividade e a satisfação dos maridos. Em outras palavras, as habilidades de autocontrole das esposas diminuem a probabilidade de conflito no relacionamento conjugal e propiciam um ambiente mais harmonioso para o casal. Já para as mulheres, elas se encontravam mais satisfeitas no relacionamento quando os homens possuíam um bom repertório para enfrentar as situações interpessoais. Em relação aos comportamentos específicos, a expressão de sentimentos positivos proporcionou satisfação tanto para a esposa quanto para o marido, sendo fator importante para um relacionamento menos conflituoso (Sardinha, Falcone & Ferreira, 2009). Nota-se que uma das tarefas principais dos casais é de colaborar nas atividades domésticas para se manterem de forma independente das suas famílias de origem. Nesse sentido, as habilidades sociais também podem ser importantes para a divisão das tarefas domésticas. Com base nesses estudos sobre a relação entre habilidades sociais e a relação conjugal, observa-se que o repertório interpessoal de cada cônjuge tem grande influência sobre a qualidade deste relacionamento, existindo algumas diferenças no impacto do repertório de homens e mulheres. Conforme relatos de participantes do estudo de Silva (2000), as mães foram vistas como sendo mais participativas na educação dos filhos quando comparadas aos pais. Nessa mesma direção, Costa, Teixeira e Gomes (2000) constataram que as mães emitiam mais comportamentos de exigência e responsividade que os pais. Bolsoni-Silva e Marturano (2008) e Bolsoni-Silva e Del Prette (2002) compararam as habilidades sociais de pais e mães, identificando que as mães relatavam maior uso de habilidades de comunicação, responsividade e expressividade para expressar afeto e estabelecer limites, portanto, ofereciam mais modelos e modelagem para habilidades sociais (Bolsoni-Silva & Del Prette, 2002). Portanto, parece que a qualidade do tempo junto com os filhos depende fortemente do repertório de habilidades sociais dos pais.

Concernente às habilidades sociais laborais, relevantes no mundo do trabalho, há pouco tempo o mundo do trabalho valorizava quase que exclusivamente as competências técnicas em

detrimento das competências sociais nas interações profissionais. Porém, em um mercado de trabalho cada vez mais exigente e com o surgimento de novos paradigmas organizacionais, há necessidade de mão de obra qualificada e também com habilidades sociais profissionais (Del Prette & Del Prette, 2001; Sadir & Lipp, 2013). Os trabalhadores socialmente habilidosos possuem bons relacionamentos interpessoais, contribuem para a melhoria do clima organizacional, cumprem as metas do trabalho, preservam o bem-estar da equipe e respeitam os direitos de cada um, o que possibilita que todas possuam uma melhor qualidade de vida. Além disso, nas relações interpessoais, possuem melhores habilidades de empatia, resolução de problemas, assertividade e expressão de sentimento positivo (Colombo & Prati, 2014; Sadir & Lipp, 2013).

A coordenação de grupos pode ser compreendida como a “capacidade de promover e articular os desempenhos dos participantes em direção à consecução dos objetivos propostos ou previamente definidos” (Del Prette & Del Prette, 2001, p. 90), sendo comumente associada ao conceito de liderança. A resolução de problemas, tomada de decisões e mediação de conflitos podem ser dificultadas pelo excesso de ansiedade, falta de motivação, dificuldades em processar informações e os déficits em habilidades sociais (Del Prette & Del Prette, 2001).

As habilidades sociais também são eficazes na redução do estresse. Sadir e Lipp (2009) analisaram quais as fontes de estresse no trabalho em diferentes categorias profissionais e concluíram que a maioria delas envolvia algum aspecto das relações interpessoais, tais como dificuldades no relacionamento com a equipe e superiores, existência de pessoas desorganizadas e despreparadas, conflitos de interesses e valores, inexistência de cooperação etc. Em síntese, em muitos casos, as relações interpessoais no trabalho podem ser geradoras de estresse no ambiente organizacional, e as habilidades sociais são importantes para lidar com estas dificuldades.

Considerando estudos sobre o uso das habilidades sociais nos relacionamentos conjugais, com os filhos e com os colegas de trabalho, é possível notar que estas habilidades influenciam o grau de satisfação do homem e da mulher com as interações na sua vida familiar e profissional. Em todos esses contextos, indivíduos com repertório satisfatório de habilidades sociais possuíam maior bem-estar e qualidade de vida.

1.2 Jornada de trabalho: satisfação com o trabalho, com a organização da casa, com o