• Nenhum resultado encontrado

Entre o conflito e o equilíbrio: ferramentas para examinar a relação trabalho-família

HABILIDADES SOCIAIS E GÊNERO ENTRE ADULTOS: UMA REVISÃO DA LITERATURA

4. Resolução de problemas e gênero

Neste agrupamento de quatro artigos, os textos selecionados evidenciaram as diferenças entre homens e mulher na habilidade de resolução de problemas.

Tabela 4. Resolução de Problemas e Gênero

Autores (ano) Objetivo do estudo

Rodzalan e Saat (2015)

Investigar a percepção sobre a capacidade crítica de pensamento e resolução de problemas entre estudantes universitários da Malásia, comparando homens e mulheres.

Coşkun,

Garipağaoğlu e Tosun (2013)

Investigar o nível de resiliência e as habilidades da resolução de problemas estudantes universitários de Istambul, comparando homens e mulheres.

Sumi (2012) Examinar a relação entre a autoavaliação da capacidade de resolução de problemas sociais e a qualidade das relações interpessoais, para homens e mulheres.

Quirós (2013) Evidenciar a implementação do enfoque das habilidades para a vida e o desenvolvimento de alternativas propiciadoras de prevenção dos conflitos na população masculina.

Segundo Rodzalan e Saat (2015), os estudantes universitários precisam possuir habilidades críticas de pensamento e resolução de problemas, pois este é o foco dos empregadores na contratação de novas pessoas. Por isso, caso essa problemática não seja pesquisada, a probabilidade de existirem muitos diplomados desempregados no futuro será expressiva. Assim, os autores investigaram entre 2000 alunos estudantes de graduação de seis universidades públicas da Malásia a percepção sobre a capacidade crítica de pensamento e resolução de problemas. Entre os participantes, 682 eram homens e 1318 mulheres. Como objetivo específico, buscou-se determinar se há diferenças entre gêneros e entre os cursos de ciências (biologia, química, física e ciência matemática), ciências sociais (contabilidade, gestão de recursos humanos, gestão, tecnologia, marketing e psicologia) e engenharia (civil, mecânica e elétrica). Foi aplicado o Belbin Team Role Self-Perception Inventory [Inventário de Auto-

Percepção de Função de Equipe de Belbin] (BTRSPI), que possui onze declarações de pensamento crítico e habilidades de resolução de problemas.

Os estudantes do sexo masculino se auto avaliaram como sendo mais capazes de ter um olhar independente e inovador na maioria das situações do que as estudantes do sexo feminino. Como esperado, em comparação com estudantes do sexo feminino, os estudantes do sexo masculino acreditavam muito menos que os sentimentos afetam a capacidade para trabalhar com tempo limitado. Além disso, quando avaliaram o tempo que necessitam para fazer um julgamento preciso, os estudantes do sexo masculino indicaram que precisam de mais tempo, em comparação com as respostas dadas pelas mulheres.

Portanto, os autores entenderam que, de forma geral, todos os alunos possuíam altas habilidades para ter pensamentos críticos e para resolver problemas. Mesmo assim, os estudantes do sexo masculino, em comparação com as mulheres, avaliaram suas habilidades de pensamento crítico e de resolução de problemas de forma mais positiva. Considerando o conjunto de resultados obtidos, os autores recomendaram que os professores deveriam dar aos alunos tarefas desafiadoras que exigem que eles pensem criticamente, em vez de se concentrarem no aprendizado rotineiro. Além disso, sugeriram que outras atividades extra aula e treinamentos relacionados ao pensamento crítico e habilidades para resolver problemas devem ser promovidas aos alunos.

Em outro estudo sobre o repertório de habilidades interpessoais de universitários e diferenças ligadas ao gênero, Coşkun, Garipağaoğlu e Tosun (2013) focaram na avaliação mais geral de resiliência, por envolver habilidades importantes para estudantes se recuperarem de dificuldades de maneira construtiva. Como no estudo anterior, também avaliaram a capacidade de resolução de problemas, por ser outra habilidade que os alunos devem possuir e aprimorar, porque facilita a definição do problema, a motivação para solucioná-lo e a determinação para resolvê-lo. As coisas que são percebidas como problemas e as estratégias de resolução de problemas variam de pessoa para pessoa, mas as habilidades de resolução de problemas são explicadas por sentimentos, reações e habilidades para gerenciar o estresse diante de situações problemáticas. Assim, indivíduos que possuem esta última habilidade podem ter mais qualidade de vida que outras pessoas, pois comumente são bem-sucedidas na busca pelas melhores soluções, além de saberem se comportar no enfrentamento das situações problemáticas. Partindo disso, o objetivo do estudo foi investigar o nível de resiliência e as habilidades de resolução de problemas em 325 alunos que estudaram na Universidade Yeditepe, em Istambul, em 2012, sendo 115 homens e 210 mulheres. Os instrumentos utilizados foram: (a) informações

demográficas sobre os participantes, (b) a Resilience Scale [Escala de Resiliência] e (c) o

Problem Solving Inventory [Inventário de Resolução de Problemas].

