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CONHECIMENTO

Construído pelos alunos como produto das suas elaborações cognitivas individuais de acordo com o estágio de desenvolvimento em que se encontra. Tem por base suas próprias experiências.

É mediado pelas relações com instrumentos e signos. Traduz-se na apropriação do mundo concreto, primeiramente através das relações no cotidiano, seguindo com as relações reais como o mundo da ciência. APRENDIZAGEM Apreensão do imediatamente perceptível, estando subordinada ao desenvolvimento.

A aprendizagem tem sua gênese fora da escola. Acontece na experiência social, mediada pela utilização de instrumentos e signos. É motor do desenvolvimento e porta de acesso a humanização e ao desenvolvimento em seu mais pleno grau, na sua forma cientifica.

PAPEL DO PROFESSOR

Facilitador e organizador do contexto. Cabe a ele observar, registrar e refletir, mediando e favorecendo a construção do conhecimento

Transmissão do conhecimento sistematizado, tendo a apresentação dos conhecimentos clássicos a sua máxima relevância. O ensino é a essência do trabalho pedagógico do professor.

CURRÍCULO

O meio social é que define e comporta os critérios de validação do saber. Sendo assim os conhecimentos a serem aprendidos partem do meio social,

Definido a partir dos conhecimentos historicamente acumulados balizados pela ciência.

DESENVOLVIMENTO

Parte de uma acepção naturalizante sendo vista como o somatório de experiências que se sucedem naturalmente de modo linear e mecânico pelo transcurso dos anos.

Tem um caráter histórico o que diferencia a concepção de desenvolvimento humano de Vigotski das outras concepções psicológicas.

Nosso pensamento, ao sintetizar essas concepções acima, foi demarcar um lugar inicial na busca de se compreender, para além do que dizem ter em comum muitos autores da atualidade com Vigotski, suas diferenças.

No quadro 3 abaixo, sintetizamos as ideias principais, das políticas públicas, que constituem a base norteadora da educação das crianças pequenas, identificando as distorções teóricas das teorias hegemônicas com a essência da teoria de Vigotski.

Quadro 3 – Síntese das principais políticas da educação brasileira e distorções da obra de Vigotski

DOCUMENTOS DIRETRIZES DISTORÇÕES/OBRA DE

VIGOTSKI

CONSTITUIÇÃO FEDERAL/1988

Garantir o acesso à educação infantil

às crianças até os cinco anos de idade é um dever do Estado assegurado pela Constituição Federal em seu artigo 208, inciso IV.

Faz uma crítica as teorias que realizam uma etapização, baseando-se em cronologia, relacionados ao desenvolvimento intelectual infantil. LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL (LDBEN 1996)

De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), a educação infantil é oferecida em creches (para crianças de zero a três anos de idade) e em pré-escolas (dos quatro a cinco anos).

A responsabilidade pela oferta dessas modalidades de ensino é, prioritariamente, dos municípios.

A educação infantil é a primeira etapa da educação básica. Sua finalidade é complementar a ação da família e da comunidade no desenvolvimento integral da criança em seus aspectos

físico, psicológico, intelectual e social.

Os estímulos experimentados pelas crianças nessa modalidade de ensino por meio das atividades lúdicas propostas pelos educadores contribuem para seu aprendizado

futuro, desenvolvem sua autonomia e capacidades motoras, afetivas e de relacionamento social.

(Idem, acesso em janeiro de 2018).

A etapização realizada por alguns autores que estudaram o desenvolvimento infantil, não tem valor universal, visto que para cada momento histórico / social mudam-se as realidades (todo desenvolvimento depende das condições que cercam as crianças – elas “são histórica e socialmente determinadas”). Considerava o desenvolvimento infantil na sua totalidade sem fragmentações em seus aspectos ou dimensões. Todo desenvolvimento é social. As atividades realizadas pelas crianças são orientadas por atividades guias que em momentos diferenciados do desenvolvimento assumem uma posição dominante. Lembrando que para Vigotski a aprendizagem, acontece no momento presente, promovendo o desenvolvimento.

PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO (PNE) – Sancionado pela Lei nº

13.005/2014

Apresenta como meta universalizar a educação infantil na pré-escola até 201637 e, até 2024, ampliar a oferta de vaga em creches para atender, no mínimo, 50 % das crianças.

A preocupação com políticas públicas para a infância no Brasil só são pensadas a partir de 1990.

A escola de Vigotski com sua teoria envidou esforços que contribuíram no processo de instrução do povo russo no período pós-revolucionário (1917). De acordo com esse referencial a educação escolar ativa vastas áreas da consciência.

Fonte: elaboração da autora

Lançamos nosso olhar aos documentos: Diretrizes Curriculares Nacionais Para a Educação Infantil e Base Nacional Curricular Comum, em busca de aprofundar nossas proposições.

