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Habitação em Juiz de Fora

No documento taniadeoliveiraamaral (páginas 49-51)

1.2 No cenário de uma cidade de país capitalista periférico: Juiz de Fora

1.2.3 Habitação em Juiz de Fora

A especulação imobiliária em Juiz de Fora é muito intensa e desde o início da urbanização, o poder público tem um papel importante nesse processo. Foram abertos vários loteamentos, mas algumas áreas se mantiveram para serem vendidas depois da construção de infraestrutura e assim serem negociadas por um valor mais elevado. O poder público teve um papel fundamental nesse processo, pois coube a ele construir as vias de acesso e implantar o saneamento básico, que era deficitário em quase toda a cidade.

As áreas em que o poder público atuava iam se valorizando; dessa forma, contribuiu para a especulação, pois esses equipamentos eram construídos de forma intencional, relacionados aos anseios da elite juizforana em detrimento das necessidades da população que, na sua maioria, vivia em condições desfavoráveis.

A especulação imobiliária em Juiz de Fora continua muito intensa, pois a cidade se desenvolveu a partir do vale do rio Paraibuna e posteriormente se expandiu para as encostas. Portanto, há uma limitação ao crescimento da cidade devido à topografia do sítio urbano. A escassez de terra eleva o valor da propriedade urbana. “Devido a esse padrão de crescimento concentrado, a cidade possui hoje uma relação de custo do solo urbano situada entre as mais caras do país” (MIRANDA, 1990, p. 67).

A escassez do solo urbano eleva a especulação imobiliária e essa, por sua vez, acentua a escassez, formando um ciclo vicioso, o que, aliado à oferta de serviços precários em algumas áreas, valoriza acentuadamente alguns lugares da cidade em detrimento dos demais, o que conduz à periferização, como aponta Santos (2013, p.106):

Havendo especulação, há criação mercantil da escassez e acentua-se o problema do acesso à terra e à habitação. Mas o déficit de residências também leva à especulação, e os dois juntos conduzem à periferização da população mais pobre e, de novo, ao aumento do tamanho urbano. As carências em serviços alimentam a especulação, pela valorização das diversas frações do território urbano.

O valor elevado do solo urbano propicia o aparecimento de loteamentos irregulares, que são feitos antes da construção da infraestrutura básica e sem aprovação da prefeitura, portanto nem sempre estarão de acordo com as normas do zoneamento urbano estabelecidas pelos órgãos municipais. Quando as habitações já estão construídas no local, os moradores do loteamento reivindicam a legalização da rua ou bairro, o que acaba ocorrendo porque assim aumenta a arrecadação municipal de IPTU. Como vimos anteriormente, esse é o caso das ruas

C e D do bairro Cesário Alvim. Em Juiz de Fora, desde os anos 80, prevalece a política de regularização fundiária.

Devido ao preço da terra e à desigualdade social em Juiz de Fora, há um grande número de bairros periféricos, onde encontramos construções precárias, o que, aliado à topografia acidentada da cidade, faz com que haja muitas moradias que se encontram em condição de risco de desabamento, como é o caso do bairro analisado.

A reportagem do jornal Tribuna de Minas do dia 23/10/2010, destaca: “36 mil juizforanos em imóveis de alto risco”. Na classificação de risco da defesa civil, nível 3 é alto e nível 4, muito alto. São mais de dez mil famílias vivendo em áreas de risco, são muitas vidas ameaçadas nos períodos de chuva.

Em Juiz de Fora, o problema com a habitação é mais grave devido ao relevo irregular. As encostas são ocupadas de forma desordenada, assim o risco é iminente para muitas famílias que passam o verão com medo. As políticas habitacionais não conseguiram resolver o problema da moradia nessa cidade.

No capitalismo o local onde se vai morar depende da classe social e o tipo de habitação é definido pela posição que se ocupa na sociedade de classes. Numa cidade como Juiz de Fora, em que a desigualdade social é elevada, apenas uma parte da população pode viver em bairros planejados, pois a outra parte não possui renda para morar nesses locais.

O sítio urbano é visto como uma mercadoria e ordenado de modo a refletir na paisagem urbana a desigualdade social. As amenidades como a arborização, proximidade com o centro, equipamentos como mercado e praças elevam o valor da terra.

Dessa forma, a ocupação do espaço urbano é regulada pelo valor que a terra urbana adquire, sendo este o principal elemento de sua apropriação. Ao Território construído são adicionadas infraestrutura, sistema viário, equipamentos, serviços, que, juntamente com a existência ou falta de amenidades, compõem o valor da terra. A cidade torna-se, assim, uma mercadoria potencial de consumo, exatamente como qualquer produto: consumo que se realiza segundo as possibilidades de renda de seus habitantes (VALLE, 2012, p.79).

O bairro Cesário Alvim, apesar de estar próximo ao centro, não possui outras amenidades. O valor do seu solo só não é maior porque sua topografia é desfavorável e, além disso, está numa área de Juiz de Fora que historicamente é pouco valorizada.

Em resumo, a questão da habitação em Juiz de Fora é marcada pela existência de áreas muito valorizadas por serem locais que estão recebendo mais investimentos e pela especulação que vem ocorrendo há muito tempo e, por outro lado, pela existência de diversos bairros periféricos, com infraestrutura deficitária.

Vale dizer que as camadas mais desfavorecidas da população dependem de programas assistenciais do governo que atendem algumas demandas da sociedade, pois assim garante a reprodução da mão-de-obra, ao mesmo tempo em que atende a interesses eleitorais.

É preciso salientar, no entanto, que tem havido, em menor escala, a provisão de bens e serviços pelo Estado à população de baixa renda, o que ocorre tanto em função da garantia de força de trabalho para o setor produtivo, quanto em função de interesses políticos dessas camadas marginais (MIRANDA, 1990, p. 60).

As cidades capitalistas são produzidas de forma a atender, sobretudo, às demandas do poder econômico que visam à reprodução ampliada do capital; essa questão será discutida no próximo tópico.

Como grande parte do Brasil, Juiz de Fora não conseguiu resolver o déficit habitacional. Esse fato é o resultado de políticas públicas que privilegiam a classe média em detrimento da população mais pobre.

É uma ilusão pensarmos que a habitação e os demais problemas urbanos serão resolvidos sem atacar a problemática social, como a desigualdade social que está presente deste o inicio da formação do Brasil. “É um equívoco pensar que problemas urbanos podem ser resolvidos sem solução da problemática social. É esta que comanda e não o contrário” (Santos, 2013, p.106).

No documento taniadeoliveiraamaral (páginas 49-51)