Os resultados do estudo revelaram que os alunos possuíam um elevado nível de resiliência. A habilidade para resolução de problemas entre os estudantes foi considerada média. Por outro lado, houve uma relação positiva e forte entre o nível de resiliência dos estudantes e suas habilidades na resolução dos problemas. Além disso, não houve diferença significativa no nível de resiliência dos estudantes universitários em termos de gênero, nível escolar, renda mensal e instalações de alojamento. Os autores concluíram que, devido à resiliência parece envolver um conjunto de habilidades (tais como a resolução de problemas), é importante reconhecer essas habilidades e levá-las em consideração ao prestar serviços psicológicos a estudantes de graduação nas universidades.

Este temático também foi pesquisado por Sumi (2012), em uma amostra japonesa, para examinar a relação entre a capacidade de resolução de problemas sociais e a qualidade das relações interpessoais, por parte de homens e mulheres. O apoio social, a reciprocidade em troca de apoio e o conflito interpessoal foram aspectos das relações interpessoais que foram analisadas no estudo. A hipótese do estudo era que os homens possuiriam uma maior capacidade social de resolução de problemas do que as mulheres. Além disso, os autores esperavam encontrar correlações positivas entre as pontuações para a capacidade do respondente e desfechos tais como o apoio social e a reciprocidade em troca. Foram utilizados os seguintes instrumentos: (a) Problem-Solving Self-Efficacy Scale [Escala de auto-eficácia na resolução dos problemas, versão japonesa], que é usada para avaliar se alguém acredita na sua própria capacidade de resolver problemas; (b) Problem-Solving Skills Scale [Escala de Habilidades de Solução de Problemas], usado para avaliar as habilidades percebidas para resolver efetivamente problemas sociais e (c) Interpersonal Relationship Inventory [Inventário de Relacionamento Interpessoal], que compreende 3 escalas: apoio, reciprocidade e conflito.

A amostra consistiu de 139 estudantes do sexo feminino e 148 estudantes do sexo masculino, que participaram de duas sessões, separadas por um intervalo de 6 semanas (Tempo 1 e Tempo 2). Os resultados sugerem que a capacidade de resolução de problemas pode ter uma associação positiva, mas limitada, com a qualidade das relações interpessoais, seis semanas depois. Além disso, com base nas suas análises, os autores observaram que os homens relataram ter maior capacidade de resolução dos problemas sociais, maior autoeficácia e, consequentemente, maior qualidade de relacionamentos interpessoais em relação às mulheres. Contudo, os autores levantaram a hipóteses que, em geral, há uma tendência para as mulheres subestimarem enquanto os homens superestimarem suas habilidades e desempenho,

colocando em dúvida o significado das diferenças encontradas entre homens e mulheres. Assim, em estudos futuros, será preciso usar estratégias para avaliar a capacidade e qualidade dos relacionamentos, que permitem controlar a probabilidade de as pessoas sobre ou subestimarem suas habilidades, em função de gênero.

Em seu estudo teórico, Quirós (2013) analisou a relevância do enfoque das habilidades para a vida e o desenvolvimento de alternativas propiciadoras de prevenção dos conflitos, na população masculina. Segundo Quirós, há muitos estudos que evidenciam a dificuldade dos homens em resolver conflitos adequadamente, até porque fazem uso inadequado do poder. Entretanto, há um novo paradigma das masculinidades, no qual estabelece uma nova percepção sobre o homem e sua relação com outras pessoas, ou seja, alguém que busca uma adequada resolução dos problemas mediante o fortalecimento e a geração de canais de comunicação que possa se expressar livremente, sem precisar cumprir com a figura social do “poder”. É um homem com capacidade de sentir, pensar e vivenciar sentimentos como raiva e frustração com um manejo adequado e opte por resoluções de conflitos satisfatórias. Além disso, essa visão moderna da masculinidade privilegia a igualdade de gênero, na qual há respeito pela mulher e seu papel ativo na sociedade, com responsabilidades partilhadas na casa.

Em dois estudos, os homens mostraram-se mais habilidosos na resolução dos conflitos em relação às mulheres. Entretanto, em um dos artigos, não houve diferença quanto ao gênero. Por outro lado, no artigo de Quirós (2013), presume-se que a maior parte dos homens não resolve os conflitos de maneira adequada, sem agressividade e de modo assertivo, e, portanto, seria necessário a emergência de uma nova masculinidade que permita ao homem ser empático e assertivo.