As diretrizes se apresentam como um instrumental a apoiar os educadores de creches e pré-escolas a realizar se trabalho educativo junto às crianças. O trabalho deve pautar-se sobre dois âmbitos principais a Formação Social (ênfase na construção do sujeito, sua identidade e autonomia) e Conhecimento de Mundo (construção das diferentes linguagens pelas crianças), visando o desenvolvimento integral. A criança como sujeito de direitos é o protagonista, construindo seus conhecimentos a partir da interação com outras crianças (prioritariamente) e com o meio de forma ativa (visão construtivista do conhecimento). O conhecimento dever ser adquirido de forma prazerosa e não diretiva (não pode ser transmitido pelo professor), sendo a brincadeira o eixo norteador do trabalho e as práticas cotidianas espontâneas a referência maior.

Entre os eixos norteadores do RCNEI, destacam-se “[...] o espontâneo, o lúdico, o prazer, o não-diretivismo no trabalho pedagógico [...]” (ARCE, 2007, p. 27). Diante disso, podemos notar que as ideias de espontaneidade e de naturalidade do brincar estão presentes desde a origem da Educação Infantil brasileira, as quais levam a compreensão de que a brincadeira não necessita de intervenção, já que a criança a desenvolve livremente. [...] os documentos oficiais do MEC indicam que os programas de educação infantil devem respeitar o caráter lúdico e prazeroso das atividades para que, desta forma, possa realizar um amplo atendimento às necessidades de ações espontâneas das crianças, sendo esta outra marca do construtivismo e da pedagogia da infância, a ludicidade espontânea. A brincadeira é considerada a linguagem principal da infância, conforme destaca Arce “com poderes de invenção, recriação e ressignificação da realidade circundante” (2013, p. 18).

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A BNCC na sua recomendação curricular, descaracteriza o campo cientifico do conhecimento, priorizando as experiências concretas da vida cotidiana da criança, em detrimento ao patrimônio cultural. Para Vigotski o ensino é o protagonista no processo educativo. Ensino que deve ter como foco a Ciência, estruturando-se de acordo com as áreas do conhecimento (ciências, matemática. História, geografia etc.).

Distorce-se e deforma-se assim os campos científicos renomeando-os: a

área da Linguagem, passa a ser apresentado como: Escuta, fala, pensamento e imaginação; a de Matemática, como “Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações”; Ciências Sociais e Naturais transforma-se em Corpo, gestos e movimentos. Traços, sons, cores e formas, compõem a área de “múltiplas linguagens”. De acordo com Vigotski a educação infantil não pode prescindir de ser

organizado por áreas do conhecimento.

O professor é o mediador entre as crianças e o conhecimento, intervindo

só quando solicitado ou necessário e organizando as atividades em sala, a partir das experiências e dos conhecimentos das crianças. Cabe a ele observar, registrar e refletir, favorecendo a construção do conhecimento significativo às crianças.

A articulação entre o cuidar e educar se apresenta como o grande diferencial que irá promover, nesses “novos tempos” a qualidade no atendimento a essa faixa etária. O conceito de desenvolvimento, na sua acepção naturalizante, como o somatório de experiências que se sucedem naturalmente de modo linear e mecânico pelo transcurso dos anos (ARCE, 2013, p.) atravessa toda a proposta. A educação é definida como como um instrumento de adaptação ao meio social, desconsiderando-se sua complexidade e a realidade sócio histórica.

É mergulhado nesse ambiente “anti-escolar” que a educação das crianças deve acontecer. Institui-se assim, uma política que se mantém distante da perspectiva escolar, anunciando-se novos tempos que não chegaram. O que se infere é que saímos do assistencialismo para um modelo pedagógico “antiescolar”, desqualificador da transmissão dos conhecimentos sistematizados e do trabalho do professor. Uma educação escolar que continua pautada no espontaneísmo, no lúdico, no não diretivismo e no prazer, tão próprios ao começo dessa história. Froebel está mais presente do que nunca!

Vigotski foi além das premissas acima apresentadas, buscando na essência do trabalho pedagógico – o ensino, o eixo da educação infantil. Educação

essa que é própria da escola. As crianças são alunas e o pilar do trabalho pedagógico é a transmissão de conhecimento para revolucionar o desenvolvimento infantil ao promover os saltos qualitativos que as encaminham ao desenvolvimento pleno de suas potencialidades. Nessa teoria professor assume seu papel de ensino provocando o desenvolvimento, criando na criança sua “segunda natureza”, a social. O conhecimento deve ser algo selecionado pelo professor com a finalidade de transmissão, tendo-se a ciência como referência. Destaca-se ainda que são as condições concretas onde a criança se insere que vão determinar sua humanização e seu desenvolvimento psíquico.

Subsumido nesse emaranhado de conceitos vislumbramos as categorias

da atividade e de desenvolvimento psíquico da teoria de Vigotski, sendo usadas de

forma distorcida ao serem referências ao papel ativo da criança no seu processo de aprendizagem, e produto das determinações biológicas (etapização por cronologia), respectivamente. Mas adiante trataremos disso com mais precisão.

Logo baixo, no quadro IV, sintetizamos as principais diretrizes curriculares para a educação das crianças confrontando-as com as distorções operadas na teoria de Vigotski.

Quadro 4 – Síntese das Diretrizes Curriculares da Educação Infantil brasileira e distorções da obra de Vigotski

DOCUMENTOS DIRETRIZES CURRICULARES DISTORÇÕES/OBRA DE