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CAPITULO 2- INVASÃO ESTADUNIDENSE: IMPERIALISMO E (RE)

2.3 O ESTADO HAITIANO E SEUS DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADE

2.3.3 O Haiti nos indicadores

O Fundo para a Paz36 é uma organização não governamental de pesquisa e desde 2005 publica resultados anuais do estudo de Índice Anual de Estados Falidos que avalia a força estatal dos países. Por meio de uma avaliação em alguns setores sociais, chega-se a um indicador do grau de vulnerabilidade estatal e sua classificação no ranking da pesquisa. No ano de 2018, os resultados produzidos mostram que, entre 178 países analisados, o Haiti ocupa o 12° lugar (estado de alerta). Essa posição caracteriza o Haiti como um Estado com extrema instabilidade.

A análise do Fundo para a Paz, usa em sua metodologia de pesquisa um ranking de notas de avaliação de indicadores sociais, o que significa que todos os países podem sofrer alterações em seus indicadores a cada ano. Isso indica que a piora de um país na posição no ranking pode refletir a melhora nas notas de outros países, não necessariamente do país selecionado para estudo. Em outras palavras, se um país obteve melhoras em suas notas ele

36 O Fundo para Paz (Fund for Peace) é uma organização não governamental de pesquisa norte-americana com

sede em Washington, criada em 1957. Trabalha para prevenir conflitos violentos e promover segurança sustentável em Estados Falidos, desde 2005. Disponível em:< http://global.fundforpeace.org >. Acesso em: 20 mai. 2018.

pode mudar sua posição no ranking e ultrapassar outros países sem necessariamente o país que foi ultrapassado ter sofrido alterações em seus indicadores.

O mapa a seguir traz representados os países segundo sua situação de vulnerabilidade estatal, em quatro grupo de cores: azul, verde, amarelo, vermelho. Em seus matizes da cor azul, situam os países em excelente situação, denominados sustentáveis. Por conseguinte, são representados pelos matizes da core verde os países que se encontram em situação considerada estável. Já os matizes da cor amarela representam os países em situação de atenção e nos matizes do vermelho os países que estariam em situação de alerta.

Figura 7 - Mapa da Vulnerabilidade estatal do Haiti em 201837.

Fonte: Fundo para a Paz (2018).

O Fundo para Paz estabeleceu quatro áreas para avaliar a força estatal de um país, quais sejam: coesão social; indicadores econômicos; indicadores políticos; indicadores sociais e transversais. Em cada campo de análise há três subdivisões de indicadores sociais. Destacados nas figuras:

Figura 8 - Representação de indicadores sociais.38

Fonte: Fundo para Paz (2018).

Na sequência:

• Indicadores de coesão social - aparelho de segurança sensível; elites faccionalizadas e; divergências entre grupos (cohesion indicators: Security Apparatus; Factionalized

Elites; Group Grievance);

• Indicadores econômicos - declínio econômico; desenvolvimento econômico desigual e fuga de cérebros (economic indicators: Economic Decline; Uneven Economic

Development; Human Flight and Brain Drain);

• Indicadores políticos - legitimidade do estado em risco; serviços públicos debilitados; violação de direitos humanos e estado de direito vulnerável (political indicators: State

Legitimacy; Public Services; Human Rights and Rule of Law);

• Indicadores sociais e transversais - pressões demográficas; refugiados; deslocados internos e intervenção externa (social and cross-cutting indicators: Demographic

Pressures; Refugees and IDPs; External Intervention).

A tabela abaixo representa esses indicadores.

Tabela 3 - Notas atribuídas ao Haiti de 2006 a 201839.

Fonte: Fundo para a Paz (2018).

Como pode ser observado no gráfico, segundo os critérios usados pelo Fundo para a Paz, desde 2005, ano em que as análises foram iniciadas, o Haiti não obteve melhoras significativas. Entretanto, no ano de 2008, sua pontuação40 obteve a melhor nota somando um

total de 99,3 nos treze anos de pesquisa. Infelizmente, em 2011, a nota subiu para 108,0 mostrando a pior nota atribuída ao Haiti em razão dos dados terem sido coletados de junho a maio do ano anterior. Portanto, os dados fornecidos em 2011 são referentes ao ano de 2010, quando o Haiti sofreu os traumas do terremoto41. Independente da catástrofe, em todos os anos o Haiti se manteve dentro do que é considerado pelo Fundo para Paz como estado de alerta, vulnerável, Estado Fracassado, durante todos os anos analisados.

Já o Instituto Haitiano de Estatística e Informática, bem como o Ministério de Economia e Finanças do Haiti42 mostraram uma melhora constante nos setores econômicos haitianos, com exceção do ano de 2010 em decorrência do terremoto. Ao comparar os dados econômicos fornecidos pelo Instituto com a área de economia fornecida pelo Fundo para a Paz percebe-se uma diferença, pois, enquanto os dados de Crescimento Econômico Desigual

39 Fundo para Paz. Disponível em: <http://fundforpeace.org/fsi/country-data/ >. Acesso em: 30 mai. 2018. 40 O Fundo para Paz classifica cada país de acordo com seu desempenho nos dozes indicadores de

vulnerabilidade estatal. A análise é feita por notas, quanto maior a pontuação nos indicadores, maior será a soma da pontuação no resultado final. O que representará maior vulnerabilidade estatal do país. Exemplo: o Haiti tem um total de 102,2 pontos o que o coloca em situação de alerta de grande vulnerabilidade estatal, enquanto Cuba tem um total de 62,9 pontos e ocupa a posição 119° no ranking.

