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sim, mas ele fez o que hein? / ele pediu os bolinhos pra irmã dele ou queria pegar à pulso?

TEXTO: 4G-E1: A briga dos bolinhos

P.: sim, mas ele fez o que hein? / ele pediu os bolinhos pra irmã dele ou queria pegar à pulso?

TEXTO: 2 F-E1

“A mãe deles feis ums bolilhos a filha dela levou ums bolinhos ela quando chegou lá um minino pegou os bolinho u irmão dela queria pegou e maçou u irmão (...)”

Note-se que há uma entrada de referentes ou personagens que só pode ser entendida com base no contexto da aula, com o conhecimento partilhado de quem assistiu ao desenho e sabe o que se passou nele.

Essas ocorrências, sobretudo de pronomes anafóricos, acabam por servir de base interativa para o texto escrito produzido para o professor. As relações de ensino e aprendizagem se dão pela e na linguagem, através do discurso pedagógico. Portanto, a ancoragem do texto se funda nas práticas de linguagem educativas, incidindo no texto os parâmetros de textualização construídos durante a interação. Quando produzem um texto para a professora, os alunos procuram

dialogicamente interagir com ela, utilizando-se de estratégias imediatas que não só facilitam como promovem a interação.

Ao analisarmos os textos produzidos pelos alunos da segunda e quarta séries, tornam-se evidentes diferenças sensíveis. As mudanças não se deram apenas na quantidade de palavras, extensão do texto ou algum outro aspecto formal, e sim, nos itens lingüísticos dispostos na superfície textual.

As repetições foram itens que revelaram de forma bastante clara esse esforço. A percepção do contexto por parte dos alunos guiou suas escolhas tendo sempre em vista o interlocutor e do papel que ele desempenhava.

Quando diante da professora, os alunos da segunda série procuraram o caminho mais fácil28, pois os alunos inferiram o que a professora já sabia, pois assistiram ao episódio juntos e os educandos se preocuparam com outros aspectos. Inclusive, os números de repetição nos textos dos alunos se aproxima dos números encontrados no texto produzido em sala de aula pela professora.

A tabela 3 evidencia o que estamos defendendo:

TABELA 3

Comparação entre texto escrito em situação de coleta 1 e o texto oral da professora da segunda série

Forma Situação de Coleta 1 Texto Oral da Professora Anafórica 60,5% 61,5% Lexical 36,5% 35,5% Sintagmática 3% 3%

Os dados percentuais comparativos entre as redações produzidas em sala de aula na segunda série e o discurso pedagógico que instruiu o momento da produção, revelam indícios de que a estratégia textualizadora dos alunos dessa série tenta promover uma maior interação diante da tarefa a ser executada. Dialogando com a professora, que possui conhecimento partilhado a respeito dos

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Quando nos referimos a “caminho mais fácil”, não estamos, em hipótese nenhuma, desprezando o esforço cognitivo feito pelos alunos para a construção textual de tal maneira. Estamos nos referindo ao “Princípio da Economia” utilizado com vistas a encontrar de forma mais imediata o seu interlocutor.

fatos assistidos no episódio, as crianças se utilizam dos pronomes anafóricos nos mesmos moldes que a professora o fez, como se o texto escrito fosse uma resposta imediata – carregada da oralidade que o grau de interação entre os atores permite – à solicitação da professora.

As repetições anafóricas nos textos produzidos em sala de aula da segunda série correspondem a 60,5% (Tabela 1 – Situação de Coleta 1) das ocorrências de repetição. Ou seja, correspondem a mais da metade das ocorrências de repetição encontradas. Esses dados nos levam a perceber que pelo fato de a professora estar presente no momento da exibição do desenho e por isso possui um conhecimento partilhado com os alunos, as crianças se utilizam dessa estratégia com naturalidade já que elas sabem que não será problema para seu interlocutor reconstruir a história através dos seus textos. Essa estratégia pode ser percebida nos exemplos que se seguem:

TEXTO 2 O-E1

(...)ele comel os bolinhos da irmam e o oltro chegol o mais garde e eles entrarão na briga barno apanhava dodô dia ele foi porcura dodos os amigos dele principalmente o avo dele e eles derão uma lisão neles.

TEXTO 2 B-E1

(...)ele fei uma tropinha de meninos e com em xeros bexigas com agua e assetava nelis amararam eli inão sotava e notodia e ele não de ramas e ficaram feliz para sempre aprender anão brigar

TEXTO 2 A-E1

(...)um dia o ermão dela armou uma armadilha e todos jogaram bichiga de água e jogaram nele e amarraram ele e butaram na carroça e levaram para a casa dele e comeram bolinhos e um final.(...)

Como podemos perceber, os alunos lançam mão das repetições anafóricas sem maiores cuidados com a linearidade referencial, pois eles sabem que a professora possui conhecimento partilhado suficiente para remeter corretamente cada pronome a seu respectivo referente.

A evidência dessa segurança dos alunos na produção textual pode ser vista neste trecho da preparação da atividade no qual a professora após debater sobre o episódio assistido, passa a seguinte instrução:

Prof. A.P.: “vocês gostaram do desenho não é... agora vocês vão escrever como foi a história, tudo o que aconteceu no desenho e entregar pra Tia...”

Corroborando isso, no questionário aplicado antes da produção textual (Anexo 6), 100% dos alunos afirmaram que quando estão escrevendo em sala de aula, escrevem para a professora ler.

Nossa perspectiva de análise, ao comparar textos produzidos entre alunos da segunda e quarta série, é a de que os educandos passam por um processo longitudinal que progressivamente vai promovendo a incorporação da escrita nas práticas de linguagem infantil, principalmente por aumentar a participação das crianças nas práticas de letramento escolar.

Os indícios a essa percepção se revelam quando analisamos os textos produzidos em sala de aula (Evento Comunicativo 2A) pelos alunos da quarta série. Os alunos possuindo um maior grau de letramento e uma maior “intimidade” com o gênero redação, passam a utilizar menos pronomes anafóricos – dependentes do contexto imediato –, e recorrem a repetições lexicais, como um crescente processo de monogestão textual, fator que promove um maior grau de autonomia do texto escrito. A tabela 4 ilustra os dados colhidos dos textos produzidos em sala de aula.

TABELA 4

Repetições nos Textos Escritos em Situação de Coleta 1 pelos alunos da 4ª série

Forma Quantidade Porcentagem

Anafórica 89 44%

Lexical 106 52,5%

Sintagmática 7 3,5%

Total 71 100%

Mesmo assim, não impede que construções que poderiam figurar nos textos da segunda série por seguirem a mesma estratégia aconteçam, como neste trecho:

TEXTO: 4 F-E1