• Nenhum resultado encontrado

(...)Quando eles chegaram na escola, um garoto da turma do Nelso pegou os bolinhos de Liza, comeu e pizou em tudinho, aí Barth começou a brigar com o menino e Nelso chegou aí ele pegou ele, levantou ele e bateu nele (...)

Neste trecho, podemos ver nitidamente que o aluno tem como certo o conhecimento da professora sobre o episódio para que ela possa remeter corretamente cada pronome ele.

No entanto, as repetições anafóricas nos textos da quarta série caíram sensivelmente em comparação aos dados encontrados na segunda série. Enquanto que a Tabela 1 revela que na situação de coleta 1 na segunda série a repetição anafórica corresponde a 60,5%, nos textos da quarta série, a Tabela 2, situação de coleta 1, o percentual é de 44%. Destaca-se ainda o fato de na Tabela 1, situação de coleta 1, a repetição anafórica é maior que a lexical. Já nos textos da mesma situação de coleta na quarta série demonstra que a léxica predomina. Isso demonstra que os alunos vão adquirindo a “descentração” necessária para a escrita, tendo uma maior consciência do padrão escolar de redação. Com isso, temos um uso da repetição que favorece a coesão em detrimento da fragmentação dos textos da segunda série que ainda se utilizam bem mais da oralidade para textualizar por escrito.

Essa ancoragem do texto em relação ao interlocutor se comprova nos dados das repetições que encontramos no discurso do professor durante a preparação da tarefa/execução da aula.

TABELA 5

Comparação entre o número de repetições nos textos escritos em situação de coleta 1 e o

texto oral (aula) da professora da quarta série Forma Situação de Coleta 1 Texto Oral da Professora Anafórica 44% 40% Lexical 52,5% 57,5% Sintagmática 3,5% 2,5%

A tabela 5 aponta indícios que remetem ao contexto de produção escolar, na mesma proporção dos dados relativos à segunda série (cf. Tabela 3) Os resultados encontrados nos permitem perceber a influência do discurso do professor na configuração dos textos dos alunos, pois, embora diferente em números, concepção discursiva e mesmo em domínio dos níveis de linguagem, os dados se aproximam das proporções das repetições utilizadas pelas crianças enquanto estratégias de interatividade com o seu interlocutor. Enquanto os textos da segunda série possuem um número maior de repetições anafóricas correspondendo ao total de 60,5% das repetições encontradas, no texto da professora, o número encontrado se aproxima bastante disso: 61,5%.

Nos textos escritos da quarta série para a professora (Evento Comunicativo 1), encontramos um número maior de repetições lexicais nos textos escritos para o professor, que corresponde a 52,5% (Tabela 2 – Situação de Coleta 1) das repetições encontradas, percentagem de repetições lexicais próxima a encontrada nos texto oral produzido pela professora: 57,5% (Tabela 5 – Texto oral produzido pela professora). Essa mudança de linguagem revela indícios de uma maior apropriação das práticas de letramento escolar por parte das crianças da quarta série, o que permite a professora elocucionar sua aula expositiva com uma maior formalidade – próxima, portanto, das práticas de linguagem escrita.

Esses números revelam o quão incisiva é a intertextualidade dos discursos escolares em seus respectivos gêneros – sobretudo a redação. Se a linguagem medeia o processo de ensino/aprendizagem, a apropriação do discurso pedagógico facilita esse processo e torna-se a referência lingüística em termos intertextuais para os alunos.

A comprovação dessa estratégia de textualização – via “repetição” – ancorada no ambiente escolar e no discurso que circula nesse espaço é evidenciada quando esses mesmos sujeitos produzem o mesmo texto sob diferentes condições. É o que constataremos adiante.

Segundo Dutra (2004:59),

A repetição no texto escrito do aluno numa redação (...) pode estar refletindo tentativas de criar na escrita o mesmo dinamismo e a mesma fluidez, o mesmo ritmo, que inconscientemente aprendeu a desenvolver com tanta competência para o registro oral.

7.1.2 – A Ocorrência das Repetições no Evento Comunicativo 2A: A Situação de Pesquisa

Passaremos agora a examinar um aspecto particular nos textos dos alunos denominado por Cardoso (2003) de monogestão textual. A partir dessa noção, a autora aponta para a crescente autonomia discursiva das crianças com o avançar das séries iniciais. Elas deixam de intertextualizar em demasia o discurso do outro, tornando-se cada vez mais sujeito-produtor do seu discurso.

Em busca dessa autonomia e da promoção da interação com base não só nas práticas de linguagem escolares, mas também no maior conhecimento do gênero textual “redação”, as crianças buscam a ancoragem textual com vistas a cumprir seu objetivo na tarefa - sobretudo, dizer aquilo que o professor quer ouvir e com isso garantir a nota ou outro tipo de recompensa avaliativa. Para tanto, os alunos lançam mão de estratégias lingüísticas que procuram se configurar com o contexto a ponto de tornar bem mais híbrida a relação entre texto e contexto.

No caso das repetições, essas estratégias se revelam, principalmente, na utilização da repetição anafórica e da repetição lexical. Observamos que o uso dessas formas de repetir está intrinsecamente ligado à relação com o interlocutor. Nesse sentido, Perroni (1992:233) assevera que “a estrutura do discurso narrativo, a cada passo de seu desenvolvimento depende da construção pela criança de seu interlocutor, da situação de interlocução e da própria função do discurso”.

Nos textos escritos para o pesquisador, essa busca pela interação com o interlocutor faz inverter as proporções de repetição nos textos da segunda série e se acentua em relação aos da quarta série.

Dessa vez, os alunos sabem que estão numa situação de produção textual para com um “estranho” e que, além da pouca interatividade, esse “estranho” não assistiu ao episódio junto a eles. Portanto, há de se ter um maior cuidado com os usos dos pronomes anafóricos, pois eles podem ser interpretados erroneamente, o que prejudicaria a construção da coerência.

Estes trechos demonstram o uso dessa estratégia:

TEXTO 2 O-E2A

Era uma veiz uma família sipisom tinha treis irmão a lisa o barnei a nenê a lisa feiz bolinhos para os amiguinho na escola e o barnei quiz mais ela não deu bolinho pra ele quando ela chego na escola

um menino mau tomol os bolinho dela e barnei defendeu a lisa aí chegol o menino grande nelsom (...)

TEXTO 2 B-E2A

Era uma vez a família sispitos a lisa o barnei ela feis bolinho para levar naescola deles e o barnei pidiu um bolinho e ela não deu bolinho ninnhum mas aí chegou um minino mau e tomo os bolinho dela e o barnei pegou e bigou e defendeu a lisa (...)

TEXTO 2 A-E2A

Era uma vez a familia dos sipisom a lisa fez uns bolinhos para a sua professora e levou para a escola e não deu para o ermão dela que era o barnei e chegou na escola aí o menino mal tomou i nelsom pegou barnei i barnei tirou sangue dele aí nelsom todo dias batia em barnei (...)

TEXTO 4F-E2A (Fragmento)

Os Simpson em: A briga dos bolinhos

(...)OQuando chegou na escola um dos garotos da turma do Nelso pegou os bolinhos de Liza, comeu um e pizou os outros, Barth começou a brigar com o garoto, e mesmo nessa hora Nelso chegou e foi brigar com Barth só que Barth lhe deu um soco e seu nariz começou a sangrar

Nelso disse: No final da aula eu te pego, Barth foi para sala e começou a sonhar que Nelso ia pegá-lo e ele encheu Nelso de facas so que Nelso arrancara as facas(...)

TEXTO 4 H-E2A