41 Em 12 de janeiro de 2010, o Haiti foi devastado por um terremoto de magnitude sem precedentes, resultando

em mais de 230 mil mortos e cerca de 1,5 milhão de desalojados no país (SEITENFUS, 2016, p. 38).

42 No entanto, é pertinente considerar a capacidade estatística de cada país ao levar e conta uma publicação de

pesquisas fornecidas por órgãos estatais. No caso do Haiti, segundo o Banco Mundial, houve uma acentuada queda nesse quesito no ano de 2017.

do Fundo mostram uma nota alta, revelando uma situação de severa vulnerabilidade, por outro lado os dados econômicos do Instituto Haitiano são animadores, pois mostram uma melhora crescente como pode ser observado no gráfico.

Figura 9 - Evolução do índice de atividade comercial43

Fonte: Instituto Haitiano de Estatística e Informática, Ministério de Economia e Finanças.

Também, nas perspectivas econômicas globais do Banco Mundial de 2018, há um olhar positivo para uma possível melhora nos dados relativos ao crescimento econômicos do Haiti. Segundo a instituição, o crescimento anual do PIB do Haiti, em 2016, foi de 1.1, a projeção do Banco Mundial para 2018 é de 2.2.

43Instituto Haitiano de Estatística e Informática. Disponível em:

Figura 10 - Perspectivas Econômicas Globais - Previsões44

Fonte: Banco Mundial (2018).

Os dados da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) também projetam para 2018 uma melhora, ainda que tímida, no crescimento econômico haitiano que tende a ser de 2,2 % PIB45.

Os dados sobre a economia são importantes por configurar o reflexo de melhora geral de um país, no caso haitiano ainda mais. O país tem uma população que vive, em sua maioria, na extrema pobreza com menos de 1,25 dólares por dia, predominantemente de economia informal. Dados que mostram uma melhora nessa área, mesmo que pequena, é um fato a ser comemorado.

Figura 11 - Gráfico do crescimento econômico46 de 2017.

Fonte: USAID (2018).

44 Banco Mundial. Disponível em: < https://data.worldbank.org/country/haiti >. Acesso em: 30 mai. 2018.

45 Portal da CEPAL, PDF disponível em

https://www.cepal.org/sites/default/files/pr/files/tabla_proyecciones_balancepreliminar2017.pdf. Acesso em: 27 mar. 2018.

46 United States Agency for International Development (USAID). Disponível em:

O gráfico mostra uma comparação entre o crescimento econômico do Haiti e da região. Assim, e é possível constatar que o Haiti, representado pela cor laranja no gráfico, tem melhorado.

Longe de ter dados satisfatórios para ser considerado fora de um grau preocupante em relação aos indicadores sociais, o Haiti, muito por conta da sua própria história, se mantém o mais empobrecido entre as Américas, com índices ruins em comparação aos dados estatísticos dos demais países da América Latina. Entre os países da região caribenha, as diferenças ficam gritantes. Um exemplo é o acesso à eletricidade, enquanto todos os países na região caribenha têm aproximadamente 100% de acesso, no Haiti é de apenas 67% da população (BANCO MUNDIAL, 2016).

Outros dados revelam uma grande disparidade entre o Haiti e outros países da região caribenha, tais como o índice de mortalidade infantil, visto que o Haiti tem 50,9 mortes entre mil nascidos contra 16 na região. Um índice alarmante, pois, para se ter uma ideia, em Cuba o número é de 4,2.

Figura 12 - Estimativa de Mortalidade infantil47.

Fonte: USAID (2018).

A comparação entre o Haiti e seus vizinhos busca reforçar a necessidade de aprofundar os questionamentos sobre problemas tangentes ao país como, por exemplo, o severo empobrecimento econômico com índices que colocam o Haiti entre os mais pobres do mundo. Essa miséria poderia ser vista como resultado de uma complexa conjunção política, econômica e social do próprio Haiti, mas vai além de fatores internos, visto que os fatores externos contam com mais força no Haiti desde sua independência quando já nasceu em meio a um intenso isolamento econômico.

47United States Agency for International Development (USAID). Disponível em:

Em geral, a semelhança histórica com os países da região caribenha serve de argumento para justificar a incompetência do próprio país. Essa visão leva facilmente a uma análise superficial que culpabiliza o próprio Haiti por suas mazelas sociais, como fazem alguns estudiosos. Não que os atores políticos sejam isentos da culpa pela situação do Haiti, também o são, mas seria simplista demais reduzir a culpa somente a eles. Como bem colocou Seitenfus (2015):

O olhar acurado sobre o Haiti somente torna-se possível quando afastado o maniqueísmo, as fórmulas feitas e acabadas, as teorias levadas a simplificar a indômita, complexa e contraditória realidade; ou seja, quando não se proceda à eleição do preto ou do branco, pois, na verdade, o que predomina é o cinzento das zonas sombrias (SEITENFUS, 2015, p. 63).

A citação impeli ao conhecer, ao ir além, no caso do Haiti adentrar nos meandros de sua construção político-social e sua consequência na economia haitiana.